Luna e Victor escrita por LarissaLindolpho


Capítulo 4
Capítulo 4




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/631936/chapter/4

Minha mãe fez um pequeno interrogatório, antes de liberar minha saída. Afinal, - ela tinha dito - eu nunca saia de casa às terças, porque sempre estava cansada demais para dar um passo que fosse. Mas eu usei O Tempo e o Vento para lhe convencer de que precisava da ajuda de papai para compreender um capítulo, que realmente havia me deixado confusa sobre o desenrolar da história. Quando disse que minha resenha valeria boa parte de minha média final, ela finalmente cedeu.

– Tudo bem. Mas tinha planos para nós duas. Assistirmos à sessão da tarde debaixo das cobertas - ela disse, fingindo decepção. Era realmente tentador, eu reconhecia. Mas fui forte o bastante para manter minha pequena mentira e sair de casa o mais rápido possível.

Levei quase uma hora, porque optei por transporte público, o que levando em conta todas as paradas obrigatórias, era praticamente impossível prever o horário em que chegaria ao meu destino.

Ao entrar na livraria, meu pai veio me receber.

– Você não poderia tirar sua dúvida quando chegasse em casa? - ele perguntou, cruzando os braços.

– Bom...

– Nem se dê ao trabalho de explicar. Sim, sua mãe ligou. E sim, vou sustentar sua mentira. O garotão já está a sua espera, logo ali, na sessão de fotografia.

– Já lhe disse que você é o melhor pai do mundo?

– Diversas vezes, - ele riu, beijando minha testa - mas nunca me canso de ouvir.

Enlacei meus braços em volta de sua cintura, e o abracei, agradecida. Senti seus olhos protetores seguindo meus passos ansiosos na direção da sessão de fotografia. Talvez meu pai estivesse pensando que cresci rápido demais, sem que ele notasse. Talvez estivesse sentindo uma pontada de ciúmes, por minha atenção estar voltada para um homem que não fosse ele, pela a primeira vez.

Nós dois não sabíamos lidar bem com isso.

Avistei Victor, antes mesmo de me aproximar o bastante. Ele estava sentado no chão, sobre o piso brilhante e escorregadio do salão. Suas costas se apoiavam em uma imensa prateleira, enquanto folheava um espesso exemplar de fotografia. Ao seu lado, como um companheiro, estava um o skate.

Permaneci alguns minutos ali, observando-o. Até seu olhar se erguer do livro, em minha direção.

– Pensei que você tinha desistido - ele disse rindo, sem dar sinais de que iria até mim.

– Não perderia a chance de te castigar.

– Claro, o castigo.

Andei até ele, e ao me aproximar, ele levantou-se para me beijar no rosto.

– Deixe eu ver isso - falei, arrancando o livro de suas mãos, como achava que uma princesa furiosa deveria agir diante de um plebeu criminoso. Folheei o livro, sem sequer olha-lo de verdade - Qual a parte de overdose literária o senhor não compreendeu?

– As fotos me interessam mais que as imagens - disse desafiador, entrando na brincadeira.

– O senhor faz muito mal agindo assim. Parece desejar que seu castigo seja muito pior, lento.

– Acho que então Vossa Alteza devia dizer a sentença.

Eu pensei por um minuto.

– Vou lhe contar sobre meus livros favoritos. E depois, para que seu crime seja perdoado, deve ler um deles, o de sua escolha.

– Nada de chibatadas ou forca?

– Nada.

– A Bela Adormecida é realmente uma princesa justa.

– Claro que sou. E para ser meu amigo, no mínimo, você precisa ler um livro.

– Não estava nos meus planos ser seu amigo, mas já que insiste. Pode começar o castigo - ele engoliu em seco, teatralmente - Eu aguento.

Eu ri e sentei no chão. Ele fez o mesmo, de modo que seu skate era a única coisa que separava nossos corpos.

Prometi a mim mesma que não falaria sem parar, mas era difícil conter a empolgação quando o assunto era livros. Contei para ele sobre a primeira série que li, Sítio do Pica-pau Amarelo de Monteiro Lobato. Antes que ele começasse a zombar de mim, expliquei que ainda era pequena e tinha acabado de ser alfabetizada. Foram meus primeiros livros, então foram muito importantes.

Depois foi a vez das histórias bíblicas, quando entrei no catecismo. Eram dividas em livrinhos e eram coloridas. Eu nunca esqueci a história da rainha Ester desde então. Em seguida, descobri a saga Harry Potter – Não acredito que você lia isso!, disse ele, me censurando. Preferi não perguntar o porquê, ou discutiríamos - O próximo foi Confissões de adolescente, embora algumas partes tenha sido desconcertantes, para minha mente de nerd-boca-virgem.

O Diário de Anne Frank foi praticamente na mesma época da saga Crepúsculo, eu confessei a Victor que levei apenas duas semanas para ler todos os volumes, mas ele duvidou, como já esperava - Você quer mesmo discutir o que o termo vampiro significa?- Victor perguntou, inconformado. Então revelei que também sofria de uma pequena paixão platônica por Edward, embora Jacob também fosse uma opção em tanto. Ele bufou. Na sequência vieram o Caçador de Pipas , O menino do pijama listrado e A menina que roubava livros - Sim, eu tenho fixação pela a Segunda Guerra Mundial. E sim, eu sempre choro lendo esses livros! - admiti e Victor balançou a cabeça.

Tentei resumir cada história acrescentando minhas sensações sobre cada uma delas.

Por fim, lhe contei sobre A Cabana e A Culpa é das estrelas. Lhe disse, que ainda estava em dúvida sobre qual deles era o meu favorito. Talvez eu tivesse uma queda maior pelo A Cabana.

– Então, qual deles você vai ler? - eu perguntei, com a garganta ligeiramente seca por ter tagarelado sem parar.

– Surpresa.

– Vai mesmo ler, não vai?

– Por você, eu leio.

Eu sabia que ele olhava diretamente para mim, mas foquei na estante de livros a minha frente. Parte de mim, sabia que não era seguro encara-lo por muito tempo. Até porque, eu ficava vermelha demais para suportar que ele notasse.

– Mas precisará me provar que está realmente lendo.

– Vou te passar um relatório completo, todos os dias, assim que começar a ler. No horário que você escolher.

– Minhas noites são sempre um tédio. Pode ser todas as noites, ás vinte. Mesmo nos dias de sessões.

– Mesmo nos dias de sessões - ele repetiu, então conclui que parecia o momento certo de olha-lo nos olhos - Encare isso como uma promessa.

Meu pai pigarreou, me fazendo assustar.

– Victor, tenho uma tarefa para você - meu pai disse, lhe entregando uma nota de cinquenta reais - Faça essa garota rebelde se alimentar.

Victor achou graça e pegou a nota.

– Pai! - protestei confusa.

– Não preciso lhe dizer que sua mãe ligou para avisar que não havia comido nada.

– Deixe comigo, senhor Fernando - Victor se levantou como se diante dele , em vez de meu pai, estivesse um general do exército.

– Eu confio em você.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Luna e Victor" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.