Com o Que Fazem os Corações escrita por Sweet Death, SaltedCaramel


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Hey! Como vocês estão?
Eu nunca postei nessa categoria antes, mas sempre desejei postar porque Sterek é um dos meus OTPs mais fortes. Eis que nesse momento oportuno (a quinta temporada está passando!) eu encontrei essa história guardada e pensei em postá-la. Confesso que tenho sentimentos conflituosos e também confesso que somente li fanfics Sterek em inglês (a maioria das fanfics que eu leio são em inglês porque estou tendo problemas com meu pc em abrir o Nyah, vocês não tem ideia de como eu demorei para conseguir apertar o botão de postar) hahaha, mas, hey, eu estou aqui para tentar hahahaAlguns pontos (nem tão) importantes:-Minha alcateia (eu falo alcateia, não lembro como eles falam na série) deles perfeita é: Derek, Stiles, Scott, Allison, Isaac, Erica, Boyd, Lydia, Jackson e, algumas vezes, até o Danny. Não é que eu odeie os atuais, mas eu sinto falta de alguns e eu tenho alguns ressentimentos com decisões da série. Então, é, a história acontece como se tudo tivesse parado na segunda temporada e tudo estivesse bem hahaha-ISSO É COMPLETAMENTE FLUFF!!! Tipo, só isso!E comédia. Acho. Uma tentativa de comédia hahaha-Eu não tenho beta... Eu reviso o texto, mas não sou boa nisso haha se virem algum erro ou algo do tipo, por favor, não hesitem em me avisar!-A one shot é enorme... desculpa por isso, mas eu não quis separar o texto para não cortar a história.-Espero que gostem. E se não gostarem, espero que tenha servido para pelo menos passar o tempo hahaha seus reviews são muito importantes para isso!-Boa leitura o/



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Com o que fazem corações

No começo, parecia que era apenas amor incondicional por sorvete e Batman.

Pensando bem, ele não tinha muito tempo para analisar.

Derek estava mais preocupado com o modo como a colher e a tigela, cheias do doce, balançavam nas mãos de um Scott muito animado em contar alguma história muito mais animada, animadamente ou ao menos parecia, porque quando a sobremesa virou uma pasta e as coisas começaram a ficar perigosas, Derek parou de prestar atenção nas palavras e passou a seguir as direções histéricas do material com os olhos. A cada ponto ou vírgula, todos os que estavam ao redor tinham que desviar dos respingos que voavam em todas as direções.

Viu Isaac estender as mãos pelo menos três vezes, pensando que a hora em que a tigela frágil e esquecida iria escorregar havia chegado, viu Allison se inclinar para lá e para cá milhões de vezes sem problemas, com o sorriso de covinhas no rosto nem mesmo falhando. Acontece que Scott e seu lobo interior tinha um equilíbrio reflexo incrível nas mãos. Mesmo rindo. Escandalosamente. E jogando os braços para cima.

Era quase um treinamento, Derek imaginava, apenas muito mais melado e muito menos convencional. O modo como todos ficavam criativos para evitar massas de sorvete cremoso no rosto. Não era algo que ele faria normalmente.

Afinal, a ideia de sorvete fora de Boyd, na realidade.

As reuniões de sextas eram eventos importantes. Não de quintas, nem terças, nem segundas. Sextas, estritamente. Porque às terças Isaac, Boyd, Stiles, Scott e Jackson não tinham lacrosse, mas terças eram dias de salões de beleza -"Semanais, Derek, porque por mais que vocês apreciem o lado animalesco eu não vou me permitir ficar no mesma nível". Segundas não eram dias de salões de beleza -"O quê? Acha que eu preciso ir todos os dias?"-, mas Allison tinha que passar o dia com o pai para assistir filmes e fazer refeições juntos. Quintas não tinham salões nem momentos familiares, mas tinha lacrosse -"Você quer que o Stiles continue ruim?" "Ei, Scott! Não é minha culpa se as regras do jogo não seguem as minhas"-. Quartas eram dias de nada, mas Lydia tinha um clube de matemática ou qualquer outra coisa estranha sobre a qual ninguém ousava perguntar.

Então, sextas. Sextas eram dias para a alcateia inteira se enfurnar no loft de Derek, todos juntos e misturados, e...fazer coisas que alcateias fazem.

O que inclui absolutamente nada.

O grande problema era que por mais que Derek tivesse visto sua mãe em tentativas de preservar e cultivar os laços grupais entre seus lobos, a memória estava longe, escondida em uma parte de seu cérebro que gostava de destruir qualquer coisa que o fizesse diferente do personagem estoico que ele era hoje. Ou algo do tipo.

Conclusão: laços grupais? Longe do alcance de sua consciência.

As reuniões começavam a ficar quietas, silenciosas e despropositais, porque ninguém mais precisava com o mesma recorrência correr pela floresta e matar alguns coelhos e então os encontros se resumiram a um bando de adolescentes espalhados pela sua sala, cada um encarando um pedaço do chão, e Derek em algum ponto longínquo guardando-os com olhos arrepiantes de um pervertido num beco escuro, como o , obviamente aspirante a alívio cômico, Stiles gostava de ressaltar.

Então Boyd sugeriu sorvete. Erica pediu filmes. Derek não sabia como isso poderia ajudar e ia recusar na hora, mas Isaac usou seus olhos grandes e brilhantes e azuis e bonitos para a maldade de persuadi-lo.

Se ele soubesse que ficaria preso nesse ciclo vicioso de adolescentes persuasivos e teimosos, talvez nunca tivesse mordido ninguém.

E agora, nesse exato momento, seu loft, em uma sexta feira, estava zunindo com sua alcateia inteira entusiasmada para assistir Batman Begins (escolha não sua, mas aprovada) e comer pipoca com sorvete Derek não sabia se isso queria dizer comer tudo junto e misturado e não queria saber.

Quer dizer, quase uma alcateia inteira..

–Onde está o Stiles?- Allison perguntou, as mãos laçadas na de Scott. Já fazia meia hora que os dois haviam chegado e apenas agora ela havia notado a ausência de um da dupla de idiotas inseparáveis. Um deles sendo o próprio namorado da garota.

Scott tinha um punhado de pipoca na boca, mas mesmo assim respondeu.

–Stafa fachendo u trabaio- tentou, antes de perceber que era uma tentativa ridícula e engolir tudo que tinha na boca e repetir- Estava fazendo um trabalho. Química. Com Danny. Disse que ia se atrasar, mas que não perderia Batman por nada nessa vida. Não importando o fato de que tenha me feito assistir sete vezes. Sete. Vezes.

Derek riu debochado sob a própria respiração.

Stiles...era um caso estranho. O plano inicial de Derek era pegar Scott pelo rabo e arrastá-lo para a alcateia, aproveitando que Peter não estava assim tão dedicado a ideia. Um plano simples, legal, interessante... O que não caía no truque era que Scott McCall, transformado por uma mordida, teria atado ao seu corpo um moleque franzino de hormônios a flor da pele e uma boca mais rápida que neurônios.

Stiles Stlinski nunca esteve no plano. Até que se enfurnou nele.

E tudo bem que ele estivesse agora. O garoto provou que tinha mais que palavras afiadas e camisas xadrez, mas uma cabeça rápida e pronta que nunca descansa.

Precisa de informações inúteis? Pergunte a Stiles! Precisa de horas de pesquisa sobre alguma coisa desinteressante? Peça a Stiles!

Sem perceber, Derek tinha assinado um humano na alcateia.

Um humano franzino, com TDAH e um estômago e sarcasmo insaciáveis.

–Mas ele disse que estava chegando- Scott explicou, balançando seu celular na mão antes de ler algo que o mais velho presumia ser uma mensagem- não comam toda a comida. Três minutos e eu apareço. E ele mandou isso há exatamente...

As batidas fortes no metal soaram. Derek não se martirizou por não ter Scott completando a frase, porque ele o fez. Com o sorriso. O sorriso que o fazia se perguntar se na realidade seu tio não havia transformado um cachorrinho em lobisomem ao invés de humano em lobisomem.

–...três minutos!

Não precisou nem mesmo abrir a porta.

O barulho começou.

Aquela foi a primeira vez que o ouviu.

Era um THUMP THUMP acelerado e ritmado, batendo como passos fortes num chão de madeira pelos seus pés, correndo pelos seus sensos de lobisomem. Arrepiando sua pele. As garras quase rasgaram sua própria pele na vontade de sair, mas não se moveram. Seus olhos quase brilharam a cor forte, tão forte batia aquilo.

Seus sentidos saltaram, mas ele teve tempo para pensar.

Não havia dúvida.

Aquilo era um coração.

E só havia um coração novo naquele lugar. E era do menino que carregava um caderno cheio nas mãos de dedos grandes, passos incertos que sempre pareciam tropeçar um no outro de tal forma que era impossível não imaginar seu rosto batendo direto no chão.

–Ei, gente!- Stiles gritou, não se importando com o fato de que era um maldito loft de um cômodo só. Preenchido por lobisomens. Todo mundo podia ouvi-lo normalmente se ele sussurrasse.

Os cabelos em pé, o gingado estranho de adolescente em crescimento, o pescoço comprido, o nariz empinado e o sorriso malandro cortando lábios de moleque. Era estranho como apenas olhar para ele era olhar para ele. Quer dizer, não é como se alguma coisa naquela cabeça rápida escapasse da boca, mas traçando os movimentos nada concisos com os olhos era traçar sua personalidade.

Principalmente quando apenas dois passos dentro seus olhos castanhos já acesos brilharam sobre o centro da sala. Exatamente onde Erica e Boyd enchiam mais uma rodada de sorvete com castanhas bem generosas.

Stiles pulou no lugar.

–O sorvete era verdade!- sorriu, com a boca larga de olho a olho- Eu realmente achei que fosse brincadeira. Eu pensei, ah, o Derek nunca vai se render a gostosura de uma doçura gelada de chocolate, porque não é azedo que nem ele e quebra a imagem de animal feroz que ele gosta de ter, mas aqui estamos e eu posso tomar sorvete! Vendo Batman! Com sorvete! E...aquilo é pipoca?!

A batida acelerou, intensamente. Derek quase não pôde impedir que ela, ecoando pelos cantos de sua mente com a força de um batalhão, mas conseguiu e pôde rosnar sobre o comentário a vontade.

–A ideia foi do Boyd....- murmurou, mesmo assim indo se juntar ao núcleo central que rodeava a guloseima.

Stiles tinha uma colher cheia na boca, mas não foi o bastante para fazê-lo parar de falar.

–Mas você aceitou- ele disse, o sorriso debochante no rosto- além disso, na minha cabeça é muito mais divertido pensar em você tendo que ir comprar sorvete no mercado com essa expressão de quem quer comprar carne humana para o jantar- ele tirou a colher da boca para começar a encher um pote, mas então parou Você rosnou para o caixa? Por favor, diga que você rosnou para o caixa. Rrr, eu não compro sorvete por vontade própria, eu sou um animal selvagem e me alimento da minha própria caça na loja de conveniência. Espera, foi você que escolheu o sabor ou foi realmente porque você achou que fosse o menos suspeito? Porque eu tenho que dizer, cara, morango não é exatamente uma escolha certa para esse quesito.

–Cala a boca, Stiles.

–Ok, eu estou calando a boca- o garoto enfiou uma colher inteira na boca como se fosse algo fácil- Calaaando a boca. Nesse exato momento.

–Tá, só...pare de falar. Ou eu vou-

–Rasgar minha garganta com os seus dentes?- ele sorriu, sem abrir a boca, claro.

Derek apertou os olhos. Ele odiava quando Stiles fazia isso. Quando ele falava e era espertinho e falava sem parar e completava suas frases como se ele fosse o previsível.

Stiles, por outro lado, parecia estar tendo o melhor momento da sua vida, sorrindo daquele jeito estranho e torto que fazia tanto querer socá-lo quanto contar nas mãos os motivos pelo qual sua vida era assim.

Derek sempre se perdia no motivo cinquenta e tanto.

–Stiles!- Scott saltou de um lugar qualquer e bateu o corpo tão forte em Stiles para um abraço que a tigela deu três pulos e sete cambalhotas antes de ser pega de volta. Stiles não tinha reflexos de lobo, claro.

Mas a resposta foi imediata quando ele se virou para abraçar o amigo de volta.

Não era como se tivessem se visto há apenas duas horas atrás, claro...

E claro que Derek estava totalmente ocupado estando preocupado com a mancha doce no tapete. Um mais motivo para ignorar o bater ainda mais forte do coração do garoto com um grunhido totalmente fora de seu lado humano.

Será que mais ninguém percebia? Era tão sonoro e óbvio que Derek não entendia.

Então ele se lembrou de que todos eles deviam passar um tempo consideravelmente longo demais juntos na escola ou seja lá o lugar em que ficam os adolescentes. Tempo o bastante para se acostumar com a histeria do coração do garoto, com certeza.

O que simplesmente explicava metade do problema em si.

Mas Derek estava ocupado demais com a mancha no tapete. Aquilo era um assunto importante para manter sua autoridade dentro de sua própria casa com sua própria alcateia.

Uma mancha de sorvete.

–Stiles- ele rosnou, o nome pegajoso em sua língua.

O garoto virou para ele, olhos arregalados e colher na boca. Boca essa que sempre teve um formato peculiar, mas ficava consideravelmente mais distrativa com algo dentro.

Stiles livrou os lábios, tão apreensivo que, Derek agradeceu, não percebeu o olhar tão fixo. Mas até ele acabar de lamber reflexivamente, o homem não acalmou. Ou o lobo dentro dele. Tanto fazia.

Não passava de irritação, afinal. Nisso Stiles era bom. Era ótimo.

O garoto não pareceu ligar, apenas guiou o olhar para baixo, enquadrando a mancha inevitável abaixo dos pés e o rosto tenso murchou imediatamente. Stiles gemeu de compreensão e forçou um sorriso amarelo pelos cantos da boca.

–Opa- ele disse, cuidando-se para não encarar de outro modo senão arrependido o Alfa- desculpa, Derek. Mas tudo bem, mancha de sorvete sai facilmente. Eu posso mandar para lavar. Eu pago se for preciso. A não ser que você realmente precise desse tapete. Ou que ele seja valioso demais para você deixar ele ir por algum tempo. Meu deus. Por favor, não me diga que era um item valoroso para sua família. Derek, eu sinto mui-

Stiles ele rosnou mais uma vez, imaginando se era por Stiles ser Stiles ou porque ele não era um lobo que sua voz de alfa fazia tão pouco efeito- Deixe.

O garoto pareceu miserável por um segundo antes de concordar rapidamente e cambalear para algum outro lado longe dele. Coração de coelho em alerta fuçando entre os outros sentidos do lobisomem. Se ele pudesse cheirar melhor, talvez pudesse reconhecer a natureza da histeria cardíaca, mas era impossível sob aquele som.

Derek quis dizer que não, o tapete nada tinha a ver com a sua família. Era compra de Erica de uma feira barata qualquer e não tinha mais valor que notas desesperadas no bolso. Na realidade, ele nem tinha por que ficar tão irritado com a mancha.

Mas Stiles tinha esse dom. Ele conseguia gerar irritação.

Seja coração barulhento ou não.

O Alfa passou o resto da noite inteira enfurnado num sofá lotado entre um adolescente hiperativo e uma tigela enorme de pipoca, vendo Bruce Wayne perder os pais pela quinta vez e pensando em como seria sua vida se ele tivesse arranjado uma capa ao invés de rancor puro.

X-

Na segunda vez, Derek imaginou que eram os exercícios físicos.

Ele estava esperando o treino de lacrosse acabar, dentro de seu camaro - e não vagando pela floresta, mas no estacionamento como Jackson havia reclamado que "Sério? Como se um homem observando adolescentes treinarem não fosse tão suspeito quanto uma alcateia de lobos andando pela cidade" "Jackson, você é parte dela" "E ninguém falou com você, Stilinski". Derek estava ouvindo e suportando a música de uma rádio qualquer com uma revista nas mãos que Stiles havia largado um dia em uma semana de um mês em seu loft.

Não era como se estivesse apenas entediado, não, essa fase já havia passado há meia hora antes quando terminou sete palavras cruzadas diferentes e debatia consigo mesmo as vantagens de comprar um celular, sendo a principal a possibilidade de passar o tempo. Claro que não. Aquilo já estava virando impaciência.

Estava criando coragem para ler o único artigo restante, sobre fetiches e práticas sexuais duvidosas -sério, adolescentes e seus hormônios- quando resolveu levantar e entrar na escola.

Não era como se fosse ainda procurado pela polícia, ou como se não pudesse inventar uma desculpa como motivo - Isaac e sua necessidade de um lar somada ao seu apartamento vazio e um tio psicopata a menos sendo ela. Além disso, sua perna estava precisando de uma esticada e ele não ia se render a uma revista e suas discussões desconfortáveis se pudesse evitar.

Derek sentiu um alívio ao poder tropeçar para fora do carro e se espreguiçar, demorando nos passos para andar. Ele ainda se preocupava com a falta de segurança na escola -afinal, sua alcateia inteira passava boa parte do dia ali dentro- mas agora agradecia por poder contornar a burocracia toda e simplesmente abrir a porta e entrar.

Não importava o fato de que sua vontade de estar em um ambiente cercado de adolescentes estúpidos e alguns que não eram, Stiles e Lydia estudavam ali- era ínfima ao ponto inexistente.

Apesar de não ser exatamente mais horário de aula, ainda havia um ou outro aluno e aluna que parava o andar morto no momento em que avistava a forma estranha -e, vamos ser sinceros, bonita- que passava pelo corredor. Ignorando as sobrancelhas ameaçadoras e a pose franzida, claro.

Uma pessoa sabe ignorar esses detalhes quando precisa.

Assim como ele sabia ignorar por vezes o quão estranho Stiles andava geralmente, debaixo das roupas três números maior que as apropriadas. E debaixo do tecido esportivo, sob cansaço do lacrosse e a hiperatividade que não lhe deixava respirar entre uma palavra e outra, Stiles devia sofrer. Imagine o suor impregnado em seu andar tremulante.

De repente, lacrosse até parecia algo legal.

Mesmo que Derek ainda preferisse os tempos do basquete.

Afinal, não era nada saudável pensar em menores de idade e camisas suadas. Respirações falhas e pingos de suor em cílios negros e narizes empinados e cabelos molhados.

Assim que ele virou algum corredor -porque, ninguém sabia nem acreditava, mas ele era ótimo com direções - estava claro que ele estava seguindo o caminho certo. Só precisava ir mais rápido.

O barulho o atingiu como uma flecha, tão de repente quando consequente, o coração tão acelerado. Como se fosse medo, ou pânico, algo que provocasse o pulsar a correr sangue para uma luta. Só que num ritmo frenético que para ele não deu espaço nem para parar de andar, apenas para começar a correr, se preparando para o perigo, o que quer que fosse que estivesse ameaçando o bem estar da alcateia.

O batimento retumbava em seu ouvido e latejava pelas suas mãos, preparando as garras enquanto usava de sua velocidade sobre-humana para impedir que fosse tarde demais.

Não fazia dois meses desde o kanima. Era de se esperar que o destino lhes daria um descanso prolongado.

É. Acho que não.

Afinal, é Beacon Hills. É onde as coisas loucas acontecem.

O que ele não poderia deixar acontecer é perder mais uma alcateia. Ainda mais sob seu próprio nariz.

Derek chegou ao campo em velocidade recorde até para um padrão sobrenatural.

O barulho era tão forte que não se misturava com seu próprio batimento. Ele imaginava. Estava tudo tão borrado que ele não tinha certeza.

Talvez por isso ele tenha ficado um bom tempo parado ali até entender que não havia perigo a mais que o gramado molhado por onde os garotos corriam em voltas e mais voltas sob os gritos - não instruções, gritos- do treinador.

Nada de lobisomens, lagartos mutantes venenosos, cavalos de sete cabeças que cospem fogo ou qualquer outro evento nesse estilo. Apenas suor adolescente e dor física.

Muita dor física.

Derek localizou Stiles para trás do grupo que corria freneticamente, mãos nos joelhos e respiração pesada. O treinador gritava para ele coisas que ele com certeza sabia ignorar muito bem -com isso Derek era familiar, Stiles era famoso por ignorar ordens. O coração que estranhamente tinha descansado um segundo atrás voltava a bater rapidamente.

No momento, ele estranhou, mas protelou o pensamento por seu próprio descanso, envergonhado com a confusão e grato por ser o único a saber dela.

Lembrando-se bem das palavras do Jackson -ninguém deveria ligar muito para o que geralmente saía da boca dele, mas às vezes ele decidia fazê-lo- Derek escolheu por sentar-se na arquibancada e esperar dali a aula acabar.

Muito melhor que revistas de artigos sexuais e música popular de conteúdo ínfimo.

Ele sabia por dizeres que Jackson e Scott eram dois membros destacantes do time, que Boyd e Isaac eram recém-chegados promissores e muito dedicados, assim como sabia que o grande trabalho do Stiles era esquentar o banco durante o tempo de jogo.

Ser um humano entre um grupo de lobos não deveria ser fácil.

Mas o garoto era dedicado ao limite, qualquer um sabia. Passava noites em claro para contribuir para a alcateia, não faltava a uma reunião sequer e sempre vinha avisar Derek de qualquer movimento estranho, seja dentro ou fora do grupo. Do mesmo jeito, mesmo atrás de todos por uma distância considerável sob os gritos do treinador -sério, o garoto devia estar totalmente acostumado- ele não parava de correr para segui-los, pernas grandes demais nas vestes, caminhada torta e desbalanceada.

Derek se ajustou no lugar, sentindo-se desconfortável com o aumento dos batimentos. O garoto corria exatamente como ele imaginava. Agora, fora das corridas-oh-meu-deus-stiles-corra-do-lagarto-mutante, ele podia observar isso.

É incrível o quanto você pode ver quando não está fugindo pela sua vida.

Stiles parou mais uma vez de correr para respirar, capturando o ar com uma boca bem aberta e Derek reconheceu o momento exato em que os olhos grandes de avelã localizaram o homem na arquibancada, porque eles cintilaram no exato momento. O garoto deu um sorriso enorme ao acenar entusiasmadamente em sua direção, provavelmente esquecendo que estava exausto.

Seu cabelo estava encharcado em suor e seu rosto sempre pálido estava vermelho como o uniforme. A camisa, essa não tão grande quanto suas normais, se apegava ao corpo molhado e salgado fazendo parecer que havia mais músculo ali do que normalmente se veria. O cheiro era tão pertinente que Derek quase sufocava nele, mesmo distante.

E o barulho acelerou imediatamente, conturbando sua respiração.

Somente quando Stiles recebeu uma bronca pela distração e teve que voltar a correr que Derek percebeu que estava sorrindo de volta quando devolveu o aceno.

Era a preocupação com o bem estar emocional de sua alcateia, seja humana ou lupina.

O que explicava nada sobre muita coisa.

X-

Na terceira vez, parecia ser fruto das amizades.

Ok, talvez um pouco de felicidade porque alguém Derek não admitiria a culpa nunca- havia pensado em recompensar Stiles e toda sua devoção à alcateia com o poder de escolha e Derek também não admitiria a vingança por todos terem oscilado para o lado do Scott na hora de escolher os filmes da última reunião, menos o humano que não se submeteria a uma sessão se filmes românticos que viraria uma sessão de pegação asquerosa da qual eu não poderia fazer parte de qualquer forma. Não. Não admitiria nada. Nunca. Nem sob tortura.

Até porque o feitiço se voltou contra o feiticeiro. Não que não importasse a culpa nem que a rejeitassem. Na realidade, a culpa era muitíssimo importante agora. A culpa era essencial.

E ela era inteira do Stiles.

Não importava o quanto Derek soubesse que ele sabia que aquilo iria acontecer.

Afundar os laços da alcateia, Isaac havia dito e Derek se lembrou com pesar e vingança, eventos são importantes.

–Vocês tem...o quê?-Derek disse, não se preocupando com a voz emburrada- Dezesseis anos?

–Daqui sete dias, dezessete- Stiles respondeu de onde tentava mexer a perna dentro de uma calça apertada. Mais apertada que o normal, pressionando suficientemente o contorno firme do seu...- sem pressão, gente. Mas eu vi um jogo de PS4 que acabou de lançar e se alguém está procurando uma dica para o que me dar...

–Vai ter festa?- Erica perguntou, tentando mover os braços sob o plástico rígido e branco. Derek sabia como ela se sentia, estava numa situação parecida.

–Hã...não?

–Então também não tem presente.

–Tá, tá- ele dispensou o comentário com a mão, voltando a observar a perna sendo flexionada sob o tecido enquanto gesticulava algo- Seu ponto, Derek?

–Que vocês são velhos demais para pedir doces no Halloween!

–Novos demais para bebida alcoólica, velhos demais para doce de graça. Ser adolescente é uma merda total para mim até agora- ele respondeu, procurando com cuidado por furos no colete que pegou da mesa e murmurando algo sobre beijos e sexo que quase fez as orelhas de Derek queimarem- se nós estamos velhos demais, o que dirá você?

Derek fez o que Stiles gostava impertinentemente de chamar de sobrancelhas do julgamento final, levantando-as. Ele não via nada demais nesse gesto, era quase inerente a sua personalidade, mas todos achavam hilário.

Eu direi que estou sendo obrigado por um garoto de dezesseis anos a me vestir para o Halloween.

E Stiles devolveu com o que Derek gostava de chamar de espasmos da destruição, fazendo...o que ele sempre fazia. O que seria um conjunto de ações, porque o garoto não podia reagir com um simples ah ou oh, mas tinha que esticar o pescoço, rolar os olhos e apertar os lábios finos.

Stiles usou os dedos longos para desenhar aspas enormes no ar:

–Obrigado- ele debochou, pegando uma arma ,queDerekesperavapiamentequefossedementira, para brincar- Derek, não precisa fingir, ok? É o sonho de qualquer pessoa se fantasiar de Darth Vader. Ou fantasiar sobre o Darth Vader. O que for melhor para você.

O adulto soltou um arquejo, espiou para baixo de si mesmo, que não conseguia sentar por causa das partes rígidas da fantasia preta. Ele tinha tirado o capacete porque se sentia apertado debaixo daquilo e não queria nem pensar em como seria assim que saíssem de seu loft e fossem para a rua. Ah, ele iria querer usar o capacete. Mas por vergonha, claro.

Não era porque aquela fantasia possuía detalhes interessantes e o capacete o deixava fazer a voz característica.

Claro que não.

Stiles sorriu de onde terminava os últimos detalhes de sua fantasia de Han Solo. O injusto.

–E você tem que concordar- ele disse, fechando o zíper da roupa peluda do Scott com um meio sorriso que fazia qualquer um tremer- até que tudo combina.

Erica, Boyd e Isaac gemeram em uníssono, o que Derek se orgulhava em pensar que era parte do laço lupino que eles tinham criado juntos. Allison riu, mas ele achava que ela podia rir o quanto quisesse.

Ela estava de Luke Skywalker, afinal.

Scott sorriu imensamente para o riso dela e deixou um beijo rápido onde havia um sorriso.

Ok, agora ele estava vendo o Chewbacca beijar o Luke Skywalker. E a visão nem o pensamento parecia algo agradável. Mesmo ele sendo um lobisomem com paixões humanas.

Stiles pareceu pensar a mesma coisa, porque fez uma careta para a cena.

–Scott, você está arruinando minha vida nesse exato momento!

O amigo levantou a cabeça, parecendo miserável. Obviamente para qualquer um, ele não entendeu o quanto traumática aquilo estava sendo. Pelo menos para Derek. É. Ele estava um pouco abalado.

–Então porque você colocou o Scott como Chewbacca e Allison como Luke?- Erica perguntou, os olhos flamejantes de onde tentava colocar a última peça rígida de roupa branca.

Stiles apertou os olhos, como se aquilo fosse uma grande e terrível ofensa a sua obra prima. Talvez fosse, Stiles levava Star Wars à sério, como qualquer ser humano descente.

–Porque a Allison pode e ela é demais e ela certamente seria um cavaleiro jedi muito b...cavaleira jedi muito boa. E ela e a Lydia são como irmãs...não que elas tenham se pegado! Eu acho. Nenhum problema contra isso se tenha acontecido- ele balançou a cabeça, seu método de Stiles, foco! pessoal e então gesticulou para o amigo- E o Scott é o Chebacca porque ele sabe fazer o barulho.

Scott se iluminou ao ouvir o elogio (?) do outro, mas mesmo assim voltou a abraçar Allison. E Stiles relevou dessa vez, talvez mais distraído com a defesa de sua escolha que qualquer outra coisa.

–E eu acho que o resto vocês já descobriram- ele continuou-Lydia é a Princesa Leia, Jackson era para ser o Jar Jar Binks, Erica, Isaac e Boyd são Stormtroppers e, obviamente, nosso Derek Hale, Lorde Negro dos Lobisomens, é o Darth Vader!

Lydia levantou os olhos de onde estava lixando as unhas, maquiagem já aperfeiçoada demais para mãos humanas e roupa perfeitamente pronta, apenas para apontar o olhar para Stiles.

–E você é o Han Solo?- ela perguntou, como se ele fosse a coisa mais impossível do universo.

–Exato- ele respondeu, como se aquilo fosse parte de uma análise conclusiva importante para o mundo e seu funcionamento.

Ela revirou os olhos, ainda que estivesse verificando o penteado firme.

–Você é o Han Solo porque a Lydia é a Leia?- Scott perguntou e Derek tinha clara percepção de que estava se intrometendo na conversa fazendo uso de sua audição lupina. Mas, estranhamento, ele queria ouvir a resposta do garoto.

Todo mundo sabia que Stiles tinha um plano de dez anos em relação ao seu amor por Lydia. Era sabido. Apesar de tudo isso, fazia tempo que ele não se manifestava sobre isso como deixava tão óbvio no começo. O que o fazia pensar, num estranho e complicado alívio, que Stiles já não sentia por ela o que antes sentia.

Mas foi Lydia quem se manifestou. Com uma risada que chamou a atenção dos dois garotos, nada maléfica, mas sem deixar de ser ao mesmo tempo.

–Então porque o Derek não está de Princesa Leia?- ela respondeu, o que era para parecer quieto.

Derek pensou em ignorar o modo como Stiles adquiriu tons de vermelho que ele nunca havia visto, porque até mesmo ele conseguia sentir o calor do próprio rosto. Uma troca equivalente em favor do fato de viver rodeado de adolescentes com hormônios à flor da pele e palavras inadequadas na ponta da língua.

E foi quando o coração começou.

O mesmo tom de sempre, forte e rápido. O barulho já era algo com o qual estava acostumado, sempre ali com Stiles quando ele o encontrava, mas de vez em quando ele guinava e corria, afundando-se em seus ouvidos até seus dedos.

Stiles tossiu, quando o barulho diminuiu. Lobo ou não, Derek sentia o calor do rosto dele e tudo que queria fazer e que ninguém o culpe, eram pensamentos era se acalentar perto daquela chama.

–Porque obviamente a roupa não cabe no nosso Taylor Lautner- o garoto respondeu, se esforçando para manter a voz debochante, mas pelo modo como até Isaac tinha um sorriso no rosto, nenhum dos dois, Stiles ou Derek, era profissional em esconder.

Porque por mais que o homem soubesse que tinha no rosto as mesmas sobrancelhas franzidas e o queixo endurecido, Erica estava olhando direto em seus olhos com seu melhor deboche quieto. E Boyd. Até Boyd estava sorrindo.

Às vezes Derek desejava ter pensado duas vezes antes de ter mordido esses três.

Quando Stiles se virou e ergueu o punho para o teto, grito de guerra alto nas cordas vocais para anunciar horário, Derek jura de pé junto que estava olhando para os fios de cola quente que grudavam em sua calça apertadíssima sem que ele percebesse.

Não era para o traseiro bem ajustado.

Não importava o que Erica ou Isaac falassem. Nem Boyd.

.Até Boyd estava comentando. Droga, Boyd.

Mas, tudo bem. Ele era o Darth Vader e não tinha tempo algum para ouvir Stormtroppers e suas desobediências.

Não importava o quanto eles reclamassem sobre os doces que ele entregou para o Han Solo.

Ele não iria comê-los mesmo.

Estava concentrado naqueles batimentos cardíacos, tentando não pensar em como o coração de Stiles batia tanto perto dele. Ele não iria se enganar mais uma vez.

X-

Na quarta vez, Derek pensou que era tristeza.

Stiles nunca faltava a uma reunião da alcateia. Nunca.

Uma vez, Scott tinha dado mais um chilique de ataque pela independência e moral e ética (ou outra palavra qualquer que ele tenha usado no discurso da vez), derrubou várias porcelanas reclamando sobre o modo de ser alfa do mais velho e saiu como uma tempestade pela porta. Derek achou que era isso e que nunca mais veria nenhum deles.

Stiles apareceu em sua porta no dia seguinte, postura como outra de qualquer dia, cheiro natural de qualquer adolescente, apenas sorriu, entrou e irrompeu a falar sobre uma criatura estranha que ele tinha certeza de que estava morando no lago da cidade não importava o que eles dissessem sobre sereias.

É dia de reunião, ele havia explicado quando Derek encarou por tempo demais sem falar nada. Como se isso realmente explicasse algo.

Talvez não explicasse, mas Derek sorriu quieto para a parede mesmo assim enquanto o garoto irrompia a falar sobre kelpies e nothossauros.

Porém, agora se passaram uma ou duas horas desde que todos haviam aparecido no apartamento, jogados pelo chão do local inteiro, e Stiles não dava sinal algum de vida.

No começo, Derek não se preocupou, porque Scott estava ali e Scott era grudado ao garoto o bastante para sentir quando uma formiga picava seu dedão e Scott estava sentado com Isaac e Allison comendo de um saco de salgadinho e Scott estava tranquilo. No entanto, a demora era tamanha e as palavras eram tão poucas que eram nada, que a preocupação -não que ele admitiria tão abertamente- pela parte de sua alcateia estava subindo a sua cabeça.

Apenas quando Boyd o avisou para parar de tamborilar os dedos na mesa de vidro nesse ritmo irritante, porque por mais que ele conseguisse controlar os sentidos ele mesmo, ele está em uma sala cheia de lobisomens não tão praticantes com a audição aguçada que não merecem sofrer por isso numa reunião de alcateia mais do que já sofrem na escola, Derek resolveu falar com Scott. Porque Scott conhecia Stiles.

Mesmo o Golden Retriever da Alcateia Hale estranhou-se na questão. Não eram precisos os sentidos aguçados de um lobo para ver o quanto ele ficou subitamente desconfortável, uma expressão muito mais rígida tomando conta do rosto que sempre sorri.

Derek resolveu que era hora de ficar preocupado. Pelo menos um pouquinho.

–Stiles...ele...- Scott se reajustou perto da Allison, sobrancelhas tão tristes que nem a garota deixou passar- não pôde vir...

Também não era preciso sua super audição para perceber a meia mentira. Sério, Scott era tão ruim em mentir que para ele parecia realmente tortura física fazê-lo.

Derek bufou em desprazer, pensando em que tipo de complicações um bando -alcateia, ele se corrigiu- de adolescentes recém cabíveis a esse mundo sobrenatural teriam. Com certeza nada perto do que era terrível o bastante para largar uma reunião sem explicação.

Como fogo. E mentiras.

O Alfa grunhiu alguma coisa talvez ofensiva e pisou forte pela porta de ferro, nada mais que a vontade de socar alguns humanos -um humano, ele se corrigiu- e a chave do seu camaro. Por mais que ele não quisesse admitir, ele cruzou a cidade em um recorde talvez nacional em carro, pouco se lixando para o que as placas ou regras o diziam -se Stiles podia ser contra elas o tempo inteiro, ele também pode por um tempo! Ele foi um assassino procurado, pelo amor de Deus! Exceto que ele não havia matado ninguém...

Parado na rua ao lado da em que a casa dos Stilinski ficava -ele não era idiota, apesar do senso comum, geralmente ele gostava de não criar suspeitas sobre um camaro conhecido parado na frente da casa do xerife- ele foi rápido em encontrar a moradia. Mesmo passando pelo seu contorno, ele viu a luz acesa na sala e mesmo apressado ele estranhou.

Não era como se ele fosse o único que o faria, todos sabiam que essa noite era de trabalho duplo para o xerife -mais um motivo para as reuniões serem de sexta, sabendo que o pai do Stiles não faria perguntas sobre o que ele estaria fazendo toda sexta à noite na casa de um homem mais velho- o que significava noites em claro na delegacia.

Mas a luz estava acesa e a televisão estava ligada em um canal qualquer que claramente não tinha importância porque o volume estava baixo demais para ouvidos humanos. E Derek sabia que não era Stiles.

Sabia por que ele estava ao pé daqueles batimentos fortes, quase que preocupados, quase que contornados, quase que qualquer coisa que o fazia liberar as garras como reflexo.

Ele se aproximou pelas laterais, por onde ele sempre subia pela árvore que estrategicamente dava direto com a janela do garoto. Ele se aproximava com os sentidos à flor da pele capturando tanta coisa sobre o cenário que nem ele mesmo conseguia digerir e fazer conclusões, o que só contribuía para a curiosidade preocupante.

Quando ele já estava com um pé num galho alto, ele sentiu com mais clareza o cheiro de álcool que infestava o andar debaixo, onde certamente o xerife bebia inconsequentemente sob o efeito da televisão. Derek se pegou pensando em se o homem estava realmente percebendo o quanto ele estava ingerindo antes de pousar os pés no telhado debaixo da janela de Stiles.

O coração batia consideravelmente mais rápido agora.

Derek espiou pelo vidro, mesmo que o lugar estivesse completamente escurecido. Ele imaginou por um momento que Stiles, esse mesmo que o havia dado uma revista sobre sexo para adolescentes, estaria tendo um momento privado. O que certamente explicava o calor que subia pelo seu rosto enquanto tentava ver qualquer coisa suspeita pela janela dele.

Mas -e ele devia saber, porque mesmo atrás do vidro ele conseguia cheirar o desconforto- ele podia ter se preparado para esbarrar num momento privado entre Stiles e sua mão -afinal, ele geralmente o surpreendia pela janela, ele tinha que se preparar toda vez que se arriscava.

O que ele não podia ter se preparado era encontrar uma montanha de cobertores encolhida na cama bagunçada. Derek tentou engolir o nó na garganta que caiu friamente pelo seu corpo. Tinha calor debaixo daquilo que ele só sentia como humano, mas cheirava mal.

Não como sangue, ou putrefação. Mais como...tristeza. Desesperança. Desolação. Angústia. Desconsolo.

Luto. Puro luto.

Aquilo era como um soco no rosto, uma facada no peito, e causava-lhe dor física extrema que o fez não pensar duas vezes antes de abrir a janela, o som do batimento ainda mais forte, e entrar no quarto escuro.

O corpo nem se mexeu e havia um cheiro confortante agora tão de perto que Derek lutou contra para não se jogar logo em cima dele e abraçar o aconchego. Era o instinto de qualquer lobo.

E Stiles cheirava a -era, agia como- família. Seu apartamento estava infestado naquele cheiro viciante. E não era apenas daquele momento.

Derek grunhiu. O corpo se encolheu, livrando-o da teoria de que estava apenas dormindo.

O mais velho acomodou-se na ponta da cama, fingindo não sentir nada quando o corpo lhe deu mais espaço. E não falou nada, apenas ficou respirando aquele cheiro que no cotidiano era tão bom, mas agora parecia tão deprecado e doloroso e sob o som não tão mais confortante do coração que ele tanto ouvia sempre que chegava perto do garoto.

Derek viu o calendário com a data circulada logo ao lado de uma foto em um porta retrato ainda quente de tão manuseado, onde um garoto banguela de nariz empinado tentava sorrir nos braços da mulher mais linda que Derek poderia ter imaginado.

Mas isso devia ser porque ela se parecia tanto com Stiles...que até nele doía.

O corpo encasulado virou-se para ele e apenas a cabeça do garoto, que nem podia esconder a vermelhidão nos olhos, os traços salgados que pinicavam em sua bochecha a miséria estampada nos olhos escuros. Stiles fungou longamente, olhando tão abaixo dele que Derek se pegou pensando que aquilo não poderia ser verdade.

Stiles era um garoto hiperativo, sempre energizado da emoção. Ele era feito para fazer referências terríveis sobre filmes sci-fi nas piores horas possíveis, satirizar os discursos das criaturas que eles enfrentavam, caçoar da comida de Isaac, tropeçar em raízes invisíveis nas corridas pela floresta, brigar com Erica quando ela entrava de fininho na cozinha para roubar comida antes das refeições, desenhar bonecos palitos em seu caderno de anotações durante as reuniões e exibir em molduras como obras de arte, fazer cumprimentos de mão ridículos com Scott todos os dias, vencer apostas ainda mais ridículas, escolher filmes ainda piores para as sextas, inventar nomes ofensivos para a alcateia que Derek secretamente gostava de ouvir, balbuciar teorias da conspiração durante o jantar, caçoar de suas habilidades ínfimas socialmente...

Não ser miserável.

Isso não.

Então Derek se lembrou da noite em que sua família inteira morreu sob o fogo cruel.

As peles que constantemente tentavam se curar e apenas prolongavam a dor das crianças. Sua irmã recebendo o poder de alfa tão de repente ao seu lado, denunciando o momento em que sua mãe soltou o último suspiro e deu seu adeus tão longe deles. A risada de Kate Argent. A loucura de Peter que perdia sua esposa em troca de sua vida. Os corpos nas ruínas de seu lar, queimados em poses infratas no lugar inteiro. O modo como ele ouviu os últimos gritos e uivos cortarem a floresta e ele não conseguia correr rápido o bastante, não importava o quanto tentasse, as pequenas crianças lobos que há tão pouco haviam aprendido sobre a lua cheia sendo consumidas pelo calor sob o poder lunar. Os gemidos desesperados de uma alcateia inteira que um dia ainda havia se reunido debaixo das noites para comer e rir, ele mesmo gargalhando e planejando pegadinhas com suas irmãs que fariam uma família inteira contente com a surpresa. Então mortos. E então Laura se foi. E Peter também.

Derek conhecia a miséria.

Ninguém escapava dela.

Nem mesmo Stiles e seu sorriso brilhante e olhos quentes.

O garoto tentou um sorriso antes de perceber que o esforçava demais e desistir.

Derek nem tentou. Fazia tempo que não tentava.

Stiles abriu a boca, porque falar sempre era seu primeiro reflexo, mas obviamente a tremedeira nos lábios não o permitia tentar. Derek apenas colocou uma mão no cabelo um pouco molhado em suor e observou o garoto sucumbir ao toque alheio sem hesitação, apenas fechando os olhos e se acomodando mais dentro dele por um bom tempo.

O ritmo do coração bateu ainda mais forte, correndo pelo corpo de Derek enquanto ele calmamente se afundava nos fios do garoto, ignorando o formigamento dos dedos que subia até sua cabeça, confundindo-se com todas as outras sensações aguçadas.

Stiles dormiu murmurando contra a perna de Derek, falando sobre sua mãe e como ela era, sobre se esconder na delegacia com ela para esperar seu pai chegar e surpreendê-lo com um bolo que só ela sabia fazer bem, não importava o quanto ele tentasse imitar. Sobre os dois preparando fantoches de meia para apresentar ao xerife. Quando todos se reuniam para escolher os filmes mais engraçados na TV e tirar sarro em família. Como a mãe dele sempre falava dele como seu Stiles e dizia que ele seria o primeiro a descobrir vida em outros planetas- e espantá-los com sua loucura, ele riu. E apesar de ter um quê de nostalgia feliz, nunca deixava o tom de tristeza para trás.

Derek conhecia isso.

Sua mãe gostava de fazer doces que até os lobisomens mais carnívoros não resistiam. Mas era seu pai que a superava na cozinha sem licantropia alguma.

Derek só percebeu que havia caído no sono ao lado ele quando amanheceu o outro dia. Braço grudado no corpo de um Stiles calmo e bonito. Como se Derek pudesse fazê-lo feliz, mesmo que por horas.

X-

Na quinta, Derek confirmou que era sentimento.

Ele estava pulando para fora da janela de Stiles ao amanhecer, pensando que um coração só bate tão intensa e fortemente do modo que ele ouvia do garoto quando era amor. E se Stiles o amasse, então não seria ruim, não seria nada ruim.

Seria o melhor dos dias, o melhor dos anos. Porque Stiles era todo lábios finos e sorrisos ofuscantes, olhos amendoados e cílios grossos, dedos longos e pescoço fino, movimentos imprevistos e palavras engraçadas, frases corajosas e cabeça inteligente, jeito amigável e empatia condizente.

Era pouco dizer que ele o amava -mesmo o susto da palavra. Era mais como se ele o destinasse.

E se Peter, seu pai e sua mãe tinham algo a dizer sobre licantropia e sentimento é que um lobo acha no mundo um único companheiro eterno para complementá-lo no grupo. Um único.

E para ele não havia mais ninguém que fizesse família na alcateia, que fizesse de importante o que todos eram e olhasse para ele com o coração fervoroso como Stiles Stilinski.

E Derek estava pronto para dar meia volta, sentar ao lado dele e esperar que acordasse para gritar que também o amava e que eles podiam sair juntos e eles podiam se beijar -se Stiles o quisesse- e que eles podiam se abraçar e eles podiam tentar fazer receitas da mãe dele e eles podiam ver todos os filmes que ele reclamava que Derek não havia visto. Se ele não percebesse o que tinha de errado e sua expressão derretesse.

Porque o coração, aquele mesmo barulho, voltava nele, o tom forte e retumbante reconhecível ainda pior. O problema, tão grande, era que Stiles estava dormindo.

Nenhum sinal de agitação além do seu casulo de cobertor. Nenhum pesadelo. O que não explicava de modo algum o barulho agitado que seu coração deveria estar fazendo. Não havia como seu coração estar tão agitado sob o sono calmo que ele estava tendo.

Derek estava ouvindo!

O homem paralisado, pensando na loucura que estava presenciando, avançou sua mão calmamente no peito do garoto embrulhado no cobertor.

Debaixo de seus dedos, o coração batia num ritmo em bálsamo. Nada parecido com o que estava tocando em seu ouvido todo esse tempo, por tantos dias e assombrava seus pensamentos e agora era motivo de alegria porque ele pensava que tinha descoberto o mistério e que poderia contar a ele o que sentia e poderia tocá-lo não como alfa nem como amigo e ele sorriria para ele, algo privado diferente do que fazia com os outros e...

...era mentira.

Porque ele percebeu, o som latejando seu ouvido quente, que aquele não era o coração de Stiles.

Era seu próprio coração, enganando seus sentidos.

Ele estava ouvindo seu próprio sentimento.

Mas que idiotice.

X-

(Na sexta vez, percebeu que não era um, dois, três, quatro e muito menos cinco.

E era um terrível engano. E ele estava errado. E ele estava quebrado. E que Stiles ainda era adolescente. E que Stiles não tinha sentimento algum por ele como ele imaginou.

E ele pulou da janela e correu de volta para casa como se não houvesse sido já tão humilhado)

oOo

X-

oOo

Ok. Alguém pode fazer o favor de cuidar desse alfa desolado no canto? Ninguém aqui veio para ficar cheirando esse sentimento de melancolia que está infestando o lugar inteiro. Já basta os primeiros meses do Isaac, achei que já tínhamos nos livrado desse fedor.

Considerando que ela havia se segurado por duas horas sem abrir a boca, Derek estava bem orgulhoso por Erica. Ele tinha consciência de que além de ser impossível esconder tudo o que passava de lobisomens super olfato e tudo incluído- e também tinha consciência de que nenhum dos seus três betas mais dedicados deixaria de abrir a boca sobre o fato de ele estar encolhido num canto da sala fingindo ler a mesma página de um livro que nem ao menos estava em sua língua - há três horas, com uma xícara de chá agora frio esquecida em sua frente.

Uma hora a bolha ia estourar. Seja então, ou seja na sexta -quando encarar Stiles seria inevitável e ainda teria plateia.

Ele só esperava que eles fossem aguentar por mais tempo.

Então Erica marchou até seu alfa, pouco pensando em hierarquia ou qualquer outra regra da natureza. Seus saltos estalavam contra o chão de forma brusca e violenta que não o fizeram se atentar, porque se ele pensasse no modo como ela andava, cheia de confiança, ele começava a pensar em Stiles com seu gingado capenga e estranho, mas prepotente sempre, principalmente quando estava ao lado dele enfrentando alguma força sobrenatural.

Derek sentiu ter morrido mais um pouco.

–Já basta a comida mal cheirosa do Isaac.

–Ei!

–Nós não suportamos esse cheiro desolador que sai de você- ela completou, rolando os olhos para ele ou o outro beta, não importava Derek, você está há uma hora parado como se o mundo a sua volta tivesse morrido ou algo do tipo. Sério, deixe de ser patético.

Talvez ele sentisse que o mundo tivesse morrido, ok? Ele estudou muitas músicas depressivas nos últimos dias que diziam exatamente isso.

–Cala a boca- ele devolveu, com toda sua maturidade restante. Ele pensou em esticar a língua, mas não queria mais abrir a boca.

Ele praticamente podia senti-la rolar os olhos ao seu lado. Ele se perguntou se era assim que eles se sentiam quando estavam com ele. Stiles lhe dizia que ele devia parar de rolar os olhos toda vez que ele soltava algum comentário esperto, ao que a resposta foi um quando seus comentários deixarem de ser ridículos, talvez eu pare, mesmo que de fato tudo o que Stiles falava importava a ele e nada era ridículo. Nada.

Erica tremeu ao seu lado, sentindo uma onda de sentimento.

–Aí!- ela apontou, assim que a tontura passou- É dessa angústia que eu estou falando!

Derek suspirou profundamente, percebendo que não mais precisava do livro se o disfarce estava desmascarado. Ele levantou a cabeça, vendo Isaac, ou melhor, seus olhos atentos olhando por cima do sofá direto na cena e Boyd sentado rigidamente duvidando de tudo com sua sobrancelha.

Ele gostava mais deles quando eram adolescentes assustados.

Ok, não era verdade verdadeira, mas apenas metade verdade. Uma metade verdadeira de verdade.

Ele voltou os olhos para Erica, com a certeza de que parecia o alfa austero que -esperava que- sempre era. Encarou dentro de seus olhos dourados por um bom tempo, não se deixando levar pelas suas unhas grandes e vermelhas que nem ainda eram as garras.

Depois de dois minutos, ela foi a primeira a rolar os olhos.

E então girou os calcanhares para onde Boyd estava sentado, lendo um livro de verdade e em sua língua- como se nada pudesse inquietá-lo. Derek admirava esse garoto.

Apesar de gostar mais dos inquietos.

–Boyd? Uma ajudinha?- ele disse, um tom ruim, mas não ameaçador, na voz.

O garoto mal levantou a voz e se não fossem lobisomens talvez Derek tivesse imaginado que ele não teria ouvido. Ele virou a página e respondeu, olhos fixos nas letras.

–Por quê? É óbvio o que está acontecendo.

–Eu sei- Erica disse, como se todos fossem completamente idiotas- é completamente óbvio.

Derek não iria admitir rapidamente que estava se sentindo um pouco vulnerável.

–Vocês sabem?- ele perguntou, cauteloso. Isaac resolveu surgir nesse momento da cozinha, limpando as mãos numa toalha e cheirando a alho.

–É, duh- Isaac respondeu, o que contribuiu em nada para o humor de Derek. Piorando assim que ele se sentou numa cadeira perto dele, olhos grandes e atentos, como se esperassem algo interessante. E talvez uma briga. Isaac era um filhote malcriado que adorava vê-lo encurralado. Stiles sabia lidar com esse lado dele melhor do que ninguém.

Erica resolveu voltar o que também não contribuiu em nada para o humor de Derek- e pegou outra cadeira. Boyd estava afastado, mas parecia achar algo muitíssimo engraçado numa lição de matemática.

–Então- ela começou, apertando os lábios vermelhos sangue- problemas do coração?

E, sim, não havia palavras que pudessem descrever mais a situação. Porque o coração que ele achava que era, não era e agora o dele estava pisado, quebrado e completamente dolorido. Totalmente dolorido.

Derek esperou que não estivesse parecendo miserável quando Isaac bateu o cotovelo em Erica com uma bronca.

–Seja mais específica- ele gritou em sussurro antes de se voltar para ele, um sorriso mal que ele nunca teria visto no moleque indefeso que trabalhava no cemitério meses atrás Problemas com Stiles?

E talvez o alfa não tenha conseguido conter o rosto de surpresa, indignação, medo e zilhões adjetivos mais que juntos e misturados não iriam transcrever a expressão que ele tentou evitar. Talvez tenha tido sons de huh?, qu-. voc-, mas nada que ele pudesse traduzir dele mesmo.

Erica riu, cabeça para trás e tudo, e balançou a cabeça.

–Derek, querido ele nunca gostou de quando ela o chamava disso, era um tom de ah-seu-idiota que ele não precisava ouvir- você vai querer dizer que é engano enquanto fica pensando em se estava sendo discreto o bastante e, ok, ela lia mentes e isso o estava assustando - nós não precisávamos de lobisomens para cheirar os feromônios que vocês exalavam, se bem que, caramba, o cheiro era insuportável todos concordaram, gemidos correspondentes e em sincronia- Primeiro de tudo: Stiles vinha sem precisar e quando ninguém mais estava, você o deixava entrar e eu sei que não saía nada produtivo daquilo.

É, talvez ele o deixasse sentar no sofá e fazer lição de casa enquanto ele lia o jornal no outro lado da sala e às vezes nem havia comunicação. Mas...

–Segundo- Isaac disse, parecendo nem um pouco impressionado- nos filmes a gente podia até colocar vocês dois um de cada lado da sala, apesar de que vocês dois sempre, e, oh, misteriosamente caíam sempre no mesmo sofá, mas vocês ficavam fazendo suas piadas internas e sorrindo o tempo inteiro. Era de vomitar.

–E de dar diabetes- ela bufou, olhando para Boyd que saía da sala - Terceiro: querido, todos nós concordamos que Stiles tem um traseiro bonito, mas ninguém precisava encarar aquilo vinte quatro horas por dia como se tivesse a necessidade de morder.

–Quarto: preciso citar todos os apelidos que vocês criam um para o outro? Eu, Erica e Boyd anotamos todos em ordem alfabética e depois em ordem cronológica. E estamos colocando em ordem de nojeira. Sério, já deixou de ser ofensa e já virou afeição. Quer dizer? Muffin? Qual é, Derek? Stiles? Um muffin? Nem me fale de quando vocês cozinham juntos e ficam usando tudo na cozinha como apelido e insinuação. O dia do cachorro quente foi traumático.

Erica sorriu abertamente, sem desaforo e com certeza sem deboche, era íntimo e preocupado. A garota se aproximou sem sair da cadeira, colocando os cotovelos sobre os joelhos e jogou os olhos espertos direto em sua cabeça.

–Quinto- ela falou, calmamente- Todo mundo ouvia os corações de vocês dois quando estavam próximos. Eles enlouqueciam. O que nos leva a sexto- ela apontou-lhe um dedo firme- vocês dois se amam.

Derek ficou confuso. Eles dois? Mas eles não falavam somente dele? De como ele estava irreparavelmente amando aquele garoto que tanto reclamava de ser o solteiro da alcateia e de como ele queria mudar isso? De como ele odiava vê-lo sendo tratado como nada mais que um humano, sendo que era tudo mais que um humano?

De como ele havia totalmente se enganado e quase cometido um erro terrível de se insinuar a ele? Correndo o risco de perder o pouco que tinha e de fazer com Stiles o que Kate fez com ele?

O peito ficou apertado como se estivesse prestes a esmagar os restos do seu coração e não importava o quanto isso o lembrasse de quando Laura teve sua fase emo e ouvia músicas melancólicas de voz andrógena no último volume. Ele não devia ter tirado sarro dela na época, ele entendia o sentimento.

Erica pareceu captar alguma coisa a mais, porque franziu o cenho.

–Ah, não, Derek Hale!- ela exclamou, é isso que o ponto de exclamação está fazendo, apontando-lhe outro dedo acusatório que o assustou- Você não tem o direito de nem ao menos pensar que ah, ele não me ama e, ah, eu não o mereço, porque nós todos temos que conviver com vocês, ok? Você aqui, Stiles na escola. Vocês dois estão fazendo nossas vidas insuportáveis!

Derek olhou para ela um pouco impressionado e, talvez, bem assustado. Ele ficou se perguntando em que momento ele deveria intervir e começar a falar, mas eles pareciam agitados, porque Isaac levantou a voz em seguida.

Derek se perguntou onde estava Boyd nessas horas. Ele gostava de Boyd. Boyd era quieto. Boyd era calmo. Boyd não ligava.

–Stiles fica miserável na escola, indo de um lugar para o outro totalmente cabisbaixo e distraído. Ele para e olha para a parede e fica assim por um tempo muito longo e depois suspira e cheira a tristeza. Ele lacrimejou na aula de literatura com o poema que o Scott fez para a Allison. Poema do Scott! Ele rimou Allison com Watson três vezes. Mas o ponto aqui é que ele está se arrastando depressivamente. E, olha só, adivinha quem faz isso também? Um certo lobisomem alfa que está totalmente apaixonado por ele!

–Só porque ele está triste- Derek resolveu que esse era o momento para falar e nunca se sentiu tão vulnerável o fazendo, apertando a calça moletom nos dedos como se isso pudesse tirar o quanto havia verdade no que dizia- não quer dizer que é por mim.

Erica grunhiu entre os dentes antes de bater em seu próprio rosto. Um tapa que escorregou da testa para o nariz e que gritava Cale a boca, idiota. Mas, ei, Derek estava sendo sincero. Não havia nada que pudesse fazer Stiles se sentir triste por causa dele ou, pior, sentir falta dele. Com certeza ele ainda estava sofrendo pelo aniversário da mãe, ou tenha brigado com Scott, ou simplesmente está angustiado.

Não havia motivo algum que mostrasse que Stiles poderia ser afetado por ele.

–Hã...- Isaac grunhiu, mas apenas um pouco- talvez isso tenha a ver com...hm... o fato de ele estar todos os dias reclamando sobre um certo lobisomem em uma certa noite ter tido certas atitudes que o fizeram se sentir melhor e feliz com a possibilidade de ter seus sentimentos românticos correspondidos resolveu dar uma certa escapada de manhã para ter um certo ataque sentimental do qual um certo humano não sabe e com certeza acha que sofreu um certo tipo de rejeição. E o lobisomem resolveu ser um certo idiota e nem pensar nessa possibilidade.

Derek franziu as sobrancelhas, seu movimento aperfeiçoado.

–Como você...?

–Certas pessoas tem problemas em conter a fala e gostam de falar com amigos sobre seus interesses amorosos- Isaac falou, rolando os olhos- diferente de outras pessoas.

Derek achava aquilo um pouco difícil de acreditar. Quer dizer, não a parte em que Stiles tinha dificuldade em conter sua fala- isso era claro para qualquer um que ficasse perto dele- mas quando Isaac e Erica falavam de sentimentos correspondidos. Aquilo não fazia sentido.

Stiles era todo sorrisos e piada, sarcasmo e olhos brilhantes. Derek não sabia como falar com alguém desde o incêndio, não sabia conversar sem parecer ameaçador e completamente agressivo. As pessoas podiam até achá-lo bonito, mas se passasse de um simples olhar para algo íntimo, não havia muito que pudesse prendê-las.

Stiles era muito mais do que ele jamais seria.

Simplesmente pensar que o sentimento era mútuo...parecia algo tão distante.

–Você devia falar com ele- Erica disse, por fim, contendo o ar ameaçador que tremulava em sua voz. Seu nariz apertou entre os olhos delineados, o que significava que ou ela não aprovava as palavras de Derek ou simplesmente conseguia cheirar o que ele não falava.

Derek balançou a cabeça, aparentando raiva.

–Não saberia o que falar- e ele não via como poderia sair dessa inteiro e bem. E são.

Boyd escolheu esse momento para voltar, telefone desligado em mãos.

–Então é melhor você se preparar- ele disse, jogando o telefone para Isaac, que fez proveito dos reflexos recém-treinados para impedir que ele se estilhaçasse- Scott e Allison estão trazendo Stiles para cá.

Ele não gostava mais do Boyd.

Derek não pensou que corações pudessem dar pulos como aquele, mas, bem, conte com Boyd para querer ser uma pessoa ativa nas piores horas ativas. Erica sorriu para ele o sorriso mais feral que qualquer um deles já havia presenciado e Derek faria uma anotação mental para não pisar perto do quarto de qualquer um dos dois nas próximas horas ninguém precisava ouvir o que eles faziam lá- se ele não estivesse ocupado tendo um ataque.

Por um lado, ele veria Stiles. Por outro lado, ele veria Stiles.

Isaac jogou os braços para cima.

–Finalmente teremos descanso!- e Derek grunhiu algo completamente animalesco para ele, que simplesmente ignorou com um sorriso.

Era como se ninguém lembrasse que ele era um alfa. O alfa. Deles.

Ele odiava cada um deles, ele pensava enquanto um grudava no outro e desapareciam pela escada estratégica. Odiava com amor.

Só que às vezes ele odiava mais.

Estava sozinho no seu loft, sentado com um livrinho inútil jogado, coração batendo tão rápido e tão desesperado que retumbava no seu ouvido e ele se pegou castigando-se por não ter reconhecido o próprio coração quando ele batia.

Como nesse momento, quando bateram a porta. Mesmo que não precisasse. Derek reconheceria aqueles passos em qualquer lugar e a qualquer distância, aquela respiração forte e descompassada de quem usa ar demais e sua boca fica sempre entreaberta, aqueles lábios partidos, aqueles lábios, delineados na forma perfeita para...para...

Derek pensou que se não se mexesse, se ficasse parado, adiantaria. Fingir que não existe talvez fizesse Stiles perceber que não era nada, que podia ir embora e...

...ok, talvez Derek não quisesse que ele fosse embora. Não totalmente.

E haviam feito o garoto se deslocar até esse fim de mundo. E Boyd era um idiota. Se ele havia sido chamado, Derek não poderia ignorá-lo. Fingir que não ouvia as batidas na porta de ferro, os suspiros e finuras de voz que saíam quase em seu nome e se retraíam, como se ele pensasse duas vezes antes de dizê-lo.

Derek contou até três e foi abrir a porta.

Não que ele em algum momento pudesse ter se enganado, mas era Stiles que estava parado a meio movimento fora de seu loft. Stiles. Derek tentou não manter os olhos presos por muito tempo, até porque o garoto o fazia muito bem, porém ele tinha passado aquele tempo ouvindo aquela respiração e imaginando a boca que agora estava real em sua frente. Entreaberta e tudo junto.

Agora que ele tinha certeza de onde vinha o barulho pulsante, ele se sentia um pouco esmagado pela realidade. Era feliz e confortante enquanto pensava que Stiles sentia o mesmo, mas não era real.

E isso era um daqueles pontos importantes.

Derek engoliu em seco, tentando não aparentar a miséria que eclodia das suas percepções.

Stiles parecia um pouco nervoso ele mesmo, os olhos agitados que estacionavam em qualquer lugar que não fosse Derek, o cheiro de suor bastante para ser notado, pouco para remeter exercício físico- os dedos longos que pareciam mais histéricos que o normal. E a saliva, que descia duramente pela garganta.

Derek não queria ler muito dentro disso para não se decepcionar, mas se ele pudesse... diria que Stiles estava nervoso com ele.

O que seria loucura. Ele vivia com Derek. Aparecia de vez em quando para sentar e ler no loft, buscava cafés e doces para dividirem à tarde, dava-lhe os piores nomes e trocadilhos nos copos de Starbucks ele dizia que era o café mais perto, mas Derek sabia que Stiles gostava de verdade.

Então...não havia motivo para ele estar nervoso com Derek.

–Ei- Stiles disse, e Derek se pegou pensando em quanto foi o tempo de silêncio estranho que o fez abrir a boca.

–Ei- ele respondeu quase como um suspiro, tentando se apoiar na borda da porta.

Stiles balançou a cabeça como se aquela fosse a resposta perfeita que ele esperava, expondo o pescoço longo e coberto de pintas que Derek simplesmente queria usar para afundar a cabeça e se banhar no cheiro. E talvez deixar algumas marcas.

–Posso...?- Stiles fez um gesto estranho e vago, ou vários deles, para o lado de dentro, o que Derek interpretou rapidamente como um pedido para entrar e certamente estava certo, porque quando se moveu para lhe dar espaço, Stiles correu para dentro. Como um filhote encurralado. Mas não antes de olhar direto em seus olhos e negar com a cabeça.

Derek fechou a porta com calma, não porque estava certamente perto da calmaria, mas porque daria tempo para pensar no que falar. E no que não falar. E em como agir. E em como não agir.

O esforço foi em vão, assim como a dor de cabeça, porque assim que o ferro pesado bateu e foi trancado, Stiles tomou conta de tudo. Quase tudo.

Ele apenas gritou.

–Eu não entendo!

Bem, aparentemente, Derek também não.

Apesar de ter se assustado brevemente pelo tom repentino e mais agressivo do que se esperaria, ele conteve a reação a um tremelique rápido que passou despercebido.

Quando Derek virou-se para ver o estado das emoções ele já não podia confiar no barulho do coração mesmo- e percebeu que, é, Stiles realmente não parecia entender.

Seja lá o que ele estivesse tentando entender.

–Não entende?- Derek questionou, sentindo-se perto da solidão quando a voz percorreu o silêncio do loft. Stiles estava em silêncio. Stiles.

O garoto o olhou com um misto repreensivo de incredulidade. Derek fingiu não prestar atenção na ponta da língua que saiu para molhar os lábios.

–É de se pensar que eu não entendo signifique que eu não entenda.

É. Essa parte Derek já havia captado. Ele já havia entendido.

Stiles gesticulou em sua direção e o alfa pensou que ele talvez fosse gritar algo a mais, mas ele gesticulou para milhares de lugares, a voz saindo e se retraindo num tom rachado que geralmente ele atribuiria à puberdade caramba, Stiles era um adolescente mas se estabeleceu por uma briga entre sua vontade de falar e a vontade de falar a coisa certa.

Stiles voltou a apontar em sua direção por um bom tempo e as sobrancelhas de Derek subiam e desciam em expectativa pelo que foi um bom tempo.

Um bom e longo tempo.

–Eu não entendo- ele estabeleceu num ofego desistente.

–É. Eu acho que essa parte eu já entendi- Derek resmungou, temendo que ficar em silêncio piorasse a situação. Além disso, ele queria ouvir Stiles. O quão mal isso significava.

Aparentemente não foi a frase ideal, porque o humano o olhou com agressividade.

–Ah, sério?- ele disse, um sarcasmo dolorido apontando afiado na outra direção- Você tem certeza? Porque eu tenho a impressão de que você não entendeu nada.

E, ok, talvez ele não tivesse entendido nada. Porque nada fazia sentido. Mas ele tinha entendido que ele não havia entendido.

–Ajudaria se você explicasse- Derek tentou, se sentindo um pouco irritado por estar sendo agredido na própria casa por alguém que deveria estar longe, e bem longe, dele.

Stiles amassou os lábios esculpidos, um sobre o outro, colérico. Como se explicar não pudesse ajudar em nada. E ele precisava ser rápido, Derek estava a um ou dois minutos de ajoelhar e declarar seu amor eterno. O que não sairia muito bem para quem dá em cima do filho menor de idade do xerife.

Stiles se aproximou consideravelmente, Derek percebeu que sentia falta dos passos desengonçados, até que ele pudesse se impregnar no cheiro dele sem se esforçar.

E...conseguir distinguir dois corações e dois ritmos. Parecidos. Como se ambos estivessem sob o mesmo efeito sentimental.

Ou o mesmo sentimento.

Stiles cobriu os olhos com uma mão como fazia com o sol e apesar de ter um sorriso, ele nunca pareceu tão mal para Derek. Tão derrotado.

Claro que esse foi o momento em que ele decidiu voltar a balbuciar.

–Você- ele disse, com uma pausa tão longa que Derek temeu por toda ela ter ficado tão concentrado nas pintas do pescoço, tão próximo agora, que perdeu a grande parte do dicurso.

–Eu não entendo você- ele pausou. Derek podia ver as palavras se atropelando para sair-... idiota e a voz estava tão calma que apesar do xingamento, o nome veio afeiçoado. O que era algo bom vindo de Stiles. Geralmente ele gostava de julgar as péssimas características das pessoas. Derek ser um idiota basicamente resumia tudo mais.

–Parece que eu também não- Derek completou.

–Você me deixou entrar!- Stiles apontou para a porta, como se ela fosse a culpada por tudo.

–Como se acusar a porta fosse me ajudar a entender essa conversa.

Stiles esfregou as mãos no rosto, aparentando cansaço.

–Não é sobre a porta que eu estou falando, é sobre você e sobre você ter aberto a porta! Eu estou te acusando!

–Não era para eu ter aberto...?

–Eu não sei! Era?!

Derek realmente queria saber responder aquilo. Ele geralmente não tinha respostas para o que Stiles falava o que geralmente eram comentários cheios de sarcasmo e carentes de coesão- e a situação crescente e o suor nervoso que preenchiam ainda mais o lugar com seu cheiro, não ajudava. Em nada.

Ele odiava pensar nisso como dois adolescentes que só ficam mais idiotas quando tem atração. Tipo Scott quando está perto da Allison. Ou Scott sozinho pensando na Allison.

Derek desviou os pensamentos para o que ele sempre tinha: raiva.

–Ajudaria se você falasse algo que fizesse sentido.

Stiles apertou os lábios e Derek pensou que nunca o viria mais furioso do que o dia em que Jackson perguntou qual era o problema em haver um filme do Homem-Formiga. Mas ali, em frente a ele, estava um Stiles que mais do que furioso e, que lhe permita dizer, radiante- estava furioso com algo em particular que se concentrava em, aparentemente, abrir portas para ele? Ou algo do tipo?

Derek estava um pouco confuso. E um pouco triste. Mas triste ele já estava, então não importava ressaltar.

Stiles, elétrico e irradiando algo que lhe cheirava literalmente- a desolação, passeou de um lado para outro em sua frente. Indo e vindo. Várias vezes. Múltiplas vezes.

–Eu gostaria que você parasse de ir e voltar na minha sala- Derek pinçou a ponte do nariz com força.

Stiles parou de forçar os passos e olhou o mais próximo dos seus olhos que Derek o viu olhar naquele dia. O silêncio durou menos de um segundo.

–E eu gostaria que você me explicasse!- Stiles quase gritou, como se não fosse Derek que estivesse querendo explicação.

–Hã...

–Olha- o garoto interrompeu, lambendo os lábios e mordendo-os num ciclo de nervosismo pegajoso- Eu vou falar- ele decidiu, como se não estivesse na companhia de outra pessoa. Stiles vivia fazendo isso. Pensar com a boca-E eu vou falar, porque eu preciso. E porque você pediu para eu parar de passear pela sua sala e isso nem é exatamente uma sala, Derek, esse é um loft e não tem divisões! E também porque o Scott está esperando lá embaixo com a Allison e eu preciso dessa carona para ir embora...Mas mais porque eu preciso falar com você. Por mim.

Derek concordou com a cabeça, esperando que esse fosse um bom gesto. O coração apertava tanto que vinha para a garganta e inflava no ritmo maluco que ele fazia. Ele sabia o que Stiles iria falar, porque Erica e Isaac só poderiam ter contado para ele, acreditando na fantasia longínqua de que era correspondido.

O alfa perdeu o raciocínio entre o momento em que Stiles pesou a cabeça para trás e expôs o pescoço e quando ele passou pela quinquagésima vez a língua pelos lábios. Derek podia pensar em melhores jeitos de molhar aquela boca. Derek podia realizar esses jeitos.

Mas não. Não podia.

Então...- Stiles continuou, hesitando em falar como nunca alguém o tinha visto- falar. Scott disse que conversar era o melhor jeito de resolver isso e muitas outras coisas na vida. Ok, Allison disse isso, mas o Scott concordou. Não tenho certeza de que ele prestou atenção no que ela estava dizendo, os olhos deles estavam bem focados em outra parte dela, mas o foco aqui é que eu resolvi optar pela conversa exatamente porque as outras opções, as minhas ideias, eram muito mais inconvenientes e clichês.

Derek queria apontar que a conversa parecia um pouco inconveniente. No entanto, ele acabou focando em outra parte da fala.

Que opções?

Stiles franziu as sobrancelhas de um modo diferente de quando ele imitava o alfa principalmente porque não havia a voz grossa nem o andar arqueado acompanhando. Depois, amoleceu os músculos e os olhos ficaram tão macios que até Derek foi pego pela onda calmante, perdido nas cores brilhantes dentro deles. Ele observou enquanto o garoto corria os olhos pela sua figura o mais rápido que conseguia, apenas gostando de olhar.

E então pararam em algum lugar entre seu queixo e seu nariz, tão intensamente que ele podia cheirar. E Derek teria dispensado rapidamente o pensamento de é a minha boca! se Stiles não tivesse jogado a sua própria na dele.

No primeiro momento, era só uma pressão forte de um no outro, mas - seja porque sim, por causa do Scott, ou porque nenhum deles era paciente o bastante- assim que Derek sentiu os braços do garoto apertarem em sua nuca e seus próprios dedos caçando a cintura de Stiles, o momento primário já estava perdido. Foi Stiles quem lambeu seu lábio, pedinte, mas foi Derek que o deixou passar.

Stiles murmurava sem largar do beijo e Derek achava uma das coisas mais excitantes do universo. Frases e palavras que pareciam muito com variantes de ah, meu deus e Derek que o homem teria dispensado se fosse qualquer outra pessoa. Mas era Stiles. Inexperiente, completamente inexperiente, mas ainda ele.

Assim que o toque se distanciou, deixando mais que um Stiles de lábios vermelhos e abatidos, mas um Derek completamente atordoado, milhões de coisas bateram em sua cabeça.

Olhos escancarados, pupilas inchadas, ele buscou qualquer coisa que desmascarasse o desejo que exalava do garoto, além do nervosismo consistente saindo de seus poros. Isso ele podia atribuir ao fato de ele ter acabado de beijar o seu alfa.

–Essa opção- Stiles sussurrou- a outra foi a primeira que eu tive e era dar um soco na sua cara. Mas essa era a que eu mais gostei.

Stiles pareceu ficar ainda mais nervoso quando o tempo passou sem que o homem dissesse algo. Ele pareceu interpretar errado a falta de palavras, porque começou a agir como se fosse executar sua fuga.

–Então...-ele disse, dedos se apegando ao tecido como praga, saliva descendo como pregos pela garganta e desolação colando em sua pele como adesivo enquanto apontava um dedão para a porta- eu deveria...

–Por que você...?- Derek começou e então parou, um único pensamento forte explodindo por dentro e matando todo seu interior e que o fez recolher imediatamente- Você fez isso por pena de mim?

Stiles, se ele se permitisse diminuir a velocidade das emoções que passavam por ele, parecia um pouco ultrajado.

–Pena de...?- ele balançou a cabeça- Em que mundo isso faz sentido?!- murmurou na respiração- aparentemente, Scott estava certo sobre conversas- ele suspirou, alto, claro e forte Sou em quem deveria estar preocupado com isso! Você me beijou de volta porque estava com pena de mim?!

–E como isso faz sentido para você, Stiles?!- era Derek que estava exposto. Era Derek que estava amando.

É você, Derek ele devolveu o tom amargo- que é...- ele gesticulou para o corpo do homem várias e várias vezes- e eu que sou- ele gesticulou para seu corpo, a expressão de desgosto mascarando a sensação triste que exalava- se alguém tem pena é você. E você abriu a porta para mim, como se não tivesse me ignorado por todo esse tempo. Os apelidos, Derek! Os apelidos! Eu te chamei de Geleia no café da manhã! Eu guardava as melhores panquecas para você mesmo quando Jackson me ameaçava! Eu achei que você já tinha notado que eu gostava de você há muito tempo, mas ignorava porque não correspondia. Mas aí você começou a me dar apelidos e você ria das minhas piadas e você dava aqueles sorrisos secretos da ponta da mesa nas reuniões. E você...você entrou no meu quarto e dormiu do meu lado... e depois sumiu. Você tem ideia do que isso fez comigo?! Até Jackson reclamou sobre eu estar quieto. Jackson. E...e aí Allison disse que conversar resolveria de uma vez por todas, mas eu não queria estragar a dinâmica da alcateia, mas Scott também me falou para vir e então até o Boyd!- ele tomou uma inspiração longa, porque até Derek estava ficando sem ar- o que eu queria dizer é que... eu gosto de você, Derek. Muito. Eu não tenho pena de você. Eu tenho uma queda enorme por você.

Derek abriu a boca para falar algo, a coisa que lhe viesse primeira na cabeça, porque estava cheia de sangue, fervendo. Uma sensação calorosa. Mas Stiles o silenciou com outra fala, essa devagar e cheia de amargura enquanto se recolhia. Parecia tão indefeso e exposto que doía.

–Mas eu gosto muito da alcateia também e não quero estragar o que tem nela, então estou pronto para o que vier de você e não vou guardar rancor se você fizer o mesmo.

O alfa observou-o franzir o rosto, como se esperasse algo violento e o som retumbante invadindo sua cabeça. Dois sons fortes. Dois.

Derek levou sua mão ao peito do garoto sem assustá-lo. Stiles abriu os olhos com incerteza para encontrar seu alfa esticando a palma no lugar acima de seu coração, fechando os olhos tão calmamente como se estivesse ouvindo uma música leve numa tarde fresca.

Ele abriu os olhos apenas para olhar nos dele.

–Você está falando sério?

Stiles engoliu em seco, não por medo, mas por causa da intensidade corrupta daquele toque e depois daquele olhar. Se ele pudesse, e ele queria, julgaria carinho e medo de onde juraria ver só raiva.

O garoto respirou fundo, não era agora que deixaria tudo ir pelo ralo apenas porque um idiota como Derek via o pior em toda sombra em que tropeçava. Principalmente sombras que se mexiam e ele tinha que chamar de alcateia.

De repente, ele estava consciente de seu coração batendo.

–Sim- respondeu, nem tentando fingir não estar totalmente derretido pelo olhar tão aliviado que saía da carranca usual. E tentando olhar nos olhos, nos olhos, e não se perder na boca que ele há pouco havia conseguido experimentar - nem perto de estar satisfeito.

E então aconteceu. Um fenômeno tão pouco documentado que foi capaz de transformar as pernas do Stiles em gelatina. Ou seu cérebro. Ou alguma metáfora melhor para o modo como ele se sentia escorregadio e sem forças.

Derek sorriu.

Não um sorriso do estilo prepare-se para morrer ou do eu te ouvi Stiles e a ideia é tão estúpida que nem minha carranca merece isso. Era um sorriso de ponta a ponta, com direito a olhos brilhantes e dentes de coelho eles eram adoráveis, um dia ele ainda diria a Derek. Um sorriso feliz e agradável se esticando pelo rosto afiado.

Stiles gemeu. Era sua fraqueza.

–Para com isso...- ele afundou a cabeça no vão entre o pescoço e o ombro, sentindo-se um lobisomem ao respirar o cheiro de colônia masculina e suor- isso não é nem um pouco justo. É como quando aquela vez em que você estava me citando filósofos e sendo um completo nerd, sem camisa.

De fato, naquele dia Derek tinha sentido algo nervoso vindo do Stiles enquanto ele escrevia uma redação para o dia seguinte, mas ele tinha descartado a opção e atribuído a pouca vontade de estudar.

E então Derek riu. Riu. Algo diferente da ironia, ou de quando Stiles fazia piadas que só ele entendia. Stiles gemeu de novo.

Porque ele queria que aquilo fosse algo exclusivo. Algo apenas para ele.

Um sorriso Stiles. E um riso Stiles.

–Eu estou falando sério- Stiles completou, tentando não relaxar totalmente na pele alheia, porque, afinal, Derek não havia respondido. Até onde ele lembrava, ainda era um amor não correspondido e um garoto rejeitado.

–Eu também.

Dedos firmes agarraram seu pescoço com ternura e ele sentiu uma pitada de esperança misturada a excitação essa última ele tinha certeza de que Derek conseguia sentir, mas agradecia por ele estar ignorando.

–Stiles- nessa primeira vez, o nome veio carinhoso, grudado na língua de um modo que fazia o garoto estremecer- você é mais que alcateia para mim. Você não é só um humano que veio por causa do Scott, você é o humano que ficou porque pertencia a esse lugar- Derek rosnou, baixo como um pequeno terremoto afundando-se na pele de Stiles- Porque pertencia ao meu lado. Eu não... eu não quis te fazer pensar que eu não me preocupava com você. Eu me senti acuado porque eu fiz algumas confusões e...Stiles, você é um garoto inteligente e engraçado...não faria sentido que eu...você sabe. Me desculpe.

–Você...você está falando o que eu acho que eu acho que você está falando...?

Derek não precisava olhar no rosto do outro para ver. Até porque ele tinha quase certeza de que estava passando nele o que também ele sentia. Ele nunca se sentiu tão seguro, não depois de Paige, não depois de Kate, e nem com elas. Talvez fosse o abraço ou a quentura que exalava em uma nuvem de cheiro tão bom.

Derek até sentia que poderia ser feliz. E fazer alguém feliz.

Ele nem precisou pensar antes de beijar a têmpora dele longamente e derrubar novamente seu rosto para onde o cheiro era mais forte.

–Eu acho que sim- riu um pouco, baixo, mas não como um rosnado, mais como um suspiro- eu te amo.

Stiles empurrou seu peito, mas não havia nada perto de violência naquilo. Os olhos escancarados faiscando sem parar, os lábios abertos tão convidativos. Não havia nada que lhe viesse na cabeça que fosse mais bonito.

Bem, ele ainda tinha muitos ângulos para ver dele.

Literalmente e metaforicamente.

Eu também, Waffle de Chocolate- Stiles disse, presunçoso ao ver Derek grunhir em protesto.

–Para com esses apelidos.

–Você me ama, você ama meus apelidos, meu Pudim de Leite!- ele continuou e Derek não ligava mesmo, desde que Stiles ficasse daquele jeito radiante e o fizesse rir. Ele não ligava- agora cala a boca e me beija.

E, é, quem era Derek para desobedecer o seu Manjar de Coco.

(Stiles não gosta de coco. Nem gosta do apelido. Mas ele gosta do Derek-até demais- e era isso que lhe importava)

X-

X-

Na sétima e eterna vez, Derek percebeu que Stiles era um idiota completo que ele eternamente odiaria.

Exceto que não. Não era assim.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Não? Reviews???E é isso. Foi bem simples, né? hahahaEspero escrever mais histórias dos dois. Eu tenho algumas planejadas, mas nada concretizado...Bem, como eu tinha dito, espero que tenham gostado. E se não gostaram, espero que tenha servido para passar o tempo.Muitíssimo obrigadíssima por ler!!!