Assalto (02/04/2016)

Te contei daquela vez
em que me assaltaram?
Não quis saber da minha carteira
Queria era o meu beijo

e levou meu coração com ela

Carlos Drummond que me perdoe (02/04/2016)

Mundo, mundo
vasto mundo
Mais vasto
só o fundo

O fundo do meu copo
(este, sempre cheio)
E o fundo do meu coração
(este, indefinidamente vazio)

Ícaro (08/04/2016)

Não me dê asas
No máximo, dê-me a cera
As plumas, a inspiração
(seja ela sopro ou encanto)

E voaremos alto
Eu, humano; você ave
Em busca do nosso ramo de oliveira
Ou em direção ao sol

Chama (27/04/2016)

Há uma chama azul no meu peito:
pequena, ainda que queime;
intensa, ainda que só aqui dentro;
mas inútil, sobretudo.

Tão pequena que mal pode ser vista.
Tão intensa que machuca quem se aproxima.
Tão azul que mal parece fogo.
Tão inútil que dói.

A chama tenta, mas sempre falha.
Até torço para que se apague um dia.
Mas por enquanto, ela ainda arde aqui;
ainda que seja só pra acender meus cigarros.