As Máscaras de Sakura escrita por Siryen Blue


Capítulo 39
Segunda Fase: Nostalgia


Notas iniciais do capítulo

Enjoy!



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Meu coração batia descompassado. Era como se eu estivesse congelada no lugar.

Konoha. Eu estava em Konoha.

Ao meu lado, Gaara foi o primeiro a levantar e pegar seus pertences, pronto para sair do jatinho.

Eu não movia um músculo.

Isso era real. Eu estava mesmo em Konoha.

Não tem mais volta.

"Sakura?" Karin me chamou. "Precisamos ir."

Percebi que todos me olhavam com apreensão.

Gaara segurou minha mão, tentando transmitir forças. "Vamos, Maluquinha."

Juntei o que pude de coragem e me levantei, com as pernas bambas.

Não imaginei que a sensação de voltar para casa fosse tão apavorante.

"Você está bem?" Itachi perguntou.

Olhei para ele, que parecia tão gelado quanto eu. "Você está?" Retruquei.

Nem eu, nem ele, sabíamos responder.

"É pela sua mãe." Karin me lembrou.

Respirei fundo.

Sim. Pela minha mãe. Eu preciso fazer isso.

Eu consigo. Consigo.

"Vamos lá."

Tomei a frente e rumei para fora do jato, encarando o campo de aviação da minha cidade pela primeira vez em anos.

Havíamos avisado o pequeno aeroporto de Konoha sobre a minha chegada e conseguido um local de pouso numa de suas pistas – enfatizando o pedido de discrição.

À primeira vista, tudo ainda era do jeito que eu me lembrava, no entanto, o sentimento de estar de volta era surreal.

Mas foi quando eu terminei de descer as escadas do jato que meu coração recebeu o baque que faltava para fraquejar de vez.

"Kabuto?" Minha voz saiu num sussurro.

A alguns metros à minha frente, o médico jovial de cabelos brancos me aguardava com um pequeno sorriso em seu rosto cansado.

Meus olhos se encheram de lágrimas no momento em que o vi abrir os braços para mim. Não pensei duas vezes antes de correr em sua direção e me jogar em seus braços.

Agarrei-me a ele, cheia de saudades e culpa. Saudades pelos anos que passei distante, e culpa por ter me afastado tanto de alguém que era nada menos que família para mim. Eu queria pedir perdão e dizer que nunca tinha sido minha intenção ficar tão ausente, mas eu nunca fui a melhor em explicar sentimentos ou corrigir erros. Então eu apenas o abracei, como se nunca mais fosse o largar.

Kabuto afagou minhas costas e um nó se formou na minha garganta.

"Voltei para casa." Disse, com a voz embargada.

"Bem-vinda de volta, criança." Senti um beijo sendo depositado na minha testa. Ele desfez o abraço e passou o olhar por mim. "Olha só como você cresceu!"

"Você costumava ser mais alto." Brinquei com o fato da nossa diferença de altura ter diminuído.

"Você que era baixinha demais!" Ele deu de ombros.

Sorri, limpando o canto dos olhos.

"Kabuto, meu amigo." A voz de Tsunade se fez presente, fazendo-nos virar em sua direção.

"Senju. Quanto tempo." O médico sorriu, acenando com a cabeça. "Obrigado por ter me avisado o horário de chegada."

"Não foi nada." A loira deu de ombros.

Em seguida, Kabuto cumprimentou cada um dos recém-chegados com sua tão inconfundível polidez.

Eu não me aguentei e o abracei novamente, arrancando uma singela risada sua.

"O quão americanizada você está, exatamente?" Kabuto perguntou, em tom divertido, referindo-se ao fato de que japoneses não têm o costume de abraçar assim.

"Eu só estava com saudades de você." Fui sincera.

"Eu sei." O médico me envolveu. "Eu também, pequena."

*

*

*

Saímos do aeroporto em veículos separados. Kabuto e eu estávamos sozinhos e em silêncio no carro dele. Havia tanta coisa passando pela minha cabeça e o médico parecia entender que eu precisava de um tempo.

Não parecia real estar de volta. Eu me sentia numa verdadeira viagem ao passado enquanto olhava as ruas de minha cidade natal pela janela do carro. As lembranças inundavam a minha mente sem parar.

Era estranho como tudo permanecia do jeito que eu me lembrava, quase intocado.

Os rostos daquela cidade me eram absurdamente familiares. Estava tão habituada às multidões sem nome das cidades grandes que o fato de pode nomear a maioria dos rostos que via nas ruas da pequena Konoha chegava a me surpreender.

No momento em que passamos pela minha antiga escola, a enxurrada de lembranças quase me fez perder o fôlego. Lembrei-me de Sasuke e eu indo para a escola juntos por dez anos, de meus antigos amigos nos esperando no pátio do colégio, das risadas e dos choros. Lembrei-me do time de futebol no qual meus amigos jogavam e também dos tantos professores que passaram pela a minha vida.

Antes que pudesse controlar, uma lágrima me escapou.

Ainda consegui pegar um vislumbre de Tomoya-san, o porteiro que nunca nos deixava entrar depois do horário – nem que fosse apenas um minuto – e sorri. Era tudo tão nostálgico.

Ao passar pela a praça na qual também criei tantas memórias, a visão de Maki-san, a gentil sorveteira de meia idade, encheu meus olhos com mais lágrimas. A minha vida tinha mudado tanto e dado tantas voltas, mas ela continuava ali, no mesmo lugar em que a vi da última vez, como se tudo estivesse intacto.

"Pare aqui, Kabuto." Pedi. "Só por um momento."

O médico não questionou e encostou o carro.

"Cuidado. Você não é mais uma pessoa comum, Sakura." Ele disse, ao perceber as minhas intenções.

Não respondi, apenas coloquei o capuz do meu moletom branco e minha máscara e saí do carro.

A praça estava pouco movimentada, e as pessoas que ali estavam permaneciam imersas em suas próprias atividades, sem me notar.

Aproximei-me de Maki-san, atraindo a sua atenção. Ela tinha mais rugas do que eu me lembrava.

"Olá, jovem." Ela me deu um sorriso carinhoso. "O que vai querer?"

Precisei engolir o nó em minha garganta para forçar minha voz a sair. "Uma bola de baunilha, por favor."

Maki-san me lançou um olhar profundo. "Eu conheço essa voz. E conheço esses olhos e cabelos." Alargou o sorriso. "No copo, como sempre?"

Pisquei, surpresa. Ela sabia?

"Ah, criança." A senhora começou. "São vinte anos vendendo sorvete no mesmo lugar. Eu conheço e reconheço cada alma dessa cidade. E você compra sorvetes de mim desde que usava fraldas."

O nó em minha garganta voltou a aparecer. "M-Maki-san..."

"Então... No copo?" Ela sugeriu.

"No copo, como sempre." Respondi.

"Você nunca gostou da casquinha não é mesmo?" A sorveteira riu, colocando a bola no recipiente de plástico. "Algumas coisas nunca mudam."

Como a senhora, pensei.

Maki-san me entregou o sorvete, mas quando fiz menção de tirar o dinheiro do bolso, ela negou com a cabeça, parando-me. "Faz muito tempo que você não toma do meu sorvete, então esse é por minha conta."

Achei que seria errado de minha parte não aceitar sua gentileza. Então, apenas sorri – ainda que ela não pudesse ver por conta da máscara – e agradeci, acenando-lhe uma despedida enquanto voltava para o carro.

"Tudo bem?" Kabuto perguntou, dando partida no veículo.

"Tudo... Nostálgico." Respondi-lhe, tomando um pouco do sorvete. Até o gosto me trazia nostalgia.

E enquanto continuávamos nosso caminho, peguei-me pensando que não havia sorvete de baunilha mais gostoso que o de Maki-san.

*

*

*

Kabuto conseguiu agilizar o aluguel de um apartamento para mim no prédio em que ele morava. Tsunade também alugou o mesmo lugar em que morou da primeira vez que veio a Konoha, então ficaríamos todos no mesmo andar.

Karin e Itachi ficariam comigo. Shizune com Tsunade, Sai na casa de sua família e Temari com Gaara – os Sabakus iriam usar o antigo apartamento do ruivo, que ficava há algumas quadras de distância do meu.

"Eu quero ir logo para o hospital, Kabuto." Falei, enquanto o médico e Itachi terminavam de subir com as malas.

"Você precisa saber de uma coisa antes." Ele disse.

"O quê?"

"Bom... Quem tem ficado no hospital com a sua mãe são Ino e Mikoto-san."

Pisquei, sem reação. Itachi, por outro lado, derrubou a mala quando ouviu o nome da mãe e me lançou um olhar um tanto amedrontado.

"Já que não havia ninguém da família por perto, elas se disponibilizaram a ajudar e se revezam no hospital." Kabuto continuou.

Eu não sabia como reagir. Reencontrar pessoas com quem um dia tive laços era inevitável, uma vez que eu estava de volta. Mas não tinha certeza se estava preparada. Havia essa grande parte covarde de mim que eu odiava e nunca desaparecia.

"Bom, a Ino sempre foi mais próxima de minha mãe até do que eu." Falei. "E Mikoto-san é sua amiga."

"Você sabe que não pode se esconder por muito tempo, mas eu posso arranjar para tirar elas de perto enquanto você estiver lá." O médico sugeriu.

"Não. Tudo bem. Eu vou enfrentar isso." Respondi, decidida.

Chega de ser covarde.

*

*

*

Itachi tinha decidido não vir comigo. Ele ainda precisava de um pouco de tempo para organizar a confusão em sua cabeça e decidir como iria conversar com a família.

De capuz e máscara fui acompanhando Kabuto hospital adentro.

Minhas mãos tremiam de nervosismo e meu coração batia acelerado, antecipando o que vinha pela frente.

E se eu desse de cara com Mikoto-san? Como eu iria enfrentá-la sabendo que passei os últimos quatro anos do outro lado do mundo ao lado de Itachi enquanto ela sentia sua falta?

Pior... E se fosse Ino que eu encontrasse? Depois de tudo que aconteceu e do meu distanciamento e mentiras...

Não. Não posso pensar assim. Eu sou Haruno Sakura! Meu nome tem peso, não posso abaixar a cabeça e fugir como se ainda fosse uma menininha de quinze anos assustada com o mundo. Eu tinha me tornado melhor que isso!

Ergui a minha cabeça e andei como a mulher forte que eu sei que sou.

Repito: chega de ser covarde.

Kabuto continuou me guiando e entramos na UTI.

Eu chamava atenção. Não tanta, mas o suficiente para receber alguns olhares duradouros de funcionários e pacientes. Não me deixei abalar. Só o que importava agora era a minha mãe.

"É aqui." Kabuto parou em frente à uma porta. "Coloquei sua mãe no único quarto individual disponível da UTI. Aparentemente, nem Ino nem Mikoto-san se encontram, já que não as vi no caminho e certamente não estão aqui na UTI, uma vez que o horário de visitas já passou. Talvez estejam na lanchonete."

"Tudo bem."

"Eu vou deixar você entrar, mas são só alguns minutos, Sakura. Você não pode demorar. Amanhã, no horário certo, você pode ficar mais."

Acenei positivamente com a cabeça.

"Eu vou estar bem aqui, caso precise de mim." Ele afagou meu ombro.

Meu corpo tremia e eu me obriguei a respirar fundo, enquanto Kabuto me dava passagem e eu abria a porta.

Mãe.

Meu coração foi aos pedaços.

A visão da minha progenitora era terrível e me trouxe lágrimas aos olhos.

Adentrei o recinto com cautela. Deus! Ela estava tão acabada, tão indefesa, e com tantos fios ligados ao seu corpo...

"M-Mãe..." Minha voz estava quebrada devido ao nó em minha garganta. "Ah, mãe..."

Aproximei-me com o maior cuidado possível. Eu tinha medo de fazer algum movimento brusco e algo ruim acontecer.

O rosto de minha mãe estava bem mais velho do que eu lembrava. Talvez 'velho' não fosse a palavra certa, e sim exausto.

Tinha algumas rugas e linhas de expressão das quais eu não me lembrava. Ela era mais nova do que aparentava ser.

Solucei. Doía tanto vê-la assim que eu podia jurar que meu coração estava sangrando.

"Quem fez isso com a senhora, minha mãe?" Perguntei, ousando acariciar seu rosto.

Por quê? Por que alguém faria algo assim com ela? Eu não conseguia entender.

"A senhora vai sair dessa." Segurei sua mão. "Eu sei que vai!"

Eu já havia ficado numa situação parecida e conseguido sobreviver. Ela também conseguiria, afinal, era a minha mãe.

Depositei um beijo em sua testa. Eu queria abraçá-la, mas seu corpo estava tão frágil que eu não me atrevia.

Agachei-me ao seu lado ficando de joelhos enquanto apertava sua mão.

"Perdão, mãe." Solucei. "Perdão por não ser a filha que a senhora queria e perdão por não ter estado aqui." Derramei mais uma lágrima. "Mas eu estou aqui agora, mamãe. Eu voltei."

Voltei pela senhora.

*

*

*

Depois de alguns minutos, realmente precisei deixar a UTI. 

Kabuto me abraçou quando saí e fiz o possível para secar minhas lágrimas. Os olhares curiosos que eu recebia estavam me irritando.

"Eu quero ficar um pouco sozinha." Funguei. "Posso ir para o terraço?"

"Claro." Ele afagou meus cabelos. "Espero por você lá na minha sala."

"Ok."

Segui para o lugar mais alto do hospital sem demoras. No passado, quase todas as vezes que eu vinha visitar Kabuto passava por lá.

Era tranquilo, aberto, alto e ventilado. Trazia-me paz.

Subi as escadas o mais rápido que pude e escancarei a porta do terraço, sendo recebida pelo vento e pela luz do sol.

Arranquei a máscara e abaixei o capuz, fechando o os olhos quando senti o vento balançar meus cabelos. Foi como se eu tomasse uma dose de alívio.

Ah, senti falta desse lugar.

"Sakura?"

Parei.

Todo o meu corpo se retesou ao ouvir aquela voz. Um calafrio me percorreu dos pés à cabeça.

Abri meus olhos por puro impulso e virei o rosto na direção de quem me chamava.

Naquele momento, a descarga de emoções que me atingiu foi como um raio, deixando-me zonza.

Talvez tenha sido a surpresa, mas meu coração bateu tão forte que foi um milagre não ter parado.

Eu estava petrificada.

Porque era ele. Depois de tanto tempo e com tudo que ele representava.

Era ele.

Ele.

Uchiha Sasuke.


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Notas finais do capítulo

Yo! Espero que tenham gostado! Vejo vcs em breve!

XOXO