Meu nome é Carlos e eu e minha irmã gêmea Julie somos orfãos. Passamos a vida no Orfanato Queridinhos, um nome bem diferente do que os outros orfanatos costumam ter.

Semana passada a Dona Luci, a senhora que cuida do orfanato, nos avisou que uma família tinha nos escolhido, o que eu achei bem estranho pois deveríamos ter conhecido essa família antes, mas isso pode até ser considerado normal se for comparar com tudo que acontece nessa cidade e nesse orfanato.

Hoje é o dia de irmos embora desse lugar, Julie não sabe se se sente feliz ou assustada, isso desde que viu um vídeo que o casal gravou para nós, ela tem toda razão, é assustador. No vídeo, a Celeste e o Daniel, dizem o quão estão felizes em nos adotar. Seria um vídeo normal, se não fosse gravado em um cemitério com nossos futuros pais vestidos de palhaços.

– Crianças!– grita Dona Luci - Venham logo antes que devolvam vocês antes de adota-los!

Juliana desceu as escadas rapidamente, enquanto eu checava se não estava esquecendo nenhum das minhas revistas sobre felinos. Minha irmã provavelmente corria por medo da Dona Luci brigar pelo atraso e não por ansiedade.

– Julie, é naquilo que nós vamos viajar? - eu pergunto

– Parece que sim

"Naquilo" nada mais era uma limousine com uma estátua de unicórnio em cima. Esse é o carro da nossa nova família ou vamos trabalhar no circo, pensei.

– Venham queridinhos - Chamou Celeste

Quando olho para trás a Dona Luci já tinha sumido, talvez com medo de que Celeste e Daniel resolvessem nos devolver. Acho que seria mais fácil eu e minha irmã desistirmos de ir ao novo lar e continuarmos orfãos mesmo.

"Papai" e "mamãe" foram nos bancos da frente, Daniel, ou papai, era quem dirigia. Eu e Julie fomos nos bancos de trás. A viagem quase toda foi silenciosa, o que quebrou o silêncio foi uma música um tanto assustadora, parecia que queriam nos assustar já que estávamos passando por perto do que parecia ser o cemitério da cidade.

Pelo espelho dava pra perceber um sorriso indecifrável de ambos. Eu e Julie teríamos nos assustado se a música não tivesse parado e um senhor tivesse nos parado par entregar um panfleto de uma loja de eletrodomésticos.

– Carlos - cochichou minha irmã - Não quero ir morar com eles, vamos voltar

Conseguia ver a tristeza misturada com medo no olhar dela, mas não podia fazer nada para voltarmos para o orfanato, para casa.

– Desculpe - cochichei mais baixo ainda - Não há mais volta.

Continua.....