Kardiá escrita por HyeWook


Capítulo 7
A morte é sutil.




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Remédios são receitados para amenizar ou acabar com os efeitos de uma doença. Em alguns casos, a doença chega a um ponto em que os remédios perdem o efeito. E isso estava começando a acontecer com Ren.

Com o passar do tempo, seus remédios pareciam estar escolhendo quando fariam efeito e já estavam se tornando raros os dias em que ele não sofria com, ao menos, um sintoma da doença.

Era a morte chegando cada vez mais perto.

No trabalho ele se esforçava para não deixar transparecer sua fraqueza e fazia o mesmo nos telefonemas com BaekHo. Ren já não tinha mais forças, levantar pela manhã estava se tornando cansativo. Logo não aguentaria mais trabalhar.

Depois do episódio cômico, Aron e HaNa pareciam diferentes. HaNa parecia evitar qualquer contato visual com Aron. Ninguém conversava sobre o assunto, mas era bem evidente para Ren.

A situação era a seguinte: Aron apenas ligava para HaNa para saber se ela havia tomado os remédios e para avisar quando estava indo para casa. HaNa ligava para avisar quando saia e quando chegava em casa e para perguntar se Aron havia se alimentado.

Continuavam cuidando um do outro, mesmo que estivessem se evitando.

***

Era noite, HaNa preparava o jantar em seu apartamento. Ren fazia companhia. Aron estava em mais um jantar de negócios da Agência.

—Sabe, sobre você e Aron... – Ren disse como quem jogava o assunto à espera de uma resposta. Ele estava sentando no banquinho do balcão da cozinha de HaNa. Parecido com o de Aron, só que mais barato.

—Você não tem um assunto mais agradável, não? – HaNa foi ríspida, ela fazia isso quando queria fugir de um assunto.

—Mas...

—Mas, nada. Se gosta tanto do Aron por que não fica você com ele?

—Porque é você quem vai fazer isso.

—Continue falando besteira e te boto pra fora daqui! Se comer antes! – HaNa levantou sua colher e parecia um tanto ameaçadora. Ela sabia que o ponto fraco de Ren era a comida. —Não pode falar de algo mais agradável?

—Bom, Aron é realmente o tópico de conversa mais agradável que tenho. – Ren respondeu, sincero.

—Por que não fala mais da sua vida? Já descobrimos que você tinha um caso com um cara que tem um noiva. – HaNa foi um tanto sarcástica. —Você também já foi trainee de uma dessas escravizadoras.

—Não. Eu não tenho nenhum talento.

—Com esse nariz plastificado, conseguiria debutar até se fosse mudo.

—Não, eu nunca quis ser um ídolo. E posso dizer que acabaram os segredos sobre mim. Por que não fala de você?

—Sobre mim?

—Sim. Você nunca fala sobre você. Fala sempre sobre o... – Ren já ia falando de Aron novamente, por sorte se deu conta. —Então, fale sobre você.

HaNa se manteve em silêncio. Soltou 2 suspiros, algumas risadas banhadas de ironia e continuou cuidando da comida, que por sinal, já estava quase pronta.

—Ren – iniciou, cautelosa. —Eu sou a prova viva de que se o aborto fosse legalizado no mundo todo, haveria menos sofrimento.

—HaNa...não diga isso.

—É a mais pura verdade. Pessoas que não sabem amar não deviam poder ter filhos. Veja o seu caso: Seu pai te ama até o momento em que você é hétero. Você sendo gay, ele forja a sua morte. No meu caso, a minha mãe não me ama em situação alguma.

—Sua mãe é louca, é diferente.

—E seu pai, não é?

—Digamos que todos sejam loucos e nós três, as únicas pessoas sensatas no mundo. Nós não ligamos para o resto do mundo e só queremos nosso salário no fim do mês para comprar comida.

—Menos aquele idiota do Aron, ele se preocupa com todo mundo. – desse vez foi HaNa, quem, voluntariamente, citou o nome de Aron. — O salário dele também é para ajudar os outros.

—Diferente das nossas famílias, de nós e de todo o resto, acho que o Aron saber o que é amar. Amar de verdade, HaNa.

—Por que você está falando isso, seu idiota?

—Porque você é a idiota aqui!

***

Mesmo se sentindo cada vez mais fraco, Ren não deixou de aproveitar o pouco tempo que lhe restava. O salário não era muito, porém dava pra fazer compras e sair algumas vezes, além de comprar uma parte dos remédios, é claro.

Os horários de Aron às vezes eram confusos, Ren já estava habituado a ir e voltar do trabalho sozinho. Independente. Já se via independente, mesmo que por pouco tempo.

Numa tarde calma, Ren saiu mais cedo do trabalho. Chegou cansando, como sempre. Sentia-se sempre cansado. Antes de entrar no apartamento, percebeu que a porta não estava totalmente fechada e ouviu algumas vozes conhecidas.

—Até quando você vai continuar fugindo? – era Aron, não parecia muito bem.

—Quando você vai parar de me perguntar isso? – era HaNa, como o tom irritado de sempre. —Aquilo foi um erro que eu faço questão de esquecer. Só que você não deixa!

—Se quer esquecer, por que continua me tratando assim?

Ren não ouviu uma resposta de HaNa.

—HaNa, eu prometo não tocar mais nesse assunto. Por favor, pare de fugir! – além de honesto, bom, carinhoso e outras mil qualidades, Aron não tinha muito orgulho.

—Tá! Tudo bem! – Ren ouviu passos se aproximando. HaNa provavelmente estava saindo.

—Ao menos tomou os remédios?

—Tomei. – HaNa disse e saiu.

Sequer olhou para Ren, que ficou parado sem saber que atitude tomar.

—Isso é falta de educação, sabia? – HaNa disse, antes de entrar no próprio apartamento, dando um susto em Ren.

Ren entrou e encontrou Aron sentado no sofá. Concentrado, de cabeça baixa. Não notou Ren se aproximando. Não parecia bem. Não estava bem. Anos de cuidado, carinho e total dedicação, era mais do óbvio que ele nutria algo a mais por HaNa.

Por mais que Aron tivesse demorado a descobrir o próprio sentimento e que depois de descoberto, tivesse que esconder, nos últimos meses, estava se tornando quase insuportável.

Sufocante.

Ele conhecia cada detalhe da vida de HaNa. Entendia como ninguém porque nunca teria a mínima chance.

Na noite da visita de BaekHo, Aron não aguentou. Algo dentro de si o moveu. Algum espírito selvagem o moveu e ele agarrou HaNa sem pensar. E ela não lutou contra. Ao contrário do que se esperaria de HaNa, ela permitiu tudo.

E os dois acabaram naquela situação constrangedora. Ela começou a evita-lo, ele tentou não se importar. O problema é que era extremamente difícil para Aron simplesmente não se importar.

—Ela é um tanto difícil, não é mesmo? – Ren foi sutil.

Sentou-se ao lado de Aron na esperança de animá-lo.

Aron não respondeu.

—Não fique assim, Aron. Quem sabe ela se dá conta!

—Ren, nós dois conhecemos a mesma HaNa?

***

Pessoas passando por todos os lados no estilo rápido coreano. Restaurantes lotados. Ídolos fugindo de seus dormitórios em grupo. A cidade com suas luzes ao máximo. Era GangNam.

Dessa vez apenas Ren e Aron. Aron queria distrair a cabeça longe de HaNa. E ela também não aceitaria se os dois a convidassem.

Aron dirigiu até uma praça mais calma. Era uma noite um tanto quente. Estrelas por todo o céu. Sentia-se um tanto desconfortável por não poder usar um casaco ou ao menos uma blusa mais fechada.

Sempre havia uma toalha no carro de Aron, e os dois a usaram para cobrir uma parte do gramado e se sentaram. Conseguiram um lugar próximo à margem do rio Han. Aron, cansado, deitou-se. Ren ficou sentando ao seu lado.

—Aron, já imaginou se tudo fosse diferente? – Ren perguntou pensativo.

—Diferente, como? – Aron perguntou, de olhos fechados. Até mesmo suas pálpebras estavam cansadas.

—Diferente. Imagine se eu fosse hétero, se a HaNa assumisse que te ama, se meu coração fosse saudável, se seus pais lembrassem da sua existência às vezes...

—Ren, as coisas são como são porque alguém em algum lugar começou a usar o livre arbítrio e daí iniciou-se uma reação em cadeia. Tudo é como deve ser porque alguém optou pelo não há muito tempo. Eu optei por não viver a vida que meus pais queriam, HaNa optou por não ser a escrava da mãe dela, você optou por não negar a si mesmo e talvez seu coração tenha optado por não funcionar por muito tempo. A vida é feita de não’s, Ren.

—Gostaria de ter a opção de não morrer.

—Você estava tão bem com isso. BaekHo te fez mudar de ideia? – Aron chegou a abrir, levemente, os olhos.

—Não. Acho que é medo. – Ren soltou a angústia que carregava há dias.

—Medo de morrer?

—Medo do que vem depois.

—O inferno é só mais um conto de fadas, Ren.

—E se não for?

—Eu sou seu chefe, é sua obrigação acreditar em mim.

***

—Eu sou um tarado. Perdoe-me pelo meu ato. Prometo nunca mais repeti-lo. – Aron se inclinou em 90 graus na frente da HaNa, assim que ela abriu a porta de seu apartamento.

No caminho para casa, Ren havia ensinado a Aron, algumas maneiras supereducadas de pedir desculpas usadas pelos coreanos. Era uma das últimas alternativas que tinham em mente para tentar reconquistar a confiança de HaNa.

—O que é isso? – ela perguntou, sem entender nada.

—Ele está pedindo perdão por seu ato imoral. – Ren respondeu.

—Eu fui sujo. Eu sou um pervertido. Prometo nunca mais repetir esse ato. – Aron mantinha-se inclinado.

—Vocês dois são totalmente malucos. E Aron, volte ao normal! – HaNa estava começando a se incomodar com Aron naquela maneira.

—Vai perdoa-lo? – Podia-se ouvir um tom de animação na voz de Ren.

—Ren, nos dê licença. Aron e eu precisamos conversar.

—Adeus! – Ren já ia saindo quando se lembrou de um pequeno detalhe. —Aron, não tem problema se você se atrasar um pouco amanhã.

HaNa o encarou com o olhar irritado de sempre. Ele correu e apenas soltou um grito. —Divirtam-se!

***

A fraqueza de Ren ia aumentando, os sintomas da doença estavam cada vez mais difíceis de disfarçar. Estava claro que Ren não chegaria ao Natal.

Por mais que faltassem menos de 2 meses.

Chegou do trabalhado cansado. Mais cansado que o normal. Fadiga era um dos sintomas da doença. Entrou no apartamento desajeitado, até sua mochila leve do dia a dia parecia pesada.

—Aron? – chamou, baixo. Não viu ninguém por perto. —Deve estar com HaNa. – pressupôs.

Jogou sua mochila em qualquer canto da sala e então jogou-se no sofá. Procurava se lembrar onde estavam seus remédios, mas tinha que pensar em algo para comer, e tinha que tomar um banho, e tinha que tomar um chá, e tinha que... Onde estava Aron, mesmo?

—Sinto muito, HaNa, mas Aron não pode mais me deixar sozinho. – disse, olhando para uma foto recente do casal na mesinha da sala enquanto tentava se levantar.

Com muito esforço, conseguiu se levantar e foi até a cozinha. Pegou um copo de água. Seus remédios não estavam ali. Cansado demais, pensou em ir até seu quarto e se deitar até que alguém aparecesse.

Antes que pudesse se mover, ouviu alguém abrir a porta.

—Eu disse que íamos nos atrasar! – era a voz de HaNa.

—Não tenho culpa se o trânsito estava péssimo. – e com ela, Aron.

Ren percebeu que os dois se aproximavam e já preparava seu sermão de “pobre doente” para Aron. Pra começar falaria do drama de ter sido abandonado sozinho naquele dia e logo depois viria o inocente charme em dizer que mal conseguia encontrar seus remédios. De certa forma, estava sendo verdadeiro, porém com um pouco de exagero.

Foi surpreendido quando HaNa o viu.

—Aron, ele já chegou! Eu disse que estávamos atrasados.

—Ren, me desculpe, você não pode ficar aqui.

Os dois carregavam sacolas, Aron também carregava um pacote suspeito.

—Por quê?

—Aish! Odeio pessoas curiosas. – HaNa disse, logo colocou as sacolas em cima do balcão. Direcionou-se a Ren e delicadamente o empurrou para fora da cozinha. —Saia. Não faça perguntas. Pra todos os efeitos você não nos viu aqui.

***

Ren ficou sentado no sofá esperando por quase uma hora, ou mais, ou menos? Estava tão cansado que mal tinha noção do tempo. Ouvia barulhos da cozinha, mas não sabia interpretar. Conseguia apenas distinguir alguns ruídos das panelas e muito mal.

Percebeu a presença de alguém ao seu lado.

—Ren, você precisa sair.- era Aron.

—O quê?

—Precisa sair e entrar de novo.

—Aron, sabe do que eu preciso? Eu preciso dormir. – disse fraco, mal conseguia mexer seu corpo.

—Não. Você tem ir até à porta, sair, e então voltar.

—Não tenho forças nem para ir até o meu quarto.

—Eu te ajudo!

Aron, com toda a delicadeza possível, ajudou Ren a se levantar. Acompanhou-o até à porta e saíram. Ficaram parados em frente à porta do apartamento. Aron pegou um dos braços de Ren e deu a volta em seu ombro para que ele se apoiasse. HaNa pediu que esperassem uns minutos.

—Sabe, se você fosse gay, eu não perderia meu tempo. – Ren disse, quebrando o gelo.

—Isso foi um elogio?

—Sim. Por quê?

—Olhando para o BaekHo, eu não sei se você que tem mau gosto ou eu que me encaixo no padrão de feiura. – Aron disse, mantendo o tom cuidadoso.

—Homens heterossexuais não deviam reparar no gosto de homossexuais.

—Não seja preconceituoso!

—Estou tentando ser o máximo de coreano tradicional que consigo ser até a hora da minha morte.

—Está indo muito bem. – Aron dizia, enquanto abria a porta. —Acho que já podemos entrar.

Ajudou Ren, ainda com todo cuidado possível, enquanto adentravam o apartamento. Aron o guiou lentamente até à cozinha.

Lá, Ren teve uma surpresa.

—Happy Birthday! – HaNa gritou sorrindo. Ren nunca tinha visto ela sorrir daquela maneira. Havia um bolo com velas de aniversário e muita comida ali. HaNa sempre prezava pela fartura. —Aron, pronunciei certo? – perguntou sem disfarçar.

—Bem melhor do que eu pensei que faria. – Ele respondeu, ainda apoiando Ren.

—O que é isso? – Ren perguntou, um tanto confuso.

—Seu aniversário, idiota! – HaNa respondeu, indignada. Esperava o mínimo de entusiasmo.

—Como vocês sabem? – com toda correria e os sintomas da doença piorando cada vez mais, Ren acabou esquecendo do próprio aniversário. —Nem eu me lembrava disso.

—Eu vi nos seus documentos. HaNa e eu não queríamos que passasse em branco antes de ... Você sabe.

—Obrigado. Eu realmente não esperava. Eu gostaria de estar mais animado mas... Vocês sabem.

HaNa pegou uma cadeira e levou até Ren. —Sente-se. Vamos comer um pouco e deixaremos você descansar.

***

—Atrasado! – Aron deu um berro assim que acordou e percebeu que estava completamente atrasado. —HaNa, estamos atrasados! – Sacudiu-a, a fim de acordá-la.

Levantou-se, deixando HaNa na cama travando uma batalha com o sono. Pegou sua toalha para tomar banho e saiu correndo pelo apartamento. Ele e Ren precisavam se apressar.

—Ren, precisamos correr! Estamos atrasados! – dizia batendo à porta do quarto do amigo. E não obteve respostas. —Ren, acorde! Já passa das 7! – tentou novamente. —Ren! Ren. Ren?

Aron abriu a porta. Viu Ren na cama. Parado. Aparentemente em sono profundo.

***

—Alô! Emergência?

—Sim. Você tem algum problema?

—O meu amigo! Não respira! Não se mexe. Não acorda! Respira...ele...não... – em meio ao nervosismo, Aron mal conseguia formar as frases em coreano.

—Senhor, me diga seu endereço. Estaremos enviando uma ambulância.

—Você tem que mandar alguém agora!

—Senhor, se acalme! A ambulância estará aí o mais rápido possível se o senhor colaborar e me informar seu endereço.

—Você não entende... O coração dele... Ele tem uma doença... Por favor....

***

O laudo médico dizia claramente que Choi MinKi faleceu devido a complicações de uma doença crônica. Isso era mais do que óbvio. Aron e HaNa só não pensaram que seria tão cedo.

Estavam os dois, sentados na sala de espera do hospital. Aron segurava o lado médico em uma das mãos e o celular na outra. HaNa, ao seu lado, apenas esperava por alguma atitude.

Nenhum dos dois sabia o que fazer.

Até sabiam, mas faltava coragem.

—Acho que agora devemos...organizar um enterro. De verdade, sabe? – HaNa tentava dar um primeiro rumo.

—Temos que avisar ao BaekHo e às pessoas do trabalho. – Aron respondia ainda encarando o papel que tinha em mãos.

—Depois podemos avisa à família dele. Vamos organizar algo para nós e para aquele menino feio que eu nunca lembro o nome.

—BaekHo...

—É... BaekHo.

***

Aron cuidou para que o enterro de Ren fosse feito no modo ocidental. Ren já havia tido uma cerimônia tradicional para sua família. Agora teria uma cerimônia simples e rápida para si mesmo. Apenas para as pouquíssimas pessoas próximas se despedirem.

Depois do verdadeiro enterro, HaNa e BaekHo caminhavam em direção à saída do cemitério. Aron estava resolvendo algumas questões burocráticas.

—Legal você ter vindo. – HaNa, por incrível que pareça, puxou assunto.

—Eu não podia deixar de vir.

—Ren deve estar feliz em algum lugar por isso.

—Acha mesmo?

—Ele gostava mesmo de você, sabia? Mesmo com toda a situação constrangedora. – HaNa nunca perdia a oportunidade de dar umas pontadas.

—E Aron, como está? – BaekHo tentou desviar o assunto.

—Acredito que ele vai se sentir sozinho nos próximos meses. Vou tentar ficar sempre por perto até que nossa vida volte ao normal.

—Se precisarem de alguma coisa, me avisem.

—Tudo bem.

—HaNa, eu estou falando sério. Eu não sou capaz de calcular o quanto devo a vocês por terem cuidado do Ren.

—Pode começar sendo uma pessoa melhor. Não serei egoísta pedindo que você deixe sua noiva e saia por ai militando pela causa gay, mas pode começar tentando olhar o mundo de uma forma diferente.

—Prometo que vou tentar.

—Bom ver os dois conversando. – Aron apareceu, ao lado de HaNa. Ficou um pouco feliz em vê-la conversando com BaekHo. Porém sua aparência cansada não permitia demonstrar. Só queria ir para casa e por um única vez, ser a pessoa que recebe os cuidados.

HaNa e BaekHo, que estavam caminhando, pararam.

Aron não tinha muitas forças para entrar na conversa, ou iniciar uma. Seu humor estava piro que o de HaNa em dias de crise e só pensava em encontrar um jeito de se despachar BaekHo e ir para casa.

—HaNa, precisamos ir. – Aron, pela primeira vez na vida foi mal educado. Sequer cumprimentou BaekHo.

—Eu também preciso ir. Não posso demorar...Vocês sabem. – BaekHo, mesmo terrivelmente triste, ainda tinha seus compromissos e problemas. Em meio à tristeza, perdeu sua mania de olhar sempre para os lados e talvez até um pouco da desconfiança, mas ele sabia até onde podia ir.

—Obrigado por ter vindo, BaekHo. – Aron nunca conseguia ser o tipo de pessoa grossa por muito tempo.

BaekHo fez apenas um gesto positivo com a cabeça e foi se afastando do casal. Era hora de seguir em frente. Por mais que as pessoas lutem algumas lembranças são enterradas mesmo que não por vontade própria. BaekHo ainda estava tentando enterrar suas lembranças com Ren. Mas só o tempo faria isso.

Ainda não havia se afastado tanto de Aron e HaNa quando se lembrou de um detalhe.

—HaNa, quase me esqueci! – virou-se. —Aquele seu livro, o meu amigo da editora disse que tem grandes chances de ser publicado.

—Que livro?

—Um livro seu, que o Ren me enviou. – BaekHo respondeu, não entendendo. Até o momento acreditava que HaNa tinha plena ciência de que Ren havia enviado um livro seu para que ele enviasse a um conhecido de alguma editora.

—Como assim?

—Ele me enviou um livro seu. Eu tenho vários contatos em algumas editores importantes. Ele me pediu para enviar para algumas delas e, por sinal, eles gostaram muito do seu livro.

HaNa não sabia o que responder.

—BaekHo – Aron tomou a palavra. — HaNa não sabe como agradecer, e muito menos eu. Mas acho que agora todos nós precisamos descansar. Até logo.

—Até...

***

Não se passou muito tempo e logo a dor da perda foi ficando cada vez mais branda. No lugar dela, saudade e boas lembranças preenchiam os corações de HaNa e de Aron.

Por mais que tenha sido por pouco tempo, HaNa nunca havia conhecido alguém que pudesse entender uma mínima fração de seu sofrimento como Ren entendia. E Aron nunca havia encontrado um amigo tão legal.

Ren fazia falta.

Como Aron e HaNa estavam sempre atarefados, levou quase um mês para que os dois finalmente se juntassem para retirar todas as coisas do antigo quarto de Ren.

—Podemos dar essas roupas para algum orfanato ou coisa parecida. – HaNa dizia, enquanto colocava algumas camisas dentro de uma das caixas.

—Tudo bem. – Aron apenas mexia nas gavetas à procura de algum acessório.

—Sabe, Aron, ainda acho que devíamos contar aos pais dele. Eles devem acreditar que o filho está vivo por ai.

—HaNa, eles tiveram a oportunidade de se despedir e fizeram todo aquele circo. Se estivesse realmente interessados, com o dinheiro que têm, já teriam nos encontrado.

—É... Faz sentido.

Continuaram empacotando coisas por mais umas horas. HaNa estava mexendo nos travesseiros, tirando a fronha para lavar. De um dos travesseiros caiu um envelope, ela se abaixou até o chão e pegou-o.

—Aron! – chamou — Tem seu nome aqui.

Aron pegou o envelope, curioso. — O que será? – abriu. Era uma carta.

Querido Aron

Você, provavelmente, demorou para encontrar o envelope, ou talvez nem tenha encontrado. Mas caso tenha encontrado, decidi fazer essa despedida careta e clichê por dois motivos. O primeiro é que, na verdade, eu pensei em enviar um e-mail, mas sou eu quem lê seus e-mails. Não daria certo. E o segundo... Bom, eu não tenho certeza de quando eu irei morrer, então é um modo de me despedir.

HaNa deve estar dizendo que isso é brega, eu sei.

É melhor eu começar antes que eu durma e não consigo terminar essa carta.

Aron, você foi como um anjo na minha vida. Nunca fui muito religioso mas, se existem

Anjos, eles não são seres mágicos superiores enviados por deus. Os anjos de verdade são pessoas como você. Você me acolheu na sua casa, sem nem me conhecer, e cuidou de mim. Você nunca, jamais, pediu algo em troca. Muito pelo contrário! Quando eu achava que já havia sido o bastante, você me ajudava ainda mais. Eu não consigo imaginar um jeito de te agradecer. Acho que não existe nada neste mundo para recompensar pessoas como você.

Saiba que eu sou profundamente agradecido.

A HaNa vai querer me matar, mesmo já estando morto, mas eu enviei um dos livros dela para o BaekHo. Ele tem amigos em algumas editores e se propôs a ajudá-la.

Ah! Sobre o BaekHo, sendo um tanto abusado, gostaria que você e HaNa mantivessem contato com ele. Não sei o que pode acontecer depois da minha morte, seria bom que se ele tivesse pessoas como vocês ao seu lado.

Considere isso meu último pedido, se é que tenho direito a pedir mais alguma coisa.

Eu espero que você e HaNa continuem juntos. Se vocês, por acaso, se separarem, eu volto para assombrar os dois até que fiquem juntos novamente.

E eu não estou brincando.

Eu espero ser uma boa lembrança. As melhores lembranças que que tenho são com vocêdois. A Vida de vocês não é a melhor, nem a mais fácil, mas é muito melhor do o conto de fadas que eu vivia. Vocês são reais e é isso que os faz tão especiais, pelo menos pra mim.

Mais uma vez, eu gostaria de dizer que não há, no mundo, um modo de lhe recompensar, Aron, pela pessoa que você é. Os outros podem não reconhecer isso, mas eu reconheço.

Com amor

Ren


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Notas finais do capítulo

Bom essa foi a fic. Agradeço a todos que leram até aqui. Não esqueçam do comentário



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