Azar escrita por Let


Capítulo 6
Chão Sujo




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— Essa daí faz isso o tempo todo! — Começou minha mãe. — Vira e mexe ela tá cortada, roxa, vermelha, arranhada, a... — Ok, já era demais para mim, a interrompi:

— Chega, mãe! Ele já entendeu, não precisa exemplificar mais, né? — Eu soava histérica demais até para mim — Então, vamos mudar de assunto? O que você esta fazendo aqui? Quer dizer, sem te expulsar nem nada, mas...

Será que existe uma pessoa que fale tanta merda quanto eu? E – o mais estranho – ele riu! A pancada devia ter sido mesmo mais forte do que parecia.

— Relaxa, não pensei isso... Eu tava descendo para buscar a última caixa do carro e encontrei com o porteiro, que veio me perguntar se estava tudo bem, e foi então que a Dona Glória chegou e o porteiro nos apresentou.

— Aaah... — Foi só o que eu consegui dizer, como eu queria que ele não estivesse ali naquele momento!

Depois disso nada realmente importante aconteceu, minha mãe o convidou para jantar conosco, ele, muito inteligentemente, rejeitou (minha mãe na cozinha é desastre na certa) e foi embora. Eu, assim que ele saiu tirei todas as coisas do chão e joguei de qualquer jeito em cima da mesa - e depois ninguém entende porque eu não consigo manter o quarto arrumado. Tomei um banho rápido e fui dormir, morta, acabada, arrasada e o pior: humilhada.

Acordar no dia seguinte foi o meu desafio e eu estava tão grogue de sono que bati de cara na porta, que eu tinha fechado e esqueci.

Não ria de mim, mas eu dormi e acordei pensando no Edu. E em como ele não regulava muito bem, o que, sinceramente, podia ser perfeito! Pensa comigo: eu não me dou bem com aqueles garotos perfeitos porque eles invariavelmente me acham louca e riem de mim, já um garoto que seja meio "lelé da cuca" pode ser a solução para os meus problemas! O único problema era ele saber disso...

O resto do meu dia foi praticamente o mesmo de todos os dias:

No banho, estava tão distraída que escorreguei no sabonete e cai de bunda no box. Na escola, tropecei no meu próprio pé e cai em cima do Pedro, - já esqueceu dele? Ele é o menino que riu de mim na educação física lá no começo dessa pobre narração, lembrou agora? - claro!

O resto da semana não foi muito diferente e na sexta eu estava roxa e acabada ao chegar em casa da escola. Joguei-me na cama com preguiça até de comer quando a campainha tocou.

— Não tinha dia pior para esquecer a chave, não? — Respondi à campainha, brigando com a minha mãe, quem eu acreditava estar do lado de fora da porta. — Ah! O que você quer?

Eu não estava com paciência para o Júnior naquele momento.

— Entrar. — Falou ele, com a maior tranquilidade do mundo - daquelas que irritam, sabe?

— Então bate na porta da sua casa e entra lá! — Tentei bater a porta na cara dele, irritadíssima. Ele não podia atrapalhar numa hora mais... conveniente? Só que, com a minha sorte, ele foi mais rápido e botou o pé na frente logo antes da porta poder fechar e ela voltou com toda a força, indo direto na minha cara.

A pancada me deixou tonta, tentei mandar o Junior sair da minha casa, mas comecei a ver tudo dobrado, tropecei nas palavras e nos meus pés. Eu queria dizer: "Fecha a porta e sai! Eu não quero você na minha casa! Me deixa em paz!", mas ao invés disso saiu:

— Fecha a sai e porta! Eu não quero a minha casa em você! Me paz em deixa! — E o pior, é que saiu tudo em tom de reclamação - aquele resmungo que é quase um miado, você sabe - e o maldito do Junior começou a rir que nem um cavalo (sim, no meu mundo cavalos riem e não é bonito, não queira ver), o que me fez resmungar mais coisas sem sentido que eu não consigo nem reproduzir, fazendo ele rir mais. A essa altura ele parecia um cavalo parindo (outra coisa que você não devia querer ver e que existe no meu mundo).

Os vizinhos foram saindo de suas casas para ver "que merda é essa que está acontecendo nesse andar?!" e me encontraram cambaleando, com uma gota de sangue escorrendo pela testa - no local onde a quina da porta tinha batido - e dizendo coisas sem noção e o Junior, rolando no chão e rindo desesperadamente - como um cavalo, já disse.

Depois de um tempo, conseguiram levantar o Junior e carregá-lo para casa, enquanto uma senhora de chinelo de dedo, robe pink e "bobs" no cabelo fazia uma mini atadura na minha testa.

Quando a minha mãe chegou, eu estava estirada no chão como uma morta e com a atadura meio ensanguentada na cabeça.

— O que é isso, Isabel?! O que aconteceu?! Levanta daí, o chão tá sujo!

— Hmmm — Resmunguei, sem vontade de falar— Deixa eu ficar no são chujo...


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