Ô, Ana escrita por subordinada


Capítulo 1
Ô, Ana, eu dava tudo pra visitar teu coração


Notas iniciais do capítulo

Fiz essa história ano passado, talvez inspirada em minha vida. Não sei o motivo de eu estar postando agora, haha, mas adoraria saber o que as pessoas acham. Eu realmente gosto dessa história; não conheci meu Felipe na barca, mas sou uma completa Ana.



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Eram 11h36. Ela se lembra porque de alguma forma soube que seria um horário especial. Ele também lembra porque, de uma forma diferente, percebeu o significado do simples horário.


Era um fim de manhã muito bonito no Centro da cidade. A vista da Barca de 11h30 era linda, o sol brilhava absoluto em um céu com pouquíssimas pequenas nuvens. Felipe entrou na barca poucos segundos antes da mesma seguir seu rumo até Niterói, onde ele pretendia mostrar seus poemas a uma editora e, quem sabe, publicar seu primeiro livro. Ana só gostava de apreciar a vista; gostava do cheiro do mar. Felipe pensou em sentar sozinho, mas queria uma opinião sobre seus poemas e, ao ver Ana, ele simplesmente só soube que ela seria ótima. E foi; mal sabia ele que de uma forma totalmente diferente.

– Com licença, hm, esse vai ser um pedido engraçado, mas... Será que você leria alguns poemas meus? Pretendo publicar um livro... Hoje, na verdade.

Ana sorriu; ele parecia tão doce.

Felipe retribuiu o sorriso; ela era tão bela.

– Ah, claro!

Após ler dois ou três poemas, não pôde deixar de sorrir. Não um sorriso de compaixão ou de "ei-estou-extremamente-sem-graça-no-momento". Era um sorriso sincero, sincero de verdade.

– Eu gostei. Gostei do jeito como você escreve. Romantismo, hm? Gostou muito dessa época literária, você tem cara de Romancista. Bem, ficou ótimo, de verdade. Você se inspira em algum poeta/escritor?

Eram 11h36. Seu primeiro elogio como aspirante a escritor de poemas. Ninguém nunca havia lido seus escritos antes e não havia motivo para que ele os desse para uma completa estranha ler. Acho que às vezes a gente está tão acostumado a “seguir a onda”, seguir o que dizem certo, que algo tão simples pode parecer errado. Só que não foi errado. Pelos 15 minutos que se passaram, tantos sorrisos foram trocados que pareceu extremamente injusto a Felipe que eles não fossem se ver novamente. Ana pensou o mesmo.

Felipe pediu seu telefone e recebeu com um sorriso. O sorriso de Ana dizia "que bom, achei que não fosse pedir!" e ele sabia disso.
Com o tempo, viraram bons amigos. Felipe descobriu que Ana cursava Letras na UFRJ e também gostava de poesia, de escrever pequenas crônicas por diversão. Ana descobriu que Felipe era filho de pais separados, que esperavam que o jovem se tornasse advogado, quando o mesmo não tinha a menor vontade disso.

– Quero viver sem obrigações, sabe? Fazer o que eu quiser e que me faça feliz. Acho que todos deveriam fazer o mesmo. Dinheiro é última opção. – ele dizia com frequência, com olhar sonhador que poderia levá-lo às estrelas.
Ana não conseguia deixar de sorrir cada vez que ouvia as aspirações do amigo. Era engraçado como eram diferentes e ao mesmo tempo tão iguais. Os dois eram uma confusão, pra falar a verdade.

Costumavam passar os pôr-do-sois em uma pedra do Arpoador sempre que podiam. Passavam horas e horas ali, sem pensar em nada; pensando em tudo. A vida no mundinho secreto dos dois não possuía problemas, não enquanto estivessem juntos. Os dois possuíam o privilégio de sentir o tipo mais doce de felicidade.

Então, com o tempo, ficou óbvio para todos os amigos que os dois gostavam um do outro. Menos para os mesmos. Ana preferia ignorar, fugia de todas as perguntas de Felipe, fingia que era indiferente, mas ele sabia. Ele sabia, ele via em seus olhos que ela o amava. Era recíproco, é claro.

Felipe então quis "ficar" com a Ana, só queria ter seus lábios junto aos dela.
Ela negou; tinha medo de que pudesse perder a amizade do melhor amigo que já teve.

Felipe insistiu; não conseguia deixar de pensar na ideia de ter algo a mais com Ana.

Por fim, ficaram.

Felipe? Era pura felicidade. No entanto, o aspirante a poeta de 21 anos, barba por fazer e cabelo bagunçado tinha medo de machucar Ana, de machucar sua melhor amiga, seu amor.

Ana fugiu. De novo. A estudante de letras tinha medo de compromissos e medo do que pode não dar certo.

Felipe queria que Ana fosse sua namorada, queria que eles vivessem juntos em um pequeno apartamento em Botafogo, que fossem felizes pelas pequenas coisas; queria que Ana parasse de se preocupar tanto com algo que tinha tantas chances de dar certo.

Ana tinha medo, tinha medo de tudo e continuava a negar a si mesma e a Felipe tudo o que sentia. Felipe então, após tanto tempo, desistiu. Desistiu de ter que correr atrás de tudo porque Ana era medrosa demais para fazer algo acontecer. Ele foi desistindo aos poucos, esperava que ela o puxasse de volta. Ela não o fez. Ele tampouco puxou a si mesmo.

Felipe arrumou uma namorada; Ana não. Eles dois continuaram amigos e continuaram a agir como se nada tivesse acontecido; como se não se amassem no significado mais doce da palavra. Pois apesar do que dizem sentir, não admitem que ainda gostam sim um do outro e não só isso: se amam.

Felipe e Ana tiveram o mais doce dos romances, mesmo que tão curto. Era doce desde o começo, desde o primeiro “olá” seguido pelo tal pedido incomum. Passaram-se dias, meses e eles continuaram a se falar. Felipe conseguiu seu livro, Ana se formou. Os dois seguiram suas vidas, por assim dizer. Seguiram juntos, é claro, como sempre estiveram desde a manhã da barca. Se voltaram a ficar juntos? Não sei, deixo a você leitor decidir. Se se amavam? Ah, é claro. Sempre se amariam. Não se deixa de amar uma doce Ana ou mesmo um extrovertido Felipe. O caso é que a vida vai andando, às vezes se arrasta, às vezes corre: mas, ali no fundo, escondido em algum lugar dessas duas mentes bagunçadas está pra sempre guardado o amor que os dois sentiram pelo outro naquele primeiro e único beijo que poderia ter dado em tanto mais. Não deu.

Eram 11h36 de um dia de sorrisos doces e novos amores. Eram 11h36 de um dia como esse; e eles ainda se amam.

Eles ainda se amam, sim. Só não deu.


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Notas finais do capítulo

Bem, é isso. O capítulo é único. Aceito qualquer tipo de crítica, gosto de saber o que as pessoas acham das minhas histórias. Se você leu, obrigada ♥



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