Bittersweet escrita por Ana Paula Puridade, Lua


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Mil perdões meus amores, fizemos um acordo de termos toda sexta capítulo novo.
Mas aconteceu um imprevisto e isso não foi possível, mas não podíamos deixar de postar o capítulo para vocês e aqui está um capítulo novinho pra vocês.



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NARRAÇÃO DO DAMON

Já estava na minha terceira garrafa de uísque, o maldito vampirismo não me deixava embebedar logo e poder esquecer esse dia nem meu desespero. Nossa única esperança era essa bruxa conseguir a localização de Bonnie, mas tudo foi em vão quando descobri que o infeliz do Kai manipulou a magia da bruxa a levando para onde ele queria e não para onde estava Bonnie. Agora estávamos de volta à estaca zero e eu não sabia mais o que fazer. Não irei desistir, mas também não sei por onde começar a procurar novamente nem quem eu poderia pedir ajuda.

— Damon. — a voz suave que eu tanto sentia falta chamou minha atenção, respirei fundo, olhando ao redor.

— Elena? Eu acho que o álcool já esta fazendo efeito. — falei tão amargamente que surpreendi a mim mesmo. Ela não era real, era apenas o efeito do álcool me mostrando o que eu queria ver. Antes eu bebia esperando esses pequenos minutos de alucinações, mas agora eu estava começando a repudiar quando aconteciam.

— Damon, olhe para mim.

Virei-me para vê-la e lá estava ela, vestida como no ultimo dia que a vi deitada naquele caixão, completamente imóvel.

— Você não é real, Elena, por que volta para me atormentar? Já não basta todo a angustia que é não te ter comigo por todos os próximos anos? — perguntei, jogando o copo na miragem que estava em minha frente, o copo atravessou e chocou-se na parede quebrando-se em pedacinhos.

— Sim, Damon, eu não sou real. Você reclama tanto disso, mas qualquer possibilidade que aparece você destrói.

— Do que você está falando? — perguntei.

— Você sabe. — ela me encarou firme. — O Kai te ofereceu uma possibilidade de me trazer de volta e você desperdiçou. Era só parar de procurar a Bonnie, era tudo o que precisava fazer.

— Elena, Bonnie é minha amiga, é sua amiga!

— Sim, eu sei, mas por culpa dela eu estou presa em um caixão e não passo de meras lembranças para as pessoas que eu amo. Por culpa dela não poderei estar ao seu lado. Por culpa dela nossos planos para o futuro terão que esperar. Por culpa dela nossos filhos terão que esperar, já imaginou nossos filhos? Eu, você e nossos filhos, em nossa casa, felizes como devemos ser? Imaginou nossa vida felizes juntos? — ela tocou meu rosto, fixando os olhos castanhos cheios de lágrimas nos meus. — Damon, eu quero tudo isso e não quero esperar todo esse tempo. Não quero correr o risco de te perder, Damon.

— Você não vai me perder, Elena.

— Por favor, procure o Kai, diga a ele que você se arrepende, me dê a chance de viver, Damon. Me dê a chance de ser feliz ao seu lado, me dê a chance de ter meu final feliz!

Minha boca estava seca. Aquelas palavras estavam tendo mais efeito em mim do que eu esperava. Mas então percebi que só podia ser Kai entrando em minha mente outra vez, tentando-me fazer desistir de Bonnie, mas eu não daria esse prazer a ele.

— Sai da minha mente, Kai! Saia da minha mente, desgraçado!

Acordei gritando e com a respiração acelerada. Nada daquilo era verdade, tudo não tinha passado de um sonho. Kai sabia que Elena era meu ponto fraco e ele estava tentando usa-la contra mim.

— O que está acontecendo? Ouvi seus gritos. — Stefan surgiu na porta de meu quarto me encarando preocupado.

— Kai, — respondi. — Ele está novamente implantando sonhos em minha cabeça. Dessa vez ele fez com que a Elena pedisse que eu desistisse da Bonnie. Ele não tem nada de original.

Stefan ficou em silencio, me olhando como se estivesse me analisando. Eu já conhecia aquele olhar, era quando ele tinha uma teoria diferente da minha.

— E se não for o Kai?

— Do que você está falando? — franzi o cenho, ficando de pé no quarto. — Ele mesmo admitiu para a Bonnie, quando estava fazendo a troca, que implantava sonhos na nossa mente.

— Tudo bem, — meu irmão suspirou, entrando no quarto e tomando lugar numa poltrona. — Pode ser que seja o Kai, mas também pode ser que uma parte sua, a parte que quer a Elena de volta, esteja tentando fazer com que você a escolha. Talvez por isso seja tão fácil pra ele entrar na sua mente.

Fiquei em silêncio pensando naquilo, em certo ponto Stefan tinha razão, uma parte minha me deixou tentando a aceitar a proposta do Kai, mas a minha parte racional falou mais alto. Bonnie sempre sacrificou tudo por todos nós, estava na hora dela ser recompensada por tudo isso.

— Talvez você tenha razão, Stefan. Fiquei tentando a aceitar a proposta do Kai, por que Elena é o amor da minha vida, mas eu não posso virar as costas para a Bonnie, nós não podemos. — eu fui até a janela, encarando o lado de fora.

Não parava pra pensar no assunto, mas tinha que admitir, o idiota do Matt Donovan tinha razão. Eu trouxe apenas desgraça para a vida da Bonnie, na verdade, desde que ela nos – a mim e a Stefan – só trouxemos dor a ela. Primeiro sua avó morreu por minha culpa, por minha obsessão por uma vampira vadia que não estava nem ai para mim. Depois foi a mãe – que ela não via a anos – , acabei transformando-a em vampira para salvar a Elena. A própria Bonnie morreu para trazer o Jeremy de volta enquanto eu e Elena nos divertíamos.

A bruxa se sacrificou inúmeras vezes para nos ajudar. Mesma quando o outro lado estava caindo, ela preferiu não preocupar ninguém com o fim iminente dela. Em vez disso ela nos ajudou, salvou a todos e só não me salvou por Luke ter parado o feitiço. Às vezes eu fico feliz de ter morrido ali, caso contrário ela teria enfrentado sozinha todo o inferno de 94. Ela me suportou sendo o velho Damon, ela teve esperança por nós dois e na primeira oportunidade se sacrificou por mim, ficou naquele mundo prisão com o psicopata do Kai. Foi apunhalada por ele e ficou meses sozinha.

Voltei a atenção para meu irmão que não parava de observar minhas ações.

— Você tem noção de tudo que ela fez por nós? De tudo que ela fez por mim? Enquanto eu destruí a vida dela, ela me ajudava. Então, Stefan, essa minha parte que deseja a Elena de volta terá que esperar, pois se existe uma pessoa que precisa ser feliz, essa pessoa é Bonnie Bennett.

— Ela merece a oportunidade de ter uma vida feliz, — ele levantou, dando um tapinha em meu ombro. — Vamos encontrá-la e dar essa oportunidade a ela.

— Mas agora voltamos ao começo. Kai nos enganou e acredito que aquela bruxa não será forte o suficiente para nos ajudar novamente.

— Eu conheço alguém que pode nos ajudar.

— Quem?

Ele manteve-se quieto.

— Fale logo, Stefan, quem nos pode ajudar?

Ele crispou os lábios, parecendo incerto de me contar.

— Nossa mãe.

[...]

Apesar de relutar com a possibilidade de envolver nossa mãe e o bando maluco de Hereges, tive que aceitar que ela era a única que nos podia ajudar. Os bruxos-vampiros eram fortes e estavam e um bom número, acho que poderiam quebrar o feitiço do Kai e nos dar a localização de Bonnie. Liguei para o Enzo e pedi a ele que marcasse um encontro com Lily. Eu sabia que os dois estavam próximos e ele saberia onde encontra-la. Dito e feito. Na hora marca a campainha tocou e lá estavam Lily Salvatore, Enzo e três Hereges.

— Olá, Damon. — disse ela.

— Entrem. — cumprimentei Enzo e dei espaço para eles entrarem.

Stefan nos esperava na sala, tentando-se manter um pouco mais afastado de nossa mãe. Digamos que ele ainda estava magoado com ela por ter escolhido os Hereges e não a nós.

— Que bom te ver, Stefan. — Lily tentou se aproximar de Stefan, mas ele recuou.

— Sentem-se, precisamos conversar. — disse meu irmão.

Enzo já sabia do que se tratava, mas a meu pedido não contou nada para Lily. Bonnie e ela não se davam bem e ajudar a mim e a Stefan com certeza não era uma possibilidade para ela. Nossas chances eram poucas.

— Não oferecem um café? — perguntou a vampira.

— Sei que a sua bebida preferida é outra. — respondi.

— Vamos logo ao assunto, cada segundo perdido é valioso. — Stefan ficou junto a mim. — Precisamos que vocês encontrem uma pessoa para nós.

— De quem se trata? — perguntou Lily.

— Bonnie Bennett, — falei. — Kai a sequestrou e queremos que vocês encontrem a localização exata dela.

— Desculpem garotos, mas não pretendo ajudar uma pessoa que não me ajudou e que traiu Kai, que aliás, foi o único que resgatou meus amigos.

— Imaginei que você diria isso. — a encarei. — Você tem um preço, que algo em troca, não é? Diga o que quer.

Lily riu.

— Você não tem nada que eu queira. Receio que minha viajem até aqui foi perda de tempo.

Eu grunhi de irritação.

— Eu sei que quer algo. Se não quer agora, irá querer depois. Peça o que quiser, nós daremos a vocês. Só precisamos que acendam as velas e façam o feitiço que nos mostrará a localização de Bonnie.

Ela inclinou a cabeça, trocando um olhar silencioso com os Hereges que a acompanhavam. Eles fizeram um sinal com a cabeça, então ela voltou a me encarar.

— No momento não preciso de nada, — disse ela. — Mas os boatos que correm dizem que os Irmãos Salvatore são ótimos aliados, combinam força, inteligência e esperteza para conseguirem seus objetivos. Imagino que deve ser interessante quando eles ficam em dívida com alguém, principalmente se esse alguém for a própria mãe. Então acho que vou aceitar a proposta de você, em troca disso, vocês me devem.

Troquei um olhar com Stefan, observando-o engolir em seco, me dizendo apenas com a expressão que eu deveria ter pensado duas vezes antes de oferecer acordos à Lily.

— Tudo bem, — ele disse. — Comecem.

Permitimos que o feitiço fosse feito ali na nossa sala, assim poderíamos ficar de olho em Lily. Depois de afastar os moveis e os Hereges acenderem as velas, demos uma blusa de Bonnie para fizessem o feitiço. Depois de alguns minutos o Herege, Malcom, disse alguma coisa para Lily e mesmo usando minha audição não consegui ouvir, com certeza ele tinha feito algum feitiço.

— Sinto muito, garotos, mas não conseguimos encontra-la.

— O que? — perguntei irritado.

— Não estamos falando de qualquer bruxo. Kai é um Herege líder do Clã Gemini, ele agora é bastante poderoso. Não estamos dizendo que não iremos encontra-la, estamos apenas pedindo que nos dê algum tempo para conseguirmos.

— Não temos tempo! — gritei, avançando em Lily, mas Stefan se colocou em minha frente.

— Vocês tem esse tempo, — disse ele. — Mas sejam rápidos.

— Entendemos, Stefan, e voltaremos com a localização o mais rápido possível. Pedirei que o Enzo se comunique com vocês. — disse ela, saindo e levando Enzo e seus Hereges junto com ela.

— Por que você aceitou o tempo estúpido dela? —perguntei.

— Por que ela é a nossa única chance de encontrar a Bonnie e se pra isso tivermos que esperar, esperaremos. Irritar Lily não é a melhor solução.

Respirei fundo, concordando com ele.

— Já que é assim, vou me preparar por que na próxima vez que encontrar o Kai ele fará uma viagem só de ida para o inferno!

[...]

NARRAÇÃO DA BONNIE

Quando levantei, ainda me sentia dormindo. Eu sabia que a dormência nos braços, nas pontas dos dedos e a visão turva não eram efeitos do sono e sim das drogas que Kai usava para me dopar. No primeiro dia em que estive aqui, ele misturou na minha comida. Não sei o quanto ingeri, mas demorou o tempo do feitiço e um pouco de conversa pra eu começar a perder os sentidos, cerca de uma hora ao todo. Lembro de ter acordado no dia seguinte, sem roupa e com fortes dores entre as pernas. Tinha ficado desacordada por mais ou menos doze horas.

Três dias depois Kai me aplicou direto na veia e demorou poucos minutos pra eu perder a consciência, fiquei dopada por cerca de cinco horas. Foi o mesmo dia em que Damon apareceu. Hoje ele havia saído de novo. Ainda zonza, respirei fundo, tentando situar minha mente. Será que ele já tinha voltado? Era por isso que eu cronometrava o tempo porque qualquer minuto consciente e sem Kai por perto era uma chance de eu fugir.

Ainda cambaleando entrei no banheiro e lavei o rosto, encarando meu reflexo no espelho. Estava com manchas escuras ao redor dos olhos, lábios sem cor, expressão cansada. Esse cárcere estava acabando comigo, eu tinha que sair daqui.

Cuidadosamente fui até a porta, saindo do quarto e indo em direção às escadas, mas no meio do caminho eu parei. Não estava pensando direito. Estava pensando em sair pela porta da frente, o que claramente não ia dar certo já que os feitiços de Kai estavam ativos e eu não conseguiria simplesmente passar pela barreira e ir embora. Além disso, não sabia se ele já tinha voltado.

— Maria, — chamei enquanto entrava na cozinha. — Onde está Kai?

— O senhor Parker saiu, — disse ela.

Ótimo, ainda estava fora, será que demoraria a voltar?

— Sabe onde ele foi?

A mulher parou o que estava fazendo e me encarou, parecendo confusa.

— O senhor Parker saiu.

Isso confirmou o que eu suspeitava, ela estava compelida a dar apenas essa resposta, caso eu perguntasse. Voltei para a sala e encarei o fogo da lareira, forçando minha mente a trabalhar em algo. Era minha primeira oportunidade consciente e sem a vigilância constante do bruxo perto de mim. De repente algo piscou em meu cérebro: o quarto de Kai, ele certamente escondia coisas lá.

Corri ao andar de cima, forçando a maçaneta do quarto dele. Estava trancado. Respirei fundo, uma simples fechadura não ia me impedir , eu já tinha esquecido a chave de casa e me trancado para o lado de fora várias vezes, eu não tinha minha magia, mas usaria outras coisas que tinha ao alcance. Voltei à cozinha, pegando uma faca sem que Maria percebesse, usei a faca na fresta entre a porta e a fechadura, empurrando o pino. Um estalido baixo soou, indicando que minha ideia funcionou.

Entrei no quarto, indo direto ao grande guarda-roupa que ocupava uma das paredes e o abri, não vendo nada além de roupas. Mas era obvio que isso seria a única coisa que eu encontraria de primeira, então continuei a procurar, verificando debaixo de pilhas de camisas, nos bolsos de calças e em gavetas. Não sabia o que procurava, apenas tentava encontrar qualquer coisa. E encontrei. Em uma das gavetas tinha um pequeno kit cheio de seringas, agulhas e alguns vidros de algo que se parecia com um remédio. Peguei um dos vidros e li o rótulo, já imaginado o que aquilo era: “GHB (gama-hidroxibutirato). Uso recomendado apenas a profissionais. Causa perda de consciência, alucinações e delírios.” Era o que Kai usava para me dopar. Apertei as mãos, contendo um grunhido na garganta. Seria burrice jogar tudo aquilo fora? Kai ficaria muito irritado, tenho certeza.

Mas não me importei, juntei todas as ampolas e guardei no bolso, pondo apenas o kit de seringas de volta no lugar. Fechei o guarda roupa e olhei ao redor do quarto, analisando em que outros lugares ele poderia ter escondido algo mais. Verifiquei nas cômodas perto da cabeceira, nas estantes das paredes, no baú ao pé da cama e até nas poltronas do quarto sem achar nada. Até que eu encarei a cama. Kai era da década de 90, época em que as pessoas escondiam quase tudo debaixo do colchão, será que esse costume permaneceu com ele?

Fiquei de joelhos no chão, tirei a colcha do caminho, olhei debaixo da cama e sorri para minha tentativa, pois realmente havia algo ali em baixo. Estiquei a mão, puxando de lá um objeto pesado e empoeirado, trazendo-o para perto de mim. Era um livro grande, com as seguintes palavras na capa “Gemini Coven”. E assim que li eu soube que era o Grimório dos líderes do Clã Gemini.

Engoli em seco e encarei a porta do quarto. Será que Kai ainda ia demorar? Ele ficaria irritado ao perceber que as drogas que usava em mim tinham sumido, mas não chegaria nem perto do quão louco ele ficaria se me pegasse lendo esse grimório. Respirei fundo, decidindo que minha sorte não podia ser pior do que já era e abri o livro, passando página por página, olhando os títulos dos feitiços e pra que serviam. Alguns feitiços eram parecidos com os dos grimórios de Emily, outros eram banais, alguns eram inferiores, sádicos e outros eu nunca tinha visto, pois estavam em línguas diferentes.

Foi então que eu notei que uma das páginas estava rasgada e havia um folha de papel dobrada ao meio no lugar. É claro que tinha sido arrancada. Curiosa, peguei a folha e li o feitiço, reconhecendo imediatamente o que Kai me mandou fazer. Levei os olhos outra vez à página anterior, lendo o título e vendo para que servia. “Fertilidade”, dizia o título. E depois “Concede, momentaneamente, a um vampiro habilidades de procriação”.

Eu balancei a cabeça, confusa. Vampiros procriarem? Não fazia nenhum sentido. Grams uma vez me disse que não existia nenhuma magia que pudesse fazer isso ser possível e se existisse seria magia negra. Além do mais, porque Kai iria querer fazer qualquer coisa desse tipo? Pior ainda, quem iria querer ter um filho dele? Algo estalou na minha mente quando percebi o obvio.

Ele me fez fazer o feitiço e depois me dopou pra se deitar comigo.

Meu coração parou de bater.

— Ah, não. — sussurrei. — Não, não, não. Não pode ser. Não pode!

Ouvi a porta de baixo bater e o ódio e a bile subiram pela minha garganta me impedindo de ser racional. Num acesso de raiva, fiquei de pé, pisando firme e desci as escadas com sangue nos olhos. Kai tinha acabado de entrar, eu o vi jogar uma sacola na mesa de centro e estava prestes a tirar o casaco quando fiquei em frente a ele.

— Que tipo de pessoa doentia você é?! — esbravejei, usando toda a minha pouca força e socando-o no peito. Ele foi pego de surpresa e cambaleou pra trás, mas não caiu. — Como pôde fazer isso comigo? O que estava pensando? Qual é o seu problema?

— Já chega! — ele agarrou meus braços. — Do que é que você está falando?

Me afastei dele e joguei a folha que continha o feitiço em seu rosto. Ele agarrou e começou a ler, logo percebendo o que era.

— Eu sabia que você ia descobrir, mas cedo ou mais tarde.

— Ai meu Deus, você é doente! — falei com desprezo. — Você é doente e eu te odeio, tenho nojo de você, ouviu? Nojo!

Ele me ignorou. Sentou em uma poltrona perto da lareira, pegou a folha de papel e começou a desamassá-la.

— Não entendo. — murmurei, colocando as mãos na cabeça. — Por que você quer isso? O que é que você ganha?

— Quer mesmo saber? — perguntou.

— Quero.

— Ok. — levantou e passou a me encarar. — Acontece, Bonnie, que quando eu voltei à vida percebi o quanto foi fácil ir embora dela. Eu tenho a magia de um bruxo, tenho a força de um vampiro e mesmo assim tive a cabeça arrancada sem nem perceber. Entende o que quero dizer? Eu não sou imortal.

— Onde eu entro nisso?

— Tirando a parte de eu ter a cabeça arrancada? — ele riu e se aproximou. — Me corrija se eu estiver errado, mas você é uma Bennett, certo? Não uma Bennett como Lucy, ou outra prima distante, você é descendente direta de Quetsyah, a primeira e mais poderosa bruxa que já se ouviu falar na história, o que significa que você tem, literalmente, a magia mais antiga do mundo correndo por suas veias. E é aí que você entra.

Eu franzi o cenho, não gostando do tom de voz que ele estava usando, além disso, ele não disse nada do que eu já não soubesse. Que eu era uma Bennett? Já sabia. Que era descendente de Quetsyah? Também sabia. Que eu tinha alguma coisa do poder dela? Todos sabiam. Porque ele insistia em falar desse poder quando tirava minha magia todos os dias e me deixava inútil? Obviamente não precisava de mim pra rituais ou feitiços e eu queria saber por que continuava me mantendo presa ali.

— Ainda não sei aonde quer chegar. — falei. — Você fala do meu poder, mas não me deixa usar, em vez disso o absorve.

— É porque não é do seu poder que eu preciso, preciso apenas das suas capacidades biológicas para gerar uma criança. — ele se aproximou ainda mais, ficando bem à minha frente. — Perguntou o que eu ganho com isso, eu ganho um legado, alguém que vai ter a sua lealdade, o seu poder, mas que vai ser inteiramente fiel a mim.

— Qualquer coisa que tenha o seu DNA dentro de mim eu vou arrancar com minhas próprias unhas.

Ele sorriu.

— Já teve algo com meu DNA dentro de você.

Eu dei um tapa na cara dele, não pude evitar. Minha raiva e meu ódio estavam além do limite, minha vontade era fazer bem mais do que isso, era fazê-lo sofrer e implorar pela morte.

— Duas vezes no mesmo dia, — ele falou entredentes com o olhar enfurecido. Mantive a cabeça erguida, enfrentando o olhar dele. — Pra sua sorte, hoje eu estou me sentindo bondoso e te trouxe até um presente.

Kai me deu as costas e juntou a sacola de cima da mesa de centro, entregando-a a mim.

— O que é isso? — perguntei.

— Testes de gravidez. — ele respondeu lentamente, como se esse fosse seu jeito de revidar o tapa que levou.

O meu coração começou a bater muito rápido quando a possibilidade de estar mesmo grávida me atingiu. Eu pensei que nunca mais fosse conseguir respirar. Exorcizei de minha mente todos os pensamentos de que os planos dele tinham dado certo e de repente me perguntei por que ele tinha conseguido um teste quando poderia usar a audição pra ouvir se tinha algo dentro de mim. Ou será que deduziu que, se houvesse algo, ainda era pequeno demais para ter um coração batendo?

Com a mão tremendo, peguei a sacola que ele me estendeu e entrei no banheiro. Rezando mentalmente para qualquer que fosse o resultado, desse negativo. Os minutos que tive que esperar passaram muito devagar, eu estava com a respiração acelerada, andando de um lado para o outro dentro do banheiro pequeno, mas quando o tempo estava completo, eu percebi que estava com medo de olhar o resultado.

Fixei as mãos na borda da pia, resolvi contar até três e olhei.

— Obrigado, Deus. — sussurrei aliviada vendo que os dois testes tinham dado negativo. Parecia que um peso enorme tinha saído de cima de mim.

Então eu parei. Se eu desse esse resultado ao Kai, o que aconteceria? Ele me obrigaria a fazer o feitiço de novo? Pior, me violentaria de novo? Respirei fundo, decidindo que mentir seria a melhor escolha. Não apenas mentir, teria que fazê-lo realmente acreditar no que eu dissesse. Virei de costas para a pia, com os testes na mão e abri a porta. Deixei lágrimas caírem dos meus olhos quando voltei à sala, não foi difícil, eram lágrimas de raiva que eu o faria acreditar que eram de sofrimento.

Passei direto por Kai, indo para a lareira e jogando os testes no fogo.

— Está feliz? — perguntei de costas para ele, soluçando no choro.

— Qual foi o resultado? — eu não estava vendo a expressão dele, mas sua voz estava tensa.

— Ainda pergunta? Você destruiu a minha vida!

— E-então, — gaguejou. — Então deu certo?

— Se você chama isso de certo...

Eu virei para encará-lo, ele estava estático me olhando, parecia surpreso que o feitiço tinha realmente funcionado. Aproveitando a situação, eu peguei o atiçador de fogo, aquecendo-o nas chamas.

— O que você está fazendo? — ele perguntou. Não respondi, apenas continuei de costas. — Bonnie, o que vai fazer?!

O ignorei, virando a ponta quente do atiçador em minha direção. Num segundo Kai estava me segurando, jogando do outro lado da sala o objeto que achou que eu iria usar como arma.

— O que pensa que está fazendo?

— Eu prefiro morrer mil vezes a ter um filho seu!

Kai arregalou os olhos.

— Não vai se matar.

— Quer apostar?

— Não vai fazer isso. — ele segurou meus braços, encarando-me seriamente.

— Parece que finalmente tenho algo pra te ameaçar, não é? O melhor de tudo é que você não pode me machucar enquanto eu estiver com essa coisa. Acho que tenho uma apólice de seguro contra você.

Afastei-me dele, dando-lhe as costas e indo em direção à escada. Não falei mais nada, sabia que ele tinha acreditado em mim e na mentira que contei. Nessa experiência eu percebi uma coisa, a lei da sobrevivência estava errada: Não são os mais fortes que sobrevivem, são os que mentem melhor. Agora eu só tinha que achar um jeito de sair de lá antes que Kai descobrisse.


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Notas finais do capítulo

Fortes emoções Neste capítulo!
E ai amores, o que acharam? Deixem aqui nos comentários.
Muitos Beijos, Até o próximo Capítulo.