Passou-se dias que não via Margaery Tyrell, a não ser nos eventos sociais dos quais não trocavam muitas palavras, e a garota Stark continuava pensando na mesma, preocupada. Não deveria ter dito a verdade sobre Joffrey, não conseguia parar de pensar. Aquilo foi traição. Olhou para os guardas Lannisters que a escoltaram até o Bosque Sagrado, e agora a fitavam em silêncio. Estremeceu.

Tentou se concentrar em seus deuses do Norte. Rezou pela vitória de Robb, que ele tivesse no meio de seu exército um cavaleiro que viria resgatá-la e ambos se apaixonariam e Sansa finalmente se veria livre desse pesadelo. Uma parte de si, acreditava que os deuses concederiam isso à ela. Outra parte, sabia que estava sendo tola. Uma garotinha estúpida com sonhos estúpidos, pensou. Mas não conseguia não ter esperanças.

– Por favor, guardas, nos deixem sozinhas. - Ouviu uma voz familiar e estranhamente reconfortante. Olhou para o lado e encontrou Margaery.

– Nós temos ordem da Rainha para vigiar Sansa. - Respondeu um deles.

– E eu, a futura Rainha, ordeno que nos deixem sozinhas. Ou precisarei pedir ao Joffrey que venha ordenar pessoalmente? - Perguntou a ousada Rosa. Os guardas se entreolharam e fizeram uma reverência, indo embora rapidamente.

Sansa a observava. Margaery usava um vestido florido, azul e verde, e seus cabelos estavam trançados. Seu olhar chegou ao dela, azul e castanho. Sentia um nervosismo anormal na presença da garota Tyrell, e não sabia dizer exatamente o porquê.

– Bom dia, Senhora Margaery.

– Por favor, Sansa, pensei que já tínhamos deixado a formalidade de lado. - Respondeu Margaery com um doce sorriso. Segurou a mão de Sansa, e a mesma estremeceu com o toque. Se levantou. - Para que estava rezando?

– Não posso contar. - Respondeu, dando um sorriso. Margaery retribuiu, e Sansa reparou na boca dela. Bonita, suave e de lábios bem corados. Desviou o olhar, constrangida.

– Tudo bem. - Respondeu Margaery. - Podemos caminhar?

Sansa fez que sim com a cabeça e ambas começaram a andar pelos jardins da Fortaleza Vermelha.

– Está gostando da Capital? - a garota Stark perguntou.

– Estou, sim. - Respondeu Margaery, dando um suspiro. - Mas nada se compara à Jardim de Cima. É tão adorável. Você iria se apaixonar.

– Tenho certeza que sim.

Só a ideia de poder sair de Porto Real já botava um sorriso no rosto de Sansa. Margaery parou de caminhar e se permitiu virar-se para Sansa, encarando-a.

– Eu tenho uma maneira de providenciar isso. - Disse Margaery, séria. - Eu tenho um irmão mais velho, Willas. Ele é o herdeiro de Jardim de Cima.

– Oh... - Começou Sansa, sem saber exatamente o que diria em seguida.

– Quando for Rainha, posso plantar a ideia na mente de Joffrey de você se casar com Sor Willas.

O coração de Sansa gelou. Adoraria sair de Porto Real, mais que tudo. Deu um grande sorriso ao pensar que poderia se casar com o irmão da Margaery e viver em Jardim de Cima. Mas isso significaria... Ficar longe de Margaery, se lembrou, de repente. Seu sorriso foi sumindo aos poucos.

Fazia tanto tempo que não ficava na companhia de outras mulheres que se esqueceu o quanto prazeroso isso era.

– Obrigada. Eu adoraria! - Disse, e foi sincera. A mulher só queria sua felicidade, Sansa sabia disso. Tinha que se mostrar feliz. E não estou feliz?, se perguntando. É claro que estou feliz! Então por que parece tão errado? Tão errado ir para Jardim de Cima, enquanto deixo Margaery aqui, nas garras de Joffrey?– Mas... Os Lannisters nunca me deixariam partir. Tem tantos motivos para me manter aqui. Você mesma disse isso. Sou a chave para o Norte caso algo aconteça com meu irmão, se lembra? - Só se pensar que algo poderia acontecer com Robb, seu corpo estremecia. Não aguentaria perder mais ninguém que amava. De repente, o vento havia ficado gelado. Sansa se abraçou.

– É claro. Eu sei. - Disse Margaery, observando a expressão confusa de Sansa. Seu rosto também estava confuso. Parecia feliz pela garota Stark ter gostado da ideia, mas ao tempo tempo parecia insatisfeita. - Mas há um motivo para deixá-la ir. Me agradaria te ver em Jardim de Cima, e Joffrey gosta de me agradar. - Sorriu por alguns instantes, mas logo ficou séria novamente, olhando nos olhos de Sansa. - Iria te agradar também? Se casar com meu irmão? - Perguntou, seu rosto indecifrável.

Sansa abriu a boca, mas as palavras não saíram da mesma. O que ela quer que eu diga?, se perguntou.

– Sim... Me agradaria muito. - Respondeu, e sabia que em partes estava mentindo.

Margaery ficou séria por alguns segundos, e a garota pôde jurar que viu tristeza em seus lindos olhos castanhos. Mas rapidamente se recompôs com um sorriso. Tocou o braço de Sansa e começou a caminhar novamente.

– Que bom. Eu quero te agradar, Sansa.

As duas continuaram conversando pelos jardins de Porto Real, e depois se despediram com um abraço e um beijo na bochecha.

Sansa foi dormir achando que estava feliz pelos novos planos de casamento, mas, ao fechar os olhos, viu a expressão de Margaery. Feliz, triste, confusa.

O que está acontecendo comigo?, a Stark se perguntou, fitando o breu em seu quarto.

Tentou sonhar com seu novo cavalheiro brilhante de armadura que iria resgatá-la daquele ninho de ratos que chamavam de Porto Real. Mas, em vez disso, só conseguiu sonhar com Margaery e seus lindos olhos castanhos.

Margaery está aqui, em Porto Real. Não em Jardim de Cima. E sua presença muda tudo, concluiu. Mas, mais uma vez, não havia escolha. Tinha que aceitar o plano da Rosa. Se casar com Willas era sua melhor opção, mesmo que isso significasse ficar longe dela.

– Oh, o que está acontecendo comigo? - Sansa sussurrou para si mesma. Fechou os olhos e tentou adormecer.