Ciclos Eternos- Submundo escrita por caroline factum


Capítulo 6
Capítulo 6- Primeiro passo




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Sâmia saiu do banho se sentindo exausta. Já passava das cinco e a voz estridente daquela mulher ainda parecia falar em seus ouvidos. Seja lá o que Leander tivesse tentado, não havia dado certo, pois a criada não a deixou sozinha nem um momento sequer. Agora, ainda enrolada na toalha, não tinha coragem de abrir a porta do banheiro por saber que ela a esperava do lado de fora para ajudá-la a se vestir para o jantar.

Ela ouviu a voz de Leander e abriu a porta aliviada, mas, para seu desapontamento, Aédi ainda estava ali.

– Mas pelo Submundo, o que está pensando?

Sâmia observava, sem conseguir se mexer, Aédi empurrando Leander porta afora.

– Mas que maneiras são essas? De tolha? Como é possível? Acha que as damas por aqui andam de toalha, totalmente despidas, na frente de nossos homens?

Ela não sabia o que responder. Não estaria essa doida exagerando? Afinal, Leander nunca lhe havia faltado com respeito e, sendo ele um deles, poderia ter-lhe feito mal, se assim quisesse.

Aédi agora estava mais mal humorada que nunca e, abrindo o guarda-roupa em um baque, apanhou um vestido azul turquesa.

Ainda com a testa franzida e expressão de rancor, colocou o vestido em cima da cama e resmungava enquanto procurava por um par de sapatos.

– Essas jovens mortais acham que podem ser sensuais, enquanto o que conseguem é ser totalmente vulgar.

Sâmia abriu a boca para revidar quando Aédi virou-se para ela com o par de sapatos e gritou:

– O que está fazendo aí parada? Vá se vestir! O rei a espera!

Era inútil. Sâmia apanhou o vestido e Aédi fechou o zíper de uma só vez, empurrando-lhe pelas costas de modo que se sentasse em frente à penteadeira.

– Ao menos os sapatos consegue colocar sozinha, não é? -perguntou com os olhos estreitos transbordando desprezo.

– Tenho certeza que, se não conseguir, poderá me mostrar, já que é tão eficien...

– Ai! – Sâmia gritou ao ter seu cabelo puxado de uma vez

As mãos de Aédi trabalhavam rapidamente fazendo um arranjo. Sâmia teve certeza que aquela mulher tinha sido mandada por aquele demônio para tornar sua vida um inferno.

Depois de meia hora de tormento, Aédi saiu batendo a porta antes de dizer:

– Não estrague meu trabalho. Tente não fazer nada de errado até que Leander venha lhe buscar.

– Mulher dos infernos! - Sâmia suspirou e se olhou no espelho, espantada.

O espelho refletia uma linda jovem de pele alva e face rosada, trajando um vestido clássico que contornava o busto, deixando os ombros a mostra, afinando a cintura e soltando levemente no quadril. Seus cabelos com um arranjo florido dava um brilho ainda mais especial.

– Essa bruxa pode ser um demônio, mas ela se sentia linda. O que Leander acharia?

Leander abriu a porta de seu quarto e ficou paralisado e boquiaberto por alguns segundos, antes de exclamar com os olhos brilhando:

– Encantadora!

Sâmia sorriu encabulada enquanto ele lhe oferecia o braço para desceram à sala de jantar.

Ela sorriu. Ele era um verdadeiro cavalheiro e, por mais raiva que havia sentido momentos atrás, agora tudo estava esquecido. Em sua companhia, fazia cada momento ter valido a pena.

– Jahean sempre janta conosco. Por favor, tente ser gentil com ele.

– Gentil? Deve estar brincando. Olha a mulher infeliz que ele mandou me vigiar! - Porque sei que é exatamente isso que ele quer, que aquela coisa fique contando meus passos.

Leander riu. Talvez fosse um pouco cedo para os dois começarem uma aproximação. Daria a ela um dia a mais.

– Procure não discutir com ele, então – ele disse, com um sorriso que ela aceitou com gosto.

As portas se abriram para que eles entrassem e a sala de jantar não era a mesma onde tinham almoçado. A sala era muito maior e havia uma extensa mesa em madeira trabalhada, alguns candelabros no teto e, ao final da mesa, havia uma porta de vidro aberta, por onde Sâmia podia ver o outro lado do jardim.

Assim que eles entraram, ela não tinha coragem de olhar para o rei. Sabia que ele estava com os olhos fixos nela. Ela podia sentir a pesada energia de seu olhar.

– Boa noite, majestade. Boa noite, Alethea – Leander cumprimentou com um aceno de cabeça.

E, como já esperado, somente a governanta respondeu. Leander puxou a cadeira para que ela se sentasse e, em uma rápida olhada ao rei, ela pôde ver o tanto que ele estava irritado.

– E Jakobien? - Leander perguntou, sentando-se.

Jahean acenou para os criados que começaram a servir o jantar.

– Está em Faíza, tentando um acordo com aquele imbecil do Navim, antes que ele venha aqui pessoalmente para me aborrecer.

Uma curta pausa e ele acrescentou:

– Navim faz questão de me incomodar com sua presença, embora ele não seja o único.

O clima se tornou ainda mais tenso, tendo ela entendido imediatamente que ele se referia a ela. Leander também sentiu apertar seu coração. Talvez seu plano fosse mais fácil em seus pensamentos do que na realidade.

Alethea, alheia à situação em que se encontravam, começou a dar detalhes dos convidados que já haviam chegado e dos últimos preparativos para o noivado.

Sâmia agora podia observá-lo melhor, pois estava distraído, conversando com a governanta. Ela não teria coragem de encará-lo. Era ainda difícil para ela aceitar que estava jantando na mesma mesa que ele, depois de tudo que vivera.

Teria mesmo sido verdade? Parecia tão irreal. Mesmo estando em um mundo mágico, cruzar aquela floresta sombria e cheia de criaturas inusitadas parecia meio utópico.

Ela nunca imaginou que havia um castelo, embora ela pudesse ver seu topo durante o trajeto. Durante anos, ela alimentou a lembrança de um grande cassino, onde ele se divertia a cada vida que ali era perdida, mas não a dela, ela havia vencido. Seja lá como ela tenha conseguido isso, sabia que não seria capaz de fazer de novo. Sorte talvez, mas, sim, ela havia acabado com o massacre dele e, por isso, ele a odiava. Sâmia podia sentir em seu olhar, ela podia ver em seus gestos e no tom de sua voz. Talvez existisse uma lei no Submundo que determinasse que ele não pudesse matar aqueles que vencessem seus jogos, afinal, por qual outro motivo ela estaria viva e ainda jantando com ele?

– Majestade, me perdoe tocar nesse assunto na hora do jantar, mas, se não tivermos os nomes ainda esta noite, não conseguiremos fazer com que os convites cheguem a tempo.

Sâmia saiu de seus pensamentos com a voz de Leander. Ela observou Jahean passando a mão pelos cabelos em um gesto de desespero.

– Se existe um motivo que me faça pensar em desistir de tudo, é esse – foi o único comentário do rei, despertando, assim, o interesse de Sâmia, que agora estava tentando entender o que estava acontecendo.

– Majestade, deixe que passe o tempo, e que os convites sejam entregues poucos dias antes da festa, assim, não terão tempo de vir.

Ela teria entendido direito? Jahean não queria que os convidados aparecessem? Mas Alethea não acabara de falar sobre os que já estavam no castelo?

– Não, é inútil. Tâmara já me fez o enorme favor de divulgar a data pelo mundo inteiro.

Ele deu um suspiro e voltou a falar:

– Mas não posso culpá-la. Aqueles três apareceriam aqui mesmo que o convite chegasse um dia antes, ou até no mesmo dia. Eles simplesmente não perderiam essa oportunidade.

Certo. “Três”, ele dissera, então eram apenas três pessoas que ele não queria no castelo. Ela tentava, de alguma forma, acompanhar o raciocínio deles.

– O problema é que Sunset simplesmente não pode negar a entrada a eles – Leander argumentou.

O silêncio predominou por alguns minutos, sem que se falasse mais no assunto ou qualquer outro. Alethea decidiu quebrar o clima angustiante conversando com Sâmia.

– E então? Embora seja cedo para formar uma opinião, o que está achando de nosso mundo?

– Bem diferente do que já pude imaginar, mas todos têm sido muito gentis, ou melhor, quase todos.

Seus olhos pararam em Jahean e Leander prendeu a respiração, porém, ao mesmo tempo sua vontade era morrer de rir. Era incrível como ela tinha a ousadia de desafiar Jahean daquela forma, não aceitando as provocações dele. Assistir a algo assim para outros poderia ser desagradável, mas para ele, que sabia exatamente como seu rei se sentia a respeito dela, era delicioso estar presente naquele momento.

O rei passava o guardanapo nos lábios, devolvendo a ela o mesmo olhar. Era incrível! Leander poderia jurar que qualquer outra pessoa que fizesse o que ela acabara de fazer não viveria para falar novamente e, no entanto, ele apenas a olhava, como se estivessem medindo forças em uma disputa que nunca havia acabado desde que começaram a jogar o jogo de suas prioridades.

Alethea era extremamente discreta e jamais faria um comentário ou perguntas impróprias, mas ela começou a perceber que algo ali também não estava certo e prometeu a si mesma prestar mais atenção no que se passava entre aqueles dois.

– Majestade, desculpe interromper, mas o mensageiro está esperando sua assinatura para levar a lista de convidados.

Todos os rostos se viraram para a porta e lá estava Aédi com uma pequena bandeja prateada. Ela se aproximou, colocando sobre a mesa junto com um pergaminho e uma pena.

– Não precisa se levantar, meu senhor, eu mesma levo os nomes ao mensageiro.

Jahean olhava para Leander como que esperando que ele pudesse fazer alguma coisa para ajudá-lo, mas ele também não sabia o que fazer.

– Meu senhor? – Aédi insistiu, vendo que o rei não se movia.

– Saia

– Mas senhor o mensageiro...

– Eu disse para sair.

Aédi se afastou confusa e, antes que ela atingisse a porta, Jahean empurrou a bandeja com força, fazendo o barulho ecoar por toda a sala.

– Eu assumo a culpa, meu senhor. Diga a eles que me encarregou de entregar os convites e eu me esqueci. Faço qualquer coisa para privá-lo de mais um aborrecimento -

Alethea disse com o rosto angustiado.

Suas palavras pareceram surtir certo efeito e Sâmia viu quase um sorriso no rosto dele.

– Não seria justo, Alethea, não é seu problema.

Justo? Ele falava em justiça. E era justo o que ele lhe fizera passar quando tinha apenas treze anos? Invadindo seu mundo e fazendo-lhe jogar em vez de ignorar seu chamado?

Mas Sâmia estava interessada demais naquela história para se deixar levar por sua própria e aproveitou enquanto a governanta contava uma história para distrair o rei e reiinclinando-se para Leander que estava ao seu lado disse:

– Não seria mais fácil ele dizer que não quer que as pessoas venham?

– Não é tão simples assim - Leander sussurrou.

– Os três que ele não quer aqui são reis e rainhas e não podemos privar os reinos de conhecerem a futura rainha do Submundo.

– E ele tem que ficar junto deles o tempo todo? Não pode escapar? Ficar longe? – Sâmia sussurrou, depois de lançar rápido olhar, certificando-se que ele se mantinha atento à conversa com Alethea.

– Todos os reinos sabem que a Ala Sul é reservada a realeza. Colocá-los na Ala Norte ou Oeste seria uma afronta. Como não convidá-los ao maldito noivado.

– Refaça a lista dos convidados, dividindo-a em dois grupos e convide metade das pessoas apenas. Deixe a outra metade com os que não quer aqui para o casamento.

Sâmia falou com tanta energia que chamou imediatamente a atenção do rei, fazendo com que ele se virasse para se certificar que havia ouvido bem.

Ele, para a surpresa de Leander e dela mesmo, cruzou os braços, inclinando o corpo para trás na cadeira e a olhou atentamente.

– Isso só adiaria o problema, minha querida. De qualquer forma, teríamos que receber os que são indesejáveis no casamento - Alethea argumentou solidária.

– Não, porque após o noivado a noiva herda o direito a reorganizar as dependências. Se você convidar apenas os que quer agora, pode deixá-los na Ala Sul e, quando for o casamento, pode mudar os que não quer para outra Ala, alegando que aquela é a Ala real, uma vez que eles não terão certeza se sua noiva mudou ou não.

Chocado com o que acabara de ouvir, Leander não conseguia dizer uma única palavra. Sâmia, que percebia a surpresa dele, argumentou:

– Essa tarde eu li sobre os costumes e história e vi que a noiva pode reorganizar as dependências do castelo e, embora seja apenas um costume antigo, estamos falando da futura rainha do Submundo, e ela pode fazer o que quiser.

– Mas é incrível! Eu mesma não conseguiria chegar a mais brilhante solução - disse Alethea.

Jahean apenas se levantou e saiu da sala. Alethea alegou ter terminado o jantar e foi ver se o rei precisava de alguma coisa. Leander a levou ao jardim e a pegou no colo.

– Pelo Submundo, Sâmia! Você foi fantástica! Eu jamais poderia imaginar coisa assim. Eu pensando em como fazer uma aproximação entre vocês e você faz tudo perfeito.

Ele ria e andava com ela pelo gramado. Ela, segurando-se em seu pescoço, ria da animação dele, embora ela não tivesse motivo nenhum para se alegrar.

– Eu já me arrependi de abrir a boca, Leander. Ele me detesta; saiu da mesa sem ao menos dizer uma palavra.

– Não importa, não importa, Jahean é temperamental, mas eu o conheço bem e sei que agora ele deve estar muito irritado.

– E isso você acha que é bom?

– Sim, se for pelo motivo certo - e deu um sonoro beijo em sua bochecha, colocando-a de volta ao chão. Os dois caminharam de mãos dadas, aproveitando a beleza da noite, cada um com seus pensamentos. Palavras não eram necessárias, ambos se sentiam extremamente felizes na companhia um do outro, embora ainda fosse cedo para determinar o real motivo que os aproximava.

Aédi bateu e entrou, trazendo uma taça de vinho para o rei em seu quarto.

– Alethea me pediu para trazer, senhor.

Jahean, sentado na beirada da janela, não se deu ao trabalho de olhar para a criada.

– Meu senhor, posso fazer uma pergunta?

Jahean se virou a contragosto.

– Leander vai continuar aqui ou vai se mudar para Superfície depois do casamento?

O rei levantou uma sobrancelha, olhando seriamente para ela.

– E por que acha que mandaria meu primeiro ministro viver na Superfície só porque vou me casar?

Ele mal terminara a frase e já voltara a olhar a extensa paisagem da floresta.

– Não o seu, meu senhor, mas o dele com a jovem mortal.

Jahean se virou rapidamente.

– Que demônios assombram sua mente, criatura?

Ele agora já descera da janela e caminhava pelo quarto.

– Meu senhor, eu imaginei que eles se casariam, afinal, Leander é um dos nossos e não teria liberdades assim com uma jovem que não amasse.

Seu rosto era sério e convicto. Jahean analisou por alguns segundos. Ela não era estúpida para inventar uma história dessas.

Seus olhos se tornaram bem pequenos e as palavras saíram vagarosamente pesadas de seus lábios semicerrados.

– Que liberdades?

Aédi agora procurava se demonstrar ainda mais séria. Sabia que não poderia demonstrar seu prazer em atormentar Leander como também sabia perfeitamente que um assunto assim tão sério mexeria com a cabeça do rei. Ele jamais permitiu que ninguém ali tivesse envolvimento fútil com os mortais.

– Bem, eu os vi agora mesmo no jardim. Ele a carregava no colo em frente aos guardas. - Imaginei que estivessem comemorando algo. Lamento, majestade, eu não quis ver, fui apenas passar uma lista de compras a Leonas quando os vi no jardim da...

Jahean já havia atravessado a porta e descia rapidamente vários lances de escada.

Da porta de entrada, ele observava agora de longe os dois andando de mãos dadas entre o canteiro de rosas.

Seu primeiro ímpeto foi ir até eles, mas algo interno o impediu; voltou pelo corredor e foi ao seu escritório.

Depois de desejar boa noite a Sâmia, que estava a cada minuto mais apegada a ele, Leander desceu para cumprir sua última tarefa do dia.

Sâmia mergulhava na banheira, pensando no quanto admirava Leander. Não apenas por ser um homem bonito, mas por ser gentil, extremamente gentil com ela. Lembrou-se de todos os livros de contos de fadas que costumava ler desde muito pequena e ele a fazia lembrar os encantadores príncipes. Sentiu seu estomago dar voltas e um frio percorrer sua espinha. Ela também imaginou que Jahean seria um príncipe encantador quando esteve ali pela primeira vez. Assim que se deu conta que aqueles demônios haviam tirado a vida de sua madrasta, seu coração se encheu de esperanças; quando foi levada à presença do rei, acreditou, com toda sua alma, que ele a ajudaria a resolver seu problema e não que ele seria o motivo de seu tormento. Em vez de oferecer um mundo de sonhos, ele havia transformado sua vida no mais terrível dos pesadelos, colocando-a naqueles jogos malditos. Cada vez que um iniciava, ela não sabia se sairia viva e se completaria sua missão.

Afundou sua cabeça na banheira. Ele causava tanto terror, como ela havia aceitado voltar ali? Havia um grande ponto de interrogação preso em sua garganta. Talvez ele fosse algo diferente, ou estaria ela apenas tendo esperanças de algo que ele poderia ser?

Leander entrou no escritório do rei sorrindo satisfeito.

– Jahean, finalmente o encontrei! Percorri todos os cômodos atrás de você.

O rei, que escrevia em um documento, parou o que estava fazendo e olhou para ele.

– Já dei ordens para que enviassem os convites desejáveis como também os demais para virem apenas ao casamento e eles me disseram que amanhã pela manhã mesmo...

– E com ordens de quem mandou enviar os convites?

A voz de Leander morreu e ele não conseguia entender.

– O que quer dizer?

– O que quero, não, o que eu disse: com autorização de quem escolhe os convidados para o meu noivado e meu casamento?

– Mas, Jahean, pensei que tivesse resolvido essa questão.

– Você pensou? - disse o rei, levantando-se da cadeira.

– Pois acredito que há muito tempo seus pensamentos não podem ser confiáveis, ou não teria tido a ideia absurda de trazê-la aqui.

Jahean passou por ele e subiu, deixando Leander angustiado por alguns segundos, mas depois, balançando a cabeça de um lado para o outro, sorriu.

– Continue firme em seu propósito; não se deixe abater – disse a si mesmo.

Haviam passado cinco dias desde que Sâmia chegara ao Submundo e o sol já se fazia alto quando ela acordou. Ainda não esquecera a história do vinho que havia bebido demais com Leander em seu dia de folga. Além de não estar acostumada a beber, devido a todos os calmantes que ela tomava, também não contava que a substância daquele mundo fosse muito mais forte. Teria que tomar mais cuidado daqui para frente; provavelmente Jahean estava se divertindo a suas custas, chamando-a de irresponsável e alcoólatra.

A maldita mulher chegara há pouco e, trinta minutos depois de Sâmia ouvir os desagradáveis comentários por tê-la feito esperar a noite toda a seu lado, por não controlar o que bebera, Aédi saiu do quarto, dizendo que Leander já estava tomando café da manhã.

Sâmia chegou e encontrou Leander sentado com vários papéis em cima da mesa e com Jahean ao seu lado lendo um rolo de pergaminho.

Passaram-se alguns minutos quando o rei mandou que levassem os documentos a seu escritório, mas não demonstrou nenhuma vontade de sair da mesa, fazendo com que Sâmia começasse a pensar em alguma estratégia defensiva. Depois daquela tarde que bebera demais e que Leander teve que implorar ao rei para não mandá-la de volta, ela não queria cometer mais nenhum deslize. Leander havia lhe dado sua palavra que ela não faria mais nada que o desagradasse e, com isso, Jahean ansiava em provar que ele estava errado. Então, nas últimas vinte e cinco horas, ela havia escutado todo tipo de provocação, indiretas e até ameaças diretas vindo dele. Sabia que tudo que ele queria era que ela perdesse o controle e assim pudesse mandá-la de volta e, embora isso fosse o que ela gostaria de início, agora havia se tornado um desafio; não iria dar a vitória a ele, não dera uma vez e não seria agora, iria ficar os três prometidos meses ali, custasse o que custasse.

– Majestade, eu já vou. Espero trazer boas notícias de Hodes.

Leander se despediu de Sâmia e, na verdade, ela queria gritar que ficasse, pois ainda não haviam servido o café e Jahean continuava ali parado com os braços cruzados, recostado na cadeira, olhando para ela.

Ela respirou fundo, mantendo o controle, e a criada chegou com sua bandeja.

– Precisa de mais alguma coisa, majestade?

– Não, Ingrid. Na verdade, preciso, mas não seria você a poder me atender.

Seus olhos estavam fixos nos dele agora. O mesmo tom provocador e ameaçador, e até um tanto erótico. Ele se virou lentamente para a criada e sorriu.

– Obrigado, mas não preciso de nada.

Sâmia viu a criada sair confusa; provavelmente não entendeu o que ele quisera dizer, mas Sâmia sim; ele era um doente e ela sabia bem.


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