She Tastes Like Nicotine escrita por Pearl_Angel


Capítulo 1
Ela tem gosto de nicotina


Notas iniciais do capítulo

Eu escrevi essa história há um tempinho e, como gostei bastante, decidi postar aqui. É um pouco longa, então respirem fundo e venham comigo!



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— Eu acho que eles se amam. — Nora se inclina na cadeira e acende o terceiro cigarro da noite. — É loucura. O jeito como eles olham um para o outro. Eu nunca vi isso antes. Nem mesmo com o Harvey e a Sue. Eles ficaram quase trinta anos juntos e eu nunca vi eles se olharem desse jeito.

— Você não está falando sério. — Nick está com a voz grogue. Ele não costuma beber de terças-feiras, mas abre uma exceção essa semana e ela não sabe o porquê. Ele apenas apareceu em sua porta, com um engradado de cervejas na mão, e ela deixou-o entrar. — Há menos de um ano eu prendi Ethan Crawford porque ele estava tentando abrir a cabeça do seu irmão com um taco de baseball e agora você me diz que eles estão apaixonados?

— Eu disse que é loucura. — Ela sopra a fumaça e tosse. Isso pode matá-la, ela sabe. Sabe tão bem que teria proibido os cigarros dentro de casa se algum de seus irmãos fosse obedecê-la. Faça o que eu digo, não o que eu faço, era assim que tentava cuidar da casa. Ela cometia os erros — todos os erros — e esperava que eles fossem mais espertos.

— Eu acho que já está rolando há um tempo. — ela confessa— Eu sempre soube que ele era gay e que não era nenhum virgem, mas... Mas um dia ele entra pela porta com Ethan Crawford atrás de si e não diz nada. Ele está praticamente morando aqui em casa agora.

Ela ergue os olhos para o segundo andar. Eles estão no quintal e, de onde está, Nora consegue apenas ver a janela do seu quarto e a do de Jerry. Todas as luzes estão apagadas. Os dois mais velhos trabalham pela manhã e os mais novos nem sempre aguentavam passar da meia noite. Nora mal se lembra da última vez que ela foi para cama antes das duas da manhã.

— Eles são tão opostos. — Ela não sabe se é o álcool, ou se é Nick. Talvez uma combinação dos dois, mas, de repente, ela está falando, dizendo tudo que vem perseguindo-a durante a semana. — Riley é a porcaria do sol, você sabe disso. Eu não sei se é a tal da síndrome do filho do meio, ou o quê, mas ele é animado e vibrante e tem notas ótimas na escola. E Ethan é a noite, ele é misterioso e indecifrável e cheio de perigos. Caramba, ele até tem a palavra tatuada no braço. Talvez os opostos se atraiam mesmo e essa coisa de "compatibilidade" é estupidez.

— Você que é o sol, Nora. — Nick tem um jeito esquisito de dizer o nome dela. São apenas duas sílabas. NO-RA, mas ele sempre as alonga como se fossem o mais belo som do mundo. É um apelido. Ela odeia quando a chamam de Eleanora. Ela se lembra do quinto ano, ela se lembra de quando os professores a encaravam de cima para baixo, para aquelas roupas manchadas, os ossos quase visíveis sobre a pele clara. Ela não estava comendo o suficiente e eles sabiam disso, eles viam isso, mas não faziam nada. Ela não era a única criança que não estava comendo o suficiente. "Eleanora, para o quadro negro, por favor". Seus dedos tremiam. Como ela poderia saber o resultado, se mal sabia escrever o próprio nome? Ela odiou o quinto ano, e o próximo, e todos os outros até ela finalmente desistir da escola no Ensino Médio. — Todos os outros são astros que giram a sua volta. Você que os dá vida.

Nora quase ri. Ele parece estar citando os versos ruins de uma canção.

— O que está te incomodando de verdade? Que ele se case?

— Eu iria morrer. — ela brinca.

— Antes de você?

Ela dá de ombros. Casamento é apenas para aqueles que se amam. Nora não acredita no amor. Ela nunca viu histórias de amor terminarem em finais felizes. Esse tipo de amor romântico, glorificado pelos filmes, não existia. Havia o amor entre uma família — Harvey e Sue podiam não amar os filhos, mas Nora, definitivamente, amava os irmãos — e o amor entre melhores amigos. Apenas isso. E nem mesmo Riley e seu novo namorado problemático poderiam mudar isso.

Ela olha para Nick. O cabelo loiro dele está comprido, quase caindo sobre seus olhos. Ele sempre corta em estilo escovinha, como no Exército. Nick tem história com o Exército. Ele fugiu de casa aos dezesseis para se alistar e, quando retornou dos quatro anos obrigatórios, nunca tentou ir embora novamente. Ele não fala sobre o que aconteceu e Nora não pergunta. Ela criou essas teorias malucas de que, talvez ele tenha matado alguém, algum soldado das frontes inimigas, ou uma mãe inocente que só tentava voltar para casa.

Os olhos de Nick são azuis. Ela gosta deles. Pela milésima vez, Nora se pergunta por que as coisas não poderiam dar certo com ele. Eles tentaram. Durante duas semanas, as coisas quase desabaram. Nick era legal, atencioso e já estava familiarizado com todos os problemas da vida dela; mas eles são só amigos e funciona.

— Eu tenho medo de que Ethan parta o coração dele. — Ela dá outro trago no cigarro. A fumaça faz cócegas no seu nariz. — Ele é sensível. Sofreu até quando a Sue morreu. Que dirá quando alguém com que ele se importe de verdade o abandone?

— Talvez ele seja um cara legal por trás de todo aquele palavreado chulo. — Nick dá de ombros. — Talvez ele seja o típico caso de bad boy com coração.

— Todos os caras são babacas. — Nora encosta a cabeça no ombro dele. Ele suspira e repousa a mão na cicatriz que ela tem na perna. Ela pensa em Robert e, imediatamente, tranca seu rosto no fundo de sua mente.

Nick traça a cicatriz com o polegar.

— Eu estou começando a concordar com você, raio de sol.

— Você não é um deles, é claro. — Ela fecha os olhos. Ela pensa em casa. Ela pensa nos meninos que está criando e se pergunta se eles vão se tornar babacas que partem o coração dos outros. Então ela pensa na irmã. Pensa na garota que ainda acredita em amor verdadeiro. "Continue assim", ela pede mentalmente, "Não há vantagem nenhuma na desilusão".

É sempre silencioso de madrugada. Quando o relógio marca depois da meia-noite e o novo dia oficialmente começa, tudo está em paz. Nora aproveita esses momentos. Ela permite que o vento atinja o seu rosto e observa as casas do outro lado da rua. Quando as luzes estão apagadas e ninguém está gritando, ou atirando em outra pessoa, quase parece que eles podem ser uma vizinhança de pessoas normais, com vidas calmas que tem como único defeito a falta de pintura nas casas.

É madrugada e é só nessa hora que o som de seus chinelos no piso de madeira soa mais alto que os barulhos da rua. São cinco degraus. Ela está cansada, mas não é nenhuma novidade. Ela trabalha demais, ela está sempre cansada. No alto do quinto degrau, enrolado como uma bola, o gato espera por ela. Ele ergue a cabeça lentamente, seus grandes olhos amarelos em expectativa. Nora não tem tempo para ele hoje, então o expulsa com um chute e o bichano desaparece pela noite. Ele vai voltar.

O gato apareceu na noite depois que Melissa foi embora, como uma compensação do Universo por tirar uma das pessoas mais importantes de sua vida. Ou talvez seja apenas zoação. Ela aposta na segunda alternativa.

Melissa estava naquele mesmo degrau quando veio se despedir. Nora sabia que ela estava indo embora. Uma semana antes, ela cozinhara uma lasanha de molho bolonhesa para eles e avisara à ela e seus irmãos que Chip recebera uma proposta de emprego no Tennesse e a convidara para se mudar com ele. Nora parou o garfo com comida há centímetros de sua boca. Melissa se mudaria. Uma das poucas certezas de sua vida entraria em um carro velho e desapareceria de suas vidas.

Nora entendia as razões da amiga: ela tinha um filho de seis anos, o pequeno Liam; trabalhava como garçonete, com um salário que mal cobria suas próprias necessidades, que dirá de uma criança também. Chip tinha quase o dobro da sua idade, era um homem grande de expressão séria que assustava-a um pouco. Eles estavam juntos há apenas três meses e Nora esperava que eles terminassem em poucas semanas. Então, a proposta de emprego veio e Melissa fez o que achou melhor para sua família.

— Que horas vocês vão? — Nora perguntou, porque não sabia mais o que dizer.

— Quando o sol nascer, aparentemente. — As palavras tinham um gosto amargo para ela, Nora sabia. Ela não amava Chip, mas amava o filho e sabia que o dinheiro de banqueiro é o que iria comprar o melhor futuro para ele.

— Eu soube que estão matando negros no Tennesse. — Nora disse. Metade brincadeira, metade verdade.

— Estão matando negros no país inteiro, querida. — O sorriso dela era triste e, talvez, para tentar amenizar um pouco suas palavras, ela completou: — E gays, e muçulmanos e, às vezes, meninas bonitas que tem coragem de dizer não para um homem, que nem você.

Ela arrumou uma das mechas do cabelo de Nora, com carinho. As palavras a levaram de volta para Robert. De volta para o tempo que ela se perdeu um pouco, a época em que ela largava os irmãos para ir a bares e shows de bandas indies. Em uma dessas noites, Robert apareceu. Ele tinha pose de empresário e sorriu com seus dentes brancos para ela. Em outra situação, ela teria acompanhado-o ao banheiro nos fundos, mas naquela quarta-feira de setembro, ela só queria curtir a música. Recusou a bebida que ele lhe ofereceu e, quando continuou negando suas investidas, ele seguiu-a pela rua e tirou uma arma do bolso. Ela desviou, e o projétil cravou-se dentro de sua perna. Ela não se lembrava das pessoas que o imobilizaram e o levaram preso. Ela não se lembrava de ir para o hospital. Ela só lembrava-se do sangue, e dos irmãos em volta de sua cama na manhã seguinte. Ela só escutou ele se apresentar uma vez, mas o nome ficou com ela, preso entre seus dentes como comida podre.

Ela não ia mais para bares desconhecidos. Ela se mantinha perto de casa.

Mas perto de casa também matavam pessoas. Uma garota negra que estava devendo dinheiro para umas pessoas nada amigáveis — amigos de Ethan Crawford, diga-se de passagem, — e, na semana seguinte, um cara que ousara olhar estranho para outro desses amigos. Pessoas levavam tiros como se fossem moscas no verão. Nora queria tirar as crianças de lá, mas o dinheiro que mal pagava a conta de luz, jamais seria suficiente para alugar uma casa em um bairro melhor.

— O que eu vou fazer sem você aqui, Mel? — Nora disse e sentiu as lágrimas formando-se em seus olhos antes que ela tivesse controle sobre elas. — Como eu vou criar quatro crianças, sozinha?

Ela repousou a cabeça no colo da amiga e deixou que ela a abraçasse e a consolasse. Mel era apenas três anos mais velha do que Nora, mas, caramba, ela era o mais perto que Nora já tivera de uma mãe. Melissa a escutava sem reclamar. Horas poderiam se passar, e ela ainda estaria sentada ao seu lado, escutando seus mais minúsculos problemas. O que ela faria sem a amiga agora?

— Do que você está falando, Nora? — Na boca de Mel, seu nome é pequeno e delicado. É o nome de uma criança, uma garotinha assustada que precisa que alguém a segure e a reafirme o tempo todo. Às vezes, Nora se pergunta se essa não é a sua verdadeira identidade e todas as outras, simples fantasias. — Jerry está praticamente na porta da faculdade, Riley está seguindo os mesmos passos do irmão, Tanner está tomando os remédios e Anya é uma pequena você, forte e destemida. Você já os criou, Nora, e fez um ótimo trabalho. Só precisa ficar de olhos neles mais um pouco.

Nora se agarra a Melissa. Ela sussurra em seu ouvido que tudo vai ficar bem, que, se ela sobreviveu todos esses anos, ela sobreviverá mais alguns. Nora fecha os olhos. Permite-se aproveitar esse momento, porque não sabe quando ele se repetirá.

Na noite seguinte, ela encontrou o gato esperando-a na escada pela primeira vez.

Ela fica com a ideia de encontrar um Oposto. Walter tinha os mesmo problemas e vícios que ela, mas ele trocou-a por uma loira de seios grandes depois de seis meses. Roy gostava de beber e tinha um interesse grande demais na sua irmã mais nova. Nora expulsou-o na quarta semana. O mais perto de final feliz foi Graham, com suas covinhas malditas e a carreira no roubo de carros. Um ano e meio. Esses foram seus últimos namorados e todos pareciam com ela. Todos terminaram em desastre.

Então a ideia de um Oposto fica preso em sua mente. Ela sabe como ele deve se parecer: bonito, inteligente, rico e são de todas suas faculdades mentais — não que ela fosse louca, mas, como viera a perceber nas últimas semanas, com exceção das tatuagens de palavreado chulo, ela é tão problemática quanto seu mais novo cunhado.

Nora dá a volta no balcão, os olhos de Alan queimando em suas costas. Ela está mais do que ciente das advertências pregadas na sala de funcionários. Cada empregado tem direito a três e ela já gastou duas. A primeira foi porque um dos clientes tentou colocar a mão onde não devia e acabou com essa mesma mão quebrada. Na segunda, um cara fez piadinhas nada agradáveis sobre outra garçonete e acabou com café quente jogado no terno novo. Nenhum dos dois voltou.

Em outro lugar, ela já teria sido demitida. Alan era bom e ela prometera não causar mais confusão. Então, passa direto pelos clientes homens e atende uma mulher que nunca vira antes. Ela escolhera uma mesa ao fundo e levanta os olhos do cardápio quando Nora pergunta se ela já está pronta para fazer o pedido. Elas se encaram por um segundo. Nora com o bloco de anotações e a caneta preparados. A mulher pede ovos Benedict e um café expresso. Ela tem uma pronúncia engraçada, e Nora diz que já vai trazer seu pedido. Um cara de terno entra e sorri para ela. Nora pensa em quais são as chances de ele ser seu Oposto.

Ela não é o Sol, ela é uma estrela cadente.

Ela é uma rocha do espaço em alta velocidade cujo único final é simples e inevitável.

Bater.

Tanner não está tomando seus remédios. Os comprimidos deixam-no entorpecido, é o que ele diz. Então, ele parou de toma-los e jogou-os fora, ou vendeu para alguém, ou algo do tipo. Mas ele não os tomou. Tanner não está tomando os remédios e Nora se pergunta se ela é culpada por não ter percebido isso antes.

Ele tenta se matar. É a primeira vez que faz algo do tipo. Nora não estava em casa, ela estava trabalhando e as crianças deveriam estar na escola, mas o diretor ligara e avisara que eles iriam dedetizar as salas de aula. Tanner e Anya ficariam em casa e Riley chegaria mais cedo para tomar conta deles. Só precisavam ficar sozinhos por algumas horas.

Foi sorte. Anya estava fazendo o dever na cozinha, mas precisou de um livro de história dos irmãos. Ela deve ter gritado quando viu o sangue. Nora queria ter estado com ela. Nenhuma garotinha deveria ser obrigada a ver uma cena daquelas. Anya deve ter digitado o número da emergência com os dedos trêmulos. Nora corre para o hospital quando recebe a notícia. Ele está sedado e ela assina a permissão de internação. Tanner precisa ficar no hospital, mas ela odeia a ideia de deixa-lo lá.

Jerry está lá tanto quanto Nora. Ele perde as aulas, perde o prazo de trabalhos e duas provas importantes. Ela implora que ele volte, alerta que se as notas dele caírem é adeus à faculdade. Ele dá de ombros e, por um segundo, ele parece com Nora. Ela vê a si mesa escutando todas as vozes que diziam que seus irmãos precisavam de mais disciplina, que ela estava sendo teimosa e estragando as coisas.

— Família é família, eu preciso estar aqui — ele diz — Quem se importa com a faculdade? Você não foi.

Faça o que eu digo, não o que eu faço. Ela murmura em sua cabeça.

Tanner abre os olhos e encara o teto por horas intermináveis. Ele ainda está sedado. Ela segura as lágrimas. Seu irmãozinho parece ainda menor naquela grande cama de hospital. Tão pálido que quase se mistura entre os lençóis brancos. Nora devia ter percebido. Devia ter sido mais rígida com os remédios.

— Hey. — ele a chama. É a primeira vez que fala desde que chegaram. Jerry está dormindo no outro lado do quarto e Nora, tão cansada e quase adormecendo, mal escuta a voz dele.

— Hey, como você está, querido? — Nora segura sua mão, ela aperta os dedos dele com medo e delicadeza. Não quer machucá-lo, mas não quer que ele escape também.

Ele levanta o outro braço — o único que ele cortou; os médicos dizem que se tivessem sido os dois pulsos, ele não teria sobrevivido — e examina o curativo sob a luz do quarto. Ele está medicado. Ele sempre parece estar perdido em outra dimensão quando está medicado.

— Eu não achei que fosse cortar tão fundo. — ele murmura. — Eu realmente não achei.

Nora imagina o sangue. Imagina seu irmãozinho — o mais novo dos garotos, o que acabou de entrar no Ensino Médio — caído no chão, hipnotizado pelo próprio sangue escorrendo do seu braço para fora de seu corpo, para a cama, para o tapete.

— Você precisa voltar a tomar os seus remédios. — ela sussurra. Ela faz movimentos circulares, com o polegar, em seu pulso. No pulso que ele não cortou.

Os olhos de Tanner estão nublados. Ele ainda está encarando o teto.

— Ok.

Nora fecha os olhos e tenta acreditar.

Na noite que Tanner finalmente é internado — na primeira de várias noites em que ele vai dormir na clínica psiquiátrica, e vai ser vigiado pelos enfermeiros e vai ter os comprimidos entregues diariamente em suas mãos — Nora fica vinte e sete minutos debaixo do chuveiro. É um luxo. Eles não deveriam gastar água quente desse modo, mas ela precisa tirar o cheiro de hospital do corpo, ela precisa se esquecer dos últimos acontecimentos.

Riley e Ethan limpam a casa. Eles passam horas tirando as manchas de sangue do chão do quarto. Livram-se dos lençóis e do colchão. Nora não sabe onde eles arranjam dinheiro para comprar os novos, mas quando ela chega em casa, tudo parece normal e sem traços de que, ali, alguém quase morrera.

Ela pega uma camisa do armário dele. Abraça a peça de roupa como se fosse o último traço de vida de seu irmão. Anya é a primeira a aparecer. Ela bate na porta e espera que Nora abra os braços para que ela se enrole junto à irmã. Jerry e Riley entram juntos. Cada um de lado. A cama é muito pequena para quatro pessoas, mas, naquela noite, é perfeita.

O nome dela é Jackie. Ela se apresenta no segundo dia, depois que pede uma torta de blueberry — ela alonga a última sílaba e Nora acha isso fofo — e um café. Ela vem duas vezes por semana (à vezes, duas vezes no mesmo dia) e as gorjetas são sempre boas.

Jackie sempre escolhe o mesmo lugar e pergunta como foi o dia de Nora. Ela pede algo do cardápio e quase sempre erra a pronúncia por algo mínimo. Não fica mais do que trinta minutos e deixa uma gorjeta boa o suficiente para compensar a de todos os outros que deixam apenas trocados.

É uma rotina. Nora começa a gostar mais dos dias em que Jackie está lá. Gosta do sorriso que ela sempre lhe dirige quando vem buscar seu pedido. Na vida caótica de Nora, essas coisinhas pequenas, esses detalhes que seguem um padrão, fazem-na se sentir melhor.

Então, quando ela fica fora por uma semana, Jackie percebe. Alan diz que ela apareceu todos os dias esperando por Nora. Aquilo é lisonjeiro e teria dado um grande up em sua autoestima se ela não estivesse tão abalada pelo que aconteceu com Tanner.

— Você não apareceu aqui nos últimos dias. Achei que tinha pedido demissão. — É a primeira coisa que ela diz quando Nora se aproxima.

— Coisas pessoais aconteceram. — Elas explodiram na sua cara, era como se sentia, na verdade. — Eu precisei de uma folga.

— Está tudo bem agora? — Ela parece preocupada, realmente preocupada.

De repente, Nora quer falar. Quer contar todos os problemas que aconteceram na sua vida e chorar abraçada em Jackie como ela fazia com Melissa. Mas aquela mulher é só uma cliente e, por mais que pareça preocupada, ela não deve nada a Nora. Ela sorri, diz que todos os problemas estão resolvidos e anota o pedido do dia. Bacon e ovos.

No caminho para casa, ela para no cemitério. Ela escolheu uma rosa vermelha. Os espinhos machucam a palma de sua mão, mas ela ignora o incômodo — Nora não ousa chamar isso de dor, ela sabe como a dor realmente é — e segue em frente.

Ela lê o nome na lápide com atenção. Absorve o nome. Sue E. Callaghan. Ela joga a flor perto das palavras. Eles nunca vêm visitá-la, nunca vêm prestar suas homenagens. Às vezes, Nora compra uma flor — um lírio, um cravo, uma rosa... E a joga para a mãe, sem palavras. Esse é o modo dela de não se esquecer, de culpá-la por tudo que deu errado na sua vida. Ausência estúpida que a obrigou a criar todos os irmãos sem ajuda, genes malditos que rastejam em seus DNA e causam a doença de Tanner, as drogas, o álcool, as mentiras. Ela espera que a flor tenha morrido antes que ela apareça novamente, mas nem sempre isso acontece.

— Nora? — Ela é a irmã mais velha agora. Na boca de sua irmã, aquelas duas sílabas pertencessem a alguém grande, a uma mulher gloriosa que tem força suficiente para carregar o mundo em suas costas e Nora se permite vestir a fantasia quando pode.

Anya a encara com aqueles grandes olhos inocentes e Nora sente mais peso se acumular em cima de seus ombros. Ela só pergunta qual é a raiz quadrada de 169 e Nora entrega-lhe uma calculadora. Ela não sabe a resposta, já que repetiu em matemática antes de desistir. O que adiciona o peso, no entanto, não é a pergunta, é o modo como Anya parece estar sempre assustada. Anya, sua irmãzinha com nome russo que Sue escolheu porque assistiu a um filme na televisão. Eles não são russos e o nome destoa do resto da família. Anya, a única que Nora recebeu nos braços já sabendo que seus pais iriam embora à primeira oportunidade e que o novo bebê seria sua responsabilidade.

Anya tem medo de enlouquecer. Todos eles têm. Mas enquanto o tempo lentamente diminui o risco dos outros, Anya sabe que está perto da idade em que Tanner teve seu primeiro episódio psicótico. Quando ela passar por isso, poderá respirar um pouco melhor. Um diagnóstico para vida toda, isso assusta qualquer ser humano.

Nora não consegue ajuda-la nas equações de duas incógnitas. Jerry está em um grupo de estudos e Riley no trabalho. Ethan — pouco mudara desde sua conversa com Nick, ou seja, ele ainda estava, praticamente, morando com eles — vem buscar uma cerveja e se depara com as duas tentando entender onde números e letras poderiam resultar em mais números. Ele é bom em matemática, o que é surpreendente e engraçado.

Nora observa os dois sentados na mesa da cozinha, o lápis riscando o papel com fórmula depois de fórmula, depois de fórmula. Ela se sente tentada a sentar do outro lado, não para ajudar Anya, mas para tentar acalmá-la, dizer que tudo vai ficar bem, que Tanner logo estará em casa, medicado, e todos eles ficarão bem. Ela quer tornar-se uma daquelas mães atenciosas que trança o cabelo da filha e diz que, eventualmente, as coisas vão dar certo, e mostra que não há monstros no armário do quarto, ou embaixo da cama. Mas ela não pode. Os monstros daquelas outras crianças são criações da imaginação, os monstros daquela família eram reais.

O novo parceiro de Nick é um cara legal. Ele também é loiro, mas tem olhos verdes. Nora acha que ele tem cara de surfista e ele a faz rir. Nick organizou esse encontro. Ela brincou tanto sobre encontrar um Oposto que seu melhor amigo lhe arranjou um graduado de Princeton, de boa família, que entrou na Academia de Polícia por todos os bons motivos: ajudar as pessoas, trazer justiça, prender os caras maus.

Ele leva Nora para um daqueles restaurantes franceses chiques, cujos pratos estão em francês e ela precisa adivinhar o que está pedindo. Ele conta sobre como é morar no lado bom da cidade, como ele decidiu que ricos já tinham seus seguranças particulares e quem precisava de ajuda estava na periferia, sem ofensas, é claro. No fim do jantar, ela sabe que ele não vai durar. A ideologia de transformar um mundo em um lugar melhor é sempre destruída quando o cara que você mandou para a cadeia por tráfico de drogas, sai e mata o dedo-duro que levou a polícia até ele.

Nora mantem-se no básico, guarda as pequenas peculiaridades de sua vida com ela: ela mora com os quatro irmãos mais novos, mas não conta que o pai é um viciado desgraçado que não aparece em casa em seis meses — e eles não sentem falta também —, que um dos irmãos está namorando um traficante de drogas e o outro acabou de sair de uma clínica psiquiátrica.

Ele é o melhor cara com que ela saiu em muito tempo, mas, quando seus pés descalços atravessam a porta de entrada, Nora sabe que ele não é o cara certo. Ela sabe que ele é bom demais para ela e seu pequeno mundo caótico. Ela recusa um segundo encontro. Essa coisa de amor romântico não existe, então não é como se ela tivesse ficado devastada.

O aniversário da morte de Sue está chegando.

As crianças não se lembram, ou não se importam. A única coisa preocupando Nora é Harvey. Seu pai sempre volta perto dessa data. Ele chega bêbado, sujo e drogado. Infiltra-se na casa como um parasita do qual eles não podem se livrar, exigindo direitos que ele não tem — Filhos ingratos, ele sempre grita. No começo Nora tinha vontade de chorar, agora ela só sente raiva. Não somos nós que fugimos quando nos convém, não foi você que precisou arcar com todos os custos de um enterro de uma mãe que nunca esteve presente nas nossas vidas, ela sempre tem vontade de dizer, mas fica quieta. Deixe Harvey quieto no tempo que ele fica com eles, e ele vai embora de novo. Como sempre.

Sue morreu em uma quinta-feira. Overdose. Eles não a viam em três meses e, um dia, Nick chamou-os para reconhecer um corpo no necrotério. Nora arrastou Harvey com ela. Ela não poderia fazer isso sozinha e não queria que nenhum de seus irmãos passasse por isso.

Harvey chorou. Quando viu o corpo de Sue, caiu no chão e começou a chorar. Nora se manteve imóvel, olhando para um ponto distante na parede, sem focar em sua mãe, ou em seu pai. Ele chorou e entrou em luto por semanas, mas Nora não via aquilo como amor.

Eles não se amavam. Eles dependiam um do outro, como um viciado depende de suas drogas.

Eles eram tóxicos um pro outro e foi isso que fez com que continuassem juntos.

Não era amor.

Existem dias em que tudo é demais. Acordar é demais. Trabalhar é demais. Garantir que Tanner tomou seus remédios é demais. Escutar Riley e Ethan brigando de novo é demais. Aguentar Harvey ao seu lado é demais. Respirar é demais. Viver é demais.

Ela quebra dois copos em menos de uma hora e Alan grita com ela só na primeira vez. Na segunda, ele presta atenção em suas mãos trêmulas, em como seus olhos se arregalam prestes a encherem-se de água a qualquer instante. Ele diz que ela precisa de um intervalo. Nora não contesta.

Então ela está nos fundos da lanchonete, o cigarro pendendo entre os seus lábios e a urgência em ligar para Nick, ou Melissa, ou qualquer um que a escute e a abrace e cuide dela. Mas não é justo. Não é justo que ela derrame seus problemas em outra pessoa só porque ela não aguenta suas responsabilidades. Inspirar e expirar. Inspirar e expirar.

— Tudo bem? — É Jackie.

Jackie e seu cabelo castanho que sempre parece meio bagunçado, sua roupa limpa, sua bolsa de moça rica que Nora sabe ser de segunda mão — com o tempo, ela adquirira um bom olho para essas coisas — e suas unhas sempre feitas, mas cheias de falhas. Jackie, sua cliente. Jackie, a moça das gorjetas com sorriso terno que, só com esse gesto, quebra todas as barreiras de Nora e ela se vê contando tudo, cada detalhe que ela nunca fala, cada problema que deveria ser apenas dela, mas que está sendo dividida com essa quase estranha.

Nora se sente fraca, mas também se sente mais leve.

Ela espera o sorriso amarelo, espera que Jackie invente uma desculpa para ir embora, ou a olhe com irritação por tê-la feito perder tanto tempo com besteiras, mas ela não faz nada disso. Ela encosta-se à parede, tira o cigarro de seus dedos e dá uma tragada.

— Acho que você está precisando de uma folga. Que tal um jantar na sexta-feira? — A pergunta pega Nora desprevenida. Ela tem vontade de correr, mas tudo o que consegue fazer é dizer sim.

Existe um motivo plausível para que Nora não tenha realmente notado Jackie: Ela sempre pronuncia os pratos de modo errado. Como você pode errar o nome do café-da-manhã? Ela usa sapatos gastos e joias falsas. Jackie é bonita, Nora percebe já no primeiro dia, mas não é deslumbrante. Os olhos dela não são cristalinos como o mar, ou misteriosos como a noite, eles são castanhos. Todo mundo tem olhos castanhos. Nora tem olhos castanhos.

Jerry diz que o vestido preto é melhor que o verde. Seu irmão é bom em Química, não moda, mas ela aceita o conselho mesmo assim. Preto é mais elegante, mais discreto. Ela vai sair com uma amiga, não um potencial futuro marido.

Jerry está completando as fichas de inscrição para a faculdade. São dezenas de folhas, de vários lugares, espalhadas na mesa da cozinha, a caneta dele escrevendo o próprio nome. Nora vê a mão dele fazendo curvas e linhas, selando o próprio futuro. Anya está no andar de cima, conversando com Tanner e garantindo que ele faça o dever de casa. Nora deixa Riley encarregado. Ele está no sofá, assistindo um filme com Ethan. Eles fizeram as pazes. Eles brigam e fazem as pazes e, às vezes, ela precisa ser o ombro onde Riley chora, mas o olhar está sempre lá. Amor. Ela se pergunta se, um dia, esse sentimento simplesmente vai embora, ou se essa é uma daquelas coisas que só acontecessem para um casal em um milhão.

Nora para na porta e olha, com amor, seu pequeno caos.

Ela entra na noite e os saltos batem no asfalto em um ritmo frenético. Jackie vem buscá-la na frente da lanchonete. Ela escolhe um restaurante não muito longe. O cardápio está em Inglês e, apesar de não ter o um terço da elegância de seu último encontro, ela gosta do lugar, ela gosta do ambiente intimista e de como se sente confortável com aqueles talheres comuns e pessoas comuns em volta.

Ela já sabe demais sobre Nora. Mais do que ela jamais teve coragem de dizer para alguém — muito menos antes do primeiro encontro —, então ela escuta Jackie falar. Ela não fala com o que trabalha, mas diz que isso a fez viajar bastante. Ela não é desse país e esse é só o terceiro de sua lista de moradias. O idioma é o segundo, por isso ela erra o som das palavras.

— Qual foi o melhor lugar para onde você já foi? — Nora pergunta.

— Nepal. Minha mãe nasceu lá. — Nora não tem vergonha de parecer estupefata. Talvez Jerry saiba onde fique, mas ela própria seria incapaz de apontar o país em um mapa. Ela jamais sonharia em ir para algum lugar tão longe. — Ou talvez a lanchonete. É raro encontrar garotas bonitas como você em outros lugares.

Nora sente as bochechas esquentarem. Jackie solta mais alguns elogios no decorrer da noite, e ela acaba entrando na brincadeira.

— E como está sua família? — Nora morde o lábio inferior. Ela imagina que a pergunta é de cortesia. Por que ela iria querer saber o que está acontecendo com essas crianças totalmente desconhecidas e problemáticas?

— Estamos indo bem. Construindo a torre de novo.

— Se eles forem um pouquinho como você, vocês vão ficar bem. — Nora acena com a cabeça. Jackie encosta as pontas dos dedos no braço dela. Nora tenta acreditar nessas palavras.

Porque eles estão construindo essa torre anos após ano, com cuidado e paciência. Às vezes, eles têm um momento para observar o trabalho feito. Mas ela cai. A torre sempre cai.

A primeira pessoa que chamou sua família de caótica foi o professor do segundo ano de Riley. Ele acusava o garoto de ser barulhento demais, comprometido de menos. Bastou um olhar para os pais bêbados deles e ele disse que o comportamento do garoto, repentinamente, parecia justificável.

Na época, Nora não entendeu o sentido daquela frase. Se fosse agora, ela teria dado um soco na cara idiota dele. Ela deu um soco em Graham.

— Isso é demais, Nora. Eu... Eu te amo, mas não foi para isso que eu me inscrevi. — Ele tinha dito. Nora começou a chorar quando entendeu aonde ele queria chegar. — Eu não posso lidar com, com...

— Essa confusão que nós chamamos de família?

— Eu sinto muito.

Graham fazia bem para ela, ou era nisso que ela acreditava. Então ele decidiu ir embora sem mais nem menos. Ela deu um soco na boca dele. Esperava que ele tivesse quebrado alguns dentes, mas nunca o viu de novo para confirmar.

— Nora. — O jeito como Jackie diz seu nome, é o jeito favorito de Nora. É poético, é melodioso, faz com que ela se sinta a pessoa mais linda do mundo. Ela sabe que não é, pois Jackie é essa pessoa. Jackie e seu cabelo onduloso, seus olhos que parecem derreter como ouro sob a luz pálida da rua.

Jackie tem uma cicatriz no lábio superior, de um acidente de motocicleta. Nora conta sobre quando Robert tentou arrancar um pedaço dela. Jackie terminou a faculdade e a pós-graduação. Nora está pensando em tirar a certificação do Ensino Médio através de uma prova na internet. Jackie consegue citar Dostoievski e Dante. Nora leu todos os artigos médicos possíveis quando Tanner foi diagnosticado.

Talvez elas sejam opostas.

Mas Jackie gosta de adrenalina tanto quanto Nora, e ela nem hesita quando Ethan entra em casa com uma arma em punho e as sirenes de polícia atrás dele. Ela conhece perigo, ela entende o que são problemas de verdade. Nora não conhece sua história, mas, talvez, seja um pouco parecida com a dela.

"Sobreviventes" é a palavra que cruza sua mente. Nora ainda está se arrastando pela vida, mas ela sabe que pode viver. Até todos os seus irmãos estarem fora dessa vida, ela consegue segurar as pontas. E Jackie ao seu lado só a deixa mais forte.

Todo mundo adora Jackie e ela se mistura muito bem entre eles. Ela é a primeira que realmente harmoniza com a melodia desafinada que sua família é. Ela se encaixa. Logo ela se torna mais uma das vigas sustentando aquela casa.

— Nora, você é complicada e brilhante e o mundo deveria girar a sua volta. — Jackie diz isso maravilhada. Ela olha, fascinada, para o pequeno bando de Nora, para aquele grupo caótico que dança na sala de estar como se os problemas não existissem.

Nora gosta como ela diz o seu nome. Gosta do que ela fala. Os elogios de seus últimos namorados eram sempre banais: bonita, atraente, gostosa... Ninguém nunca viu o complicado como algo bom, ninguém nunca ficou com ela sem tentar ignorar as falhas antes.

Nora quase acredita em amor quando vê Riley e Ethan se beijando pela primeira vez, meses e meses atrás. Quase. Porque Riley e Ethan eram o casal premiado da loteria da vida, o casal que acontece uma vez em um milhão e compartilhavam um sentimento que Nora não teria chances nenhuma de sentir.

Leva menos tempo do que está acostumada. Ela deixa as paredes caírem muito rápido com Jackie, a deixa entrar em sua vida, como se ela sempre fosse parte dela. Primeiro, ela se permitiu gostar da presença de Jackie na lanchonete, depois se permitiu gostar de seu toque nos encontros que elas tinham, ela se permitiu gostar da outra de uma maneira geral.

A palavra amor só cruzou sua mente quando se beijaram pela primeira vez. Jackie deixou-a na porta de sua casa, como sempre, mas puxou-a de volta antes que Nora terminasse de girar a chave na fechadura. Ela tinha gosto de whiskey barato e nicotina.

Talvez ela só gostasse muito de beijar Jackie. Ou talvez aquele tal do amor romântico existisse.

Eles reconstroem a torre com cuidado e paciência.

Jerry é aceito na faculdade de Engenharia. Riley passa de ano com notas acima da média. Ethan começa a ajudar nas contas — Nora não pergunta de onde vem o dinheiro. Tanner está bem, levando um dia de cada vez. Anya ainda tem medo dos próprios genes, mas começa a acreditar que vai ficar bem não importa o que aconteça. Jackie se torna mais uma viga, mais uma peça na base tentando manter a torre firme.

É sempre silencioso de madrugada. Tudo está em paz. Quando as luzes estão apagadas e ninguém está gritando, ou atirando em outra pessoa, quase parece que eles podem ser uma vizinhança de pessoas normais, com vidas calmas que tem como único defeito a falta de pintura nas casas.

Ela entrelaça os dedos nos de Jackie e entende, pela primeira vez, o que é tão charmoso em relacionamentos sérios. É seguro. Estável. Eles nunca tiveram muito, nunca tiveram mais do que o necessário para viver outro dia. Isso sempre bastou. Querer mais é ganância. Por isso, Nora tenta não pedir demais de Jackie. Ela só a quer do seu lado, para enfrentar os problemas, para ser alguém a quem ela possa voltar no final do dia.

Toda vez que a torre cai, os pedaços se espalham pelo lugar inteiro.

É difícil ficar.

Ela não a culparia se Jackie não aguentasse.

Mas ela espera que ela aguente. Ela espere que Jackie a ame o suficiente para ficar.


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Notas finais do capítulo

Eu realmente, realmente, espero que alguém tenha lido e gostado. Deixem comentários e me façam uma autora de primeira viagem bem feliz :D



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