Snow Prisioners escrita por BucaneiraDill


Capítulo 1
One Shot




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Aconteceu em um longo e passado dezembro.

A noite estava fria. A estrada era iluminada apenas pela luz do luar, e a pouca iluminação vinda dos postes não ajudava. A neve caia lenta e silenciosamente cobrindo o asfalto como um tapete fofo e branco.

Aninhei-me em meu grosso casaco com a respiração um pouco descompassada devido ao frio.

Inclinei-me sobre o capô de meu carro, tentando inutilmente encontrar a fonte do problema.

- Droga! Onde está aquele imbecil? – Vociferei novamente, olhando para os lados em busca de algum sinal dos faróis do carro de meu irmão. Puxei o celular do bolso traseiro de minha calça para me certificar das horas. – Já são 00:10. Preciso ir logo para casa – Pensei.

Passaram-se mais alguns longos minutos até que ouvi ao longe um barulho de motor.

- Finalmente! – Fiz um sinal com a mão para que o idiota do meu irmão conseguisse me ver. Porém, quando o carro se aproximou, percebi que não era ele. Seja quem fosse, acabou passando reto por mim, sem oferecer qualquer tipo de ajuda. – Canalha! – Murmurei, como se alguém pudesse me ouvir. Soltei um riso sem humor. Onde estaria meu irmão?

Cansada, abri a porta de meu carro e sentei no banco do motorista, com o intuito de me abrigar do frio. Suspirei pesadamente.

Mais alguns minutos se passaram e eu, novamente, ouvi um barulho de motor. Sai apressadamente do carro. Mesmo se não fosse meu irmão, precisava urgentemente de ajuda. Depois me entenderia com ele, se fosse necessário.

Me distanciei um pouco de meu carro, ansiosa por ajuda. Através das árvores, já era possível ver as luzes do farol. Parei ao ouvir o barulho dos pneus derrapando. Havia algo errado.

Já era tarde demais quando vi duas luzes se aproximando rapidamente. Fechei meus olhos e me encolhi, esperando o impacto. Ouvi uma serie estridente de barulhos, e depois, apenas o silencio.

***

Abri os olhos. Minha primeira reação foi me encolher em busca de calor. Tamanho era o frio que eu estava sentindo. Porem não obtive sucesso. Era como se o calor tivesse fugido completamente de meu corpo. Olhei para baixo, as roupas estavam limpas, tudo parecia completamente normal.

Me levantei, tentando ignorar o frio. Olhei em volta tentando saber o que havia acontecido. Ao longe vi um carro capotado.

-Meu Deus!- corri até o local para ver se haviam feridos. Há poucos metros do carro reparei uma silhueta preta estendida sobre o chão, como se houvesse sido brutalmente arremessada pelo vidro da frente.

Ao me aproximar, levei as mãos até a boca, incrédula. Era apenas um jovem. Os cabelos loiros manchados de sangue contrastavam com a neve branca. A poça de sangue que começava a formar-se derretia a neve a sua volta. Havia um profundo corte pouco acima de seus olhos. Os lábios azulados lhe davam uma expressão mórbida, e naquele momento eu soube que ele estava morto.

Os olhos verdes abertos completavam o horror em seu rosto, que coberto de sangue, ficava quase irreconhecível. Quase.

Arregacei a manga de seu casaco para ter certeza, seu pulso estava gelado como a neve que o rodeava. E lá estava. A pulseira que desde sempre eu o via usando. Logo tive certeza. Deitado ali, morto, estava meu amigo de infância, conselheiro para todas as horas, Marco Reus.

Afastei-me do corpo, incrédula. Levei as duas mãos até a boca, abafando um grito de desespero. Por algum motivo, as lágrimas não vieram.

Olhei para os lados, sem saber o que fazer. Ao longe, á alguns metros de meu carro, um brilho peculiar chamou minha atenção. Ao me aproximar, algo como um colar, oscilava a luz do luar.

Era o meu colar. Estranhamente pendurado em meu pescoço coberto de sangue. E percebi que era eu que ali estava atirada no chão. Naquele momento as lágrimas vieram acompanhadas de um grito de terror. Confusa, não entendi a imagem a minha frente.

Minhas pernas fraquejaram e logo fui de encontro ao chão, soluçando freneticamente. Estranhamente, não senti a dor do impacto. Sentada, apertei os olhos, com a esperança de que tudo não passasse de um sonho.

Olhei para frente, para o fim da rua. Uma silhueta se aproximava sem fazer qualquer tipo de barulho. Sem dar muita atenção ao estranho, continuei tentando convencer-me de que aquilo não era real.

-Evellyn- chamou uma voz suave e estranhamente familiar. Olhei para cima, e lá estava ele.

Marco aparentava estar bem. Suas roupas estavam inteiras e não havia sinal de sangue. Não tive reação, não entendia o que estava havendo. Marco ajoelhou-se a minha frente, puxando-me para um abraço apertado. Ainda em lágrimas, tentei puxá-lo mais para perto, esperando sentir o calor de seu corpo. Porém, isso não aconteceu.

Assim como em mim, o calor de seu corpo não existia mais. Soluçando descontroladamente, veio a pergunta: Estamos mortos?

-Estamos... – arrisquei perguntar.

-Não importa – murmurou com sua voz rouca, interrompendo a pergunta, porém sem afastar seu corpo gelado do meu. –Está tudo bem agora – continuou.

Afastei-me dele, e encarei meu corpo que jazia poucos metros ao nosso lado.

-Eu não entendo!- Balbuciei em meio ao pranto.

-Não olhe! – pediu ele, pegando meu rosto delicadamente com uma das mãos, e direcionando-o ao seu. E então ele confirmou o que para ele parecia óbvio:

-Olhe para mim Evy. Vai ficar tudo bem agora. Acabou.

***

Mario Götze aproximava-se do ponto onde sua irmã dissera estar minutos antes – quando grosseiramente por meio de um telefonema, pedira para ele ir busca-la. Não era culpa dele que havia demorado a sair de casa. Naquele dia, fazia três anos que começara o namoro com Ann, e a noite deveria ser especial.

Ele encarou a estrada coberta pela escuridão da noite. As árvores que contornavam a rodovia davam um clima misterioso à noite fria, como se fosse o cenário perfeito para um filme de terror clássico.

Mais adiante na estrada a sombra de um carro se erguia colossalmente. O veículo parado já estava um pouco coberto pela neve e aparentava estar no lugar há algum tempo. Fazendo a curva, outro carro apareceu em seu campo de visão, este estava de cabeça para baixo.

Parou no acostamento e antes que pudesse descer do carro, as lágrimas vieram. Reconheceu os cabelos negros esparramados na neve e soube.

Sua irmã estava morta. Se torturou em pensamento. Se houvesse chegado antes, tudo poderia ter sido evitado.

Once you'd gone there was never an honest word


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