So Lucky To Have You escrita por Anasofi Sakura


Capítulo 2
Capítulo 02




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Capítulo 02

Já se tinham passado 2 semanas desde que Ji se tinha ido embora, e Anna ainda não conseguia parar de se deprimir a si mesma com esse facto. A cada momento que passava lembrava-se do que tinham vivido juntas, apesar de ter sido por pouco tempo. Lembrava-se das suas brincadeiras, dos seus gostos em comum, e também das promessas que tinham feito. Ji tinha sido a melhor pessoa que ela tinha conhecido, e tinha-se convencido a si mesma que nunca mais iria conhecer alguém como ela.

Foi por causa desse pensamento que Anna ficou sozinha no primeiro dia de aulas. Todos à sua volta lhe pareciam imagens nubladas e sem importância. Apesar de algumas pessoas (a maior parte) já a conhecerem, ou já terem feito parte das suas antigas turmas, Anna não quis falar com ninguém porque não se sentia bem com isso. Ji era a sua única amiga, e ela não queria mais ninguém. Ali, naquela turma, ninguém sabia os gostos de Anna, nem os seus sonhos. Nunca lhes poderia contar sobre os EXO, sobre k-pop, ou sobre o seu amado Kyungsoo sem ser gozada. Ela sabia que se mais alguém sem ser Ji soubesse sobre a sua paixão, iria ser gozada, rejeitada, e maltratada. Para que isso não acontecesse, decidiu ser a anti-social: a que não fala com ninguém, a que não tem um par para um trabalho, e a última a ser escolhida para as equipas de Educação Física. Anna nunca tinha sido assim, mas iria fazê-lo; por ela e pela sua amiga Ji. Afinal de contas, ela só teria de suportar até aos seus 18 anos de idade para ir estudar para a Coreia. Só faltavam 3 anos, e Anna não perderia as esperanças.

Olá Anna! – Pedro, um dos seus antigos namorados, ficara na mesma turma que ela. O rapaz, vendo a rapariga triste a um canto da sala sem fazer nada, decidiu ir lá pôr conversa, como velhos amigos e ex-namorados que eram – Já fazia algum tempo que não falávamos. Como tens ido? Não acredito que estamos na mesma turma.

Hum. – Anna nem lhe levantou o olhar para lhe responder. Estava a ver um vídeo no seu telemóvel em que o Kyungsoo aparecia num dos concertos dos EXO, e não ia desviar a sua atenção para um simples colega, além de este ser um ex-namorado.

Ei, podias olhar para mim quando estás a falar comigo! – exclamou Pedro, chateado com a reação da amiga – Hum? O que é que raio estás a ver? – curioso, tirou o telemóvel de Anna das suas próprias mãos. O coração da portuguesa acelerou nesse instante: Pedro iria descobrir! – Hã? Quem é este feioso? – perguntou divertido.

Pedro! Dá–me o meu telemóvel! – Anna rapidamente levantou-se da sua cadeira, fazendo todos os que estavam na sala olharem para aqueles os dois. A rapariga tentou desesperadamente tirar o telemóvel das mãos daquele idiota, mas este levantava-o acima da sua cabeça, onde Anna não conseguia chegar – Devolve-mo!

O que é isto, An? – perguntou Pedro com um tom de gozo – Agora gostas destas coisas? Pensava que tinhas um gosto melhor. – o rapaz virou-se para a turma toda que tinha os olhos postos neles os dois, e aproveitando-se da plateia gritou – Ei malta! A Anna agora gosta de rapazes com maquilhagem! Devem ser todos gays!

Como é óbvio, toda a gente desatou a rir. As raparigas olhavam para ela com uma cara de nojo, enquanto que os rapazes deitavam cá para fora piadas porcas e de mal gosto. Anna não aguentou; aquilo era demasiado. As pessoas estavam a gozar com ela porque se queriam sentir superiores; porque todos gostavam das mesmas coisas, e ela não. Anna não conseguia acreditar em duas coisas: em como as pessoas conseguiam ser tão cruéis; e em como é que ela já tinha sido como um eles. Gozar com outros só para nós nos sentirmos bem... Naquele momento é que ela se apercebeu o quanto já tinha sido uma pessoa horrível.

Sentindo as lágrimas a virem-lhe aos olhos, Anna agarrou o mais depressa possível no seu telemóvel, e correu sem olhar para trás de si, deixando agora as piadas e todos os géneros de gozações apenas como um múrmuro incomodo. A sua vontade de vomitar era tanta que já não sabia nem como raciocinar. Correu até a uma casa-de-banho mais próxima, entrou, trancou-se dentro de um compartimento, e lá sentou-se em cima da tampa da sanita e chorou. Chorou, chorou e chorou. Deitava cá para fora toda a raiva e angústia que sentia livrando-se de quantas lágrimas podia e rangia os dentes com força como se estes se fossem partir. Apertou o telemóvel dentro da mão, vendo que o vídeo ainda não tinha parado. Sem parar de soluçar, olhou atentamente para o vídeo que agora fazia um close apenas ao Kyungsoo. Ao ver o seu amado, o seu coração apertou, e mais lágrimas se juntaram às outras que ainda permaneciam no seu rosto. Levou o telemóvel ao peito, apertando-o aí, como se estivesse a dar um abraço caloroso ao cantor.

D.O... Como é que as pessoas podem gozar comigo por eu gostar de k-pop? Como é que podem gozar comigo por eu amar os EXO? Como é que podem gozar comigo... Por eu te amar? – sussurrou com palavras quase inaudivéis – “É um gosto como todos os outros! Eu amo-te, tal como uma pessoa ama outra pessoa. Porque é que eles não entendem? Porque é que tem de me maltratar? – como se estivesse realmente a desabafar com alguém, Anna tirou o telemóvel do peito, fez pausa no vídeo, e encarou a cara do seu amado que agora olhava diretamente para a camara – Eu prometo, D.O. Eu não me vou deixar ir abaixo só por causa daqueles imbecis. Eu amo-te, e daqui a 3 anos eu vou poder ir ter contigo. Eu vou encontrar-te a ti, e ao resto dos EXO, porque eu vos amo a todos. Prometo.

Já contente e confiante, Anna limpou as lágrimas com a mão direita, e fez um enorme sorriso. Ela não podia deixar o seu sonho para trás só por causa de umas gozações sem sentido nenhum. A sua vida ia mudar dali a 3 anos, e ela só teria de esperar esse tempo para poder ir para o mesmo país que o seu Kyungsoo. Aliás, para ir ter como todos os EXO. Era isso que ela queria, e se pudesse, desistiria de tudo por eles. Eles, para ela, eram como uma segunda família que a acolheram sem dizer nada, que a fizeram sorrir, chorar, rir, e amar. Ela amáva-os a todos. O seu azar era ter nascido num país como Portugal: um lugar cheio de preconceitos e com medo de tudo o que é novo ou diferente. Era por esse facto que Anna queria poder espancar todos à sua volta; por a acharem diferente, estranha, esquisita. Os EXO, e todos os cantores de k-pop eram pessoas normais, cantores normais; então porque é que a maior parte da população tinha de gozar? Dizer que é errado? Feio? Anna não entendia o que é que ia na mente de todos os da sua turma... E nem queria entender. Ela já não pertencia ali.

Agora os EXO, apesar de serem planetas fora do sistema solar, eram todos o mundo de Anna.

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Por mais incrível e cruel que isto pareça, depois daquele dia humilhante, tudo piorou na vida de Anna Santos.

As piadas continuaram, e pioraram. Todas as vezes que ela ia ao cacifo, ou encontrava lá lixo, ou encontrava imagens de rapazes, mas sempre pintados com batom, eyeliner, base e rímel. No refeitório, quando estáva a almoçar sozinha, alguns rapazes vinham ter com ela pintados de batom de propósito, e diziam-lhe coisas como E agora Anna? Já me queres dar um beijinho agora que estou maquilhado?. Nas suas redes sociais era a mesma coisa: desconhecidos (que deviam ser pessoas da sua turma) colocavam-lhe imagens de homens maquilhados, ou frases a gozar com isso. Anna já não aguentava mais daquilo; ela não tinha paz fora de casa. Mal chegava à escola, o bulliyng começava e não parava até ela chegar a casa e começar a chorar com a cara enterrada na sua almofada. O seu aspeto até piorou devido ao stress, e os seus pais começaram a ficar preocupados com ela. Olheiras, sinais de cansaço, vómitos, tudo o que antes Anna não tinha, estava a começar a ter. A única coisa que conseguia pô-la inteiramente feliz e ter vontade de viver era, sem dúvida, o k-pop, os EXO em si, e o Do Kyungsoo. Mas mesmo assim... Será que valeria a pena estar assim durante 3 anos? Apenas com as esperanças que um cantor e músicas lhe davam?

Houve um dia em que os pais de Anna não a quiseram mais ver assim.

Anna, nós já não aguentamos mais ver-te assim. – começou a sua mãe numa noite em que estavam a jantar, com uma voz maternal e preocupada – Por isso eu e o teu pai tomámos uma decisão.

Qual decisão? – perguntou Anna, sem qualquer reação, enfiando uma garfada de comida na boca.

Vamos mudar de cidade. – o pai de Anna sorriu, e a sua filha olhou para ele, incrédula – Está na altura de mudar de ares. Precisas de respirar, filha. Estás com um aspeto triste e deprimente. Já é altura de ultrapassares a ida da Ji. Eu e a tua mãe só te queremos ver feliz, assim como estavas quando andávas com ela.

Pai, mãe... A sério? – Anna chegou até a chorar de felicidade. Levantou-se rapidamente da cadeira onde estava sentada, e foi abraçar cada um dos pais, sorrindo de orelha a orelha.

Ela estava feliz por duas razões: por mudar de cidade, livrando-se de todas as recordações tristes que tinha tido com Ji; e por se ver livre finalmente dos filhos da puta dos seus colegas de turma. Anna jurou para si mesma que teria de se controlar ao menos até se ir embora, pois não queria arranjar confusões antes da sua ida. Ela iria recomeçar a sua vida noutro lugar, para poder finalmente dedicar-se ao seu sonho com novos amigos, novas vizinhanças, e novas alegrias. Os EXO continuariam consigo, e dar-lhe-iam a força que ela precisava. A música era tudo o que ela precisava.

Mal acabou de jantar, mesmo não sabendo quando iam, foi para o seu quarto empacotar as coisas. Depois de 4 dias, já a família Santos estava pronta para partir. Viajaram 200km até ao sul, e chegaram a uma cidadezinha que Anna nunca tinha ouvido falar, mas que parecia bem bonita e simpática. Pararam à frente de uma casa branca muito elegante, que a partir daquele dia iria ser o novo lar de Anna. Uma casa nova era sempre uma animação; ainda por cima aquela era a primeira mudança da portuguesa. Mas mesmo assim ainda existiam tristezas. Anna tinha deixado para trás uma vida inteira. Ela não queria saber do resto, mas as memórias que tinha tido com Ji estavam todas naquela antiga cidade, e isso ela não queria ter perdido. Perdeu os seus colegas; ainda bem. Perdeu todas as memórias dos seus ex-namorados; melhor ainda. Mas mesmo assim, aquela tinha sido a cidade onde lhe tinha acontecido a melhor coisa do mundo: apaixonar-se pelo Do Kyungsoo, o maior amor da sua, e o único que nunca conseguiria conquistar. O único rapaz que a conseguia fazer chorar de felicidade e tristeza, mesmo não estando com ela.

Os dias foram passando. Anna matriculou-se na sua nova escola, e, como era óbvio, tornou-se muito conhecida entre os seus colegas. Ninguém sabia das suas preferências, e por isso resolveu colocar uma máscara para se esconder de todos as que envolviam: tornou a ser a antiga pessoa que era, a Anna antiga, do tempo antes de ter começado a ouvir k-pop. Ela assim sentia-se segura, pois tinha a certeza que ninguém descobriria os seus gostos, as suas paixões, e o amor da sua vida. Com o tempo fez amizades, mas mesmo assim não havia ninguém que conhecesse a sua verdadeira personalidade. Ela tinha assumido uma ‘aparência interior’ totalmente diferente do que era na realidade para se proteger do mundo exterior, já que nunca ninguém ali de Portugal a iria compreender. Se ela dissesse a alguém que, por exemplo, amava Do Kyungsoo, iriam gozar com ela, repreende-la, dizer-lhe para abrir os olhos, que Do Kyungsoo era apenas um cantor coreano feio, inalcançável, impossível de se obter. Para Anna, Do Kyungsoo não era inalcançável; porquê? Por uma simples razão: ele era uma pessoa. Todas as pessoas convivem, falam umas com outras, criam laços de amizade, amor, ou inimizade. Anna acreditava que, se Do Kyungsoo era uma pessoa, um humano, ele era alcançável. Poderia um dia falar com ele, fixar o seu olhar no dele, e talvez um dia, num dos seus sonhos mais distantes, acariciar os seus lábios nos dele.

Aaah, até aos seus 16 anos de idade que Anna nunca tinha pensado em ter uma intimidade tão grande com o Kyungsoo. Quando se apaixonou por ele, pensava sempre em coisas normais de fãs, como por exemplo: ir aos concertos, pedir-lhe um autógrafo, cruzarem os seus olhares durante um segundo, ou talvez até pedir-lhe uma foto ou um beijinho na cara. Basicamente, coisas mais ou menos possíveis. Mas até ter obtido o seu décimo sexto aniversário é que Anna começou a querer mais que isso. Começou a imaginar coisas... Talvez demasiado altas para as suas possibilidades: andar de mãos dadas com ele; sussurrar-lhe coisas ao ouvido; olhar para o seu rosto diretamente sem medo; beijar os seus lábios com naturalidade; tocar no seu corpo apenas com a ponta dos dedos, lenta e sensualmente... Agora que tinha estes pensamentos, Anna não podia deixar de corar ao pensar se tivesse realmente essas oportunidades. Só de pensar em coisas ‘pornográficas’ com o amor da sua vida, já ficava completamente vermelha e sem saber o que fazer. Por muito que ela fosse experiente nessa matéria, nunca o tinha feito com um rapaz que ela realmente amasse, por isso era uma coisa nova para ela.

Às vezes ela chorava muito. Não dormia à noite com ‘saudades’ de Kyungsoo, sonhava com coisas românticas e inesquecivéis, e todas as noites antes de ir dormir não podia deixar de não chorar por causa da dor imensa que existia no seu peito; o vazio de amor. Por muito que a portuguesa se deprimisse a si mesma com frases como Ele é impossível. Ou O Kyungsoo nunca te iria querer. És tão comum. Se nem as coreanas fofas e famosas conseguem, como é que tu conseguirias?, o problema é que ela tinha esperanças para dar e vender. Anna era uma rapariga cheia de esperanças, o que não é uma coisa muito boa. Esperanças só são boas quando temos a certeza de uma coisa. Anna sabia disso; só que nem mesmo ela própria conseguia controlar os seus próprios sentimentos. Amor, solidão, tristeza; Anna não conseguia aguentar nada disso por ela ser demasiado frágil e fraca em relação a esse género de coisas.

Mas se Anna tinha assim tantas esperanças... Queria torná-las realidade para ter a certeza que se iriam mesmo realizar.

E ela tinha esperanças nisso.

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Minha filha, não acredito que já estás tão crescida! – exclamou a mãe de Anna, ao vê-la a arrumar as suas coisas numa enorme mala de viagem.

Já não sou nenhuma bebé, mãe... – suspirou a própria Anna, arrumando a sua décima terceira camisola, e colocando-a com cuidado ao lado das restantes que já se encontravam dentro da mala – Tens de perceber que esta viagem é importante para mim. E também tens de meter na cabeça que posso não voltar... – desviou o olhar para a mãe, e fez-lhe uma expressão triste, tentando fazê-la compreender a situação.

Eu sei, querida. – a Sra.Santos sorriu tristemente, abraçando a filha pelos ombros com ternura – “Às vezes os filhotes também têm de sair do ninho, não é? Nem que seja para quase o outro lado do mundo... Desde que sejas feliz, eu estou feliz. – apertou mais o abraço – “É uma escolha que nem mesmo uma mãe pode impedir.

Mãe... – Anna soltou uma lágrima. Correspondeu ao abraço, apertando também a mãe calorosamente. Ela estava feliz em ter uma mãe tão compreensiva, e que, só passados 10 anos, é que tinha descoberto o facto do sonho dela ser ir estudar para a Coreia do Sul. Mesmo que a Sra.Santos fosse muito maternal, ela deixaria a sua filha partir, pois era aquele o sonho dela. Como uma pessoa normal, Anna também tinha os seus próprios objetivos, e não era ela que os iria estragar.

Com 26 anos, Anna estava uma rapariga totalmente diferente: mais madura, crescida, desenvolvida e, definitivamente, mais inteligente. Tinha passado, após os seus 18 anos de idade, os restantes 8 anos a treinar arduamente coreano numa boa faculdade de línguas, e, após tanto tempo de espera, tinha conseguido finalmente uma bolsa para ir estudar para o seu mais desejado sítio: a Coreia do Sul. Por vezes ela ainda olhava para si mesma, e ainda via uma pequenina Anna de 15 anos a começar a conhecer o k-pop, mas agora... Nem se podia comparar. Ela tinha-se tornado numa bela mulher.

A situação decorreu tão depressa, que Anna nem se apercebeu bem do que se passou. Um déjà-vu percorreu pela sua mente: aquele aeroporto podia ser diferente, mas o conteúdo da história era o mesmo. Alguém estava a partir para a Coreia. Os seus pais abraçaram-na com força antes de ela partir, tirando-lhe promessas de 5 chamadas por Skype por semana, e um telefonema por mês. A sua mãe chorou, e Anna também. O seu pai conteu as lágrimas, mas não pôde deixar de abraçar individualmente a sua filha, dizendo-lhe ao ouvido Vai ficar tudo bem. Vai correr tudo bem, vais ver. Tu és boa nisso., e depois fazer-lhe festas na cabeça. A portuguesa de 26 anos chorou tanto que teve medo de ficar com dor de cabeça e os olhos inchados mais tarde. Anúnciaram a partida do avião. Anna soltou-se dos braços dos pais, mandou alguns beijinhos e acenos no ar antes de se virar para ir ter com o enorme objecto de aço. Levaram a sua bagagem, ela entrou no avião, e, com os nervos à flor da pele, simplesmente olhou para a paisagem que via pela janela e suspirou de cansaço e nervosismo.

Anna não conseguiu conter o nó na sua garganta ao encarar aquele país que talvez não fosse ver por um bom tempo, ou anos. Mesmo não gostando do seu país de origem, ainda assim ela tinha tido ali tudo o que constituia a sua vida. Portugal, apesar de ser um péssimo país aos seus olhos, ainda era o seu local de origem. Ali estava a sua língua, a sua família, as suas recordações de Ji e do início da sua paixão pelo Kyungsoo. Uma lágrima escorreu-lhe pelo olho, e um pequeno sorriso brotou nos seus lábios. Ela iria para a Coreia para poder ser alguém, e para poder encontrar o amor da sua vida. O seu objetivo era apenas um: conhecer Do Kyungsoo. Tinham-se passados 11 incríveis anos, e mesmo assim ela ainda não tinha deixado de amar aquele cantor que agora tinha 32 anos, 6 anos de diferença entre si. Como é que, mesmo tendo passado tanto tempo, ela ainda o amava com cada vez mais intensidade, a cada dia que passava? Nem a própria Anna sabia; a única coisa que queria era ver o seu rosto, ouvir a sua voz, e sentir a sua pele. Tinha guardado todos os seus sentimentos para apenas aquela pessoa, e mais ninguém. Nunca ninguém lhe poderia um dia tocar sem ser aquele famoso cantor coreano. Anna ainda tinha aquela maldita manía que sempre a irritava e punha deprimida: as esperanças em excesso. E era isso que a punha frustada.

O avião começou a dar solavancos, e com todos esses movimentos, as pálpebras de Anna estavam demasiado pesadas para o seu gosto. Não tinha dormido muito durante essa semana, por causa dos imensos nervos, medos e excessos de felicidade. O som e os movimentos do avião em funcionamento, a paisagem calma e reconfortante, e também o banco quente e confortável punham Anna sonolenta e nervosa. Ela queria dormir, mas tinha prometido a si mesma que permaneceria a viagem inteira acordada, para se despedir do mundo à sua volta. Sentou-se melhor no seu banco, e viu com atenção a mulher que estava ao seu lado. A senhora deveria ter cerca de 60 anos, tinha o cabelo tingido de um preto falso (via-se pelas suas raízes mal pintadas), lábios pintados de um vermelho fraco, e nos pulsos montes de pulseiras de pano e de plástico. Anna estranhou o visual incomum da mulher, mas mesmo assim achou que deveria simpatizar com ela; afinal de contas, seria a sua companheira de ‘banco do lado’ em toda aquela longa viagem.

Olá. – cumprimentou-a em inglês com um sorriso, para o caso dela não ser portuguesa – A senhora também vai para a Coreia do Sul? – perguntou-lhe como se já não fosse suficientemente óbvio.

Sim. – respondeu-lhe com ternura também na mesma língua, para o espanto de Anna – Vou ver o meu neto. – suspirou – “À muito tempo que não o vejo... Desde que ele se tornou famoso que já não me telefona muito. Só de 4 em 4 meses.

Famoso? – Anna ficou ainda mais espantada – Como assim? Ele é um actor ou algo parecido?

Não não... Ele é cantor. E bem famoso, acredite.” – a senhora estrangeira abriu muito os olhos, e estes brilharam de orgulho pelo neto – A menina conhece os EXO? – o coração de Anna parou naquele momento. O que é que aquela senhora lhe iria dizer? EXO? O que é que eles tinham a ver com toda aquela conversa? Se o neto dela era um cantor famoso, será que...? – Ele é um membro desse grupo. Chama-se Kris.

K-Kris?! – exclamou Anna, quase se levantando do banco pelos nervos. Ela não podia acreditar; aquela era a avó do Kris! O líder dos EXO-M, a parte chinesa dos EXO! Era demasiada sorte, era como ganhar a loteria! O que é que a avó de Kris estava a fazer ali em Portugal?! Pelo que Anna sabia, metade da família do Kris era canadiana, e não fazia sentido a avó dele estar num país tão desconhecido como Portugal! – V-Você... É mesmo a avó do Kris...? – perguntou-lhe com a voz a tremer e os olhos perplexos.

Hum hum. – concordou com a cabeça – Mal posso esperar para o ver e dar-lhe um abraço. Ele também está ansioso de me ver.

Oh my god... – sussurrou Anna, esquecendo-se de que estava a falar inglês de propósito. Aproximou-se mais da senhora e avisou-a em voz baixa – Mas você não pode andar a dizer isso a qualquer um! O Kris é demasiado famoso, e por isso poderiam raptá–la ou algo do género só para fazerem chantagem. Devia ter cuidado com isso... É uma coisa muito delicada e complicada.

Oh, tens razão! – exclamou a velhota, sorridente – Mas tenho a certeza que és uma boa rapariga, por isso confio em ti. – Anna ficou feliz com aquele elogio, ainda mais vindo da própria avó do Kris.

Aaah, Anna estava tão feliz que achava que se pudesse, se atirava do avião de tanta felicidade. Ela tinha conhecido a avó do Kris! Estava sentada ao lado dela, a caminho da Coreia! Quem é que mais teria um privilégio daqueles? Não é que ela tinha ganho praticamente a loteria só por a ter conhecido? Aliás, aquilo para ela era mil vezes melhor que a loteria.

Descobriu através da conversa entre as duas que ela tinha só passado por Portugal pela curiosidade e para passar dois dias de férias. Foi a obra do destino ela ter apanhado o mesmo avião que Anna, no mesmo dia, e no mesmo horário. Anna, mesmo que parecesse um disco riscado, na sua mente repetia mil vezes por segundo Tenho tanta sorte. Estou tão feliz., e um sorriso escapava-lhe dos lábios sempre que pensava que aquela senhora idosa conhecia alguém tão fenomenal como o Kris. Mas agora que ela pensava bem... Será que, para além do Kris, a senhora conhecia mais alguém dos EXO? Como o Lay? O Xiumin? O Chanyeol? Ou talvez... O Do Kyungsoo...?

Ei, senhora. – chamou-a, depois de 2 horas de conversa – Podia-me só contar uma coisa acerca do seu neto? É que eu sou muito fã dos EXO, e estou muito curiosa e empolgada para saber coisas sobre ele... – admitiu, sentindo o habitual frio e nervosismo na barriga.

Claro. – concordou a idosa – Podes perguntar tudo o que quiseres.

Você... Conhece algum membros dos EXO? Para além do seu neto, é claro.

A velhota ficou um tempo parada, e sorriu. Fez um sorriso orgulhoso, mas ao mesmo tempo muito feliz, como se não estivesse apenas orgulhosa com o neto, e sim com ela própria. Parecia que sabia da sua sorte, de ser avó de quem era, e também de, supostamente, conhecer o resto dos membros do famoso grupo.

Não, não os conheço. – respondeu por fim – Mas eu já falei muito por telefone com um deles, o Chanyeol. Parece-me muito simpático, mas sabe pouco de inglês. Mas o meu Kris disse-me que, mal eu chegasse à Coreia, ia apresentar-me a todos.

A-A sério...? – Anna estava com muita inveja. Aquela senhora era praticamente uma desconhecida, k-pop não parecia ser o seu estilo de música, e mesmo assim iria ter o privilégio de conhecer todos os membros de um dos grupos coreanos mais famosos à face da terra. Os EXO. Quem mais teria uma sorte tão grande? Ser-se parente de um deles era um nível totalmente diferente... – E qual é a sua impressão de cada um deles? Quer dizer, já deve ter visto algum programa deles e assim.

Oh, parecem-me todos simpáticos! – exclamou contente – Mas os que me chamam mais a atenção são o Chanyeol, o líder... Qual é o nome dele mesmo?

Suho. – respondeu-lhe a portuguesa.

Sim, Suho! Mas também o tal de Chen e o... Hum... Aquele chinês...

O Tao? Ou o Luhan? Talvez o Lay?

Lay! É isso! – concluiu – Esses todos parecem-me bons rapazes. Boas companhias para o meu neto. – suspirou – Estou muito feliz por ele ter encontrado amigos e companheiros tão bons. Quando ele era pequeno recebia muito bulliyng na escola por ser metade chinês metade canadiano. Agora ele tem montes de fãs, é famoso e rico! O problema é que já não liga muito à família, mas fazer o quê? Há males que vêm por bem. – Anna riu-se da história da senhora, e sentou-se melhor na sua cadeira. O seu coração já não estava tão nervoso, e batia mais calmamente. Pensou que a velhota não tinha referido o nome do Kyungsoo, e isso entristeceu-a um pouco. Ele parecia assim tanto um mau rapaz? Ou talvez a avó do Kris não tinha reparado muito nele? Afinal de contas, ele também não era uma pessoa em que se repara assim muito, mas pronto.

A viagem continuou, por vezes com pequenas conversas, ou trocas de palavras. As pálpebras de Anna começaram a pesar cada vez mais, mas ela não queria dormir; tinha a avó de Kris ao seu lado, e não podia dar-se ao luxo de adormecer! Tinha de aproveitar aquela oportunidade enorme que montes de fãs nunca tinham tido! Além dela ser uma senhora simpática, não podia deixar de ser avó de um dos membros dos EXO. Anna só podia ter acordado cheia de sorte, pois estava com um plano na cabeça: tornar-se amiga da avó do Kris, para depois conhecer o seu neto pessoalmente, para depois finalmente este o apresentar ao amor da sua vida: Do Kyunsoo. Sim, ela sabia que estava a ser egoísta e maldosa, mas ele era o objetivo da sua vida! A razão que a fez sair do seu país para ir em direção a um país estrangeiro quase no outro lado do mundo. A sua razão de viver. E aquela... Era uma change em mil.

Podes adormecer, querida. Pareces muito cansada. – a voz da velhota fez com que ela se retirasse dos mais profundos pensamentos, e que se sobressaltasse no banco com o susto. Olhou para a senhora com simpatia e recusou educadamente, dizendo que estava bem, e que aguentaria até chegarem ao destino pretendido – Mas estás com um ar de sono! Devias dormir, ainda faltam muitas horas até lá. Não te preocupes que eu aviso quando chegarmos. – no fim, Anna aceitou tristemente. Na sua mente, aquela tinha sido apenas uma pequena sorte na sua vida que nunca mais iria acontecer. Ter conhecido a avó de Kris tinha sido um privilégio, mas era algo que iria apenas ficar guardado na sua memória, e que não se voltaria a repetir. Uma change de mil... Literalmente. Basicamente, Anna já se tinha convencido que, depois daquela viagem, teria de enfrentar a realidade: falar com a avó de Kris teria sido a primeira e última oportunidade de se aproximar dos EXO. Aliás, tinha sido o mais perto que conseguiria chegar ao pé deles. Depois disso, a vida continuaria a andar como se nada tivesse acontecido. Como se toda aquelas palavras, olhares e gestos nunca tivessem sido reais, ou tivessem sido feitos numa realidade muito distante. Ela pensou várias vezes se alguma fez teria a mesma sorte com o Kyungsoo.

Anna sabia que, mal acordasse, encontraria um mundo novo pela frente; uma vida nova pela frente. Seoul era o seu destino e a sua nova casa. Lá iria estudar ainda mais aprofundamente aquela língua que tanto amava; além de também esperava encontrar pessoas e amigos novos, que não a rejeitassem por ela ser uma estrangeira de um país praticamente desconhecido. Ela não queria apenas morar lá: queria ser uma pessoa de lá. Queria falar coreano; estudar a cultura coreana; viver na Coreia; ser coreana da cabeça aos pés. Apesar de não ter nascido lá, sentia que a sua mente não era portuguesa, e sim coreana. Talvez o destino quisesse que ela encontrasse a Ji, e se apaixonasse pelos EXO, seguida da Coreia, seguido do Do Kyungsoo. Sim, porque se não fosse esse cantor, Anna não teria andado mais de metade do mundo e abandonado a sua vida toda só para ir para um sítio respirar um ar totalmente novo.

O avião tremeu, e a última coisa que passou pela cabeça de Anna antes de adormecer foi que, quando acordasse, se sentiria como se estivesse a deixar escapar os EXO por entre os dedos. Como finos grãos de areia.

Continua


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Notas finais do capítulo

É agora k Anna vai começar a sua verdadeira vida :V
Ah, já agora, esta história da avó do Kris é td inventado; na vdd n sei nda da family dele
Até ao próximo cap! 0/ EXO, SARANGHAJA! ♥



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