Eu vou aonde ele for escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 3
Capítulo 3 – Muito mais do que você pensa




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Capítulo 3 – Muito mais do que você pensa

– Eu achei que você não ia nos ligar por um bom tempo.

– Eu também, mas... Descobri coisas aqui. Ouvi coisas aqui. E eu simplesmente não podia ignorar. É verdade que Sherlock teve uma recaída? Como ele está?!

– Nada bem. Ele está nesse momento dormindo aqui ao meu lado. Hoje ele reagiu, depois de três longos e difíceis dias. E ele chegou muito perto, chegou a mexer em tudo e até abrir um pacote, mas não aconteceu.

Joan ouviu um suspiro aliviado do outro lado da linha e alguns instantes de silêncio.

– Eu espero que não se importem de me receber aí amanhã. Devo chegar durante a manhã.

– De jeito nenhum, Sherlock vai ficar muito feliz. Pode ser que tenha uma reação melhor! Mas... Está tudo bem com você?

– Sim. Nós conversaremos mais amanhã.

– Vamos ficar esperando – ela respondeu com grande alegria em sua voz.

Joan desligou e levantou-se para apanhar outro cobertor no seu quarto, voltando rapidamente e aproveitando o espaço da cama de casal de Sherlock para deitar-se ao lado dele, a certa distância. Estava exausta e não iria deixa-lo sozinho. Conseguiu descansar relativamente bem até escutar seu telefone tocar outra vez. Empurrou o cobertor de cima do rosto e conferiu o relógio no criado mudo, eram seis e meia da manhã. Atendeu antes que o aparelho pudesse despertar Sherlock e arrastou-se para fora da cama enquanto isso, levando seu cobertor de volta para o quarto.

– Alô.

– É a Joan?

– A-Alfredo?! Você está acordado...

– Estou. Eu vou ficar bem – ele falou baixinho, parecendo sorrir enquanto falava, apesar dos sinais de que ainda estava claramente mal – Antes eu... Quero agradecer. Eu não consigo lembrar direito do que aconteceu, mas me contaram tudo aqui no hospital. Muito obrigado, a vocês dois.

– Não imagina o quanto Sherlock vai ficar feliz quando te ver de novo.

– Soube que ele ficou muito mal. Por favor, me conte a verdade.

– Ele quase concretizou uma recaída – ela contou com tristeza – Está horrível. Chegou aqui em choque, depois de muito tempo começou a chorar, me mostrou o que aconteceu, disse algumas poucas palavras e teve um ataque de nervos. Consegui acalmá-lo, lhe disse que você ia ficar bem. Depois disso ele ficou três dias sem dizer uma única palavra nem responder a nada do que eu falava com ele. Ontem à noite eu consegui fazer ele reagir, mas logo depois ficou mal outra vez. Ele reviveu e ouviu coisas horríveis, o coração e a alma dele estão em pedaços.

Após um instante de silêncio na linha, Joan preocupou-se com o que acabara de revelar.

– Alfredo? Nada disso foi culpa sua.

– Eu sabia que isso podia acontecer no momento em que aceitei ser padrinho dele. Eu conheço as ruas, eu conheço como é se sentir preso no fundo do poço e não conseguir sair, e mesmo que me sinta um pouco culpado pelo que aconteceu com ele... Quero que diga a ele que ele também não tem culpa de nada do que aconteceu e que nós vamos conversar sobre isso. Como padrinho, sei que ele está precisando de mim agora. Eu vou vê-lo o mais rápido que eu puder. Posso falar com ele?

– Ele está dormindo agora.

– Dormindo a essa hora? Ficou mal mesmo.

– Você também deve descansar.

– Vou sair daqui logo. O sobrado é o primeiro lugar que eu vou quando eu sair.

– Sinta-se bem vindo como sempre. Estaremos a sua espera. Prometo visita-lo o quanto antes se encontrar condições.

– Relaxa. Ele precisa de cuidados. Quem melhor do que você pra fazer isso? Também observo, vejo como você cuida bem de Sherlock e o quanto ele sempre está preocupado com o seu bem estar.

Joan sentiu-se corar por um instante e despediu-se de Alfredo no segundo seguinte, voltando ao quarto de Sherlock para verifica-lo. Continuava dormindo desajeitado na cama, ao menos sua expressão estava menos infeliz que na noite anterior. A chinesa arrumou o cobertor sobre ele e seguiu para o andar de baixo. Sherlock só apareceu duas horas depois, com o mesmo olhar triste e ainda quieto.

– Bom dia. Você tem mais amigos do que pensa. Você é muito mais amado do que pensa, Sherlock.

Ele a olhou interrogativamente.

– Recebi duas ligações desde que dormiu. Nenhuma delas do seu pai. Vamos receber duas visitas hoje. E mais uma assim que possível. Todos preocupadíssimos com você. A primeira coisa que me perguntaram no telefone foi como você estava.

Sherlock sentou-se em uma das cadeiras da cozinha e fitou algum ponto na mesa sem dar nenhuma resposta.

– Alfredo me ligou há duas horas.

Diante da afirmação o consultor virou-se para olhá-la.

– Ainda não está cem por cento, mas está bem melhor. Acordado, falando, fora de risco. Está muito preocupado com você, disse que aqui é o primeiro lugar que ele vai vir quando sair do hospital, se nós não o visitarmos antes. Como seu padrinho, ele quer conversar com você assim que possível. Ainda vai ficar algum tempo no hospital, podemos ir assim que você se sentir melhor ou depois que resolvermos todos os assuntos de hoje. Ele pediu muito pra dizer que nada do que aconteceu foi culpa sua. Eu disse o mesmo pra ele.

Joan colocou vitamina e algumas torradas na mesa. Serviu um copo para Sherlock quando ouviu batidas na porta da frente.

– Acho que ela chegou.

– Ela...? – Ele murmurou curioso.

– Eu acho que essa visita vai te deixar feliz – Joan sorriu e correu para atender a porta.

Seu próprio coração pulava de alegria por reencontrá-la. A garota havia sido como uma filha para os dois consultores. Abriu uma fresta na porta para verificar de quem se tratava e seu sorriso se alargou quando permitiu que Kitty adentrasse o sobrado. A ruiva também abriu um belo sorriso ao ver Joan e a abraçou com força, sendo prontamente retribuída.

– Sentimos muito sua falta.

– Eu também – ela respondeu com a voz um tanto afetada pela enorme felicidade que sentia, apesar de estar preocupada com o motivo de sua visita – Eu não vou ficar muito tempo. Não pretendo me encontrar com Bell ou o Capitão Gregson ainda.

– Não saberão.

– Está morando aqui de novo?

– Sim. Aconteceram umas coisas e eu acabei voltando. Nós conversamos sobre isso mais tarde. Sherlock está na cozinha.

Kitty adentrou a casa, deixando sua mala num canto e correndo até a cozinha. Sherlock virou-se ao escutar os passos e parecia surpreso ao ver Kitty. Levantou-se e se pôs a frente dela sem realmente saber como reagir, e ainda entorpecido de tristeza.

– Kitty... – ele falou, um pequeno sorriso cruzando rapidamente seus lábios.

– Kitty, eu vou levar sua mala pra cima e vou deixar vocês conversarem enquanto arrumo algumas coisas.

– Não precisa, eu cuido disso daqui a pouco.

– Não se preocupe, fique aqui. Kitty, você pode não perceber, mas tem uma força capaz de levantar as pessoas. Não falo de força bruta, é uma força interior. Você fará bem pra ele. E lembre-se que esta também é sua casa, sempre vai ser.

As duas trocaram um sorriso e Joan sumiu nas escadas. A ruiva olhou novamente para Sherlock. Podia ver alguma alegria em seus olhos, mas era visível o quanto ele parecia destruído. Seu rosto estava cansado, apesar de estar dormindo muito, o olhar parecia vazio e distante. E não estava dizendo uma palavra. Kitty ignorou a possibilidade de ser rejeitada e aproximou-se dele, o abraçando.

– Eu amo você. E dói ver você desse jeito – ela repetiu as últimas palavras que havia lhe dito antes de desaparecer.

Sherlock não encontrou coragem para retribuí-la a altura, mas ergueu uma mão para afagar o topo de sua cabeça. Quando se afastaram ele indicou a mesa e os dois se sentaram.

– Você chegou antes do meu pai.

– Ele é uma das minhas preocupações.

– Como sabe sobre ele?

– Não foi difícil descobrir. Uma vez em Londres vi um cara louro parecido com você. Parecido demais, até nos trejeitos. Ignorei no começo, mas nos últimos dias eu vi um homem muito parecido com vocês dois andando pelos mesmos lugares que ele.

– Meu irmão e meu pai. Meu irmão já era. Veio, bagunçou nossas vidas e se foi. Foi depois disso que você chegou.

– É bom saber que eu não estava paranoica esses dias.

– Estava em Londres esse tempo todo?

– Não, só recentemente. O que acontece é que há dois dias eu segui esse homem. Escutei sua conversa de uma mesa próxima onde ele foi almoçar. Acho que a outra pessoa era um empregado. Ele falou sobre o filho ex-viciado que teve uma recaída com heroína. Quanto mais ele falava mais parecia descrever você. Falou sobre uma companheira sóbria de alguns anos atrás, falou o nome de Joan. Liguei assim que pude e vim pra cá. Eu precisava vir.

– Joan deve ter lhe contado tudo.

– Sim. Não imagina meu alívio ao saber da verdade. Mas seu pai acha que aconteceu, por isso está vindo.

– Cheguei perto demais...

– Não! Não comece com isso. Você provou ser mais forte. Está ferido com tudo isso, mas vai passar... – ela afagou seu ombro tentando confortá-lo – Você não está sozinho, Sherlock. Você não me deixou fazer algumas das maiores besteiras da minha vida e ainda me ajudou a consertá-la. Agora vou retribuir.

Sherlock a encarou, conseguindo transmitir alguma gratidão e conforto para ela em seu olhar. Tinha uma relação muito forte com Kitty, assim como tinha com Joan, embora não fosse a mesma coisa. As duas eram as únicas pessoas do mundo com quem ele não sentia medo nenhum de ser ele mesmo. Joan voltou algum tempo depois e os três tomaram café juntos. As duas colocaram assuntos em dia, tentando desviá-los do mundo dos crimes, numa tentativa de animar Sherlock, embora sem muito sucesso. Mais tarde Kitty já havia arrumado suas coisas no quarto de hóspedes e brincado com Clyde. Sherlock estava largado no sofá ouvindo música, pela primeira vez na vida em um volume decente. Kitty e Joan apenas o observavam de certa distância.

– O que disse sobre o senhor Holmes. Tem certeza?

– Tenho. Eu não contei a Sherlock, mas roubei um documento do bolso e devolvi sem ele perceber naquele dia. Havia o nome Holmes lá. Queria ter certeza que eu não estava ouvindo coisas.

– Os últimos dias foram os mais duros aqui. Em alguns momentos... Tive a sensação horrível de que não posso mais ajuda-lo.

– Quando eu o conheci em Londres... Uma das vezes em que fui encontra-lo. Ele estava chorando muito. Tentou esconder quando abriu a porta, mas eu percebi. Não levei muito tempo pra perceber que a dor era por falta de alguém. Um dia ele me falou sobre Joan Watson e quando falou, naquele instante eu soube que era por você.

Joan ficou surpresa ao ouvir aquela revelação e olhou na direção de Sherlock automaticamente, sentindo o coração acelerar.

– Então não diga, Joan, que você não pode ajuda-lo. Se você não puder, ninguém mais poderá. Não aconteceu. E foi por você. Você é muito importante pra ele.

Joan ainda estava sem reação no momento em que a conversa foi interrompida por novas batidas na porta. Os três corações ali dentro congelaram. Kitty nunca ouvira falar muito sobre o pai de Sherlock, mas o pouco que ouvira desde sua chegada mais cedo era o suficiente para também fazê-la temer.


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