Fated escrita por J N Taylor


Capítulo 10
IX – In For A Kill


Notas iniciais do capítulo

Okay, estamos indo pro grandioso final da história e simplesmente estou em dúvida entre dois deles. Primeiro, perdão pela demora (não desistam de mim, sério). Segundo, tá aí o capítulo. Divirtam-se.



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Londres, Inglaterra, 25 de Julho de 1843

Charles se aproximou de Elizabeth enquanto ela estava sentada em um banco de madeira, no jardim dos fundos da casa.

—Querida… - gentilmente, ele sentou-se ao lado dela e acariciou seus cabelos.

—Sim, Charles. - sussurrou, em resposta, com um sorriso adorável.

—Eu liberei a Anne por uma semana. Visitar o filho.

—Tudo bem, já estava na hora de ela o ver.

—Eu… Estive pensativo sobre algo. As suas tosses… Você melhorou delas, não é?

—Sim, estou bem melhor.

—Graças ao bom… - ele se cortou na frase. Ela percebeu sua hesitação.

—O que houve? Parece desconcertado.

—Nada. - mentiu, ainda acariciando os cabelos dela – Te amo, Elizabeth.

—Eu também o amo, Charles. - e o beijou discretamente.

***

Washington D.C., Estados Unidos, hoje

Lucian entrou na velha fábrica com os olhos faiscando de raiva. O sangue parecia borbulhar em suas veias, sua cabeça girava. A visão estava levemente embaçada e ele estava confuso. Exalava um cheiro horrível de vodka. Andou pelo pátio vazio e se aproximou da escada metálica que conduzia ao segundo nível, que era um conjunto de passarelas alguns metros acima.

Ele subiu os degraus entre tropeços. Olhou para uma das passarelas, uma que passava pelo centro do local, até o outro lado, que permitia acesso a quase todas as outras. No meio dela, estava Mefisto, vestido casualmente. Calça jeans azul-escuro, um sapato comum, preto, e uma camisa vermelha, sem estampas ou algo que chame atenção. O cabelo estava perfeitamente arrumado e tinha um cheiro forte, mas agradável, de terra molhada.

—Olá, Charles. - respondeu, sem olhar para ele. Permaneceu ali, apoiado na barra que servia de apoio para quem passasse por ali. O olhar fixo no nada.

—Você me enganou! - gritou, embriagado e com raiva.

—Enganei? - não demonstrou se incomodar com a frase – Como eu te enganei?

—Você matou a Elizabeth!

—Tecnicamente, eu induzi a matarem ela.

—Você fez o mesmo com meu filho! Seu maldito!

—Eu? - virou lentamente a cabeça para Lucian, olhando-o nos olhos – A culpa não é minha que vocês são fracos. Minha promessa, meu acordo com você, foi curá-la.

—E a matar depois? - ele investiu um golpe, correndo.

Mefisto o agarrou pelo pescoço, apertou um pouco e o lançou para perto da escada, do lado que ele viera.

—Eu fiz o que era necessário, Charles. - deu um sorriso pelo canto da boca – Algo me diz que isso está perto de acabar.

—O que quer dizer? - algo o fez sair do estado de choque momentâneo que se encontrava após ser derrubado tão facilmente.

—Ela será toda sua se o Henry não estiver no caminho.

—O que quer dizer com isso?

—Mate-o. - falou, dando de ombros, com um tom totalmente calmo.

—Eu não vou fazer isso.

—Oh… - revirou os olhos e tirou algo do bolso, enrolado num tecido marrom e sujo – Você vai.

—Você sabe que sua… Condição, seu castigo, Mefisto, não nos permite…

—Por isso essa arma, Charles. - e entregou o objeto, ainda enrolado – Ela pode ferir gente como você.

—Então… - ele se aproximou, receoso, estendeu a mão e pegou, desenrolado. Era um punhal. O cabo era feito de metal e enrolado com couro. A lâmina tinha dez centímetros e era de ferro puro, reluzindo com a luz da manhã que entrava pela janela.

—Mas quero que me faça algo. Preciso que me traga o sangue do Henry.

—Como?

—Assim. - tirou um pequeno frasco do bolso e entregou para ele - Encha isso com o sangue dele, o máximo que conseguir. Darei um jeito para ele te encontrar. Na torre do relógio, ao anoitecer de hoje. Pode ser?

—Pode. Mas o que vai fazer?

—Você quer a Elizabeth ou não?

Contrariado, Lucian guardou o frasco num dos bolsos e encaixou o punhal, enrolado, no espaço entre a calça e o cinto. Virou as costas e saiu, pisando firme. Mefisto observou ele sair da fábrica e permaneceu ali. Esperou por mais duas horas, então Henry entrou, decidido. Lançou o olhar para o demônio e subiu as escadas, totalmente calmo.

—Olá, Henry.

—Olá, Mefisto. - e se apoiou na grade, da mesma forma que o outro.

—O que quer?

—A Elizabeth comigo, para sempre. - falou, sem enrolar.

—Direto, do jeito que gosto. - coçou a barba.

—Mefisto, vamos ser práticos. Eu já tenho tudo, todo o acordo, pronto.

—Me mostre seus pontos. - olhava fixamente para a porta de entrada da fábrica.

—Eu faço o que quiser. Mas deve tornar a Elizabeth imortal, se assim ela concordar.

—Se ela não concordar?

—Terei feito o que você quer. E ela… Ela quer isso. Ela vai concordar.

—Espero que sim. - tirou um punhal do bolso – Mate o Charles. Uma alma por outra. – e sorriu.

—Por que você anda com um punhal no bolso? - perguntou, relutante.

—Eu não ando. Essa é uma das vantagens de ser um demônio. - e sorriu – Algumas leis terrenas não se aplicam a você. - olhou para ele e sacudiu o punhal discretamente.

—Ah sim! – pegou, um pouco desconcertado – Onde eu devo…?

—Na torre do relógio, ao anoitecer de hoje.

—Hoje é dia de algo especial?

—Não, Henry. Só acho um tanto poético um assassinato ao anoitecer.

—Entendo… - soltou, distraído.

—Se estiver incomodado com algo – Mefisto olhou dentro dos olhos dele e um arrepio subiu pela sua espinha -, pode me dizer.

—Não é nada. - deu um passo vacilante para trás.

—Fale, Henry. Estou aqui para ajudar. - e estendeu a mão.

Ele sorriu e segurou a mão dele.

—Esse punhal. Mata qualquer criatura imortal?

—De fato. Mas seria algo desagradável ver você tentar me matar. Eu gosto de você – apertou a mão dele com força – e eu odiaria te matar.

—Eu também odiaria abandonar a Elizabeth depois disso tudo. - e sorriu.

***

Londres, Inglaterra, 25 de Julho de 1843

Kathryne se apoiou na grade da sacada do quarto. Olhou para o jardim dos fundos. Abaixou a cabeça. Suspirou. A lua lançava um brilho prateado para dentro do cômodo, contrastando com a luz pálida das velas. Então ela desviou o olhar para as chamas e se aproximou. O rosto estava marcado pela violência do marido. Carregada de ódio, ela cerrou o punho e socou a mesa, quase derrubando o candelabro no processo. Ela se questionava internamente sobre como foi seu casamento. O pai juntou o útil ao agradável. Ela sempre fora apaixonada por Henry, que era de uma família relativamente rica.

O pai dele o obrigou a casar com ela, mesmo ele tendo feito inúmeros pedidos para Elizabeth, seu verdadeiro amor. Ela, por sua vez, rejeitara veementemente todos os pretendentes, exceto Charles. Os três se conheciam desde crianças. O casal sempre demonstrou interesse entre si. Sem muita opção, Henry se afastou, aceitando o seu destino e se casando sem amor. Por mais que Kathryne se esforçasse para ele, realizando todos os seus desejos, ele jamais se interessara por era de fato. E após um aborto, seu casamento terminou de ruir. Algum tempo depois, ela conseguiu finalmente ter uma criança, que faleceu pouco depois. O último golpe sobreveio quando ela perdeu o terceiro bebê. Seu casamento quebrado terminou de vez. Permaneceram apenas unidos pelo contrato que assinaram.

Mesmo assim, ela se devotava ao marido.

Acabar com o James, pensou, repentinamente; e me livrar dela…

Um plano cruel se desenrolou totalmente em sua cabeça. Tão repentinamente que ela mesma se surpreendeu.

Recou um passo do candelabro e deu um sorriso, um tanto sádico, pelo canto da boca, cerrou os punhos e segurou a haste de prata do objeto. Aproximou o rosto da chama e assoprou. Olhou ao redor para se certificar de que estava sozinha. Deitou na cama, mas não demorou muito para se levantar.

Não dormiria naquela noite. Sua mente pulsava com as ideias. Seus olhos faiscavam de ódio. A luz prateada do exterior a enchia com um sentimento estranho, um nervosismo misturado com raiva.

Sorriu.

***

Washington D.C., Estados Unidos, hoje

Elizabeth olhou curiosa para Henry.

—Estou dizendo que terei que sair hoje, apenas isso.

—Certo. Qual lugar?

—Preciso fazer uma coisa. Pra ficarmos juntos.

—O que?

—Elizabeth… - Ele fez que não com a cabeça. Ela recuou um passo.

—Você não confia em mim?

—Não é isso. É que… Você não me perdoaria.

—Eu vou saber uma hora? - ela sentiu uma leve tontura.

—Sim. - relutou.

—Então qual a diferença? - a voz dela fraquejou – Qual a diferença entre ser agora e depois? Pior, por outros meios! Henry…

—Eu tenho que ir. Te explico quando voltar. - e a beijou – Durma, por favor.

A visão dela, que já embaçava, ficou ainda mais turva. Tropeçou até a cama.

—Me desculpe. - uma ponta de ressentimento estava oculta na voz dele.

—Henry… - a voz de Elizabeth se esvaiu em um sussurro lento. Tentou andar até ele, tropeçou, caiu, mas foi amparada. - Não. Por favor.

—É o único jeito. - foi a última coisa que ela ouviu. Sequer teve tempo para uma réplica. Sua visão escureceu e tudo depois disso sumiu de sua mente.

A próxima lembrança que a atingiu foi algo vago, como um sussurro de “acorde”. A sensação de ser bruscamente sacudida a fez acordar com um salto, sentando-se na cama, procurando a fonte da voz.

—Achei que não acordaria hoje. - a voz veio de algum lugar atrás dela. Ela se virou, levemente confusa, pra descobrir quem era.

—Mefisto? - um arrepio subiu por sua coluna.

—Eu mesmo, querida. - ele se levantou da outra extremidade da cama, passando a mão pelo cabelo.

—O que você quer?

—O som do relógio é alto, sabe? Aquele tique-taque continuo, apaixonante. Eu adoro. - ele deu a volta na cama, andando até ela com passos firmes, sem manter contato visual.

—Está anoitecendo? - ela comentou, ao olhar pela janela.

—Sim. Quase noite. Poético, não?

—O que é poético?

—Assassinato ao anoitecer.

—Assassinato? - ela levantou, aos tropeços.

—Pelo jeito você vai ter um ataque cardíaco antes de me entender. - suspirou, se apoiando na janela, olhando para fora – A torre do relógio. - indicou com o polegar.

—Do que está falando, Mefisto? - a voz dela vacilava, mas ela não sabia se pelo receio ou pela estranha sensação de raiva crescente que a incomodava.

—Seu marido e seu amante. - ele a encarou tão profundamente que parecia que ele poderia enxergar através de sua alma. Talvez pudesse.

—Henry e Charles? - murmurou, desconfortável.

—Não necessariamente nessa ordem – meneou com a cabeça -, mas sim.

—O que quis dizer com assassinato? - ela estava ficando impaciente.

—Que eles vão se matar! - comentou, como se fosse algo totalmente óbvio.

—Eles… - foi atingida por uma confusão momentânea.

—Sim. Eles vão se matar. Reaja, garota! O que vai fazer?

—Por que está me dizendo isso?

—Porque quero que interfira. Eles já te prenderam na briga deles por todos esses anos. Qual sua reação? Observar eles te arrastarem, literalmente, pro Inferno outra vez?

—Onde eles estão?

—A torre do relógio. O trânsito está um caos, sugiro que vá andando. Deve levar uns poucos minutos, se você se apressar. - murmurou, olhando para o relógio de pulso – Pode ir com essa roupa mesmo, se quiser. - virou as costas e começou a andar até a porta.

—Qual o caminho?

—Você saberá. - fitou-a, abrindo a porta. Parou por um instante – Boa sorte. - e saiu, deixando um sorriso levemente sarcástico para trás.

Ela levou um par de segundos para entender, então pegou o telefone que ganhou de Henry, abriu a porta e saiu.

No corredor, nenhum sinal de Mefisto. Ela se apressou, disparando pelo corredor, trêmula.

Tinha um péssimo pressentimento.

***

Londres, Inglaterra, 26 de Julho de 1843

Elizabeth retornara para casa tarde naquele dia. Um vento úmido soprava pela janela que, estranhamente, estava aberta. Seu marido não chegaria tão cedo, estava em um de seus concertos no teatro.

—Anne? - chamou baixo pela empregada, não queria acordar o filho.

Um sentimento angustiante a preencheu. Suas pernas perderam as forças e ela se apoiou na mesa de centro.

Algo estava errado. Muito errado.

Respirou fundo, o coração acelerando cada vez mais. Andou até a escada.

Pisou o primeiro degrau.

Pisou o segundo.

Parou no meio do último lance da escada.

—Anne? - Olhou ao redor e chamou por alguém - James! - foi o único nome que ela conseguiu gritar antes de sair aos tropeços e procurar o filho pela casa. Abriu a porta do quarto dele violentamente – Filho!

Sacudiu os lençóis da cama. Estava vazia.

Correu pelo resto da casa, enlouquecida. Até perceber uma luz pálida e cansada vinda de uma fresta da entrada do banheiro. Parou onde estava por alguns segundos.

O coração falhou uma batida.

Andou até a porta de madeira e terminou de abri-la.

Uma vela estava quase se apagando sobre a bancada da pia. A banheira estava cheia.

Sua cabeça girava com todas as possibilidades, mas ela não imaginava aquilo.

Deitado, no fundo da banheira, estava James.

Sua visão ficou turva e ela puxou o filho para fora, unindo todas as forças que tinha para tirá-lo da água gelada. A pele dele estava fria, azulada. Um par de marcas roxas em seu pescoço.

Ela não sentiu a respiração dele.

James estava morto.


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Notas finais do capítulo

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