Aqueles óculos escrita por julian watsuk


Capítulo 1
AQUELES ÓCULOS




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AQUELES ÓCULOS

 

Fevereiro de 1941

Textos e Ilustrações: J.J.Barbosa

 

Eu nasci pela segunda vez aos doze anos, em um dia chuvoso e gélido do inverno de 1941. Foi há muito tempo, em um passado distante que o tempo não fez questão de esquecer.

Lembro do momento exato em que isso aconteceu.

Agachado atrás de uma parede falsa espiei adiante, pingos de chuva escorriam sobe a vidraça. Pela janela semi-aberta vi meu pai descer junto aos outros, debaixo de uma forte chuva. Dirigiu-se a uma fileira de soldados, conversaram assim debaixo de chuva por um instante, até que por fim, inesperadamente, o oficial a sua frente deu lhe um soco, papai caiu no chão diante de todos. Com os olhos perdidos, levantou-se e tentou recompor-se, estava visivelmente transtornado, ele ajeitou seus óculos e enfileirou-se junto aos outros, apertando forte o peito, exatamente onde havia aquela estrela. Aquele pequeno grupo de pessoas cujo qual papai fazia parte perecia terrivelmente alarmado. Uma mulher chorava segurando pelos dedos seu pequeno filho, enquanto outros sentiam a chuva e oravam aos céus.

Ao som de um apito, os soldados alinharam-se em frete ao pequeno grupo de pessoas, à multidão retraiu-se. Repentinamente, ao som de um segundo apito, um ruído seco e desigual rompeu-se no ar, tenebrosamente veio bater contra o pequeno grupo de pessoas como dezenas de flechas, os vultos caiam lentamente entre as descargas de sangues e gemidos, papai dobrou os joelhos e tombou lentamente. Houve enorme agitação, enquanto os cadáveres permaneciam calmos diante da agitação alarmada dos vivos.

Naquele momento senti dentro de mim, um misto horrível de ódio e medo, não chorei ou se quer sai correndo atrás dele, em minha perplexidade permaneci imóvel no mesmo lugar ao qual papai havia me escondido.

O caminhão da SS recolheu todos os corpos e se foi. E antes que o carro dobrasse a esquina, sai do meu esconderijo e encostei-me a janela, e tudo que vi então foram àqueles óculos salpicados de sangue, vertendo lagrimas de sonhos perdidos.

No dia em que todos os caminhos conduziram a morte, meu pai lançou-me à vida.

 

 

 

 

 

 


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