Segredos escrita por CarolDareDevil


Capítulo 1
Noites de solidão




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Aquela seria mais uma, dentre as várias noites, em que Karen voltaria para o seu escuro e solitário apartamento, jogaria sua bolsa em cima do balcão da cozinha, pegaria a garrafa de vodka e encheria o primeiro copo que visse. Beberia tudo com apenas um gole e depois, sentiria a sua garganta queimando e sua cabeça latejando. Caminharia por todos os cômodos do pequeno apartamento com a garrafa de vodka como sua companhia. E quando terminasse, pegaria uma garrafa de uísque. Passaria o resto da noite daquela forma, pensando. Pensando em tudo o que havia e o que não havia feito. Pensaria naquela noite em que matara Wesley. Pensaria no passado. Pensaria na quantidade de segredos que era capaz de esconder das duas e únicas pessoas que ela mais amava no mundo: Matt e Foggy.
Já eram quase nove horas da noite quando Karen abriu a porta do seu apartamento. Trancou a porta duas vezes depois de entrar. Olhou para o carpete manchado de sangue. Largou a bolsa em cima do balcão da cozinha. Pegou uma garrafa de vodka que estava pela metade e serviu encheu um copo. Preferiu tirar o cachecol antes de beber. Andou até o espelho que ficava entre a sala e o quarto, parando para olhar sua imagem refletida. As noites estavam ficando cada vez mais frias e seu nariz estava muito parecido com o de uma rena: vermelho. Seu cabelo loiro e comprido parecia o mesmo, porém seus olhos não. Seus olhos eram capazes de mostrar sua culpa interior, sua dor e medo, em uma belíssima mistura de tons azuis. Karen os fechou por um momento, tentando esquecer suas memórias, mas ao abri-los novamente, percebeu que nada havia mudado. Todos os seus sentimentos ainda estavam ali e não iriam desaparecer como num passe de mágica.
Mágica. Karen nunca gostou de mágica. Achava aqueles truques ridículos e fáceis para alguém como ela. Sempre fora muito esperta desde criança. Mas nem isso a impediu de ser abusada de diversas formas. Ela havia feito algo errado certa vez. Algo que nunca se orgulharia. Algo que se envergonhava imensamente. Mas aquilo tinha sido necessário. Não podia mais viver daquela forma. Sempre tinha sido bonita. Seus grandes olhos azuis encantavam a todos, especialmente os homens. Ela era apenas uma menina do interior. Não conhecia o mundo. Não conhecia o que havia por trás de certos sorrisos.
Olhou para o seu reflexo no espelho mais uma vez antes de começar a chorar. Sentia as lágrimas escorrendo pelo rosto, as mesmas lágrimas que brotavam todas as noites após o trabalho. Se ela pudesse, moraria naquele escritório de advocacia pelo resto da vida. O lugar onde ela se sentia segura. O lugar onde estavam as duas pessoas que ela mais amava, as duas pessoas que a faziam sorrir e a se sentir feliz.
Se sentou na beirada da cama, observando o copo de vodka em cima do balcão, enquanto chorava. Não era certo fazer aquilo. Não era certo passar noites bebendo para tentar esquecer os problemas. E não era certo escondê-los de deus melhores e únicos amigos. Adorava o jeito que Foggy a fazia rir de suas piadas e de como era fácil esquecer seus problemas quando estava com ele. Era simples gostar dele. Karen adoraria ter tido alguém assim como irmão. Alguém que ela pudesse falar besteiras e rir por longas horas. Ela sabia que em certo momento algo tinha acontecido, mas sabia que não poderia corresponder. E Foggy não merecia uma assassina como namorada.
Karen enxugou as lágrimas com uma das mãos. Se levantou, indo em direção ao balcão. Analisou o líquido transparente que quase transbordava do copo. Era exatamente aquilo que estava acontecendo com ela. Karen estava transbordando, assim como a vodka. Não havia mais espaço para os seus sentimentos confusos. Não havia mais espaço dentro dela que suportasse guardar mais um segredo. Olhou as minúsculas ondas que se formavam ao balançar o copo com uma das mãos. Matt Murdock surgiu em seus pensamentos.
Era diferente com ele. Era diferente estar sozinha com ele. Ela não entendia porque, mas podia se lembrar de cada momento que ficara a sós com ele. Karen se sentia segura com Foggy, sim. Mas com Matt era algo absurdamente estranho. Era como se nem mesmo a morte pudesse atingi-la. Um sentimento que ela nunca havia experimentado antes, a não ser na noite em que fora salva pelo mascarado.
- Matt – sussurrou no vazio do apartamento.
Mais lágrimas caíram ao dizer o nome dele. Ela já havia mentido para ele uma vez e teve a sorte de ainda estar viva. Ela não podia mais guardar aquele peso dentro de si. Não aguentava mais. Precisava contar para alguém. Mesmo que fosse para a pessoa que ela mais temia perder.


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