Depois daquele encontro desastroso no café, eu pude me acalmar um pouco e me irritar novamente ao perceber que havia tratado Sasuke mal, quando, na verdade, ele não era culpado por nada, a não ser por eu ter tido que jogar fora a minha calça, já que a mancha realmente não saiu, mesmo depois de três ciclos de lavagens. O meu acesso de raiva tinha nome e sobrenome: Sasori, o falecido, junto com a noivinha dele. O problema era que quando eu explodia tinha essa mania de descontar em todos a minha volta, Ino sempre dizia que eu precisava aprender a controlar os meus nervos e ao destratar o Uchiha eu tinha que dar o braço a torcer à minha amiga.

Tudo bem, ele também não é muito fácil de lidar, mas ele não mentiu em nenhum momento, apenas se defendeu das minhas acusações e eu fui horrível. Era por isso que eu tentava me controlar ao máximo, porque eu sempre fazia a coisa errada e em seguida ficava me remoendo com culpa. Foi a mesma coisa quando eu o machuquei e quando, finalmente, pensei que as coisas pudessem melhorar entre nós, leia-se, eu não seria processada e pudéssemos desenvolver uma amizade – colorida, talvez –, eu vou e estrago tudo de novo! E dessa vez nem poderia me desculpar, já que não sei onde ele mora e Naruto se recusava a me dar o endereço dele, acho que por ordem do próprio Sasuke. Então não tive escolha a não ser contar com a sorte, mas como a minha maré é de azar, quando menos esperava já era o não-tão-esperado dia da maratona.

E como tudo que está ruim, piora, Ino fez o favor de pular na minha cama para me acordar.

– Levanta testuda! É hoje! – disse animada e eu me perguntava qual o motivo dessa alegria, afinal de lá ela, provavelmente, iria a um velório, o meu.

– Porquinha, ainda temos tempo... – resmunguei, voltando a me cobrir, mas a loira resolveu puxar o meu lençol e de tão embolado que ele estava em mim eu acabei indo para o chão – Ino! – gritei furiosa e com dor.

– Ops – e foi só isso, nem me ajudar, ajudou. Grande amiga! – Você se recupera, pare de praguejar ai e vá se arrumar – ordenou e mesmo contra vontade eu segui para o banheiro ainda sonolenta.

Quando já estávamos prontas, porque Ino acabou demorando mais do que eu por mais incrível que pareça, fomos em direção ao lugar da maratona e não pude deixar de arregalar os olhos ao ver tanta gente reunida no mesmo espaço praticamente de madrugada. Não esperava tudo isso e não sabia dizer se isso era algo bom ou ruim. Bom, porque se eu tivesse sorte nem veria o falecido e nem a siliconada, assim não seria tão humilhada ao perder. E o lado ruim era que se antes as minhas chances eram mínimas de conseguir chegar em uma posição razoável, vendo esse tanto de gente essas chances praticamente se tornaram negativas. Amaldiçoei baixinho e segui Ino que ia em direção a uma barraca para pegar as coordenadas dos locais de descanso e dar o nome na lista de participantes.

– E pensar que eu troquei um plantão para isso... – disse inconformada ao me aproximar e arregalei os olhos ao ver as duas pessoas que no momento eu preferia evitar. Sasuke e Sasori. – Eu devo ter um carma muito grande de outra vida, não é possível!

Andei até Ino, tentando me manter escondida daqueles dois, mas meu cabelo era rosa e discrição não era o meu forte, então o resultado disso foi eu me distraindo, olhando aqueles dois para que não me vissem e dar de encontro com uma mesa e derrubando todos os papéis que ali estavam. Droga!

– Você está bem? – uma moça indagou ao ver que eu segurava o meu joelho e resmungava baixinho. Olhei em volta e vi várias pessoas me encarando, sorri sem graça e balancei afirmativamente, enquanto sentia o meu rosto esquentar. Suspirei, eu já devia estar acostumada com isso.

Vi os dois, que eu tentava evitar, me encararem, mas somente um veio até mim. Aquele que eu menos queria.

– Sempre chamando atenção, não é Sakura? – o ex disse com um sorriso zombeteiro.

– É o meu charme – falei dando de ombros e reparei que o ruivo não estava acompanhado da marombeira – Cadê a silico... quero dizer, a sua noiva?

– Está se aquecendo, sabe como é, ela é muito competitiva.

– Que ótimo! – ironizei e me virei para ir embora, mas o ruivo me segurou pelo braço.

– Sabe que você está bem gostosinha com essa roupa, Sakura? – deu um sorriso malicioso e eu arqueie uma sobrancelha, descrente do que estava ouvindo. – Talvez pudéssemos relembrar os velhos tempos, depois de tudo isso.

Aquele filho da mãe estava dando em cima de mim depois de tudo? Apareceu querendo me humilhar ao jogar na cara a siliconada e o quanto estava melhor sem mim e agora tinha a cara de pau de me falar algo assim? Ele estava brincando comigo? Com os meus sentimentos? Como ele pode? Eu não sabia nem o que responder, estava chocada e um conflito de sentimentos se instaurava dentro de mim. Senti meus olhos arderem e puxei meu braço com força, dando as costas a ele. Maldito!

– Sakura ai está você, o que estava fazendo? – brigou Ino que vinha acompanhada de Gaara, Naruto e Sasuke. Rapidamente limpei meus olhos e respirei fundo. Abstraia Sakura, abstraia!

– Eu estava dando de encontro com aquela mesa – disse apontando para o local onde estava e fiquei aliviada ao ver que o falecido canalha não estava mais lá. É! Agora o nome dele seria falecido, canalha, maldito, cínico, e todos os demais adjetivos pejorativos que existissem!

– Nossa você se machucou, Sakura-chan? Você está com uma cara... – Naruto indagou preocupado e eu sorri do jeito bobo dele.

– Agora estou melhor. – Olhei para Sasuke de relance, um pouco envergonhada, afinal ainda tinha que me desculpar com ele, e me surpreendi ao vê-lo me encarar sério. Será que ele estava tão bravo comigo pelo o que disse?

– Bom, então vamos logo, não temos mais tempo pra isso – Gaara disse, observando o relógio de pulso. Sorri ao imaginar que pelo menos com ele eu conseguiria me vingar pelo o que havia dito de mim. E logo.

– Certo! Teme, nós já vamos! Não vá sentir muitas saudades minhas! – Naruto brincou e Sasuke revirou os olhos, batendo na nuca dele.

– Não seja idiota, dobe.

– Eles são tão fofinhos juntos, não é Ino? – quando vi já tinha dito em voz alta e os dois me encaravam mortalmente. Acho que já vi essa cena antes.

–*-

Fomos em direção ao local onde seria dada a largada, para ouvir as instruções da corrida, mas eu não conseguia me concentrar em ouvir os instrutores. Algo sobre “mapa” ou “relevo” foi mencionado, porém minha mente apenas recordava das palavras proferidas pelo diabo ruivo, será que ele estava falando sério? Ou aquilo era mais uma forma de me humilhar, talvez insinuar que eu ainda estava apaixonada por ele? Bufei irritada, como poderia continuar gostando de um cara como esse? A única coisa que eu sentia era... decepção por um dia pensar que o amava. Minha fase de fossa já havia acabado e se eu nutria algum sentimento bom por ele acho que foi tudo pelo ralo. Fui despertada com o barulho da sirene anunciando o início da corrida e me concentrei em seguir Ino e os outros.

Por mais que eu reclamasse dos exercícios e pensasse que não conseguiria vencer, eu queria dar o meu melhor, afinal eu me esforcei pra isso. E tenho que admitir que os trinta minuto iniciais foram mais fáceis do que eu pensei e eu consegui manter o ritmo das pessoas a minha volta, o problema começou depois. Naruto, provavelmente sob o efeito de muita cafeína, foi o primeiro a sumir da minha vista, correndo como se fugisse de um leão na savana ou então como se farejasse rámen. E, aos poucos, mais e mais competidores começaram a se afastar e tomar distância uns dos outros. Eu ainda conseguia ver Ino e Gaara correndo mais a frente e mesmo que eu pudesse ultrapassá-los, por mais incrível que isso possa parecer, eu preferir continuar onde estava, atenta a qualquer movimento dos dois.

Uma coisa que deve ser de conhecimento geral é que as melhores amigas da garota por quem um cara está afim podem ser as melhores aliadas na hora da conquista, ou as piores inimigas. E, infelizmente, Gaara havia escolhido a segunda opção, mesmo que ele não saiba ainda, por isso que quando ele veio me questionar o que fazer para ficar com Ino, alguns dias antes, botei em prática o meu plano. Por causa disso, continuei a observá-los e não demorou para Gaara mexer os lábios, dizendo algo, e passar a mão no cabelo de Ino que retesou com o toque. Ri baixinho e corri para me aproximar um pouco mais e não perder nada.

Minha amiga parecia sorrir de forma forçada e fiquei impressionada por isso, ela devia estar gostando muito de Gaara para não fazer nada e bufei, mas logo meu humor melhorou ao ver o ruivo voltar a movimentar os lábios e a loira arregalar os olhos. Ok, já foram duas, só falta uma. Vamos Gaara, não me decepcione! Dito e feito, dez minutos depois o ruivo apontou para a loira que parou de correr, encarando-o com fogo nos olhos e em seguida o esmurrou no peito, que surpreso, caiu no chão, segurando o ombro, e por pouco eu não vou junto por causa das gargalhadas que eu dava. Fui tão indiscreta que quando passei por eles, apenas acenei para Gaara com um sorriso e pelo olhar dele era melhor eu correr se não quisesse ser morta antes do que pensava.

Ainda vi Ino virar de costas para o ruivo e andar na direção contrária, pelo visto havia desistido da maratona. Gaara ainda ficou tentado a me perseguir, pude perceber pelo olhar de psicopata que me lançava, mas no final ele fez a escolha certa, para mim, e foi atrás da loira como um cachorro atrás do dono. Mal ele sabia o sermão que teria que ouvir da loira e quase senti pena dele, quase. Afinal, Ino era o diabo quando queria ou quando faziam algo que não era do seu agrado. Mesmo assim não pude evitar pensar que eles até que formavam um casal bonitinho, se ele melhorasse eu poderia realmente ajudá-lo. Se eu quisesse, é claro.

Mas agora que eu não tinha mais distrações eu devia me focar nos meus dois objetivos: sobreviver a essa corrida e não ser humilhada pela marombeira siliconada, quem sabe eu não conseguisse chegar até na frente dela? Ok, melhor me focar apenas em terminar esse sofrimento, não seria difícil, não é mesmo?