Poção do Amor escrita por Shadow


Capítulo 1
Capítulo Único - Tudo o que eu sempre quis.


Notas iniciais do capítulo

Este é o único capítulo da história, que é um one-shot. Recomendo que leiam com paciência e atenção, aproveitando ao máximo.

Boa leitura (:



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Meu nome é Bruno, tenho quinze anos, e nesse momento estou no refeitório da escola, almoçando com meus amigos. Não sei muito bem o porquê de estar escrevendo essa nota, mas achei que deveria documentar esse importante fato, já que a maioria aqui não acredita em mim.

Pois bem, eu fiz uma incrível descoberta e gostaria de compartilhá-la com quem quer que encontre esse pedaço de papel, que eu aleatoriamente arranquei do meu caderno. Hã, você acredita em amor, certo? Não precisa ser aquele à primeira vista ou o verdadeiro amor, apenas... bem... “amor”. Bem, eu acredito, e isso é algo que eu sempre quis ter em toda minha vida. Pode-se dizer que eu nunca o tive da forma que esperava – ou das pessoas que gostaria que expressassem o tal –, mas isso vai mudar hoje.

Durante muito tempo eu venho pesquisando algumas coisas na internet, do tipo “Como obter o amor de alguém”, e “É possível fazer com que alguém ame outro alguém?”. Fui anotando as principais coisas das quais as pessoas gostam e misturei-as, tentando conseguir aquilo que nenhum homem jamais conseguiu: fazer uma poção do amor.

Ah, e antes que me pergunte, não, eu não sou louco (risos).

Bem, não poderei dizer como a fiz, nem meus métodos e fontes, mas tentarei explicar rapidamente a forma como funciona ~~~~~~~~...

- Ei, o que é isso? – um garoto ruivo pegou a folha de papel de minha mão e a ergueu no ar, tentando compreender o que era – Tá fazendo lição uma hora dessas, é?

- Não é uma lição, é uma carta... Me devolva, Leo. – eu disse, me levantando da minha cadeira e esticando o braço para recuperá-lo – Isso não tem graça.

- Pft. – ele resmungou, me devolvendo a nota – Você continua o mesmo chato de sempre. Parece que não tem senso de humor.

- Mas ele tem razão. – disse um outro menino, este de cabelos castanhos e óculos – Você fez ele borrar todo o papel... Isso não foi legal.

- Tá bom, tá bom. Me desculpe...

- Não tem problema. Eu sei que você é esquentadinho mesmo.

Ele agarrou a gola da minha camisa e me puxou para perto de si.

- Repita isso na minha cara se tiver coragem!

Estava prestes a responder, mas na mesma hora o sinal tocou. Era hora de voltar para a classe.

Leo suspirou, insatisfeito. Sabe, ele é um cara legal embora banque o durão as vezes. Pode não ser muito mais alto do que eu, mas sem dúvida nenhuma é forte. Já o Marcelo, que é o garoto dos óculos, é completamente o oposto. Magro e baixinho, claramente fraco. Acho que eu sou um meio termo, mas nós três nos damos bem, embora possa não parecer. Nos conhecemos desde a infância, então é meio que fácil de aturar um ao outro – mesmo que as vezes eu queira simplesmente dar um soco na cara deles.

Hum, a nota já era, mas não importa. Hoje a noite, tudo dará certo. Finalmente alcançarei meu objetivo.

Nós três nos levantamos e fomos para a sala de aula, onde a professora já nos esperava. Nos sentamos e logo ela começou a passar a matéria na lousa.

Não sou um mau aluno, mas realmente odeio a aula de português. É uma matéria tão chata que chega a dar sono, assim como geografia... Mas, hoje não estou dormindo na aula. Meus pensamentos estão tão longe que apenas debruçar na cadeira já é o suficiente. Encarar o teto não é tão ruim quanto parece.

- Ei, Bruno. – Rodrigo, outro amigo meu, que senta do meu lado, me chamou – Tá afim de jogar futebol depois da aula?

- Eu até gostaria, mas vou estar ocupado. Foi mal, cara.

- Não me diga que ainda está tentando fazer “aquilo”... Cara, como você é trouxa! Seja lá qual for a garota que você goste, ela não começar a te amar de uma hora pra outra!

- Não é bem assim... É complicado, tá legal?

- Sei, sei, sei... Você sempre diz isso... Acho que ficou maluco, isso sim.

Depois disso, voltei a pensar em como colocar o plano em prática, e assim segui até o fim do dia.

Claro que eu não tive paz. A cada troca de aula alguém vinha me importunar, perguntando se eu não iria desistir dessa maluquice. Uma menina, Beatriz, até mesmo me oferecera dinheiro pela poção, caso ela realmente funcionasse. Claro que eu neguei, afinal, não são todos que saberiam como usar isso – e ela me deu um tapa na cara como resposta, o que está doendo até agora.

Vieram também mais algumas pessoas, dizendo que eu deveria ir à enfermaria, por provavelmente não estar passando bem, e um professor, dizendo que eu precisava consultar um psicólogo. Ignorei todos, e minha fé não foi abalada. O frasco já estava em casa, escondido bem no fundo da minha gaveta de meias, em total segurança. Eu sabia que iria conseguir, mesmo que todos duvidassem.

Durante vários e vários anos eu tentei provar meu valor, agradar, compreender, dizer que ela estava certa e eu errado, mas nada adiantou. Por sorte, no fim de cada túnel permanece uma luz... E a minha estava brilhando cada vez mais forte.

O sinal da última aula tocou e eu calmamente arrumei minha mochila, colocando-a nas costas e suspirando, aliviado por todos pararem de pegar no meu pé. Coloquei meus fones de ouvido e parti caminhando para casa, em outra realidade. A hora estava enfim chegando.

Encarei o frio portão cinza à minha frente e entrei, preparado para tudo que viria.

Sabe, minha mãe adoece muito fácil, então quando ela está de cama – quase o tempo todo – sou eu quem cuida dela, seja fazendo a comida ou dando remédios. Esse dia não era diferente. Meu pai trabalha praticamente o dia todo e só retorna de noite, exausto e estressado por conta do emprego instável. Não tenho irmãos, mas bem que eu queria. Se eu tivesse um irmão, teria jogado bola e video games com ele desde sempre. Contaríamos histórias de terror e veríamos filmes todas as noites, confiando um no outro e compartilhando segredos e medos. Estaríamos sempre ali um para o outro... Se eu tivesse uma irmã, cuidaria dela como se fosse uma joia rara. Claro que daria liberdade a ela, mas acho que seria do tipo protetor. Levaria ela em todas as festas do pijama na casa de amigas que quisesse, assim como no shopping, cinema, e sempre que eu recebesse um dinheirinho, compraria algo... É uma pena que essa realidade esteja muito distante de mim.

Abri a porta com minha chave, que nunca sai do bolso, e avisei sobre minha chegada:

- Estou em casa!

Como todo santo dia, minha mãe gritou de seu quarto, dizendo que eu não precisava ficar berrando por aí só para anunciar que já tinha voltado da escola. Acrescentou, também gritando, que estava com fome e eu deveria ajudar minha “pobre mãe que mal pode levantar da cama”.

Já estava acostumado a isso, então joguei a mochila no sofá e fui para a cozinha fazer a janta, coincidentemente no mesmo momento em que meu pai chegou. Deixei as panelas no fogo e fui para meu quarto, retirando a mochila do sofá, onde eu sabia que ele iria deitar com os pés na mesa e ler o jornal do dia, esperando pela refeição.

Passei por ele sem levar nem mesmo um “boa noite filho, como foi seu dia?”, coisa que eu realmente nunca esperei que ele dissesse, já que era um pouco demais... Mas admito que um “boa noite” as vezes faz diferença.

Entrei em meu quarto e peguei uma troca de roupa, indo para o banheiro e tomando uma rápida ducha. Mal saí da mesma e já ouvi os gritos:

- Bruno, onde raios você se meteu?! A panela tá no fogo, quer queimar a casa, menino?!

Até aí, nada demais. Abri a gaveta para me certificar de que a poção ainda estava lá e a vi lá no fundo, brilhando. Coloquei-a no bolso do shorts que tinha vestido, procurando mantê-la por perto, e voltei para a cozinha.

- O que temos hoje? – meu pai perguntou, sem me encarar

- Hum... Arroz, feijão e bife. O de sempre.

- Toda vez a mesma porcaria. – bufou – Espero que você arrume um emprego logo, porque eu não me mato de trabalhar todos os dias para chegar em casa e ser obrigado a “comer o que tiver”. Até os porcos da fazenda tem mais luxo do que nós... Francamente...

Fingi não ter ouvido e fui colocar o prato dos dois. Pouco antes de eu terminar, ouvi mais gritos:

- Aonde você se meteu, Bruno?! Você não tem vergonha de enrolar sua própria mãe, que está doente, fazendo ela esperar esse tempo todo?! Parece que foi plantar o feijão, menino, vê se cresce e se apressa!

- Já estou indo, mãe! – devolvi

- Quem você pensa que é para falar assim com a sua mãe? – disse o meu pai – Abaixa esse tom, moleque!

- Desculpe.

Encarei os dois pratos a minha frente. Sim, apenas dois, um para o meu pai e minha mãe. A comida sempre era pouca porque somos relativamente pobres, então eu nunca janto. Levo as sobras do almoço da escola para casa – quando sobra alguma coisa, claro – e como pouco antes de dormir, em meu quarto, para não sentir fome durante a noite.

- Vê se não esquece a pimenta, viu! – ela lembrou-me – Se esquecer de novo, não vai sair de casa por mais uma semana!

- Sim, ponha no meu também! – meu pai se juntou a ela – A menos que queira apanhar mais uma vez!

Olhei para trás e notei que meu pai observava meu bolso, como se notasse que havia algo ali. Sem que ele percebesse, coloquei a poção na pia da cozinha, do lado da pimenta, longe do alcance dos dois. Coloquei-a nos pratos e segui para o quarto da minha mãe, onde meu pai já estava ligando a televisão, por causa do jogo de futebol que teria. Entreguei o prato e depois enchi seu copo com refrigerante. Ele os tomou da minha mão e rapidamente começou a comer, gritando alguns palavrões quando seu time levava falta. Fiz o mesmo com minha mãe, que sentou-se imediatamente na cama, faminta.

- Por quê demorou tanto, seu idiota? – ela me deu um tapa na cabeça

- Desculpe.

- Espero que isso jamais se repita novamente.

Ela também começou a mastigar, como um animal, e eu andei até a porta. Quando estava prestes a dar um passo para fora, minha mãe e meu pai se levantaram, vindo até mim. Não me virei, apenas apertei os olhos e me preparei para a provável surra que eles iriam me dar – talvez pelo gosto da comida, talvez por puro ódio de eu ter nascido –, mas me surpreendi quando os dois passaram seus braços por meu corpo e me envolveram, abraçando-me.

- Obrigada por cuidar da mamãe, filho.

- Desculpe exigirmos tanto de você.

Não tive reação. Uma lágrima escorreu pelo meu rosto e eu, ainda com os olhos abertos, olhei para minha frente. Atrás de meu pai, que se encontrava de costas para a porta, vi a pia da cozinha, onde dois frascos repousavam. O da pimenta, fechado, e o da poção, aberto e vazio. O vi brilhando, da mesma forma que meus olhos deveriam estar nesse momento e correspondi, em meio às lágrimas silenciosas, o abraço de meus pais. Finalmente, depois de quinze anos, eu tinha tudo o que sempre quis.


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Notas finais do capítulo

Então é isso aí, galera. Deixe um comentário dizendo o que mais gostou, e se você acha que faltou alguma coisa, sinta-se a vontade para me dizer. Aceito todo o tipo de críticas e sugestões.

Para quem realmente gostou da história, não esqueça de favoritar, comentar e recomendar a fanfic, para que mais pessoas possam chegar até ela.

Vejo vocês na próxima fanfic. Obrigada pela atenção! :3



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