Bittersweet escrita por Ana Paula Puridade, Lua


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Primeiro, agradecemos muitíssimoooo a Carolayne que recomendou a fic ♥ ♥
Também amamos todos os comentários de vocês. ❤
Espero que curtam o capítulo. Boa leitura =)



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NARRAÇÃO DA BONNIE

Eu não expressei nenhuma reação. Não quando o médico me falou que eu estava grávida. Não quando Caroline sorriu emocionada me dando os parabéns. Não quando Stefan me parabenizou. Ou Matt. Nem quando o doutor começou a falar sobre cuidados na gravidez, sobre náuseas e desenvolvimento do feto. Nem quando Damon apenas ficou calado e saiu do quarto sem dizer nada. A única coisa que eu conseguia pensar era que aquilo não podia estar acontecendo. Não agora e nem nunca. Eu fiz o teste e deu negativo, eu acreditei naquilo porque queria que fosse verdade, mas com essa notícia... A mentira que contei a Kai tinha virado contra mim. Na verdade, era como se tudo estivesse contra mim e mais uma vez Kai tinha conseguido o que queria

Não notei quando Matt saiu dizendo que tinha que voltar a delegacia. Não ouvi direito quando o médico me deu alta nem ouvi bem as perguntas que Caroline estava fazendo a ele. Eu estava fazendo tudo mecanicamente, ainda estava em negação, esperando que a qualquer momento alguém fosse aparecer e dizer que tudo não passou de um engano. Mas ninguém apareceu pra dizer isso e a cada minuto eu sentia minha estrutura ruir um pouco mais.

— Então, — Caroline falou assim que entramos na sala dos Salvatore. — Que tal umas doses de uísque pra comemor... Ah, não, desculpa, desculpa. Nada de bebida alcoólica pra você daqui pra frente, certo Bonnie? Você pode tomar um suco e eu fico com o uísque, aí você pode me contar todos os detalhes, eu estou curiosa pra saber quem é o pai desse anjinho que você vai ter, posso levar você amanhã pra dar a noticia a ele. Ele é de Withmore ou aqui de Mystic Falls?

Eu não consegui prestar atenção no que ela disse, meus olhos estavam em Damon, que tinha virado as costas e estava saindo, ele não me disse nada, não olhou pra mim nenhuma vez e aquele silêncio, aquela distância que ele manteve acabou me dando uma sensação dolorosa.

— Damon? — chamei, esperei que ele parasse, ao menos me olhasse, mas ele saiu.

— Bonnie? — Caroline ainda estava lá, parada, me olhando com expectativa.

Apesar das tentativas de Care em me animar, não consegui fingir que estava alegre, mesmo eu sabendo de que ela não tinha idéia de como aquela criança foi concebida, ainda assim as tentativas dela me incomodaram.

— Care, eu... — murmurei. — Eu preciso de um banho.

— Tudo bem, — ela assentiu compreensiva. — Você deve estar cansada, eu entendo. E teve uma grande surpresa, foi uma surpresa pra todos nós, uma surpresa boa.

Eu sabia que ela estava esperando que eu falasse algo, mencionasse o assunto da gravidez ou da criança, já que eu tinha evitado isso desde que ouvi do médico a primeira vez, mas não consegui responder, apenas desviei dela e subi as escadas, indo direto para o quarto. Fechei a porta e me apoiei nela, repetindo mentalmente milhares de vezes que aquilo não estava acontecendo, era tudo um pesadelo e eu iria acordar a qualquer instante.

Mas não acordei.

Tudo continuou do mesmo jeito, até o som da minha própria respiração, me lembrando que toda aquela desgraça era real. Eu queria sumir, evaporar, deixar de existir. Queria nunca ter conhecido Kai. Preferia que minha Grams não tivesse tentado me salvar me mandando pro Mundo Prisão, sei que a intenção dela não foi me fazer sofrer, mas agora eu estava sofrendo e essa dor estava me fazendo perceber que viver é uma droga, estava me fazendo preferir ter ido embora junto com o Outro Lado quando tudo foi destruído.

Eu olhei pra cima e fechei os olhos com força, mordendo firme os lábios e impedindo que um grunhido escapasse, que as lágrimas rolassem, tentando aceitar o fato que eu não podia fazer nada para impedir que...

Subitamente um pensamento me surgiu. Eu poderia impedir.

Andei apressada, cambaleante, até a cômoda onde estava meu notebook, digitando rápido e usando um mecanismo de busca para encontrar uma clinica próximo a Mystic Falls. Eu não iria dar a luz àquela criança. O mapa online me mostrou a clinica mais próxima especializada nos procedimentos que eu queria, ficava um pouco depois de Withmore. Eu juntei meu celular do bolso e digitei o número informado, esperando que não fosse tarde demais para alguém atender. Felizmente, não era.

— Olá, Clinica Médica da Drª... — uma voz feminina atendeu, eu respirei firme, apertando o celular entre os dedos, seguindo em frente com minha decisão. Marquei uma consulta. A coisa foi mais profissional do que imaginei, como uma ida de rotina ao dermatologista ou ao dentista e eu agradeci por isso.

Assim que desliguei a ligação, houve uma batida na porta. Eu respirei fundo e guardei o celular no bolso, dizendo para, seja lá quem fosse, entrar.

— Hey, — disse Caroline, ela entrou um pouco sem jeito, me encarando com um sorriso curto. — Tudo bem?

— Sim, — murmurei. — Está.

— Ok, — ela assentiu. — Eu vou só aceitar o fato que você não está muito animada, eu sei que essa notícia foi uma surp... — de repente o rosto dela congelou, o sorriso pequeno e sem jeito sumiu, eu pensei que algo tinha acontecido, mas percebi que o olhar dela não estava mais em mim, ela estava focada em algo às minhas costas.

Olhei para trás, encontrando o notebook aberto no site da clinica que eu tinha telefonado, a página exibia a ultima categoria que eu tinha visitado.

— Caroline... — comecei, mas ela não me deixou terminar de falar.

— Você vai matar o seu bebê?

“Não é meu bebê. Não pedi por ele”. Eu quis dizer, mas o sufoco e as náuseas me atingiram, deixando-me com a respiração descompassada.

— Tecnicamente, — minha voz falou. — Não é um bebê ainda...

— Eu sei o que a ciência diz, Bonnie. Mas a ciência não está ouvindo o coração desse bebê agora. Uma criança que só quer viver.

— Não é uma criança, Caroline, é um embrião. Um embrião não tem vontades.

— Quando foi que você se tornou tão fria?

A voz dela me apunhalou forte, estava cortante como lâmina e cheia de magoa, mas o pior disso era o olhar dela me dizendo que eu era uma pessoa terrível. Travei o maxilar, dizendo a mim mesma que ela não diria isso se soubesse a verdade... A verdade que eu teria que contar, mais cedo ou mais tarde. O que eu preferia? Contar pra ela e admitir em voz alta a ruína que tinha se tornado minha vida, ou deixá-la pensar que eu era esse tipo de monstro?

Apertei os olhos com força, sentindo meu ar ficar preso. Dei as costas a ela, fechando a tela do notebook.

— Eu quero ficar sozinha, Caroline. Por favor, saia.

Não sei se ela hesitou, não vi a expressão dela pra saber se tentaria argumentar comigo, apenas ouvi o som da porta se fechando minutos depois.

NARRAÇÃO DO DAMON

Bonnie está grávida. Agora tudo fazia sentido, a obsessão de Kai por ela, o estupro, ele ter precisado dela para realizar os malditos feitiços, ele não queria apenas acabar com o pouco de felicidade que restara de Bonnie a estuprando, ele não queria apenas marca-la para sempre forçando ela a fazer uma coisa que não queria, ele queria destruí-la por completo, fazendo com que ela carregasse em seu ventre essa coisa que o médico chama de bebê.

Lembrei-me das emoções de Bonnie, de tudo que eu senti quando entrei em seus pensamentos, toda a dor que ela sentia, a humilhação... Isso não poderia estar acontecendo com ela, logo agora que as coisas estavam começam a se encaixar, a voltar ao normal. Mas aqui é Mystic Falls e ninguém consegue ser feliz.

O doutor disse que tonturas e enjoos começariam pela quinta ou sexta semana e na mesma época o coração da criança passaria a bater. Isso começou quando estávamos no carro. Obviamente era imperceptível a um ouvido humano, seria fraco demais até para os aparelhos médicos, mas não para a audição de um vampiro. Percebi que não conseguiria estar perto de Bonnie por mais de um minuto sem que o som dos batimentos cardíacos dessa aberração estourassem em meus ouvidos.

Era tão patético ver o quanto Caroline estava feliz por Bonnie que me deu vontade de vomitar. Eu estava me sentindo sufocado, não conseguia olhar para Bonnie, mesmo sabendo que deveria estar com ela por ela ser minha melhor amiga, mesmo sabendo que o que eu estava sentindo não se comparava a nem um terço do que ela sentia, mesmo sabendo que devia apoia-la, eu não consegui, eu simplesmente não consegui.

Precisava sair daquela casa, precisava conversar com alguém bebendo uma boa garrafa do Bourbon mais forte que eu encontrasse e eu sabia muito bem quem era a única pessoa com quem eu conseguira fazer isso. Ouvi Bonnie me chamando, mas eu não conseguiria conversar com ela, eu não queria magoa-la, então simplesmente sai e deixei-a sem olhar para trás.

[...]

No caminho para casa de Alaric consegui pensar com mais clareza em tudo. O plano de Kai era tão bem manipulado, tão bem arquitetado, tudo para destruir ainda mais nossa vidas, ele me sequestrou por que sabia que Bonnie iria me salvar apesar de não estarmos nos dando bem na época, ele sabia que Bonnie sempre volta para me ajudar, foi assim no mundo prisão e ele tinha certeza que seria assim de novo. Ele a levou, a obrigou a fazer o feitiço que eu tenho certeza que foi de fertilização, estuprou ela para que o feitiço fizesse efeito. Tudo estava se encaixando agora.

Bonnie disse que ela tinha algo que ele queria e tinha feito um acordo com ele, ele sumiria e não nos faria nenhum mal. Eu sabia que ele não aceitaria isso só por causa do maldito grimório da família dele, com certeza ele aceitou por causa dessa aberração, por isso ele estava preocupado com Bonnie quando ela acabou desmaiando, agora toda a equação estava resolvida.

Agora entendo por que a pulseira que dei a ela não fez efeito. Eu não havia contado tudo para Bonnie, mas os três relicários não tinham apenas duas ervas pra ajuda-la no controle, o terceiro continha um fio de meu cabelo, pensei que canalizando isso ela teria mais força se precisasse, mas não suspeitei que havia outra fonte de magia dentro dela, o monstrinho com certeza rejeitou esse meio de força.

Bonnie não podia estar passando por isso, ela não merecia isso, ela sempre é a parte que mais se prejudica em tudo que acontece.

Quando cheguei ao apartamento de Ric, ele estava chegando com algumas sacolas nas mãos e em uma delas percebi que tinham bebidas, eu havia chegado em um bom momento.

— Damon, o que faz aqui?

— Preciso conversar com você e, claro, do seu Bourbon mais forte.

— Acabei de comprar os melhores. — Ele levantou uma das sacolas.

— Prepare os gelos, Ric, pois hoje eu preciso beber.

Alaric me encarou desconfiado, mas não disse nada, apenas abriu a porta da casa e foi preparar nossas bebidas e eu o acompanhei.

— O que pode ser tão importante que te faz viajar horas para vir aqui falar comigo e acabar meu uísque? — perguntou Ric enchendo meu copo.

— Bonnie. — respondi, antes de virar todo o liquido de uma vez na boca.

— Já notou que todas as vezes que você vem aqui é por ela? Está acontecendo algo que eu não sei? — perguntou ele maliciosamente.

Ignorei-o.

— Então, o que te fez vir até aqui?

— Bonnie está grávida.

Alaric me olhou surpreso enquanto bebia o conteúdo de seu copo.

— Ela está esperando uma aberração de Kai.

— O que? — ele perguntou incrédulo. — Isso é impossível, Damon. Kai é um herege, o que faz dele vampiro e vampiros não reproduzem!

— Isso é o que pensávamos. Lembra o que te falei sobre Bonnie dizer que ele quereria que ela fizesse um feitiço para ele?

— Lembro.

— Tenho certeza que foi um feitiço de fertilização.

Ele balançou a cabeça, ainda sem acreditar.

— Isso existe?

— Eu ouvi uma historia uma vez, um feitiço que foi proibido há séculos, quando ouvi isso pareceu lenda.

— Era o tal feitiço da fertilidade?

— Sim. Ouvi dizer que foi criado por bruxos egípcios que deviam favores a vampiros, esses vampiros estavam apaixonados por humanas e queriam ter filhos com elas. Mas é claro que isso não daria certo.

— O que aconteceu?

— O feitiço se espalhou e várias crianças especiais estavam nascendo, metade humanas, metade vampiros, muitas delas acabaram sendo mortas pelos humanos da época. Então os bruxos proibiram esse feitiço e nunca mais se ouviu falar sobre o assunto. Pelo menos até agora.

— Realmente, parece lenda.

— E com certeza foi essa "lenda" que Kai fez com Bonnie, o resto já sabemos.

Ric passou a mão no rosto, respirando pesadamente.

— Pobre Bonnie, — disse ele. — Ela deve estar sofrendo muito com tudo isso.

— Agora tudo faz sentido Ric, o sumiço de Kai, Bonnie ter voltado do sequestro totalmente atormentada, ela estar escondendo coisas de nós, Kai se preocupar com ela... A única coisa que parece fora do lugar é que ela pareceu surpresa quando o médico disse que ela estava grávida, como se ela não soubesse.

Alaric me olhava, mas era como seus pensamentos estivessem em outro lugar. Foi então que eu percebi o que aquela situação representava para Ric. Kai havia destruído sua vida, havia acabado com sua chance de começar uma família junto Jo e suas filhas. Agora Kai teria a chance de ter uma “família” com essa aberração que estava para nascer, essa situação deve ser terrível para ele.

— Desculpe, irmão, eu não deveria ter vindo. Deve ser difícil para você tudo isso.

— Não se preocupe, — ele murmurou. — Você fez certo em vir conversar comigo, somos amigos. E agora, mais do que nunca, Kai precisa morrer, e eu te ajudarei.

— Eu quero tanto mata-lo, Ric. Quero que ele morra porque agora nem consigo estar perto de Bonnie sem que os batimentos daquela aberração estrondem meus ouvidos. Quero me certificar que ele vá para o inferno e fique lá para sempre.

— E eu vou te ajudar. Aquele verme destruiu as nossas vidas, ele não tem o direito de ter uma família, ele não viverá para isso.

— Nem aquela aberração que Bonnie está gerando. — fechei as mãos em punho, sentindo a ira me subir na garganta só de lembrar. — Ela foi usada para um plano sujo, não pode levar o peso disso pelo resto da vida. Tenho certeza que ela não quer essa coisa, ela não merece isso e eu não deixarei que ela passe por isso.

Ric meneou com a cabeça, enchendo o copo dele novamente antes de falar.

— Ela precisa do seu apoio, — murmurou. — De todos nós.

— Eu preciso de tempo para absorver tudo isso. E ainda tenho que aguentar ver Caroline animada com a chegada do monstrinho, se ela soubesse o que aconteceu...

— Seja paciente, — disse ele. — Pense um pouco em Bonnie, imagina tudo o que ela deve estar passando, engravidar de um estupro deve ser terrível.

Eu grunhi e apertei com tanta força o copo de vidro em minha mão que ele acabou quebrando. Foi involuntário, apenas ao ouvir a última parte do comentário de Ric.

— E tenha calma. — ele acrescentou.

— Eu sei, — concordei, largando os cacos de vidro na mesa de centro enquanto minha mão começava a cicatrizar. — Eu devo ser menos egoísta e ajuda-la, mas olhar pra ela me faz lembrar de tudo que Kai fez, das emoções dela e é impossível lidar. Sei que deve estar sendo terrível para ela, mas é melhor eu me manter longe do que acabar a magoando.

Ric balançou a cabeça. Eu não sei se estava concordando comigo ou reprovando o que eu tinha dito.

— Vou tirar férias da escola, — falou. — Só me falta resolver algumas coisas. Pensei em viajar, mas voltarei à Mystic Falls. Kai irá voltar por causa desse filho e eu quero estar com você para matá-lo, e dessa vez nos certificaremos de que ele não voltará à vida!

— Então você voltará a Mystic Falls?

— Claro, não perderia a oportunidade de destruir a chance de Kai ter uma família e de bônus ainda vingar a morte de Jo e das minhas filhas. Ele destruiu minha vida e eu destruirei a dele.

[...]

Já era madrugada quando cheguei em casa, fiz o mínimo de barulho possível para não acordar ninguém, tinha chegado esse horário para não ter que falar com Bonnie, estava sendo muito difícil ignora-la, me sentia mal por isso, mas eu não tinha escolha. Entretanto, minha tentativa foi em vão, pois quando abri a porta do quarto, Bonnie estava lá e pelo olhar dela, não seria uma conversa nada agradável.

— Boa noite, Bonnie. — falei sem fazer esforço para sorrir. — Você deveria estar dormindo.

— Eu queria falar com você antes.

— Já esta tarde, estou cansado e você também, deixemos isso para depois, ok?

Ela ela levantou e ficou de pé no meio do quarto.

— Damon, o que está acontecendo?

Eu crispei os lábios, esperando que aquilo fosse uma pergunta retórica. Ela, melhor do que eu, sabia tudo o que estava acontecendo.

— Bonnie, é melhor deixarmos isso para depois, não quero acordar ninguém.

— Ninguém vai nos ouvir. — ela inclinou a cabeça, indicando o canto do quarto onde uma erva estava queimando bem devagar. Ela tinha pensado em tudo. — Eu só quero saber porque você está me evitando. Me ignorou quando chamei por você e não venha me dizer que não ouviu porque eu sei que, sim, você me ouviu.

Os batimentos do monstrinho estavam ecoando pelo meu quarto, eu já não estava prestando atenção em Bonnie porque aquele som me tirava toda a concentração.

— Vamos terminar essa conversa em outro dia. — pedi.

— Pra você ter a chance de sumir de novo? Prefiro conversar agora.

Ela se aproximou de mim e eu me afastei involuntariamente. Ela parou no lugar com o rosto desvanecido e a expressão magoada..

— Damon, — murmurou. — Eu fiz algo pra você?

O coração da aberração não me deixava pensar, mesmo com todas as advertências de Ric para que eu não falasse a verdade para Bonnie, eu não conseguia pensar em mais nada.

— Eu sei o que o Kai fez a você. — falei.

Dessa vez foi ela quem deu um passo para trás, me olhando assustada.

— Co... Como? Do que você está falando?

— Sei que Kai te estuprou. O feitiço que você fala que Kai mandou você fazer é o de fertilização, não é? Ele usou esse maldito feitiço para fazer essa aberração em você.

Eu observei ela cambalear, apertar as mãos em punho, enquanto os batimentos cardíacos dela ficavam mais fortes e absurdamente altos, sobrepondo todos os outros sons no quarto. Quis voltar atrás no que eu tinha dito, mas agora não tinha mais jeito.

— Como você sabe disso? — perguntou com a voz falhando e piscando forte para espantar as lágrimas.

— Você estava dormindo e parecia atribulada, entrei nos seus sonhos para tentar te ajudar e foi ai que descobri o que ele tinha feito.

— Invadiu a minha mente? — ela respirou fundo, nervosa.

— Eu queria ajud...

— Então, — ela me interrompeu, dando um sorriso triste. — Aquela conversa de me deixar mais forte e me fazer lembrar de uma coisa antiga foi só um meio para que eu contasse pra você antes de eu descobrir o que você tinha feito?

— O que eu fiz nem chega perto do que ele fez.

Ela se calou, desviando o olhar para longe do meu.

— Eu só queria te ajudar, — expliquei. — Queria poder te ajudar a superar o trauma que você passou com Kai, eu jamais fiz nada para te prejudicar.

— Voce não tinha esse direito Damon, — ela murmurou, apertando os olhos com força, impedindo as lágrimas de caírem. — Sabe por que eu não contei? Por que eu me sinto humilhada, e agora eu entendo toda a sua preocupação comigo era remorso, o remorso que eu não queria que você sentisse. Agora eu entendo tudo.

— Bonnie, o que eu fiz não foi por remorso, foi por você, pra te ajudar a superar isso.

Tentei me aproximar dela mais uma vez e como antes, ela se afastou.

— Eu entendo seu ódio por essa... Criança. — disse ela. — Acredite, eu sinto o mesmo. Mas o que você fez... Eu pensei que você realmente gostasse de mim, mas foi tudo por arrependimento, culpa e pena. E mesmo que não fosse, agora não importa porque eu nem consigo olhar pra você direito sem me sentir tão humilhada, exposta...

— Bonnie, eu... — Ela me interrompeu

— Eu tive que praticamente te forçar a conversar comigo, você estava me evitando... E agora é a minha vez de te evitar. Finja que não tivemos essa conversa, volte a me ignorar, por que eu farei o mesmo com você.

Ela passou por mim em direção a porta. Foi aí que eu me dei conta que faria o que fosse preciso pra ela confiar em mim, pra acreditar que me importo com ela, não a deixaria sair daqui desse jeito, magoada comigo.

— Espera, — falei parando em frente a ela, antes que pudesse chegar a porta. — Eu não vou pedir desculpas porque isso não vai mudar nada, mas você tem que acreditar que as coisas que eu fiz foi porque você é importante pra mim, Bonnie. O que eu tenho que fazer pra você acreditar nisso?

— Me evitou porque sou importante pra você?

— Te evitei porque sou um idiota. — admiti. — E porque eu nem conseguia imaginar em como tudo isso estava sendo difícil pra você, eu tive medo de não saber como te ajudar.

— Entendi.

Bonnie tentou passar por mim de novo, mas me coloquei em frente a ela mais uma vez.

— Eu quero sair, Damon.

— Não até terminarmos essa conversa direito.

— O que você quer conversar? Sobre como você invadiu minha cabeça pra descobrir algo que eu não... — ela parou, como se a frase tivesse ficado presa na garganta. Eu esperei. Por vários minutos. Mas ela permaneceu em silêncio.

— Fale. — murmurei. — Não precisa guardar isso só pra você, você não precisa fugir disso. A Bonnie que conheci enfrentaria.

— A Bonnie que você conheceu? — ela deu um sorriso amargo quando as lágrimas voltaram a arder em seus olhos. — A Bonnie que você conheceu se acostumou a cuidar mais dos sentimentos das outras pessoas e agora não sabe lidar com os dela... A Bonnie que você conheceu foi violentada... Ela evitava pensar nisso achando que se não pensasse, tudo ia se arrumar, mas agora ela está esperando uma criança que ela não quer. Eu receio que a Bonnie que você conheceu não saiba como lidar com isso tudo, por isso ela prefere não enfrentar.

— Ela não precisa enfrentar sozinha. Nós vamos passar por isso, Bonnie.

— NÓS não fomos estuprados! — ela gritou deixando a primeira lagrima escorrer pelo rosto dela. — NÓS não fomos obrigados a realizar o feitiço que acabaria com NOSSAS vidas! E agora NÓS não estamos grávidos! EU fui! EU estou! EU tive que ficar presa e ser abusada pela pessoa que mais odeio! EU tive que ter sonhos horríveis todas as noites! EU tive que esconder meu medo! EU não consegui dormir uma noite tranquila sem acordar com medo que a qualquer momento ele entrasse pela porta... Eu...

Ela estava chorando, o rosto molhado e vermelho, totalmente em lágrimas e soluços e eu sabia que, desde que tudo tinha acontecido, essa era a primeira vez que ela se deixava chorar.

Cheguei mais perto, dessa vez ela não se afastou. Passei meus braços ao redor dela, abraçando-a e deitei o rosto dela em meu peito. Ela era tão pequena que se encaixou perfeitamente, o corpo quente e tremendo junto ao meu me fez ter certeza que eu só queria cuidar dela, ela não merecia aquela dor. Aquelas lágrimas e aquele sofrimento não deveriam estar ali.

— Está se sentindo mais leve agora?

— Não. — ela soluçou. — Ainda estou me sentindo horrível.

— Eu sei. — sussurrei. — Eu sei.

— Eu achei... — ela soluçou mais uma vez, ainda com o rosto deitado em meu peito. — Eu achei que chorar seria admitir que Kai venceu... Ele venceu?

— Ele não venceu e nem vai.

— Você odeia ele pelo que fez a Elena, não é?

— Agora eu odeio ele mais por ter feito você chorar, por ter te machucado. Ninguém pode machucar minha Little Bird.

Senti as mãos dela atrás da minha blusa de apertarem, me abraçando mais forte, então eu beijei o topo de sua cabeça carinhosamente, ao mesmo tempo que minhas mãos acariciavam calmamente as costas dela.

— Eu pensei que se deixasse uma lágrima cair, todo o resto ia cair, — confessou. — Tudo ia desmoronar.

— Nada vai cair porque eu vou ficar aqui segurando por você, não vou deixar nada desmoronar.

— Mas e se já estiver desmoronando?

— Então eu vou reerguer.

Ela voltou a chorar, me abraçando o mais forte que a força humana dela permitia e eu apenas a abracei, tentando passar a ela conforto e segurança durante todo os minutos que as lágrimas duraram.

— Eu tive medo, — disse ela entre o choro. — Medo que você confirmasse que só ficou ao meu lado por culpa e remorso.

— É claro que não. — sussurrei. — Eu quero cuidar de você porque você é importante pra mim.

Mais importante do que um dia eu imaginei.

— E você é a coisa mais sólida que tem na minha vida agora. Em que vou me segurar se você sair do meu lado?

— Eu não vou sair.

— Como eu vou saber?

— Por que você sabe que pode confiar em mim.

Bonnie ficou em silêncio durante alguns segundos antes de voltar a falar.

— Eu não quero esse bebê, Damon.

— Eu sei que não.

— Eu quero... Eu quero tirar.

— Tudo bem, — sussurrei. — Isso não faz de você uma pessoa terrível.

Ela repentinamente ficou rígida em meus braços, o corpo tenso, as mãos apertando com força minhas costas, como se um vacilo fosse me fazer evaporar.

— O que foi? — perguntei.

— Foi assim que Caroline me olhou, — ela murmurou. — Como se eu fosse uma pessoa terrível. Eu procurei na internet uma clinica e marquei uma consulta, ela viu.

Travei o maxilar com raiva. Eu quis ir atrás da loira e arrastá-la até aqui, fazer ela pedir desculpas, mas isso não ajudaria em nada, assustaria Bonnie e traria mais confusão. Então, em vez disso, eu permaneci abraçando-a, passeando minhas mãos lentamente em suas costas para acalentá-la.

— Caroline não sabe o que aconteceu. — falei. — E você não é terrível.

— Eu me sinto suja e impotente.

— Você não é suja, muito menos impotente. É a pessoa mais forte que conheço.

— Só está dizendo isso pra fazer eu me sentir melhor.

— Estou dizendo porque é a verdade. Nenhuma garota que eu conheci é tão corajosa como você. Nenhuma.

— Mas eu estou com medo.

— Pessoas corajosas também sentem medo. Mas essa noite você não precisa ter, não vou sair do seu lado.

Eu esperei uma pergunta, mas ela ficou quieta processando o que eu tinha dito e quando finalmente entendeu, pensei que ela fosse hesitar, mas em vez disso apenas encarou minha cama e depois murmurou um "ok".

— Confio em você. — ela disse.

Foram somente três simples palavras, mas o sorriso no meu rosto ao ouvi-las não teve um significado simples.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam?
Espero que tenham gostado. E até a próxima semana. Beijos mil