His Good Side escrita por Taty M


Capítulo 1
✖ Haizaki Shougo.




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A cidade de Shizuoka tinha começado a manhã sobre um frio levemente desproporcional, apesar de estarem no inverno e faltando apenas dois dias para o natal, já recebiam um rumor de neve na província.

Por ser algo não muito frequente no local, muitas pessoas já se empolgavam com esse presente antecipado, principalmente as crianças.

Haizaki não estava diferente, descia as escadas que ligavam os cômodos superiores aos inferiores da casa em sua típica correria hiperativa, ouvindo um grito do seu irmão no processo.

“Mãe, Shougo está correndo na escada de novo”.

Isso fez com que o garoto estagnasse para então descer delicadamente — e era o que fazia quando a mãe apareceu, percebendo seu falsete.

— Eu já disse: sem correr na escada!

O menino demonstrou seu melhor olhar de desculpas, mas a mãe conhecia o bastante para saber que ele estava tudo, menos arrependido. E assim que a mesma virou as costas, Haizaki terminou de descer as pressas, ofertando uma mirada de raiva para o irmão que estava jogado no sofá e apenas ria de toda situação.

Isso ocorreu pelo menos até Haizaki saltar sobre ele enquanto murmurava ser um samurai e o mais velho era seu oponente.

Aquilo resultava em risos e troca de golpes, claro que seu irmão se controlava ao máximo, afinal, Haizaki era bem mais novo, contudo tinha armas inteligentes e de alguma forma, aprendia muito rápido até mesmo em brincadeiras de luta. Ao contrário do que se imaginava, ao se machucar ele não ia dramatizar para a mãe, ainda que fosse algo realmente forte. Mas a mesma sempre percebia e disciplinava os garotos.

Entretanto existia um problema: Haizaki perdia a paciência com muita rapidez, o que resultava algumas brigas na rua e corretivos em casa.

Inclusive, o motivo de descer tão depressa do quarto era por estar justamente de castigo e carregava ainda alguns curativos da última queda na escada, causa pela qual sua mãe se desesperava com personalidade do filho.

Apesar de grande diferença na idade, pois o mais velho já frequentava a escola secundária enquanto Haizaki tinha acabado de fazer dez anos, os irmãos conseguiam se divertir e discutir como todos tradicionalmente.

A mãe cuidava da família com firmeza, delicadeza e amor. E ainda havia um pilar para tudo aquilo, a base estava no pai que todos os dias saía para trabalhar.

O homem reconhecia as divergências de suas crias, entendia que ao contrário do primogênito, Haizaki era alguém complicado. Segundo a última ida ao psicólogo, seu filho é o que chamavam de prodígio, devido a facilidade em se adaptar e aprender as coisas.

Até mesmo e principalmente, ocorrências que não lhe dizia respeito, Shougo ainda com pouca idade, administrava-as bem. Contudo, sempre haveria um outro lado da moeda, e esse sentido era o conflito entre a idade, físico e potencial. A necessidade do corpo em estancar e ser apenas uma criança e da mente em força-lo a sugar cada vez mais de sua volta. Aquele pai sabia como manejar uma família, valorizar sua mulher, instruir seu primeiro e cuidar com desenvoltura do mais jovem.

Quando a lua está cheia, ela começa a minguar.

Provérbio japonês.

Infelizmente a vida não é justa, e como uma bomba que devastava todo um local, aquela coluna desabou.

O gerador de um dos meninos que no futuro seria chamado de milagre no basquete, acabou envolvido em um assalto enquanto antes de retornar para a casa após uma longa jornada de trabalho, fora comprar os presentes que arrancariam sorrisos dos filhos no dia de natal que se aproximava.

A loja foi alvo de bandidos que saquearam os caixas levando além do dinheiro, algumas vidas. A sua vida.

A notícia chegou como um péssimo presságio de natal, festa essa que ao invés comemorações, comilanças e interação caseira, tiveram tristeza. Afinal, a família em questão tinha se partido.

Talvez nunca mais fosse igual. Meses depois a mãe parou de chorar e se desesperar, o filho mais velho foi cultivando uma maturidade e silencio diferenciado, que possivelmente fosse o esperado já que agora era o “homem do lar”. E o mais jovem sentiu-se como em uma batedeira de sensações e nenhuma delas significava algo bom.

Haizaki não foi sempre um canalha violento, com traço invejado e detestável em mesma medida pela capacidade de tomar para si o que não lhe pertencia.

Haizaki não foi sempre também um encrenqueiro sem motivo, do tipo que arruma confusão a base de péssimo comportamento independentemente do tamanho, sexo ou perfil.

Haizaki não foi sempre tão odioso, ele só queria mais...

Haizaki nem sempre teve essa péssima índole. Já existiu momentos onde ele mais sorria e planejava uma forma de diversão como a maioria das crianças naturalmente faziam.

Ele também passou pelo período de idealização, onde desejou ser piloto de avião, depois desejou ser bombeiro, por fim pensou que policial parecia mais interessante e ainda poderia bater nas pessoas danosas.

Então tudo se dissipou.

Já que o vazio da perda era algo relativamente irreparável, e isso foi percebido inicialmente no colégio.

As notas boas se transformaram em um borrão entre faltas e falhas na mesma medida em que os alunos surgiam surrados, acusando a mesma pessoa.

E por mais que tivesse sido motivado pela emoção, quando voltou para casa com sua mãe após uma reunião na escola, desejou não ter feito nada daquilo. O olhar dela era um misto de piedade e desanimo, como se soubesse que era apenas o começo.

E realmente era.

Mas no que dependesse dele, a progenitora nunca mais saberia.

Haizaki ganhou um belo e longo castigo e uma surra do seu irmão, surra que foi obrigado a omitir da mãe.

Após essa péssima experiência, suas notas voltaram a estabilizar, a realidade era que de uma forma que não entendia, Haizaki tinha facilidade em aprender as coisas, logo, as aulas se tornavam enfadonhas uma vez que já sabia a matéria.

Todos a sua volta continuou a irritá-lo, fosse por um comentário, ou simplesmente por encará-lo. Sua impaciência se alargava e então ele estourava.

Foi nesse momento que o irmão apresentou-lhe o basquete, seria uma forma para Haizaki praticar algum esporte e concentrar sua violência em um aro, ao invés das pessoas.

Muitas habilidades, nenhum talento.

Provérbio japonês.

Devido suas notas boas e dinâmica, Haizaki se viu popularizado em Teiko assim que pisou na nova escola.

Não, ele não tinha tomado jeito. Mas nunca mais presenciou aquele olhar de sua mãe, uma vez que a mesma não mais fora chamada ao colégio. Tudo isso porque ele se esforçava para que isso não ocorresse, umas ameaças ali e aqui normalmente resolviam. E seu irmão sempre tentava controlá-lo com ótimo punho pesado.

Em Teiko, também, Haizaki entrou para o time de basquete. Sabia da boa referência do colégio, mas não esperava encontrar um grupo tão... Exótico.

Era uma pressão que não estava habituado, exigências que só o irritava. Não gostava de viver coagido, principalmente agora que sentia-se como o novo homem da casa, uma vez que o irmão tinha ido para universidade. Era ele o responsável por transmitir segurança e estabilidade a mãe.

E foi ali, naquele colégio, naquela quadra, que experimentou as melhores e piores experiências da sua vida — desde a perda do pai.

Percebeu que poderia ter além do que previa, fosse em jogo ou na sala de aula, sua capacidade excedia as próprias expectativas, e a liberdade apenas servia como válvula para que tudo acontecesse.

Até perceber que mesmo com a falta do irmão, ainda havia uma pessoa que insistia em controlá-lo.

Definitivamente aqueles dois anos foram surrados e lentos, surrados, sim, muito.

E talvez, apesar de aparentar irrelevância, Haizaki sabia que existiam dores piores do que as causadas por um soco.

Aquele que ri ao invés de enfurecer-se é sempre o mais forte.

Provérbio japonês.

A única coisa que motivava o controle, era a necessidade de deixar a mãe alheia ao que tinha se tornado.

Se antes existia uma criança hiperativa e incoerente, agora se tornava um homem distinto e agressivo.

Não respeitava, não aceitava. Era obcecado.

Sua rebeldia extrapolava o limite, limite antes estipulado por seu superior, e agora, sem ninguém para contê-lo, Haizaki se mostrava abusivo e roubador.

Aquela antiga e dolorosa perda o deixou sem controle, e precisava ter as coisas para si.

Tomava, exigia, e as fazia sua.

Talvez Haizaki só precisasse de alguém que realmente o compreendesse e estivesse ao seu lado, quem sabe algo simplório para quebrar essa redoma.

Ou ele apenas defraudava por saber que tudo o que possuiria teria um curto tempo de duração. Seu pai, sua família, seu irmão, seu time.

Aquela vida banal e desajeitada parecia possuir um cronômetro acionado. Os amigos comuns que nunca faria ou teria. Ou os relacionamentos que sempre pareciam vazios e sem graças, movidos por puro interesse sexual.

A simplicidade sempre foi uma aspiração antiga e distante.

E quem sabe, finalmente, após aquela derrota chula ele conseguisse perceber que por deboche do acaso perverso, tinha se tornado um nada.

Pouco se aprende com a vitória, mas muito com a derrota.

Provérbio japonês.

Que irônico ter seus olhos abertos através da pessoa que mais detestava. E isso podia ser simplesmente pelo fato dele não ser tão desprezível ou abominável assim, afinal...

Haizaki não foi sempre um canalha violento, com traço invejado e detestável em mesma medida pela capacidade de tomar para si o que não lhe pertencia.

Haizaki não foi sempre também um encrenqueiro sem motivo, do tipo que arruma confusão a base de péssimo comportamento independentemente do tamanho, sexo ou perfil.

Haizaki não foi sempre tão odioso, ele só queria mais.


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Notas finais do capítulo

Essa fanfic começou porque queria justificar o meu bebê, sim, eu o defendo.
E estava quase que finalizada na pasta de historinhas, então finalmente escutei uma música que me motivou a terminá-la de uma vez por todas.

E claro, espero que quem leu possa ter se divertido, não deixe de comentar e dizer o que achou. Sintam-se à vontade para favoritar e toda essa fofura (#^.^#).

Beijos e até à próxima ♥