A lenda dos amantes do Tempo escrita por Geovanna Ferreira


Capítulo 2
Um novo mundo se revela


Notas iniciais do capítulo

Se gostar, comente! :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/631396/chapter/2

Regina caminhava na noite escura. Abraçada a seu próprio corpo, tentava mandar para longe o frio cortante. Andava apresada pela rua deserta bem no meio dela, na ânsia de chegar a lugar algum.

Portas e janelas estavam fechadas. Luzes, apagadas. Não se ouvia nenhuma conversa, não se via nenhuma movimentação. Storybrookes dormia, o sono eterno dos aprisionados.

A rainha, insone, temia voltar para casa, enorme, luxuosa, vazia.

A prefeita interrompeu bruscamente seus passos ao se deparar com a biblioteca. Pouco estivera ali em todo aquele tempo. O lugarzinho nunca lhe despertara interesse. Ela olhou em direção a sua mansão. Não queria retornar. Encarou novamente a biblioteca, indecisa.

Porque não se refugiar dentro daquelas paredes repletas de livros velhos?

Não havia ninguém a sua espera em casa.

Regina entrou com facilidade. Possuía as chaves, assim como tinha a de cada fechadura da cidade.

Ela analisou ao redor. Na penumbra, a biblioteca parecia um grande e deprimente cemitério de histórias exprimidas e organizadas em prateleiras.

Sentou-se no chão, envolvendo suas pernas, pousando a cabeça sobre os joelhos. Estava exausta. Cansada de tudo. Seu espírito clamava por descanso.

Regina foi escondida completamente por estantes. Seu rosto estava coberto pelas sombras da madrugada. Quem quer que entrasse ou passasse pela rua, não a veria, encolhida como uma criança indefesa, sendo torturada por seus pensamentos. Pensava em sua antiga vida, a tanto morta com Daniel e os dias felizes, assassinada com a certeza inocente de que ficariam sempre juntos. As palavras de Archie ecoavam, pesando, fincando-se com agulhas em sua mente.

“ Você deve dar uma chance a você mesma... “

Regina não podia abrir seu coração, não novamente, para ser massacrado. Uma vez havia se entregado, fora boa e tola. Acabara destroçada sem piedade.

Ela sabia, o amor era a maior de todas as fraquezas.

Agarrou-se com mais força, querendo esquecer-se do passado, o presente e como seria o futuro. Era inimaginável, terrível de se cogitar.

Algo pontudo incomodou suas costas. Atrás dela, um livro saltava parcialmente da prateleira. Ela pousou o dedo sobre a lombada grossa e vermelha, sem racionar, pronta para empurrá-lo de volta ao seu lugar. Não sabendo porque, hesitou.

O livro parecia chama-la, estando ali não por um mero acaso. Regina titubeou antes de pegá-lo.

Era pesado. Fitou sua capa vermelha brilhante, sem título, autor, ou qualquer coisa que pudesse lhe revelar do que se tratava. Folheou. As primeiras folhas em branco, também não lhe diziam nada. Até que na terceira delas, leu:

Londres Vitoriana

Londres.

O que significaria aquele nome?

Regina foi virando páginas, e dezenas de fotos foram aparecendo. Imagens de um mundo repleto de homens de cartola, chaminés, chás e vestidos de baile surgiam, um mundo que lembrava em muito o seu e aparentemente, ficava naquele mesmo reino sem mágica.

Londres.

Lá estava o rio Tâmisa e as docas, os navios navegando-o e ao fundo dele, a fumaça costumeira das fábricas têxteis subindo ao céu cinza.

Ela leu alguns parágrafos abaixo da fotografia, datada de 1865.

O livro falava de uma cidade, de um país, o mais rico e poderoso de sua época.

Inglaterra.

Já ouvira falar nesse lugar.

Páginas e páginas contavam com precisão sobre a cultura, os costumes e a vida naquele local. Regina virou mais uma delas.

Um retrato tomava todo o centro do papel amarelado.

Em meio a tumbas e anjos caídos, um homem chorava, prostrado diante um túmulo. Suas mãos traziam uma única flor. Ao seu lado, uma garotinha com semblante dolorido portava também uma florzinha.

Regina podia sentir em sua própria carne a tristeza que emanava daquela foto. A contemplou por longos minutos, incapaz de seguir em frente. Algo a mantinha fixa, algo íntimo e particular. Ela passou o dedo suavemente pelo rosto do homem, como se quisesse enxugar suas lágrimas. Sentiu um aperto estranho no peito. Era como se o conhecesse, de um outro tempo, uma outra vida.

Na legenda, estava escrito:

“ Mr Bernard Bell e sua filha, Eliza Bell, cemitério Highgate, 1880. “

Bernard.

Quem era ele? Por quem chorava?

Regina vasculhou as linhas ao redor.

Não havia nada sobre Bernard e Eliza Bell.

A mulher que a tantos matara e fizera sofrer, se comovia com a dor de um homem de 1880, escondida dentro de uma biblioteca, na madrugada silenciosa.

Abalada, ela forçou-se a ir para além.

Regina não podia supor o que a aguardava.

Diretamente do papel, uma velha conhecida cortava sua alma com seu inconfundível olhar maquiavélico. Ela a encarava, em desafio.

Regina apertou o livro, cravando suas unhas. Cada fibra de seu corpo estava tensa.

Não podia ser real.

Encapuzada, numa rua imunda, entre maltrapilhos, prostitutas e crianças desnutridas, estava uma mulher.

A reconheceria em qualquer lugar.

Cora.

Sua mãe. Era ela, tinha de ser.

O que fazia ali? Como fora parar ali?

Regina sequer piscava, perplexa.

Abaixo da foto, pequenas letras diziam:

“ A mulher de capuz, identidade desconhecida, Whitechapel 1880. “

As duas fotografias partilhavam a mesma data.

A prefeita fechou o livro com um tranco e saiu da biblioteca, trêmula.

Voltava para casa decidida, com o volume em mãos e um plano arquitetado em mente. Só precisava convencer uma pessoa a ajuda-la.

Gold.

Regina estava em sua cama, ainda sem conseguir dormir. Com o livro aberto, ela vagava do infeliz homem a mulher encapuzada.

A voz de Archie se repetia, de novo e de novo, sem trégua.

“..._ há um mundo inteiro a sua espera. Pronto a abraça-la. Você só precisa se permitir. “

Realmente, havia um mundo inteiramente novo a lhe esperar. Nele, por algum motivo, sua mãe perambulava, nele habitavam os olhos tristes de Bernard Bell.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Fanfic de minha autoria, protegida contra plágio.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A lenda dos amantes do Tempo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.