A lenda dos amantes do Tempo escrita por Geovanna Ferreira


Capítulo 18
O sacrifício maior - parte 1


Notas iniciais do capítulo

Gente desculpa a demora, semana de provas na faculdade! :( Esse capítulo é imensoo então pra não ter que postar umas 20 paginas eu dividi em parte 1 e parte 2! Provavelmente o próximo capítulo também será assim, porque vem muuuita coisa bombástica por ai! Segura o coração que lá vem chumbo! hahahah Fanfic de minha autoria, já protegida contra plágio. Prequel de Once Upon a Time. Tudo acontece antes de Regina adotar seu filho Henry e a série começar. Fic tem conexão com a terceira temporada, mas dá pra lê-la muito bem sem ter visto a season 3.



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"Talvez desta vez, eu terei sorte
Talvez desta vez ele vá ficar
Talvez desta vez, pela primeira vez
O amor não vá embora rapidamente
Ele vai me segurar rapidamente
Eu estarei em casa finalmente
Não serei mais uma perdedora
Tal como a última vez, e a vez anterior
Todo mundo ama um vencedor
Portanto ninguém me amou...
Todas as chances estão, elas estão ao meu favor
Algo destinado a acontecer
Vai acontecer, acontecer alguma hora
Talvez desta vez,
Talvez dessa vez eu vou ganhar. "

Maybe this time - Liza Minnelli

Ao abrir os olhos naquela manhã, Bernard automaticamente sorriu. Regina estava sentada frente a penteadeira onde muitas e muitas vezes Annabeth se penteara. O mesmo móvel que depois que ela fora, ele acabara quase que ignorando completamente.

Ela encarava fixamente a mulher séria presa no espelho.

Seu reflexo.

Sua postura perfeita a denunciava. Era uma rainha ainda ali, logo cedo, com o cabelo negro ondulado caindo por suas costas nuas pontilhada pintinhas. Era linda sem esforço. Bernard sorriu outra vez com esse pensamento. O que pensava? Ele se questionou. Parecia estar tão longe, tão triste, tão dentro de si ou talvez, a milhas de distância. Ele não tinha como saber do medo massacrante que sentia, de sua impotência diante da poção que a levara até aquele tempo e estava se desfazendo, desfazendo, sem que ela conseguisse fazer qualquer coisa para mudar isso, para evitar o momento derradeiro em que seria lançada de volta à aquela ridícula cidade feita de vingança e solidão.

Regina relembrou as ruas de Storybrookes, as pessoas desnorteadas sequer poderem supor sua desgraça, reviveu seus dias vazios. Ela olhou para Bernard na cama e ele fechou abruptamente seus olhos.

Não podia abandoná-lo, à aquele homem que despertava o melhor que havia nela, sua bondade, sua pureza, a tanto adormecidos. Ele precisava tanto dela. Eles se precisavam tanto.

Por um instante, ela saiu de suas divagações e enfim notou uma pequena caixa dourada na penteadeira. Curiosa, a abriu, lentamente. Dentro, o delicado anel, cravejado por minúsculas pedrinhas brilhantes, reluziu sob o sol da manhã. Ela deixou-se ficar admirando a jóia, sem saber que era também admirada por Bell.

Com o rosto iluminado pela luz que invadia o quarto, ela sorriu, genuinamente encantada com o antigo anel de noivado da mãe de Bernard. Cuidadosa, como se culpada por estar mexendo em algo que não era seu, fechou a caixinha e andando descalça, pé com pé, temendo por acordá-lo, deitou ao seu lado, encaixando-se a seu corpo nu.

Junto a ela, ele voltou a adormecer, sorrindo, com uma irresistível e repentina ideia em mente.

_ Pode perceber? - soltou ela, minando o silêncio, olhando ao redor.

_ É tudo tão quieto, como se o mundo tivesse parado. Tudo que sinto é paz. E amor. – completou Regina.

Estavam ainda abraçados na cama, aproveitando ao máximo fazendo amor ou apenas deitados, pele com pele, as horas que tinham a sós antes que Eliza voltasse com Maise do campo.

Bernard permaneceu calado.

_ Fiz as escolhas erradas, as piores possíveis - ela suspirou – tentando me livrar do aperto no peito, do meu ódio, querendo coisas extraordinárias para ter uma parcela de felicidade. E agora, é meio patético perceber. Tudo foi em vão e o eu sempre quis, mesmo sem saber, é estar aqui, parada no tempo, nessa casa, nesse quarto, com você. Vou lutar para ficar.

Bell não entendeu a emoção latente naquelas últimas palavras.

Não podia entender.

_ Era isso que tinha para dizer. Agora beije-me, plebeu, beijei-me.

Caíram no riso. Bernard obedeceu sua ordem.

Maise assistia calmamente o campo a passar pela janela, alheia à natureza diante de seus olhos e à conversa frenética das crianças, ao seu lado. Reprisava tudo em sua mente. Não via como haver erro, estava tudo minimamente planejado. Teria seu pequeno triunfo, merecido triunfo, todo seu. Sua confiança cega a enchia de prazer. Pensara mil vezes no plano durante aquele fim de semana horrendo. Era uma questão de tempo. Olhou sugestivamente para Eliza e logo voltou à paisagem.

_ Quero conhecer a Terra do Nunca! - exclamou a filha mais velha dos Darling, com um sorriso aberto nos lábios.

_ Eu também! Um lugar mágico onde ninguém cresce! Deve ser maravilhoso! - respondeu Eliza, tão fascinada com a ideia quanto Wendy.

_ Já disse, meninas... - o garoto moreno e calado, que por algum motivo que fugia à compreensão da governanta, estava ali, amontoado na carruagem junto as três crianças Darling e a senhorita Bell, suspirou e continuou a falar - Esqueçam Neverland. E não digam o nome dele... Magia nunca vem sem um preço– advertiu o garoto.

No momento em que ouviu a palavra “magia” Maise saiu de seu transe e o fitou, como se tivesse ouvido uma terrível ofensa contra si. Trocaram um olhar demorado e hostil. Ela o analisou. Não parecia um menino. Possuía uma expressão cansada e olhos apagados. Era um daqueles que já haviam visto bastante da vida para cogitarem serem minimamente alegres. A mulher conseguia reconhecer pessoas como ele, afinal, era uma delas. Mas havia algo a mais naquele pequeno desconhecido. Quando falou sobre magia, falara de uma forma como se soubesse muito mais sobre do que podiam imaginar.

Outra meia hora de viagem e finalmente entraram em Londres. Já passava das cinco. Maise se abanava com o leque, grata aos céus por terem chegado e impaciente por irem logo para a mansão.

Deixaram os amiguinhos de Eliza em casa, e ao descer da carruagem, o menino a olhou uma última vez, como se receoso que ela tivesse captado algo no que dissera antes.

Minutos depois o cocheiro parou frente à residência dos Bell. Eliza se agitou, ansiosa para rever o pai, o irmão. Maise mirou as janelas e amargou um pensamento. Tinha certeza de que ela estaria lá. Linda e afetuosa com todos eles. Zanzando em meio a família como ali fosse seu lugar. Ela. A infeliz.

Regina.

Já a algum tempo a rainha estava sentada num banquinho, no quarto de Henry, tragada pela a imensa tela na parede. Cada segundo passado a encarando, mais havia para descobrir sobre aquela moça loira e pálida, de lábios rosados e pestanas esbranquiçadas. No balanço, em meio ao jardim, com uma coroa delicada de flores na cabeça, era como a princesa de um reino de gelo, coberto por um manto branco encantado. Annabeth vivia naquela pintura, irradiava vida, fitava de volta, sorria. Em silêncio, elas diziam diversas coisas uma a outra. Tinham tanto em comum. Amavam o mesmo homem. No passado, Annabeth partilhara da mesma ânsia de Regina, por cuidá-lo, por protege-lo de seus próprios fantasmas. Não chegara a conhece-la, nunca a conheceria. Somente pelas lembranças de Eliza e Bernard. Ainda assim ela estava ali, sua presença preenchia a casa, estava nos filhos, em Bell. Sua morte permitira que Regina tivesse mais uma chance de acertar, e ela lhe teria um eterno respeito por isso.

Alguém reclamava sua atenção. A rainha olhou para baixo, sorrindo.

_ Ei, acho que não posso te ajudar – disse ela ao pequeno reclamão em seus braços - mas podemos perguntar a seu pai como encher essa barriguinha vazia - completou Regina, carinhosa, roçando sua bochecha no rostinho de Henry.

Quando levantou o olhar, encontrou Maise na porta, espiando seu momento. Não parecia nem um pouco culpada por seu ato. Ao contrário, disparou um sorrisinho cínico e foi embora dali.

A voz doce e infantil de Eliza invadiu seus ouvidos, antes que Regina pudesse se chatear por causa da governanta. Ela contava sobre suas aventuras rurais, dos bichos encantadores que vira, do quão maravilhosamente divertido fora o passeio. A rainha seguiu o som.

_ Andei de cavalo papai! Um cavalinho lindinho!

Regina se dirigiu até o topo da escadaria que levava até a entrada principal e então viu lá embaixo a menina sentada no colo de Bernard, que a ouvia atenciosamente. Ao vê-la no alto, segurando seu irmãozinho, ela foi para Eliza verdadeiramente uma rainha. Paralisada, boquiaberta, a garota a assistiu descer os degraus. A prefeita sentou-se no sofá ao lado de Bell e Eliza se aproximou, beijou suavemente a testa de Henry e ficou observando o bebê.

_ Acho que ele pensa que você é sua mamãe. E eu acho que ele está certo. – completou, sorrindo um daqueles seus sorrisos travessos que faziam todos ao redor rirem também.

_ Você acha? - Eliza assentiu.

Bernard saiu para dizer qualquer coisa à governanta e as duas ficaram sozinhas.

_ Deixa eu te contar! Wendy e eu estamos planejando ir a Terra do Nunca! Baefire disse que NUNCA devemos tentar! Disse que Peter Pan é malvado. Mas não acreditamos nele.

Bae.

Regina puxou na memória aquele nome que não lhe era estranho. Lembrou-se do menino na casa dos Darling, que fugira amedrontado assim a vira. Aquele que segundo as meninas, viera da Floresta Encantada.

_ Ih! Preciso ir ver Lily, Dorothy, Katy!

Eliza saiu correndo ao encontro de suas bonecas antes que a rainha pudesse perguntar sobre o garoto.

Não tinha importância. Haveria tempo para saber sobre ele.

Assim Regina ingenuamente pensava.

Maise mirou o relógio na parede. Sete horas. Apreensiva, foi até a janela, afastou as cortinas e averiguou a rua. Vazia.

Ele viria, sim, viria. Não podia quebrar o trato.

Com um suspiro, voltou à casa de banho, de onde Eliza cantava, enfiada num banheira, brincando com a agua. Ela recomeçou a banhar a menina, metodicamente, sem responder à nenhum dos diversos comentários que a criança fazia, o tempo todo.

_ Porque eles tinham de fazer Elsa acreditar que era um monstro? - perguntou a senhorita Bell, chorosa, abraçada a si mesma, por causa do frio.

Maise demorou alguns segundos para ligar aquela Elsa à rainha da história que da qual Eliza falara durante todo o fim de semana.

_ Achando que faria mal à Anna... – no rostinho de Liz pairava uma tristeza desoladora.

_ Talvez no fundo Anna a quisesse longe mesmo... – respondeu a governanta, amargamente, enquanto lavava sua pupila de modo grosseiro, machucando sua pele.

Eliza começou a choramingar.

_ Faça o favor, cale essa sua boca!

Regina apareceu, furiosa, com os olhos faiscando ódio. Maise conseguira trazer de volta Evil Queen.

_ Venha querida... – disse, afetuosamente.

Com a ajuda de uma toalha, a retirou da agua.

_ Quem você pensa que é para dizer isso à ela? - disparou Regina, fuzilando Maise, segurando uma Eliza de cabelo pingando.

A outra mulher tinha o maxilar comprimido de tanta raiva. Nada respondeu.

O que era dela estava guardando, a esperando, repetia para si mesma.

Regina levou a pequena para o quarto. Cuidadosamente, a secou e juntas, escolheram um vestido o qual Liz pudesse usar. Um rosinha, delicado, seu preferido. Já vestida, Eliza sem dizer uma palavra, sentou-se diante de sua penteadeira e colocou uma escova de madrepérolas na mão da rainha. Através do espelho, sorriu, pedindo que ela a penteasse. Regina devolveu o sorriso e começou a desembaraçar o cabelo loiro, brilhante como ouro. Respiravam paz, tranquilidade e afeto. Ela resolveu fazer uma trança naquela cabeleira tão bonita.

_ Quando eu era pequenininha como você, adorava que trançassem meu cabelo... – disse Regina, nostálgica, enquanto finalizava o trabalho.

_ Você já foi pequenininha? - Liz ergueu uma sombrasselha, muito surpresa.

Regina riu da inocência da menina.

_ Sim. A senhorita por acaso não tem uma fita?

Eliza remexeu uma gaveta, encontrando logo o que procurava.

_ Aqui - ela lhe entregou uma fitinha verde àgua.

_ Pronto – disse Regina, amarrando a ponta de cabelo, colocando a trança para frente, para que Eliza pudesse vê-la. _ Gostou?

Liz assentiu. Sim.

_ Agora é minha vez!

A garota a surpreendeu novamente. A fez sentar no banco e se esticando toda, na ponta dos pés, começou a escovar os fios negros de Regina. Desajeitada, trançou suas mechas. Terminado o penteado, a imitou.

_ E então, o que acha?

Regina mexeu o nariz, fazendo biquinho, brincando com a situação.

_ Perfeito!

Eliza jogou seus braços ao redor do pescoço da rainha e olhando-a através do espelho disse:

_ Nunca vá embora! Eu te amo.

Regina jurou que não a decepcionaria.

Na hora do jantar, apareceram juntas, de cabelos iguais. Bernard não escondeu sua expressão meio abobada, fascinado com a semelhança entre elas. Maise se retirou, alegando que não se sentia bem. Jantaram sozinhos. Sentaram-se a mesa perfeitamente confortáveis, como se fizessem aquilo já a anos, e depois de comerem, Eliza cochichou ao pai com seu jeitinho manhoso, pedindo que ele tocasse um pouco de piano. Entraram na sala em que o instrumento estava e encontraram uma Maise terrivelmente desconsertada por ser pega ali, parada junto a janela.

Bell iniciou dedilhando a canção de Regina, criada no dia anterior, e arrancou um sorriso bobo dela. Eliza logo pediu várias de suas favoritas. Ficou a dançar e saltitar junto a rainha, de mãos dadas.

A cena veio duplicar o mal estar da governanta mas não tanto quanto o que viria a seguir. Ela os assistia do sofá, imóvel e impassível.

Enquanto tocava, Bernard buscou o olhar da rainha, chamando-a até o dele. Regina inclinou-se levemente sobre o piano. Bell levantou-se e com os dedos ainda no instrumento, brincalhão, deu-lhe um tímido beijo.

Maise estremeceu, encolhendo em seu lugar. A repulsa subia-lhe à garganta, em forma de vomito. A odiava com cada fibra de seu ser.

Ao desgrudarem os lábios, Regina e Bernard notaram Eliza boquiaberta. Um segundo de tensão se passou até que menina internalizasse o que vira, o sentimento forte entre eles materializado bem ali, diante de seus olhos. Radiante, ela correu e abraçou as pernas dos dois, encostando sua bochecha rosada em suas roupas, de olhinhos fechados, entendendo tudo.

Liz foi para o piano. Sentada no banco, suas perninhas não tocavam o chão. Arriscou algumas notas, e então começou a tocar uma valsinha suave. Bernard tomou Regina pela mão e a conduziu numa apaixonada dança. Eles bailavam pela sala, com os olhos presos um no outro, o amor saltando de seus rostos, seus passos, seu respirar. Eram um rei e uma rainha de seu próprio mundo onde só existia eles e sua pequena pianista.

Um mundo livre da maldade alheia, que os rondava, os cercava, os observando de dentro e fora da mansão, pronta para o ataque.

Em alguma ruazinha sem nome do East Eand, trancada num cômodo bolorento em meio a penumbra, ela olhou sua mão, com extremo prazer.

Sua pele brilhava, envolva por uma estranha, a iluminar o quarto escuro, seus olhos doentios.

Havia recuperado seu poder de volta. Parte dele.

Cora.

Ela pousou os dedos sobre a página do livro, sustentado por um pilar a sua frente, e as letras pareceram tomar vida, como se sua magia escorresse em cima delas.

Saltadas da folha, imagens flutuavam, fragilmente. Uma estrada de tijolos amarelos... um castelo esverdeado... os pequeninos seres daquela Terra.

Oz.

Ela sorria, todos os sorrisos que não pudera sorrir em tantos anos.

A filha do moleiro teria o que era seu, enfim. O que sempre fora seu.

Cora movimentou a mão e então duas figuras distintas apareceram. Ela as moveu, unindo-as ,contemplando-as com o coração cheio de amor.

Lá estava, sua rainha. Lutara com unhas e dentes por ela, a sua maneira. Dera seu sangue, tudo que tinha.

Regina.

Uma lágrima escorreu por seu rosto ao fitar a moça ruiva, de pele verde, ao lado da Evil Queen. Ela a deixou correr, livre.

Zelena.

Devia tanto a ela. Nunca poderia pagar sua dívida.

Eram tão iguais à mãe, tão belas, malignas e sofridas. Solitárias, errantes, perdidas.

Cora fechou o livro abruptamente.

Mas breve, nada seria igual. Vivera até ali para aquele momento, para ter sua merecida recompensa por aquela vida vã.

Descobrira como chegar à Oz. Finalmente.

Só precisava se apressar, ir primeiro até Regina.

A bruxa abriu a porta e começou a caminhar, com a rapidez de alguém que não podia esperar nem mais um segundo sequer. Sua magia ainda estava fraca de mais para transportá-la. Tinha de andar.

Regina a ajudaria, e elas ficariam juntas. As três. Estava em suas mãos.

Ela colocou seu capuz, respirou fundo e se enfiou na Londres noturna.

Estava aberto o show de horrores.


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