Yu-gi-oh! GX Duel Academy - Chapéu Vermelho escrita por Kingdom of the Saints


Capítulo 5
Capítulo 5 - Bandana Laranja


Notas iniciais do capítulo

A parte mais difícil em escrever este capítulo foi sem sombra de dúvidas me lembrar a distância entre o sol e a terra. Obrigado pelo meu redator em me lembrar um dado básico que é o sol estar a apenas alguns minutos-luz da terra e e não milhares de anos luz como eu tinha originalmente escrito. Isso teria sido vergonhoso. Isso e a Alexis. A Alexis é uma personagem difícil de escrever em geral. Cheers!



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Raios de sol entravam pelo meu quarto pelas frestas das persianas, e com precisão milimétrica acertavam em cheio minhas órbitas fechadas. Admirei-me com a exatidão da mira do sol, milhões de quilômetros longe de mim, mas ainda assim com uma mira impecável. Se bem que ele não necessariamente precisava mirar. Ah, se somente eu pudesse ser tão horrendamente incandescente...

Levantei-me. Não de vez. Torci-me uma vez na cama, duas, escapando das luzes apenas momentaneamente enquanto a nova onda de partículas ajustava gradualmente a mira do sol até parar de acertar uma das esguias lâminas de plástico que protegiam meus olhos. Preguiçosamente me espreguicei, arrependendo-me logo após em virtude da fadiga muscular ainda mais incômoda do que no dia seguinte.

Passei a mão pelos meus cabelos bagunçados, e após um pequeno farejar na manga do meu pijama decidi que era hora de me assear. Não tinha sido de todo mal, acordar. Tinha tido o sonho mais terrível, com chuveirões de metal que tornavam-se imensas bocas de dragão e me afogavam num imenso oceano com gosto de água salgada, antes de ser puxado mais para fundo por uma dúzia de adolescentes despidas.

Fui o último a banhar-me e o último a tomar café da manhã no dormitório. Não me ofereci nem fui encarregado, mas lavei os pratos também de grande parte dos meus amigos que mostravam má vontade em trabalhar tão cedo na manhã. Não fui agradecido, mas esse não era realmente meu objetivo. Se cada um não tomasse conta do seu, quem iria?

As aulas foram um tédio, como sempre. A esse ponto eu não tinha ilusões sobre Crowler jamais vir a ser um bom professor. Era simplesmente muito distrativo, os babados de suas roupas e sua pele cor de leite em virtude dos cosméticos, tudo isso contrastando com o púrpura do seu batom. Além do mais, o assunto era relativamente fácil. Eram coisas que qualquer duelista deveria saber.

– “Atenção, alunos!” – Crowler exclamou. Ou ele tinha percebido que eu estava olhando para a parede, ou tinha pego Jaden, e por consequência Syrus, dormindo em suas bancadas. Tive a boa-vontade de fazer seu desejo. – “Vocês podem achar isso muito básico mas sempre vejo vocês errando. C’est ne pas admissible! Até alguns dos meus preciosos meninos do Obelisco esquecem dessas questões fundamentais! Ora, tenham vergonha! Vocês são o brilho desta academia, ouviram? O brilho! E não podem errar em coisas tão fúteis assim!”

Era um bom ponto. Eu mesmo tinha percebido isso de alguns obeliscos. Pois bem, não poderia fazer mal em me esforçar para prestar atenção nele por cinco minutos, não é? Portanto, eu o fiz.

Era fútil. Não tinha nada lá para mim.

Uma semana tinha se passado desde que perdi o duelo mais importante que travei nesta academia. Desde lá, não pude deixar de notar, não pude deixar de ouvir o que aqueles mesmos rostos cochichavam entre si. Ou que eu era uma fraude, ou que eu era pedante. Eu nunca deixaria ninguém saber, mas... Aquilo doía.

Por mais que eu tentasse me afastar daquilo, não havia jeito. Não havia como apagar minhas ações, e eu me envergonhava delas. Por mais que eu tentasse relevar, pensar em alguma outra coisa, por mais que eu tentasse ir em frente, era em vão. Aonde eu ia, aqueles eventos me seguiam como grilhões. As palavras de Zane sempre voltavam para me atormentar. “Você tem que aprender a respeitar o seu oponente”. Era eu assim tão orgulhoso? Possuía eu tanta vã glória? Todas as vezes que eu me deparava com meu reflexo, eu não conseguia deixar de perguntar à Solomon isso. “Quem é você?”. Eu nunca tinha pensado tanto nesse aspecto. Eu não me via da forma como me acusavam. Isso era tanto minha defesa, quanto a fonte de minha angústia. Como uma cobra que morde a própria cauda.

Os professores costumavam liberar os alunos mais cedo alguns cinco minutos, de forma geral, que o tempo estabelecido para a aula. Portanto eu permaneci na sala por algum tempo, preguiçosamente arrumando meu caderno e meu material escolar. Não havia motivo para me apressar em ir para qualquer lugar. Fechei minha bolsa retangular com um click do feixe magnético e vesti a alça de forma que ela fosse suspensa pelo meu ombro direito.

Fiz meu caminho por um corredor, outro, até me deparar com a área aberta da praça de alimentação. Uma área iluminada apenas por luzes artificiais, como era a maior parte da academia, possuía o aspecto de uma praça e na verdade era construída em dois níveis, com escadas de acesso para baixo e para cima e com lojas de marcas conhecidas em ambos os pisos. Haviam árvores e plantas entrecortando o ambiente artificial, maior parte delas endêmicas da região.

Antes mesmo de descer as escadas para o piso mais baixo, senti minha cabeça ficar repentinamente mais leve. Alguém havia roubado meu chapéu.

Olhei para trás. Era aquela escória do Obelisco. Um de cabelo curto e castanho-claro, seus olhos estreitos e o nariz bem afilado. Outro tinha cabelos negros que pareciam ter sido cortados com o auxílio de uma tigela. O terceiro tinha seus cabelos loiros raspados nas laterais, mas grandes e ondulados na parte central e na nuca, além de uma expressão insuportável no rosto o tempo todo.

–“Ei, fraude. Vai tentar chupar o Zane hoje de novo?” – Falou o de cabelos negros. Era provavelmente o menos eloquente do trio. Não que nenhum deles pudesse ser considerado um ser pensante. Brinquei com o pensamento de soca-lo até não conseguir mais ver o rosto de tão inchado.

–“Tem outras formas de chamar a atenção dele, Solomon. Já tentou uma cartinha de amor?” – Desta vez foi o loiro quem deu continuidade a brincadeira. Risinhos eram compartilhados pelo grupo a cada vez. Este eu queria acertar com um bastão de baseball na nuca, força-lo a morder uma calçada e pisar na cabeça dele até separar a mandíbula do resto.

Eu não queria jogar aquele jogo. Mas eles tinham a única coisa que eu não podia simplesmente abandonar.

– “Meu chapéu. De volta.“ – Falei de forma pausada, minha voz carregada com meu aborrecimento daquela situação enfadonha. – “Eu quero.” – Adcionei.

–“Oooown, o bebezinho quer o chapeuzinho dele?” – O nariz de Pinóquio fez sua contribuição.

– “Homem da caverna querer mais alguma coisa?” – O loiro respondeu-me.

“Te ver deitado numa sarjeta numa piscina cheia do seu próprio sangue”, eu pensei em falar. Não o fiz. Ao invés disso, coloquei minhas mãos nos bolsos da minha jaqueta. Eu era forte demais para aqueles moleques. Se pegasse no pulso de um com força de mais, eu temia poder quebrar como um galho seco. Eu não era um monstro.

–“Não, só isso já estaria bom.”

Eu vi uma veia saltar na testa de um deles. Ele franziu o cenho, irritado.

–“Você se acha o cara, não é?” – Um momento de silêncio se passou entre mim e ele. – “Quero ver você ficar posando de fodão depois disso...!”

Eu senti o punho dele se afundar no meu estômago. Contraí os músculos do abdômen para me proteger da maior parte do dano, mas ainda assim a dor se alastrou e eu perdi um pouco do fôlego. Achei que a melhor alternativa fosse não reagir. Eu ainda era melhor que ele. O segundo soco veio, e o terceiro. Eu dei um passo para trás para cada um deles.

Um deles colocou o chapéu na cabeça. Essa foi a gota d’água. Abriu a boca, provavelmente para fazer alguma outra piada, mas meu soco o interrompeu. Meu chapéu caiu no chão, e eu ajoelhei-me para pegá-lo. Um contra-ataque veio de um dos amigos dele, mas eu me pus no chão mais rapidamente e desequilibrei-o com uma rasteira num movimento circular. O terceiro veio tentar pisar em mim enquanto estava com a barriga para cima, mas dando uma cambalhota para trás eu saí do caminho. Eu pus o meu chapéu no lugar onde ele merecia ficar, na minha cabeça. Não na de ninguém mais.

– “Desapareçam. Antes que fique mais feio para vocês.” – Eu falei, referindo-me ao Obelisco que sangrava consideravelmente pelo nariz e o de cabelos negros que segurava a lombar; provavelmente aterrissou em cima do cóccix. Para a minha surpresa, eles obedeceram minha sugestão. Eu apanhei minha bolsa, que tinha se desprendido de mim quando rolei, mas ao me levantar percebi que uma pessoa tinha se aproximado. Meu instinto foi pular para trás e desferir um chute, mirando para a cabeça, achando que os palhaços do Obelisco tinham vindo para um segundo round, mas parei a ação na metade quando ouvi o grito estridente de uma menina.

Alexis tinha se curvado inteira, com os braços tentando cobrir as áreas sensíveis do corpo e as mãos espalmadas, temendo o golpe, encolhendo-se quase a uma bola de pessoa. Eu já tinha erguido minha perna, só faltava estender o joelho para desferi-lo quando hesitei, uma vez que a reconheci. Me desequilibrei por um momento, mas consegui me manter de pé.

–“Pra quê tudo isso, seu bruto?!” – Alexis falou, com uma voz exasperada.

–“Alexis...!” – Meus olhos se arregalaram. – “Céus... Que... s-susto.” – Gaguejei. Não queria ter admitido surpresa assim, no aberto. Mais alguns bullies poderiam estar próximos, e ai eu jamais ouviria o final da palhaçada.

– “Susto?! Você quase me deu um chute!” – Agora ela parecia legitimamente raivosa. Pôs as mãos na cintura. – “Meu deus, você é tão violento! Um deles saiu sangrando! Precisava de tudo isso?!”

–“Eu...” – Era difícil argumentar com ela. Àquele ponto eu percebi que tinha algo de muito errado com a situação. Olhei para as laterais, para tentar encontrar uma menina com cabelo trançado e outra com cabelos negros e curtos, presos por um diadema. Não as encontrei. Alguma coisa em mim estava contente com aquela revelação. Não teria que lidar com elas. – “Você... Você está sem suas amigas.”

–“É...?!” – Ela não sabia o que responder. – “... Bem observado... eu acho?!” - A esse ponto ela parecia confusa. Torceu o rosto uma vez, balançando a cabeça para o lado rapidamente, depois tornando a fazer contato visual. – “Veja, não tente desconversar. Pra quê tudo isso?! Você deixou um deles sangrando!”

– “... Veja.” – Eu levantei as mãos, espalmadas, em defesa. – “Eles que começaram, e-... Um deles pegou meu chapéu, e eles não iriam par-“

–“... Teu chapéu?” – Ela fez um som, desprezando o que eu tinha dito, um pequeno “uuuhr” grave. – “Mas grandes coisas teu chapéu, cara. Você deixou ele SANGRANDO por conta de um chapéu?!” – Ela curvou o corpo na minha direção. Eu notei olhares alheios observando nossa conversa, atraídos pelo barulho sem dúvidas.

–“... É importante pra mim. Eu não achei que você fosse entender.” – Eu tentei recompor minha pose. Pus uma mão no bolso, a outra segurava a aba do meu chapéu, tentando fazer meu rosto menos visível para a plateia que se formava. Também tentei fechar os ouvidos. – “Além do mais, o nariz é só cartilagem. Uma ida na enfermaria e uma puxada e ele vai estar bom como novo, e-...”

Mais uma vez fui interrompido. Agora por um suspiro aborrecido da parte de Alexis.

–“Qual é a tua?” – Ela perguntou, meio a mim, meio a ela mesma. – “Por que você é assim?”

Eu lutei com a pergunta.

–“... Perdão?”

–“Por que você é sempre assim? Deuses, parece que você se acha o melhor daqui.” – Ela repetiu, e adcionou.

Não consegui fazer mais nada do que ficar em silêncio. Ela olhou para o piso, perto dela. Ficamos nesse silêncio estranho por alguns momentos. Não era como eu tinha imaginado meu primeiro contato com ela. Não era o que eu esperava do meu primeiro contato com ninguém. Além do mais, isso não era da conta dela. Por que ela estava agindo assim? Foi minha vez de ficar aborrecido.

–“... Bah. E daí? Ele tá com o nariz quebrado, boo-hoo. Tadinho. É bom que tenha um incômodo na vida de vez em quando para aprender a não incomodar os outros. Vai criar caráter.” – Eu peguei na aba do meu chapéu de novo, puxando-a para baixo. – “O que eu ainda não entendi é por que você está aqui me falando isso. Você não é responsável por mim.”

Ela olhou para mim com olhares de pura reprovação.

–“... É disso que eu tô falando, tá vendo? Poxa, eu não tinha acreditado no fala-fala da galera até agora. Você me parecia diferente.”

Eu visivelmente me recolhi diante daquela acusação. Já tinha sido o suficiente para mim. Não fiz mas nenhum som, só olhei para baixo, dei meia-volta e me afastei dali, sentindo o olhar de reprovação de Alexis fazer um buraco nas minhas costas. Apenas... Eu olhei para trás, e não havia reprovação nos olhos dela. Eu percebi... Culpa?

...

Esses últimos eventos me deixaram demasiadamente cabisbaixo. Era hora do almoço, porém eu tinha perdido todo o meu apetite. Fora isso, eu não queria estar naquela praça de alimentação, com todos aqueles olhares. Com Alexis lá. Eu simplesmente vaguei, pela vastidão daquele prédio que eu ainda não conhecia direito. Eventualmente eu me cansei de andar, sentando num pequeno banco de metal, próximo à entrada de algum lugar. Não realmente estava prestando atenção para onde ia. Só queria limpar minha mente.

Do lugar, saiam luzes e vozes. Vozes excitadas. Vozes de quem está se divertindo. Eventualmente minha curiosidade venceu meu humor e eu virei com a cabeça para registrar o que era, de fato, aquele lugar. Era um cômodo pequeno, com várias estantes cheias de pequenas caixinhas de plástico. Um balcão de vendas ficava ao fundo, com uma caixa que sorria e processava as transações de alguns entusiasmados estudantes. Havia pôsteres nas paredes com figuras de monstros. Nas estantes também havia uma incrível variedade de outros produtos relacionados a Monstros de Duelos, como discos de duelo, alguns cabideiros cheios de roupas com estampas das cartas mais populares do jogo, pequenos modelos em miniatura dos hologramas dos monstros do jogo... Eu tinha achado a loja de cartas por acaso.

Eu não possuía dinheiro o suficiente para comprar qualquer coisa; o pouco que eu possuía era enviado pela minha mãe, do outro lado do oceano, periodicamente e claramente explicitado por ela como emergencial. Se eu me encontrasse numa crise, não queria ter que apelar para ela, nem me sentir culpado que gastei tudo o que tinha em cartas. Afinal, Monstros de Duelos é importante, é um esporte de magnitude, mas não é tão importante quanto a saúde e bem-estar de qualquer um e isso é importante ser enfatizado. Ainda assim, fiz menção de me levantar. Talvez considerar que pacotes de cartas—“boosters”—eu compraria se tivesse dinheiro me ajudasse a fazer decisões melhores assim que eu o adquirisse de qualquer forma.

Meu trilho de pensamento foi interrompido por vozes familiares vindo de dentro da loja. Eram três ao total, duas vozes graves e uma mais suave. Não precisei gastar muito tempo tentando adivinhar a quem pertenceriam, porém, pois do outro cômodo da loja saíram Syrus, Jaden e a figura esguia e pequena de outro menino do Slifer. Ele usava uma grande boina redonda e uma bandana laranja, seu uniforme estava com todos os botões atacados, e possuía uma camisa preta por baixo da qual só se podia ver a gola.

–“Wow tem tantos boosters aqui! Vou passar o resto da semana vindo aqui todos os dias! Essa loja é excelente!” – Jaden Yuki afirmava para os seus amigos, com o sorriso habitual no rosto, gargalhando das brincadeiras dos seus outros amigos.

–“Sim, sim! E eu vou comprar todos esses!” – Syrus afirmava sobre algumas dezenas de Boosters que possuía entre os braços, seu sorriso indo de orelha a orelha. –“Rapaz! Que bom que tivemos essa ideia de mostrar ao Blair a loja!” – Ele sorri agora para o rapaz com a boina. – “Tá vendo? Eu disse que você ia gostar!”

–“Hahahahaha...” – O menino ri, aparentemente desconsertado. – “Sim, Syrus, verdade, verdade!” – A voz suave dele me era familiar, e ressoou na minha cabeça uma dúzia de vezes.

Foi então que me acometeu. Eu conhecia aquela voz, mas não pertencia a um menino. Aquela voz era, sem sombra de dúvidas, a voz da menina que tinha encontrado no banheiro comunal do Slifer, dias atrás! Era ela, com toda a certeza. Isso explicava tudo, de seu senso estranho de moda até sua voz suave, seu rosto delicado e sua ausência de maneirismos masculinos. Neste momento, reparei também a ausência de traços femininos por toda a silhueta do corpo. Um trabalho muito bem feito, se tinha enganado tantas pessoas do Slifer por tanto tempo, talvez inclusive a mim.

Neste momento eu soube o que eu tinha de fazer. Talvez ela ficasse desconcertada com minha presença e eu, por consequência, acabasse revelando seu segredo inadvertidamente. Julguei que seria melhor para nós dois se não nos esbarrássemos. Afinal, eu detestaria ter que interagir com ela, ou com qualquer pessoa, baseando-me numa mentira. Me sentiria desconfortável, o que talvez atraísse a suspeita de Jaden e sua trupe. Eu imediatamente girei trezentos e sessenta graus sobre mim mesmo e me encaminhei para fora.

–“Ei! Bane! Aonde você está indo?!” – Jaden anunciou, alto. Quando virei-me de novo, estava acenando com a mão. – “Chega mais, parceiro!”

Malditos sejam você e sua disposição extrovertida, Jaden Yuki.

–“Yo!” – Minha voz saiu bem mais entusiasmada que o habitual. A conversa mal tinha se iniciado e eu já estava falhando de tal forma em manter minha compostura.

–“...Yo!” – Jaden respondeu, com um tom que deixava escapar um pouco de surpresa. Seu grupo se entreolhou por um momento, depois concordou em se aproximar de mim. – “Que surpresa de te ver aqui, cara. Você é geralmente tão na sua, sempre da academia para o dormitório e do dormitório pra academia, sabe, nunca para...” – Ele pôs seu braço por cima do meu ombro, usando como suporte para o próprio peso. – “... E ai? Vai comprar alguma coisa? Seu deck já é bem forte, mas eu tenho certeza que se você colocasse um herói elemental ou outro ia ficar bem melhor, hein?” – E apontou para um booster pack perto de si. O nome “Heróis Elementais” em uma fonte tipográfica que lembrava gibis que eu costumava ler quando criança.

–“Ah... Não... Eu só estava observando.” – Eu puxei a aba do meu chapéu para baixo. – “Acabei de encontrar esse lugar.”

–“Sem dinheiro hein, meu chapa?- “ Ele disse me dando tapinhas nas costas. – “Ei, sem problemas, eu já entendi tua parada. ‘Te dizer o seguinte: eu tô com grana extra esse mês... Nada demais, sério... Mas eu queria dizer, eu realmente admiro tua coragem, cara. Não, mesmo!” - Ele repetiu, insistindo. – “Eu acho que você mostrou a eles como duelar, cara. Fora aquelas lutas com o Zane, mas ei, não deixa isso te deixar boladão, beleza? Você foi muito bem.” – Eu já tinha percebido, mas agora com ele tão próximo eu podia realmente sentir o quanto eu detestava o cheiro da colônia que ele usava. Ele cheirava a garoto imberbe. – “Então, escolhe um booster ai. Fica na conta de Jaden Yuki. Assim, dado mesmo. Não precisa me devolver o dinheiro nem nada. Um presente meu para você.” – Ele gesticulou uma vez para si e outra para mim, enfatizando seu ponto.

–“... Não. Não precisa.” – Eu fiz menção de dar um pouco de distância entre mim e ele. –”Eu até já... Já estava de saída.” – Falei para concluir.

–“Não, cara, tá tudo bem. Só um presente entre amigos, nada demais. Não precisa nem se preocupar comigo, não é como se eu esperasse presentes no Natal nem nada do tipo. Embora eu realmente apreciaria presentes no Natal.” – Ele me segredou a última parte.

Eu puxei a aba do meu chapéu.

–“Não!” – Falei de ultimato. Não queria cartas ou ternura. Não queria compensações nem mesmo admiradores. Não queria o dinheiro do Jaden e principalmente não me sentia merecedor de um presente pela sandice que tinha feito, não merecia ser agraciado pela atitude arrogante que tomei no início das aulas.

–“Okay, okay!” – Ele falou em defesa. – “Não precisa se exaltar. Diga, já conhece o Blair? Ele é meio caladão que nem você. Acho que vocês iam se dar bem hein? Ô Blair! – Ele chamou a figura de boina para próximo. – “Esse é Solomon “O Cara” Bane! Devia ver ele duelando, é exatamente sobre o que eu estava falando com você mais cedo... Ele duela com garra! Sim, com o verdadeiro espírito de um guerreiro, e-...”

–“Não, Jaden. Como eu ia dizendo, já estou de saída e-...” – Olhei para Blair uma última vez, por debaixo da sombra da aba do meu chapéu.

–“Olá, senhor O Cara!” – A menina em disfarce falou, fingindo entusiasmo. Ela extendeu a mão para mim. – “Prazer em conhece-lo pela primeira vez.” – Se ela estava nervosa, não demonstrava. Inclusive, seu olhar... Era como se brincasse comigo. Como se achasse a posição esquisita na qual eu me encontrava bastante divertida. – “Estranho eu quase nunca te encontrar no dormitório.”

–“... É. Estranho isso.” – Eu concordei, sem bem saber com o que estava concordando. Eu esperei ela guiar a conversa. Iria simplesmente seguir sua deixa.

Jaden Yuki parecia um tanto aborrecido com nossa interrupção, mas reverteu para sua disposição normal.

–“... Tá vendo! Eu disse que vocês iam se dar bem. Ah, bem, pessoal, para onde vocês querem ir agora? Meu estomago está roncando e eu estava louco por um daqueles hambúrgueres duplos daquela loja-...”

–“Jaden! Eu ainda tenho que comprar meus boosters no balcão!” – Anunciou Syrus, de forma preocupada. – “Além do mais, eu queria te mostrar aquele disco de duelo legal que eu te falei! Eu só não achei ainda...”

–“Talvez Solomon pudesse vir conosco?” – Falou Blair, um sorriso em seu rosto.- “Preciso de alguém pra me salvar do fala-fala constante do Jaden. Por favorzinho?” – Ela olhou para mim, seus olhos como um filhote de cachorrinho que implora.

Jaden acenou com a cabeça para mim, mostrando sua aprovação. Syrus já tinha ido conversar com a atendente do balcão. Só restava a minha decisão.

Muito passou pela minha cabeça. Jaden e Syrus não eram pessoas por quem eu tinha me interessado desde o princípio, e além do mais eu ainda possuía algum tipo de antipatia pelo primeiro. Mas... Era bom ter calor humano por perto de novo. Era bom não me sentir sozinho. E principalmente, eu queria conhecer melhor Blair. Ela tinha construído toda essa arquitetura para se passar por um menino, todo esse esforço, e eu queria entender melhor seus motivos. Para mim não fazia sentido. E mais, eu não consegui resistir aqueles olhos. Senti meu rosto aquecer, e antes que pudessem notar que eu estava corando, eu concordei:

–“... Eu não me importaria em ir.”


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