O Relógio de Areia escrita por beautifulfantasy


Capítulo 3
Capítulo 3 - A Segunda Chance




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Teen Titans não me pertence.

Quarto do Mutano, 26 de janeiro de 2004, 05h15min.

Mutano levantou da cama com um pulo. Estava muito eufórico. Hoje seria o primeiro dia de Terra como uma titã oficial. Ele pegou o enfeite de cabelo em forma de borboleta de cima da mesa que havia ao lado da cama, que tinha guardado depois que ela saíra correndo. Estava muito aliviado também. Ela não perdera a confiança nele.

Depois que Robin tinha dito na frente de todos que percebera que ela não conseguia controlar os poderes, a loira ficara muito triste e envergonhada. Mas voltara na noite seguinte, parecendo um pouco confusa e muito perdida. Mutano a encontrara na praia, e ela parecia à beira das lágrimas. O metamorfo a abraçou e disse que ninguém se importava com sua dificuldade de controle, e só queriam ajudar. Terra chorou em seu ombro, como naquela vez, no esconderijo de Slade. Seu coração bateu tão mais forte! Ele estava disposto a apoiá-la em qualquer coisa agora.

Saiu do quarto, lavou o rosto no banheiro mais próximo e correu para a sala principal, na forma de um guepardo. Após atravessar a porta com um salto, deslizou e voltou à sua forma humana. Para sua surpresa, encontrou apenas Robin e Ravena lá. O menino-prodígio estava em frente a um dos computadores, rastreando algo, e a empata colocava água quente em uma caneca azul. Os dois pararam o que faziam para encarar o garoto verde no meio da sala.

– Hã... Bom dia. – disse Mutano, estranhando a cena.

–Bom... Dia. – disse Robin, franzindo a testa. – O que você está fazendo de pé?

–Como assim? Onde estão os outros?

–Mutano, são cinco e meia da manhã. – respondeu Ravena, voltando sua atenção à caneca. – Nunca pensei que algo além da manhã Natal te faria levantar a esse horário.

–Cinco e meia?! – exclamou o metamorfo, olhando para o relógio digital do microondas, que, de fato, marcava 5:35. – Ah, não, vai demorar um tempão pra ela... Digo, para o resto do pessoal acordar.

Ravena não disse nada, apenas se dirigiu a uma das mesas, pousando a caneca, e abriu o livro que deixara lá enquanto fazia o chá. Robin também se voltou para o computador, com um leve sorriso zombeteiro nos lábios.

Mutano se apoiou na bancada da cozinha, pensando. Não conseguiria dormir, estava muito ansioso. Mas esperar Terra acordar ia levar muito tempo, ela dormia tanto quanto ele, ainda mais depois de uma noite conturbada como aquela... Então, ouviu-se um clique vindo de sua cabeça.

–Já sei! – exclamou, fazendo Robin errar um dígito e Ravena queimar o lábio superior. – Vou preparar um café da manhã especial! Para comemorar a entrada de Terra na equipe!

Robin e Ravena se entreolharam. A manhã calma e silenciosa que eles sempre tinham para cuidar de seus afazeres tinha ido por água abaixo. A empata estava especialmente irritada, tocando o lábio queimado com um dedo indicador brilhante, curando-o. Virou-se para a cozinha, onde Mutano fazia muito barulho com as panelas. Suspirou e se levantou, com o livro em uma mão e a caneca fumegante na outra.

–Ei, Ravena, onde você ta indo? – perguntou o garoto verde, enquanto tirava produtos à base de soja da geladeira.

–Para o meu quarto, onde é silencioso. – respondeu ela sem se virar.

–Ah, ok. Mas você vai vir para o café, não é? Quero dizer, pelo menos para dar as boas-vindas a Terra?

–Tanto faz... – respondeu com a voz entediada, com a porta se fechando atrás dela, impedindo Mutano de continuar tentando convencê-la.

O metamorfo parou por um segundo, pensando em ir atrás da empata, mas desistiu, concentrando-se no que queria fazer por Terra.

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–Você fez um ótimo trabalho, Mutano. – disse Robin, sentando-se à mesa. – Tenho certeza que Terra vai se sentir muito bem-vinda.

–Ahh, sim, amigo Mutano, está tudo muito lindo, e parece delicioso. – disse Estelar, batendo palmas.

–Mas que desperdício... – disse Ciborgue, com um olhar triste. – Tanta coisa boa, feita com... Tofu.

–Não é para você gostar. – resmungou Mutano, que estava se sentindo muito orgulhoso até o comentário do amigo metálico. – É para a Terra gostar.

–Para mim, continua sendo um fracasso. – murmurou o homem robô, se dirigindo à geladeira para preparar coisas com carne, leite e ovos de verdade. Mutano o fuzilou com os olhos.

–Mas e a convidada especial? – perguntou Ravena com os braços cruzados, já que fora arrastada para lá pelo metamorfo, que dizia que 'se ela não estivesse lá, Terra iria se sentir rejeitada'.

–Ela já está vindo. –respondeu Estelar, que dividira seu quarto com a loira, depois de dizer muitas vezes que ela não iria incomodar em nada. – A pobrezinha ficou exausta depois de ontem à noite.

–Então, Robin, ela vai mesmo entrar pra equipe? – perguntou Ravena, se servindo de uma maçã.

–É claro que vai! – respondeu Mutano antes que Robin pudesse dizer qualquer coisa. – E não coma antes de ela chegar. Quero dizer, por favor, espere só um pouquinho. – acrescentou rapidamente, ao ver o olhar que a empata lhe dirigiu.

–Acho que não há problema, Ravena. – disse Robin, ignorando o metamorfo. – Quero dizer, ela tem grande potencial, e se deu muito bem com todos nós. Além do mais, ela precisa de ajuda. Não só com os poderes, mas... Bem, você sabe, pra não ficar vagando por aí, sem ter aonde dormir nem o que comer.

–Mas você tem certeza que ela é de confiança? – perguntou novamente Ravena, em voz baixa, para que Mutano, que nesse momento estava gritando com Ciborgue que o cheiro da carne o estava matando, não ouvisse.

–Não sei, Ravena, mas... – Robin deu de ombros. – Sinceramente, não acho que ela seja nenhuma propensa traidora ou algo do tipo. Ela viveu sozinha todo esse tempo. Não teve nenhuma ligação com heróis e, arrisco dizer, muito menos com vilões. Ela é só uma garota perdida. Por sorte a encontramos antes que outra pessoa fizesse isso. Você viu como Slade ficou de olho nela.

Ravena ia retrucar alguma coisa, mas nesse momento as portas deslizaram, dando entrada a uma garota muito magra, pálida e loira. Ela usava roupas civis muito surradas e tinha um olhar de hesitação.

–Terra! – exclamaram Mutano e Estelar juntos. A alienígena voou até a amiga e a puxou para a mesa.

–Amiga Terra, olhe o que amigo Mutano fez para comemorarmos a sua entrada na nossa família!

A mesa estava repleta de pratos com panquecas e waffles, bonitas jarras cheias de leite (de soja) ou suco de laranja, panelas com ovos (também de soja) mexidos ou fritos, e muitos outros pratos feitos com tofu. Em um pedacinho da mesa, que Mutano tentava esconder, viam-se ovos de verdade fritos, bacon e presunto, que Ciborgue prepara ainda pouco, além de uma jarra com leite de verdade.

–Puxa, isso é tão incrível! – disse a loira com um olhar incrédulo. – Ninguém nunca fez algo assim por mim. Obrigada, Mutano.

Mutano ficou vermelho o tanto quanto sua pele verde permitiu, e desviou o olhar.

–Não foi nada, Terra. – disse ele para a mesa – É só o que você merece.

–Não precisa comer essa droga só porque o verdinho fez para você, Pedrinha. – disse Ciborgue, quebrando a tensão que se instalara na mesa. – Ele está acostumado, Ravena fez isso com ele uma vez e ainda jogou todo o tofu na cabeça dele. Aqui tem comida de verdade.

–Cala a boca, Ciborgue, e tira essa carnificina da cara dela! – exclamou Mutano, arrancando o prato de bacon da mão do homem-robô e colocando um com panquecas feitas com leite de soja nas mãos de Terra.

–Tira você essas coisas sem gosto da mesa!

Terra riu, juntamente com Estelar, enquanto Ravena virava os olhos, terminando sua maçã, e Robin abria o jornal, ignorando os amigos.

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Depois do café da manhã, Estelar levou Terra para o shopping, para comprar roupas novas, e tecidos para fazer um uniforme oficial de super-herói. Enquanto isso, os outros titãs aprontavam o quarto da nova colega de equipe.

Mutano não parava de tagarelar sobre como ia ser divertido e como Terra era incrível e como poderiam fazer coisas juntos. Quando o mandavam calar a boca, ele começava a dar novas idéias sobre o quarto, então queria desfazer coisas que os outros já fizeram para refazer com mais detalhes, ou com outras cores. Então acabava sendo expulso da equipe de decoração e mandado para ajudar Robin a rastrear criminosos, onde ele não parava de tagarelar também, e era mandado de volta para Ciborgue e Ravena, onde começava tudo de novo.

Finalmente, o quarto ficou pronto. Apesar da tagarelice, Mutano realmente dera boas idéias, como desenhar montanhas e rochas nas paredes e um céu estrelado no teto. Os móveis seguiam o estilo de todos os outros da Torre, e também havia uma televisão e um computador.

Quando Terra chegou, exausta e cheia de sacolas, acompanhada de Estelar, com mais sacolas ainda (já que aproveitara para comprar alguma coisinha para si mesma também), eles a levaram até o quarto, onde ela ficou boquiaberta e claramente emocionada. Qualquer um podia ver em seu rosto que nunca ela se sentira tão bem recebida como agora.

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Terra passou as mãos nos olhos, enxugando um começo de lágrimas e impedindo que essas continuassem a vir. Depois da surpresa, ela e os titãs jantaram (pizza), e ela agradecera mais de mil vezes. Ela começava a se sentir parte não só de uma equipe, mas de uma família. Agora ela começava a arrumar suas roupas novas em seu novo guarda-roupa, em seu novo quarto.

Os tecidos, de três principais cores, preto, marrom e amarelo, suas cores preferidas, estavam em cima da mesa de centro, juntamente com alguns desenhos que ela fizera com Estelar e Mutano de seu futuro uniforme de super-heroína. Em um canto, estava sua mochila surrada, a que a acompanhara por tantos anos em viagem. Ela deixou suas roupas novas e foi até a mochila.

Abriu-a, e viu todas as poucas coisas que foram sua única companhia por muito tempo. Tirou sua lanterna amarela, que a ajudara nas noites mais assustadoras. Suas outras duas camisetas, e seu outro short, também velhos e manchados. Sua escova de dente, sua escova de cabelos, um canivete que ganhara quando trabalhara no parque de diversões.

Nesse momento, o vento afastou as nuvens, descobrindo a lua, e Terra viu um brilho em cima de sua cama. Largou a mochila e correu até ela, para ver, em cima de seu travesseiro, sua fivela de borboleta. Sorriu, prendendo-a no cabelo. Achou que a tivesse perdido. Quando foi se olhar no espelho, ao lado do guarda-roupa, algo deslizou de sua mochila, batendo em sua perna.

–Mas o que... – murmurou, olhando para baixo. Em seus pés havia algo que ela nunca tinha visto na vida.

A loira se abaixou, apanhando-o. Era uma espécie de relógio antigo. Era feito de um vidro muito grosso e rígido. Do lado de fora, tinham belas linhas entalhadas, formando um desenho parecido com uma montanha, e as bordas eram revestidas de um metal dourado. Do lado de dentro, estava uma ampulheta, com areia grossa deslizando constantemente da ampola superior para a inferior. Terra estava encantada. Era um objeto muito, muito lindo. Mas de onde viera?

Bateram à porta, fazendo Terra se sobressaltar e quase derrubar o relógio. Como ele era pesado, ela o pousou em uma prateleira do guarda-roupa antes de atender a porta.

–Oi, Terra!

–Ah, oi, Mutano, você me assustou.

–Ah, desculpe por isso.

–Não, tudo bem. Ainda de pé a essa hora?

–Bom, sim, mas você também!

–Eu estou arrumando minhas coisas no novo quarto, né. – disse ela sorrindo. – A propósito, Mutano, você sabe o que...

O metamorfo avistou a fivela em seus cabelos loiros e respondeu antes que ela terminasse a frase.

–Ah, então você achou! Eu deixei aí pra você ter uma surpresa.

–Ah, então foi você! – exclamou ela aliviada, pensando que se tratava do relógio. – Muito obrigada, Mutano, não precisava.

–Bem, sabe como é, eu vi e imaginei que você gostava muito disso.

"De relógios...? Que estranho, mas é melhor concordar. Aquilo deve ter sido caro."

–Sim, sim, claro, e é muito bonito. E prático também!

–Aham, foi o que eu pensei também. – concordou Mutano feliz. – Bom, Terra, só vim ver se você estava ok. Vou dormir agora.

–Ah, claro, vocês devem ter tido muito trabalho fazendo isso aqui.

–Nah, foi muito divertido. Boa noite.

–Boa noite, Mutano. Até amanhã.

–Até. Ah, e se prepare... Amanhã tem treino de combate... E o Robin enche o saco... Acho que ele também vai puxar mais você porque...

Terra o encarou. Mutano percebeu o fora.

–Hã, porque você é nova na equipe e precisa se sincronizar com o ritmo da...

–Boa noite, Mutano. – Disse Terra com um meio sorriso, fechando a porta.

–... Boa noite. – respondeu Mutano, e depois bateu a cabeça na parede.

No quarto, Terra colocou o relógio em cima da mesa que tinha ao lado de sua cama. Ele lhe passava segurança. Devia ser porque fora um presente de Mutano. Ele era seu melhor amigo. Com uma última visão do relógio, e da areia correndo, adormeceu.

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