O que tem por detrás da porta? escrita por Escr Taty


Capítulo 3
Capítulo 02 – A dúvida cruel: Quebrou ou não quebrou?


Notas iniciais do capítulo

Eu fiquei muito surpresa pela quantidade de visualização que a fic levou, pois não divulguei. Muito obrigada por terem vindo e espero que gostem ainda mais o/



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01 ano antes

— Beatriz, na minha sala agora mesmo.

Eu trabalhava como telefonista de marketing para um provedor de linha telefônica e internet. Tirei o fone e me afastei do cubículo que me pertencia e segui pela enorme sala repleta de outros cubículos, segui meu chefe para sua sala e me sentei na cadeira de frente à sua mesa. Ouvi ele fechar a porta e ocupar seu lugar.

— Beatriz, há quanto tempo trabalha conosco? Três anos? Dois?

— Seis anos, senhor.

Seis anos trabalhando como cal-center sem perspectiva de crescimento profissional. Não tinha problema, eu só queria terminar a faculdade e era o único trabalho noturno que pagava o justo... ou quase isso.

— Hum... seis anos... – balbuciou com o olhar focado em algo em cima da mesa. Era quase como se pensasse melhor.

— Sim senhor.

— Isso é bem mais do que eu esperava! – riu visivelmente incrédulo, pegou uma pasta marrom de papel, abriu e olhou os papéis com cuidado. Arregalou os olhos lentamente para, em seguida, se endireitar em sua cadeira e expor o bolo de papel para mim e o estendendo em cima da mesa. – Bom, Beatriz, nós estamos cortando pessoal e eu confesso que se soubesse que você trabalhava aqui há tanto tempo, teria te realocado, mas os papeis estão prontos e... enfim, sinto muito. Foi ótimo trabalharmos juntos.

Parei de olhá-lo nos olhos e vi minha rescisão já assinada pelo presidente da sede. Levei os dedos trêmulos às folhas azuis e quadriculadas e analisei cautelosamente os números.

— Este... este é o valor que vou receber por esses anos?

— Isso mesmo. É bem considerável se você for parar para pensar.

Não respondi. Ele abriu uma gaveta ao lado dele e retirou um malote azul do banco Federal, abriu e retirou um maço de notas de cem.

— Pode conferir, por favor? Aqui está uma calculadora para que você não se perca. Enquanto você faz isso, eu irei pegar a sua carteira no andar de cima.

Assenti com a cabeça e o vi se afastar, antes de fechar ouvi ele dar uma ordem de que ninguém poderia entrar em sua sala até ele voltar. Infelizmente, para a empresa, eu havia me formado em contabilidade. Era recente, coisa de dois meses, mas no meu estágio eu havia trabalhado com muitas rescisões. Então, ao invés de contar o dinheiro, usei a calculadora para verificar os dados. Quando terminei de fazer todas as contas, constatei que faltava em torno de R$500,00, um salário mínimo tributado pelo INSS, mas deduzi que eles estavam descontando o mês de aviso prévio, que visivelmente eu não faria. Por isso, deixei para lá.

Contei o dinheiro o mais rápido que pude e o deixei em cima da mesa. Então ouvi a porta abrir e ouvi a voz do meu chefe.

— Certo, certo. Pede para ele esperar, por favor – Ele fechou a porta e deu a volta à mesa e se sentou com minha carteira em mãos. – E então, tudo certinho?

— Está sim.

— Ótimo, não sei se viu, mas anexamos uma carta de recomendação pelos seus ótimos serviços prestados.

— Obrigada.

— Ah não, não precisa agradecer... foi uma honra para nós.

— Uma honra... acredita nisso? Uma honra o escambal! Eu trabalhei seis anos para eles, seis anos! E só porque conclui a faculdade eles me dispensam para não pagar mais.

Fazia umas três horas que eu tinha saído da sala dele, pegado meus poucos pertences e ido direto para minha casa morrendo de medo do assaltante me escolher naquela noite e tirar a sorte grande.

Depois de esconder bem o dinheiro, fui para o bar encher a cara. Na roda de amigos estava o Gui, Sarah, Anastácia, Joana e Kevin.

— Bia, foi a melhor coisa de se fazer. Você não aguentava mais aquela coisa mesmo! – disse Joana. Ela era mais baixa do que eu, tinha 1,60M de altura e se vestia como uma estudante. Seus cabelos eram curtos, um pouco acima dos ombros, castanhos e cacheados. Sua pele branca como o papel entrava em contraste com os lábios finos e rosados. — Agora você pode trabalhar como contadora e receber bem melhor.

— Verdade. Pode pegar o dinheiro que ganhou e abrir um escritório! – afirmou Sarah, minha melhor amiga para toda a vida. Ela tinha cabelos negros compridos e levemente encaracolados, olhos castanhos escuros, era magra e tinha seios grandes presenteados por Deus. Sua pele era da cor do café com leite, só um pouco mais escuro. Não fazia questão nenhuma de esconder sua cintura de pilão em roupas que a deixava com ar de inocente.

— Por favor, não recebi tanto assim.

Olhei para o lado e vi Guilherme me analisar com cautela. Ele conhecia cada pedacinho meu e sabia o quão definhando eu estava. Fazia um ano que havíamos nos separado. Seis meses depois da separação, ele insistiu que eu deveria achar alguém para cuidar de mim, óbvio que não o fiz.

— Certo, tenho um presente para você – disse depois de muito me analisar. Guilherme era mais alto do que eu, com 1,75M. Tinha braços não tão bem traçados como os de quem vive na academia, mas fortes o suficiente para me fazer ver estrelas toda vez que me abraçava cheio de amor. Seus cabelos eram louros e lisos, mas não deixava o cabelo crescer muito além da nunca, por isso, volta e meia estava passando as mãos neles para jogá-los para trás.

— Que presente?

— Já está chegando... está se aproximando...

Segui seu olhar para a porta de entrada do bar e não consegui ver o que quer que ele estivesse olhando. Havia muita gente entrando e saindo, mas só um vinha em nossa direção.

— Eu não acredito... Eu disse que não quero ninguém, Guilherme!

— Ah, por favor... Ele é gente boa e está louco para um compromisso sério e duradouro. A melhor parte.

— Ele é gostosinho! – disse Sarah.

Dias atuais

Olhei para o monitor com uma ligeira dor na consciência. Não conseguia expor, deforma coesa, a tutorial que havia prometido para as minhas leitoras e começava a entrar em desespero. Escrever só não era suficiente, era preciso mostrar, mas por fotos... seriam tantas fotos que nem compensava.

Suspirei pensativa, minha câmera do celular tinha uma qualidade tão ruim para gravar... e então a ideia me veio como um tapa na cara. Cauã tinha dúzias de câmeras de qualidade com lentes perfeitas e, provavelmente, microfones embutidos que se sairiam mil vezes melhor do que o microfone do meu celular.

Ele havia me dado uma cópia das chaves de seu apartamento, embora a gente quase nunca vá lá. Calcei minha sandália gladiadora, peguei minha mochila e resgatei o molho de chaves saindo apressada de meu apartamento. Não havia tempo para perder.

Desci as ruas de São Carlos às pressas, para chegar ao meu destino era preciso tomar o metrô, mas naquele horário estava vazio. Quando finalmente cheguei em seu apartamento – minúsculo, por sinal – eu não havia ainda percebido de que havia assinado minha venda.

O apartamento dele era dividido quase como uma kitnet. A sala era dividida da cozinha por um balcão com mármore branco. A sala era minúscula, não cabia um conjunto de sofá com um raque simultaneamente, por isso, havia apenas uma estante cheia de livros e fotografias, uma TV, um tapete com algumas almofadas e uma pequena mesa redonda de madeira ao lado da porta. A cozinha, que eu carinhosamente chamava de beco, tinha todos os móveis compactados para aquele espaço, exceto a mesa, essa coita nem poderia pensar em entrar ali.

Avancei pela lateral da cozinha e entrei em uma porta já aberta. Era o quarto e era nele que também ficava o banheiro. Não me apeguei aos detalhes, só tinha estado ali uma vez e naquela vez também não olhei muito. Fui direto ao armário de mogno branco no canto do quarto e que ocupava toda a parede, sabia que era ali que ele guardava seu material de trabalho, pois foi ele mesmo quem havia me mostrado. Ao abrir as portas de correr, foi como estar no paraíso! Eram tantos cabos, câmeras, lentes e tripés que me dei ao luxo de escolher uma com bastante calma.

Optei por uma preta, Nikon, com uma lente maior que um palmo. Peguei um tripé – que astutamente testei se aguentava o peso da câmera –, verifiquei qual era a sua bateria, carregador e cabos e em seguida pus – burramente – dentro da minha mochila. O tripé era de mesa, logo, coube direitinho.

Só quando eu estava no metrô sendo massacrada pela massa de gente que queria almoçar, foi que me lembrei de que a lente poderia partir ao meio e então o desespero me assolou quando um homem esbarrou nas minhas costas. A partir dali coloquei a mochila jeans contra meus peitos e a abracei como se protegesse um bebê. Era um bebê, se você parasse para pensar, mas um bebê de R$3.000,00 e que não me pertencia. Nunca rezei tanto para que Cauã não ficasse bravo comigo caso a lente ou a câmera toda tivesse quebrado.

Meu desespero só se fez maior quando cheguei em casa e vi a mala dele jogada encima do meu sofá grafite. Ouvi o barulho do chuveiro e o desespero continuou latente dentro de mim. Me sentei abrindo a mochila devagar, mas quase a deixei cair no chão devido ao susto.

— Olha só quem chegou mais cedo!

O que me impediu de derrubar a mochila foram os braços de Cauã que me envolveram protetores e amorosos. Senti seus lábios na minha bochecha e respirei o cheiro do meu sabonete que vinha dele.

— Ah... vo-você chegou!

— Não vai me espancar? O que você tem aí? Está escondendo o quê de mim?

Ele sorriu travesso e eu, pela primeira vez na minha vida, senti o sangue gelar de ansiedade e medo só de ver aquele homem sorrindo para mim. Será que se tivesse quebrado, ele teria pena de mim? Duvidava que minhas calças estivessem secas naquele momento.


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Notas finais do capítulo

Ei, agora a história começa de verdade :D
Se gostar, não deixe de me contar o que achou do capítulo ^^