– Me desculpa, me desculpa, me desculpa – repetia sem parar enquanto ajudava o moreno a se erguer que continuava com a mão no rosto, me fuzilando com os olhos.

Quando finalmente consegui fazê-lo tirar a mão do rosto, vi que um pequeno filete de sangue escorria da sua boca e não consegui parar de pedir de desculpa novamente.

– Tudo bem Sakura, eu sei que foi um acidente – ele disse tentando se acalmar e procurando algo para estancar o sangue. Imediatamente o coloquei na maca onde estava e o impedi de se mover. – O quê?

– Deixa que eu cuido disso pra você – e foi a minha vez dar uma de médica com ele, a diferença era que eu realmente era uma.

Vi que Sasuke arregalou minimamente os olhos e se encolheu quando disse que cuidaria dele e não pude evitar bufar. Ele estava com medo de mim? O que ele achava que fosse acontecer? Que eu fosse machucar ele? Bom, ele tinha motivos para achar isso, mas eu era uma boa profissional.

– Eu não vou te machucar... de novo – frisei e peguei um algodão para limpar o sangue, e mesmo a contragosto vi que ele cedeu quando viu que eu não desistiria e que poderia ser pior insistir. Vai que eu o acertava de novo, né? Suspirei. – Eu não sei por que essas coisas acontecem quando eu estou por perto... – desabafei tocando no rosto dele que me encarava sério.

– E eu não sei por que é que eu sempre sou o atingido - resmungou e sem querer acabei apertando com força o algodão no machucado e Sasuke chiou.

– Desculpa, acho que meu corpo acaba sendo atraído de forma inexplicável – disse e ao ver ele arquear uma sobrancelha me dei conta do que dissera. Corei, me apressando em consertar o erro – Quero dizer, meu corpo é atraído para os desastres e não para você. Não que você não seja atraente, quero dizer... droga! – fechei os olhos com força e voltei a encarar o machucado no canto da boca de Sasuke e me concentrando apenas nele. Chega de pagar mico e falar demais.

Não demorou muito e eu terminei os cuidados em Sasuke. Meu rosto ainda estava quente de vergonha, mas ele nada comentou e eu só pude agradecer por isso. Porém não consegui ficar calada por muito mais tempo, afinal eu ainda estava curiosa com o que ele falara antes.

– Sasuke-kun, quer dizer que se eu quisesse continuar a corrida, você acha que eu conseguiria ficar em uma boa colocação? – indaguei como quem não quer nada.

Sasuke ainda olhava no espelho o machucado, provavelmente querendo ter certeza de que eu não havia feito nada de errado. Revirei os olhos, só havia ficado um pouco inchado, ele não precisava ficar tão preocupado com isso. Ele me encarou pelo reflexo do espelho e respondeu:

– Provavelmente, ainda falta uma boa parte dos competidores passarem pela linha de chegada. Você ainda vai correr? – ele parecia bem interessado na resposta e uma parte minha vibrou ao ouvir que tinha uma chance de ganhar da siliconada, só pude sorrir para ele antes de responder:

– Nem morta! – ele pareceu surpreso com a minha resposta, me observou, mas acho que percebeu que não tinha mais condições de continuar, então apenas disse:

– Já que é assim é melhor irmos para o ponto de chegada e esperar o Naruto, já que ele é o único que deve terminar a maratona – pera ai, ele estava me convidando para ir com ele? Ele andou até a saída da tenda e ao ver que eu não o seguia, revirou os olhos – Você não vem Sakura?

Aquilo foi o bastante para eu o seguisse, quem diria que Sasuke iria querer a minha companhia? Afinal, as coisas nem sempre terminavam bem entre nós, principalmente para ele, pensei ao ver o pé enfaixado. Mas pelo menos eu não teria mais que ficar andando por ai, iriamos pegar um táxi ou quem sabe ele estivesse de carro e eu poderia ficar sentadinha, aproveitando o ar condicionado, enquanto tinha uma bela visão do sósia de Apolo ao meu lado. É, até que as coisas não estavam tão ruins.

– Para onde está indo? – Sasuke me chamou ao ver que eu ia para outra direção.

– Ah, pensei que o seu carro estava para lá – disse sem graça e ele arqueou uma sobrancelha.

– Não estou de carro.

– Então vamos pegar um táxi? Será que vai ficar muito caro? Eu não estou vendo nenhum por aqui – comecei a olhar para os lados em busca do veículo, mas apenas algumas pessoas e pequenas tendas eram vistas espalhadas pelo local.

– Também não. Vamos a pé, já que a linha de chegada não é tão longe – ele disse simplesmente e eu quis chorar.

Andar de novo? Meus pés já deviam estar repletos de bolhas e meu corpo pedia por uma cama, um sofá, uma cadeira, qualquer coisa desde que eu não precisasse me sustentar com as minhas pernas. Por quê? Eu pensei que desistindo da maratona eu poderia descansar. Olhei para Sasuke de soslaio me controlando para não fazer uma cena bem dramática e fazer ele conseguir um meio de transporte, mas conhecendo-o, ele além de não gostar era bem capaz de me deixar de lado e seguir sozinho. E no momento eu preferia não ficar sozinha e acabar me perdendo de novo, fora que eu queria ficar um pouco sozinha com ele. Isso me lembrou de que ainda devo um pedido de desculpas a ele. Suspirei cansada.

– Algum problema em ir andando? – ele questionou e forcei um sorriso, apesar de que deve ter ficado parecendo mais uma careta.

– Não, nenhum. – acho que ele não acreditou, mas também não pareceu se importar e deu início a caminhada. Cretino.

Andamos lado a lado e agradeci ao fato dele não estar indo rápido, mas também como poderia com aquela bota ortopédica? Ficamos em silêncio durante um tempo, ele parecia perdido em pensamentos e eu tentava arranjar um modo de iniciar uma conversa e pedir desculpas pelo modo como falei com ele no café. Mas tudo o que eu pensava ficava ridículo e quis me bater por isso. Respirei fundo, me concentrando e reunindo coragem, mas quando abri a boca para falar, Sasuke me interrompeu, para a minha total surpresa:

– Tudo bem mesmo desistir da corrida? – ele perguntou e eu fiquei confusa com a pergunta.

– Sim, porque está perguntando isso? – ele deu de ombros.

– Fiquei sabendo da sua aposta com a noiva do seu ex. – ok, como diabos ele sabe disso? E porque ele estava tocando nesse assunto? Isso não tinha nada a ver com ele.

– Quem te disse sobre isso? – e ele me encarou uma sobrancelha erguida como se fosse óbvio, só se for para ele, porque eu estou perdida aqui.

– Ino contou ao Gaara que me contou – falou em um suspiro ao ver que não havia entendido.

Ino? Ino? Como ela ficava contando essas coisas para qualquer um? Droga, quer dizer que o Sasuke estava sabendo sobre essa aposta o tempo todo? Ele deve me achar uma ridícula por aceitar fazer parte dessa humilhação. Eu iria matar a Ino quando a encontrasse.

– Então, está tudo bem você desistir? Você poderia chegar em uma boa colocação se continuasse – ele chamou a minha atenção e sai dos meus devaneios homicidas contra a minha amiga.

– Sim, até porque eu já havia perdido. – respondi com um sorriso um pouco triste e ele me encarou, esperando que eu explicasse melhor. Desde quando ele era tão curioso? – Se eu continuasse, mesmo que ficasse na frente da siliconada, eu estaria trapaceando, já que não consegui cumprir a prova normalmente. Na verdade, até agora eu não sei como conseguir encurtar o caminho.

– Mas o importante não era ganhar dela? Por causa do seu ex? – franzi o cenho com o que ele falou.

– É verdade que eu queria ganhar da siliconada, mas a aposta não era tudo e pouco me importo com Sasori. Eu queria conseguir me superar, eu fiz isso por mim também, para mostrar que eu não era somente uma desastrada que vive uma rotina chata e desanimada. – disse cruzando os braços, pensativa – Mas acho que isso não é para mim...

– Você deu o seu melhor, isso é o mais importante – Sasuke disse ao parar de andar e eu apenas o imitei. Ele estava me elogiando? – Você foi determinada e honesta, se fosse outra garota não pensaria duas vezes antes de trapacear para conseguir ganhar – ele estava mesmo em elogiando! – E acredite quando eu digo que apesar de você realmente ser muito, muito desastrada... – ok, ele podia continuar só nos elogios - ... desde que eu te conheci a minha vida não é nem um pouco desanimada. Essa palavra não combina em nada com você.

Acho que tive uma paralisia facial porque eu não conseguia fechar a minha boca depois do que Sasuke disse. Eu só não sabia se a minha total falta de movimento se dava ao fato de ele estar falando coisas boas de mim, em partes né? Ou porque aquela deve ter sido a frase mais longa que já o ouvi pronunciar. Quer dizer que o filho de Apolo conseguia ser, além de lindo, educado com os outros? Ele sorriu para mim e se aproximou, colocando a mão no meu queixo.

– Não precisa ficar tão surpresa com isso – e fechou a minha boca me deixando corada com a sua aproximação.

Ele voltou a andar e eu me forcei a sair do lugar, correndo um pouco até alcançá-lo. Fiquei desconcertada depois de tudo, mas ao mesmo tempo feliz por saber o que ele pensava. É, agora eu havia ficado mais animada, mesmo sabendo que teria que ouvir aquela piranha siliconada e ainda teria que ver o sorrisinho debochado de Sasori. Revirei os olhos e olhei para Sasuke, era bem melhor pensar nele do que naqueles dois desprezíveis.

– Obrigada, Sasuke-kun – disse de repente e ele me encarou de soslaio – E desculpe o modo como o tratei naquele dia no café. – ele apenas deu de ombro, mas eu sabia que estava tudo bem.

– Não deixe que os outros façam você se sentir mal consigo mesma, não leva a nada.

– É eu sei, não devia ter me deixado levar pela marombeira transplantada e...

– Não me refiro só a ela... – ele me encarou sério e eu fiquei confusa - ... não deixe que te façam chorar – arregalei os olhos ao entender que ele falava de Sasori, quer dizer que ele havia visto o que aconteceu mais cedo? Eu não sabia o que dizer, se deveria dizer algo, mas ele me olhava tão sério que eu apenas aquiesci, me sentindo mais confiante e sorri para ele que retribuiu o gesto.