A última joia de Nerem:Convocada escrita por Fiore


Capítulo 4
Mudança


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura, bejocas



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Hoje é o dia do CPC (cinco por cento).

Katherina está na Praça da Felicidade junto aos outros habitantes. Um nome muito irônico, não existe ninguém feliz naquele lugar, muitas pessoas estão com seus sacos abertos e olhando para o céu. A jovem está fazendo o mesmo.

A Praça já foi bonita um dia, agora é apenas uma ruína do passado. Na época de Yuri, toda Nerem era bonita, adornada, tudo perfeito, todas as classes. Mas com o tempo, os prédios foram envelhecendo, muitos caindo e ninguém das classes superiores se importavam. Esse é o plano, mostrar aos negros o seu lugar. Nas ruínas, na sujeira e abaixo deles.

Ela arrumou o seu saco de pano, na esperança de que ele volte cheio. Com esse dinheiro, poderia comprar algumas coisas para seu barco, roupas e comida, o resto voltaria para a Magna em forma de impostos. Foi quando ela ouviu o barulho das turbinas.

– Está chegando, preparem-se! – uma masculina voz gritou.

Realmente, o cara estava certo, cinco aviões estavam se aproximando da praça e, de repente, eles abriram as portas, deixando milhares de notas de yurs pirando no ar.

Ela deu um passo para trás e quando viu que o dinheiro, o precioso dinheiro estava vindo. Tropeçou em alguém, ralou os joelhos, não sentiu nada, acostumou-se com isso

Correu para pegar o máximo de dinheiro possível. Era pouco dinheiro tudo que o Nerem produzia cinco por cento era da Paupérie Inferior. A Superior não precisava disso, tinha sua renda própria, era como uma cidade do interior, tinha fábricas e lojas e apenas cidadãos brancos ou mestiços. Diferente de sua classe, que era completamente excluída, aquele dinheiro era apenas uma forma de dizer “apenas estamos dando essa esmola para que não morram de fome e percamos soldados”. Era apenas isso. Nada de cuidados com os madeiras.

Katherina dava socos e chutes nas pessoas que tentavam pegar o seu dinheiro, pegava do chão o máximo possível. Porém sua índole era boa e acabava dando uma pouco de dinheiro para os que não conseguiam pegar nada com a confusão. No fundo, ela sabia que existiam pessoas que necessitavam mais do que ela.

Seu saco estava cheio, era um saco pequeno. Então já estava deixando a praça e indo em direção a sua cabana. Alguém tentou pegar o seu saco de dinheiro, ela foi rápida, já havia sofrido esse truque e conseguiu puxar de volta.

– Gus, seu desprezível –xingou. – Por que não tenta fazer algo sozinho?

Gus era a pior pessoa que ela havia conhecido. Rosto fino e pálido (o único branco da Inferior, nunca se soube o porquê) cabelo desgrenhado e cor de palha, magérrimo, roupa em fiapos e pobres de espírito e cheio de álcool. Não podia se confiar nele, ele abusava de qualquer uma que via pela frente, por sorte, Katherina nunca teve esse destino.

– Ora, querida, é muito mais fácil pegar os que os outros já têm. Você tem muito o que eu quero nesse momento. – ele tentou pegar o seu saco de dinheiro novamente e ela conseguiu o proteger.

Katherina ficou furiosa com ele. Quando mais nova, sempre perdia para ele seu dinheiro. Hoje não, ela puxou sua faca e apontou para ele.

– Mais um passo e eu te mato, desgraçado – ela nunca estivera mais furiosa. Gus riu.

– Você não tem capacidade de fazer isso. Negra de merda. Acredito que, de todos esses imprestáveis, você é a pior, você não consegue nem mesmo honrar sua raça, entende? É por isso que perdeu tudo.

O sangue subiu em seus olhos. Katherina jogou seu saco pra um lado e avançou em Gus, acertando sua faca em seu peito e o jogando no chão.

Foi tudo tão rápido, tão impulsivo. Parecia que Katherina foi possuída pelo outro.

– Isso é para você aprender a nunca mais me subjugar – falou enquanto dava várias facadas em Gus em lugares alternados. Ela estava tão furiosa, tão fora de si que os gemidos de dor de Gus apenas a estimulavam a dar mais facadas. Ela estava relaxando depois de tanto sofrer.

O sangue jorrava de seu corpo agora completamente rasgado, sujando o chão e as roupas da jovem. Muitas pessoas olhavam, os aviões já haviam passado. E ninguém deu importância para o saco cheio de yurs de Katherina. Talvez ninguém queria ser morto também ou então eles apenas precisavam de diversão.

– O show acabou pessoal. Hora de voltarmos pra casa – disse ela.

Muitos deles começaram a ir embora, até ouvirem uma trombeta tocando. Todos se afastaram, deixando o coração de Katherina no chão, não pode ser ela, não pode. Pensou

– Katherina Smirnov? – uma voz atrás dela disse.

A jovem sabia o que aquilo significava. Todos os jovens sabiam, ela sentiu um arrepio na espinha, a mente explodindo e vozes na sua cabeça. Covarde, covarde, você irá perder, irá morrer antes de entrar na Magna! Foi então que se virou. Lá estava ela. Marechal Bianca Capelotti. Com seu uniforme militar azul e cheio de medalhas. Uma mulher ruiva de olhos azuis fortes como sua personalidade. O rosto quadrado e nariz fino. Quantos anos ela tinha? Ninguém sabe, mas eram muitos, os Paupérie Inferior dizem ser cinquenta e seis anos.

– M... Marechal, que honra a senhora aqui – um menino disse fazendo reverência.

– Obrigada, garoto – respondeu rispidamente. – Quero conversar com você, Katherina Smirnov, quero que você seja sexta convocada para As Joias. Faltava apenas uma pessoa e você é perfeita, ousada, forte e furiosa. Se faz isso pelo seu dinheiro, o que faria pela sua pátria?

Katherina sabia que resposta devia dar, não era o que ela pensava, ela sempre odiou essa guerra maldita, desde os quatorze que pede para Deus que não seja convocada para a As Joias. Ela iria recusar, mas se recusa-se seria morta, teve apenas uma alternativa.

– Tudo, Marechal. Será uma grande honra – ela deu um sorriso tão falso...

Marechal Bianca sorriu e chegou mais perto dela, fazendo as outras pessoas se afastarem, ela entregou para a jovem uma carta.

– Em breve – anunciou a Marechal. – você estará Magna para a prova de passagem, espero que consiga. Porque se não conseguir, as coisas ficarão ruins para a senhorita.

A jovem pegou a carta e a colocou junto ao seu saco de dinheiro.

– Sim, senhora – concordou. – Eu vou conseguir.

O que aconteceu?! Só isso que ela pensava. Eu sou incapaz de sobreviver a isso... O que eu fiz de tão incrível?

Bianca se foi em direção ao seu carro parado perto dos portões de entrada da Paupérie Inferior. As pessoas estavam olhando Katherina, algumas espantadas, outras orgulhosas, e provavelmente, algumas estavam com inveja. Ela, muito assustada, correu, estava muito confusa: uma negra na competição? Como isso?

– HONRE A RAÇA! VENÇA ESSA PROVA! – eles diziam.

– POR QUE VOCÊ FOI CONVOCADA E NÃO EU? – outros diziam, deixando a moça ainda mais nervosa.

Ela foi se distanciando lentamente, até que as pessoas pararam de gritar e ela correu de volta pra casa. E chegando lá, ela sentou na terra, abraçou os joelhos, e chorou. Muito mesmo, de tristeza, de raiva, de agonia e se perguntando o que matar um ladrão tem de tão incrível.


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