A outra escrita por Aleh


Capítulo 13
Dia 10


Notas iniciais do capítulo

Não consegui fazer um nome decente para o capítulo sem jogar spoilers :D



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Paro de escrever por um instante e deixo o pequeno caderno de arame espiral ao lado da porta do meu pequeno banheiro .

A luz branca batia nas lajotas claras da parede deixando o pequeno espaço iluminado demais. Não havia ninguém batendo na porta e por mais que eu escrevesse aquela sensação ruim não ia embora. Com um suspiro levanto do chão e lavo o rosto outra vez antes de checar se havia alguém lá fora e pegar o caderno novamente.

O carro estava registrado no nome de uma empresa, construção ou alguma coisa do tipo.

Outro beco sem saída.

Suspirei e guardei tudo na mochila, sorrindo e agradecendo a recepcionista antes de sair.

Eu não queria ir pela rua estranha de novo e como ainda não era tão tarde resolvi dar uma volta pela cidade. A algumas ruas de onde eu estava havia uma grande avenida com restaurantes de placas brilhantes, alguns bares do tipo que era frequentado por universitários e coisas assim. Os garotos da escola costumavam ir em lugares como aquele em fins de semana , especialmente os bares mesmo que negassem isso até a morte.

Como era um dia de semana eu não esperava encontrar ninguém, ainda faltava cerca de uma hora para que o próximo ônibus passasse então desci a rua em direção a avenida e entrei em um dos restaurantes que ficavam do lado esquerdo da rua assim não precisaria esperar o semáforo ficar vermelho pra atravessar a avenida.

Era uma lanchonete decorada ao estilo anos 70 ou algo assim com um piso xadrez e uma jukebox de verdade no fundo do estabelecimento. As garçonetes usavam uniformes azuis iguais e rabos de cavalo altos. Sentei no balcão e olhei o menu de bebidas por alguns instantes antes de pedir um milk shake de morango pra ruiva atrás do balcão.

Não sei se ela simplesmente me achou interessante ou se o movimento estava fraco ou algo assim, a ruiva colocou os cotovelos no balcão e descansou a cabeça nas mãos olhando um grupo de clientes saírem.

–Nunca vi você por aqui - ela comentou mascando seu chiclete - Eu sou a Cassie.

–Lizzie - respondi esperando que ela entendesse que eu não queria conversar no momento .

–O movimento está bem fraco nos últimos dias - ela suspirou , aí estava a resposta . - A filha do dono do lugar se formou a pouco tempo , ela teve a sorte de conseguir entrar em uma boa faculdade e ir morar em uma cidade maior, mas ela era a favorita ....

–Existe mesmo o tipo de gente que frequenta um restaurante só pra ver a garçonete? - perguntei achando graça daquilo, era o tipo de coisa que você via em filmes com cidades pequenas mas que não acontecia de verdade.

Ela deu deu de ombros e fez um bola de chiclete

–Tem louco pra tudo nesse mundo. Você não acreditaria se eu te contasse metade das coisas que acontecem aqui - ela riu

Ela parecia um daqueles vendedores de seguro, ou políticos que começavam a falar coisas do nada pouco se importando se as pessoas queriam ou não ouvir aquele falatório. Mas como o meu shake ainda estava na metade eu não via problema em ouvir ela.

–É? Não pode acontecer coisas tão estranhas assim - provoquei enquanto a sineta da porta tocava.

–Ah, não duvide. Um maluco vestido de Elvis costumava vir aqui e flertar com as meninas , as vezes ele cantava também , mas a voz dele era horrível.

Eu comecei a rir daquilo mas meu sorriso congelou quando eu vi quem havia entrado, Leo e Lucy de mãos dadas. Por que logo naquele dia? Eu deveria ir até eles cumprimentá-los ou algo assim mas supostamente eu deveria estar em casa rastreando um número de telefone. Eles sentaram perto da porta o que acabou com as minhas chances de sair pela porta da frente sem ser notada. Virei o rosto antes que qualquer um dos dois me visse.

–Cassie?

–Sim?

–Aqui tem uma saída dos fundos ou algo assim? - perguntei, agora agradecida por ela ter começado a conversar comigo .

–Tem sim, por que? - retrucou com um olhar interessado. - Você conhece aqueles dois lá? É o namorado de uma amiga sua ou alguma coisa assim?

–Eu deveria estar em casa - respondi.

Ela levantou uma sobrancelha como se precisasse mais do que isso pra me ajudar.

–Não posso dizer muita coisa - completei.

–Okay, mas só por que você foi legal e riu do Elvis esquisito - disse acenando pra uma outra garota.

Enquanto a outra menina a substituía no balcão nós entramos em um pequeno corredor que levava aos banheiros e ao escritório.

–Mais uma pra lista das coisas engraçadas que acontecem aqui - ela comentou procurando pelas chaves da porta dos fundos no bolso do avental.

–Não é engraçado ! - protestei.

–É sim - ela riu quando paramos em frente a porta - Ah ! Você tem que pagar a conta antes de ir, vão descontar do meu salário se você não pagar.

Assim que ela abriu a porta entreguei a ela uma nota de vinte e corri para fora sem me importar com o troco, eu tinha algumas moedas para o ônibus e não querendo esperar mais tempo caminhei pra outro ponto de ônibus. Aquela linha não passava perto da minha casa mas levava a Redwood o que já era bom o suficiente.

Com tudo aquilo eu não consegui ligar pra Tyler mas imaginei que ele não se importaria. Cheguei em casa antes das 22:00 e fiz minha lição de casa. Desci pra assistir televisão com os meus pais, no noticiário o âncora com uma expressão séria falava sobre as famílias que naquele dia estavam fazendo um memorial para as vítimas do incêndio de seis meses antes.

Um incêndio acidental ele disse.

Mas eu sabia que não havia sido um incêndio acidental. E vendo a fotos das pessoas que morreram no grande galpão apenas reforçou a minha vontade de afastar aquela pessoa do meu amigo.

***

Fui acordada no meio da madrugada pelo meu celular tocando.

Eu não conseguia ver nada naquele escuro então tateei até encontrá-lo . Eu queria matar o Tyler, o que ele poderia querer comigo tão tarde?

Deslizei o ícone verde para atender a chamada e me deitei sonolenta esperando ouvir ele dar alguma desculpa por ter faltado aula.

Mas não foi ele que falou.

Era a voz da mãe dele, ela parecia preocupada.

–Elizabeth? - perguntou, ela provavelmente não lembrava de mim.

–Sim?

–Ah, desculpe por te acordar. Você é aquela amiga loira do meu filho, não é?

–Amiga loira... sou eu .

–Eu só queria saber se Tyler esteve aí hoje.

–Aqui? Não, por que ?

–Ele não está em casa.

– Ele deve estar na casa de algum outro amigo - tentei acalmá-la mesmo sabendo que Tyler não tinha muitos outros amigos.

Me levantei e acendi a luz do quarto vestindo um moletom por cima do pijama e descendo as escadas.

–Não tem nenhuma outra pessoa na lista de contatos - falou em um tom desesperado - Você conhece sabe o número de algum desses amigos?

–A senhora deveria se acalmar - pedi destrancando a porta e calçando apressadamente os tênis- Ele só deve ter perdido o último ônibus ou alguma coisa assim.

–Tyler não tem tomado os remédios ele pode tentar fazer alguma coisa ruim consigo mesmo - falou ela na outra linha pouco antes de desligar


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Notas finais do capítulo

Talvez esse seja o último capitulo postado na data certa



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