Lost Stars escrita por Luna Lovegood


Capítulo 6
Capítulo 5 - Um pequeno milagre


Notas iniciais do capítulo

I'm back ;)



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E não realizou muitos milagres ali, por causa da incredulidade deles.

Mateus 13; 58

 

Todas as pessoas gostam da ideia do fantástico, do não natural. Um milagre é tudo aquilo que confronta a lógica, desmistifica o impossível. Dá as pessoas esperança em momentos conturbados da vida, quando não são capazes de enxergar a luz em meio a escuridão. Mas no fim, todos encaram isso como nada mais do que fruto do imaginário. Histórias antigas que foram contadas e reinventadas tantas e tantas vezes, que perderam a relação com a realidade e agora não passam de uma coleção de mitos e metáforas.

Todos. Exceto Eleonor.

Como poderia?

Ela vira acontecer bem diante dos seus olhos. O milagre não viera como um passe de mágica, o impossível não acontecera diante de seus olhos. Não, nada disso. Era muito mais simbólico do que tudo, mas quais são as chances de encontrar alento para o seu coração quebrado de forma tão inesperada?

Ela sentira em seu íntimo, no momento que aquele bebê tocou seu dedo com sua mão tão pequena, ele a atingira na alma a marcando-a, um milagre acontecera dentro dela. Algo tornara a se acender, o coração quebrado se viu novamente inteiro e ela se sentiu repleta de esperança, ansiosa pelo futuro.

A nomeou Ariel. O nome simplesmente foi dito em sua mente ao olhar os olhos do bebê, e naquele momento ela soube.

Era seu pequeno milagre.

E tem sido ao longo da sua vida. A risada daquele bebê preencheu Eleonor de vida, lhe deu um propósito e ela se reergueu, reconstruindo sua vida ao redor daquela benção. Ela a adotara e criara como se fosse sua, porque no fim ela era. Poderia não ter saído de seu ventre, mas lhe fora entregue como um presente precioso que ela cuidara e amara.

Eleonor deslizava os dedos sobre os desenhos de galhos entalhados na antiga caixa de joias feita de madeira que Will lhe presenteara anos atrás, girou a chave observando o conteúdo dentro dela, não havia nada de grande valor monetário. Apenas algumas cartas de amor, documentos da adoção de Ariel, um anel de noivado, uma margarida seca, e claro, uma linda e sedosa pena branca que Eleonor não resistiu ao impulso de usar para acariciar o próprio rosto. Ela era tão comprida, quase do tamanho do braço de Eleonor. Ela sempre se questionou que tipo de pássaro teria penas assim, ela passara anos pesquisando, a curiosidade a atormentando, mas nunca encontrou uma resposta. No fim aceitou que o pequeno mistério apenas tornava Ariel ainda mais especial. Acariciou o tampo da caixa com seus dedos longos e finos, memórias antigas apareceram em sua mente a fazendo sorrir. Ela guardava tudo o que tinha de mais precioso ali, suas melhores lembranças. Ela gostava de contemplá-las quando se sentia sozinha ou triste, apenas para se lembrar de que há uma balança na vida tentando manter tudo em perfeito equilíbrio. E que mesmo quando as coisas pareçam ruins, há sempre algo bom vindo num futuro não tão distante.

— Mãe? Estou em casa. — Ao escutar a voz da filha acompanhada do bater da porta da frente, Eleonor imediatamente guardou a pena branca de volta dentro da caixa, trancando-a a chave novamente.

— Olá, filha.  — cumprimentou a jovem que adentrava no seu quarto.

— Está olhando as coisas do papai outra vez? — Ariel perguntou contendo a preocupação na voz. Aproximou-se da mãe que estava sentada sobre a cama e a abraçou por trás.

— Só estava me lembrando de todas as coisas boas que tivemos.

— Você ainda sente muito a falta dele? — questionou a garota, já haviam se passado vinte e um anos desde que ele morrera, mas eventualmente sempre havia dias como aquele em que ela via a mãe um pouco mais sensível com a perda do jovem amor. Ariel sempre desejara que a mãe se apaixonasse novamente, sabia o quanto ela precisava de mais alguém em sua vida. Durante tanto tempo Eleonor dedicara-se apenas a filha, ela não anulara completamente a vida, mas Ariel sabe que nenhum daqueles relacionamentos evoluía porque a mãe sempre se preocupava mais com a filha do que consigo mesma.

— Seu pai sempre vai estar presente na minha vida. Ele me deu você. — Ariel sorriu enquanto a mãe tocava com a ponta dos dedos seu nariz.

Tudo o que tinha do pai, William, era uma foto antiga sobre a lareira em que ele usava seu uniforme de policial. Ele parecia ter sido um bom homem, mas ela nunca o conhecera ou tivera contato com o lado da família paterna, e sempre que olhava para foto não podia deixar de sentir um estranho distanciamento.

Ela achava que era natural, não tinha nenhuma memória dele, ele nunca fizera parte da sua vida. Não era de se esperar que nutrisse o amor por uma foto.

Eleonor era uma mulher forte e decidida, criara Ariel sozinha e passara por cada adversidade sem deixar que isso a desanimasse. Mas a mãe era alguém sensível demais, e por vezes, carente.

Ela concentrava todo o seu amor e cuidado com a filha, a superprotegendo desnecessariamente. Com vinte e um anos, Ariel era a única jovem da sua idade que jamais deixara a cidade de Paradiso. Nem mesmo em uma excursão escolar, nem quando ficou mais velha e Eleonor já não mais conseguia impedi-la de viver a própria vida, tentou escapar em algumas aventuras com sua amiga Lilah, mas algo sempre acontecia, um pequeno acidente, um desencontro, um resfriado subido. Parecia que o destino conspirava contra ela e suas tentativas de deixar a cidade natal.

Ariel sentiu-se mal quando se mudou para o dormitório da faculdade, mas era necessário. Não poderia ser para sempre a garotinha da mamãe. Por mais que a amasse já era tempo de trilhar o próprio caminho, de fazer suas escolhas. Ela sentia alguma coisa lá fora chamando por ela, como se houvesse algo a ser encontrado. E não poderia ser feito enquanto ela se mantivesse presa aqui.

Estranhamente essa sensação de sair em busca do desconhecido havia desaparecido dela recentemente, embora a garota ainda não tivesse notado isso ainda.

— Sabe mãe, você é jovem ainda pode se apaixonar novamente. — falou num tom consternador, porém Eleonor riu abertamente jogando o cabelo para trás, como quem diz que aquilo era algo engraçado de ouvir.

— Você também, querida. Quando vou conhecer um novo namorado seu? — Eleonor devolveu com um sorriso cúmplice fazendo a filha ficar desconcertada com o assunto por apenas um momento. Seus namoros não costumavam durar por muito tempo, Eleonor sempre dizia que a filha era exigente demais, e Ariel não podia deixar de pensar que a mãe estava certa. Ela sempre terminava fácil os relacionamentos, ela tentava, tentava as vezes até demais, porém algo sempre parecia errado por mais perfeito que o namorado em questão fosse, ela nunca soube precisar o que era, mas a frase “não é você, sou eu” sempre se aplicava perfeitamente a ela.

A garota fitou o rosto cheio de expectativa da mãe que esperava por uma resposta. Ela não gostava de ser colocada sobre o holofote, mas quando era colocada, de certa forma sempre conseguia sair dele com desenvoltura.

— Devíamos fazer uma aposta para ver quem consegue um namorado primeiro. — Sugeriu com falsa animação, tentando fazer a mãe cair na armadilha. — Talvez quem sabe até mesmo alguns encontros duplos?

— Eu entendi, melhor mudar de assunto. Então, o que tem em mente para o final de semana? Alguma festa de livros? — Eleonor questionou a filha, deixando a leve nota de humor escapar.

— Me desculpe! — Escutou o grito que parecia vir da cozinha, interrompendo a conversa de mãe e filha.

— Lilah está aqui. — Eleonor disse fechando os olhos e meneando a cabeça consternada.

— Os pais dela viajaram, eu não queria deixá-la no dormitório o final de semana inteiro sem mim. — Ariel disse num tom de desculpas — E temos um trabalho da faculdade para fazer. — acrescentou.

— Isso é bom. — Ariel estranhou. A mãe gostava de Lilah, mas sempre temeu o quanto a garota tinha o dom de meter a filha em problemas — Eu tenho plantão nesse final de semana, eu não queria que ficasse sozinha.

— Por que não me disse? Eu poderia ficar no dormitório com Lilah!

— De jeito algum, você precisa de uma cozinha e não aqueles sanduíches pré-prontos que você almoça na faculdade, e também de banheiros decentes com banheiras para relaxar — sorriu com ao ver o cuidado da mãe — Apenas tente...

— Me desculpe de novo! — Lilah gritou novamente após um novo barulho de vidro se estilhaçando ao chão.

— Ela está tentando destruir a casa? — Perguntou à filha, já se colocando de pé pronta para ver o que estava acontecendo.

— Eu não acho que seja exatamente Lilah, mãe... — Ariel começou a explicar, mas antes que pudesse dizer algo, uma bola de pelos negros entrou pulando pela porta indo cair em cima da cama de Eleonor.

— Oh, Deus! O que é isso?

— É um gato. — respondeu Lilah.

— Isso é óbvio, eu não sou cega — Eleonor falou cruzando os braços parecendo sem paciência.

— Me desculpe, senhora Eleonor, este é o Voldy — introduziu o bichano como se ele fosse alguém importante — Sabe, é um diminutivo para Voldemort em Harry Potter, o lorde das trevas, aquele que não deve ser nomeado, você sabe quem... — Lilah tagarelou sorrindo tentado acariciar o gato que apenas rosnou para ela. Ariel riu baixinho, a amiga havia detestado o bicho num primeiro momento, e a aversão parecia mútua, mas o engraçado de Lilah era que ela nunca admitia que alguém não gostasse dela - nem mesmo um gato — e estava determinada a ganhar a afeição dele. Era uma questão de honra.

— Escolha de nome adorável. — Eleonor pontuou ironicamente, olhando de soslaio para o animal que a olhava de volta parecendo intrigado. — Já que estou vendo que teremos um hóspede a mais, eu apenas espero que deixem o gato longe do meu quarto e limpem a sujeira dele.

— Sim, senhora! — Lilah apressou-se em garantir pegando um bichano relutante nos braços. — Fique quieto, Voldy.

— Que tal começarmos o trabalho de uma vez? — Ariel interviu ao ver que a mãe respirava fundo.

— Você não é nenhum pouco divertida. — Lilah reclamou saindo do quarto com Voldy em seu colo, Ariel jogou um olhar pedindo por compreensão da mãe e seguiu com a amiga para o seu quarto.

✶✶✶

Pouco depois das três da tarde Eleonor apareceu no quarto da filha, encontrando-a junto da amiga com a cabeça enfurnada dentro de livros e um bichano muito entediado deitado numa almofada. Ela se despediu das duas garotas dizendo que voltaria no dia seguinte pela manhã, explicou que havia comida pronta na geladeira e encheu as garotas de avisos e recomendações, sobretudo quanto ao gato de Lilah.

Duas horas depois Ariel ainda se encontrava deitada de costas ao chão com os pés apoiados na cama com um livro nas mãos, lendo-o com concentração enquanto tentava decidir sobre o que escreveria em seu trabalho de história da religião. O lado vaidoso dela procurava por algo diferente e interessante, estava decidida a impressionar o professor Rafael e desfazer aquela primeira impressão.

Rafael.

Repetiu o nome apenas em sua mente, gostando da sonoridade familiar que ele parecia ter e de como o coração dela dava um pulo apenas em pensar no nome. Repreendeu-se mentalmente ao se ver novamente pensando nele, já era estranho o suficiente sonhar com o professor, ao menos ela não podia controlar seus sonhos, mas pensamentos sim, e era melhor parar com isso ou logo parecia uma daquelas alunas loucas obcecadas com um professor bonito.

Voltou a se concentrar na leitura, mas não conseguiu. As palavras se embaralhavam na frente de seus olhos, a cabeça doía e nenhuma nova informação parecia ser capaz de entrar. Desviou o olhar para Lilah que estava sentada numa poltrona no canto do quarto onde folheava um livro. A garota parecia ter o mesmo problema de concentração que Ariel, já que apenas passava as páginas com brusquidão, sem sequer se dar ao trabalho de ler parecendo apenas frustrada com tudo o que havia ali. O trabalho estava se mostrando muito mais complicado. Ainda era sábado e ele deveria ser entregue na terça feira ao professor Rafael, mas nenhuma das duas garotas tinha conseguido fazer algum progresso.

— Eu odeio história da religião! — Lilah reclamou emburrada jogando o livro que tinha nas mãos contra a parede. Ficou de pé andando de um lado para o outro discursando sobre a sua frustração — E que tipo de trabalho ridículo é esse? Escolha um mito ou crença religiosa e tente provar que ele é verdadeiro? Se é chamado de mito, é porque não há provas de que é real. Como vou provar o impossível? Aliás, o que eu devo provar? Que Noé bateu seu cajado e magicamente o mar vermelho se abriu? — Ariel mordeu o lábio se perguntando se deveria corrigir o equívoco — Ou talvez que os iluminats realmente existiram e ainda estão entre nós?

— Esse último parece ser um bom tema! — Ariel falou tentando animar a amiga.

— Sim, mas Dan Brown já fez todo o serviço! Aliás, o desgraçado usou as melhores ideias — Lilah deixou-se cair a cama, irritada demais para continuar com as horas de pesquisas que pareciam levar a lugar algum. — Já sei do que precisamos! — Exclamou sentando-se a cama de uma só vez, seus olhos ganhando um brilho perigoso.

— Oh, não. Eu conheço essa sua cara e isso vai acabar comigo encrencada! — Ariel fechou o livro que lia, puxou suas pernas para baixo e sentou-se mais ereta encarando a amiga que agora sorria, como quem diz que Ariel estava certa.

— Eu apenas me lembrei de que acabamos de começar um novo semestre letivo... Sabe o que temos aos sábados? Especificamente no primeiro sábado? — Perguntou, seus olhos brilhando em excitação, um sorriso insinuante pendendo nos lábios.

— Oh, não. — Ariel se deu conta do que era.

— Oh, sim! — Lilah pulou da cama animada — Primeira fogueira na praia! Eu nem sei como pude me esquecer disso! Provavelmente é você, com seu jeito certinho que me obriga a fazer trabalhos aos sábados à noite! Mas não podemos perder! Vai haver muitos calouros bonitinhos e trotes divertidos!

— Devo lembrá-la o que aconteceu a última vez em que fomos?

— Ora, aquilo foi um acidente! — deu de ombros minimizando toda a coisa.

— Lilah, nós tivemos que dormir na praia porque o seu carro foi roubado!

— Sim, mas foi apenas um trote! Ele apareceu dois dias depois na porta da minha casa, salpicado por tinta rosa. E se eu que sou a dona dele não me importei, não há motivos para você tomar minhas dores. Por favor, por favor, por favor! — Lilah pediu fazendo beicinho para Ariel.

— Ok, mas você fica me devendo essa. — cedeu num suspiro apenas porque sabia que Lilah não desistiria e seria bom usar isso contra a amiga no futuro — Eu só vou arrumar a bagunça no meu quarto antes. — Ariel disse se levantando e recolhendo os livros espalhados pelo chão.

— Inferno! Deixe isso aí, e vá se arrumar! Precisamos de álcool para clarear nossas ideias. Eu tenho certeza que depois de nos divertirmos hoje à noite, amanhã teremos ideias brilhantes para esse trabalho dos infernos.

— Ou uma ressaca fenomenal. — refutou.

— Você sabia que é cientificamente comprovado que o álcool estimula áreas ainda desconhecidas do nosso cérebro? — Ariel gargalhou.

— Com certeza! A área que faz as pessoas cometerem idiotices e não se lembrarem de nada no dia seguinte. — revirou os olhos e se abaixou para recolher o livro que Lilah jogara tão violentamente contra a parede, o olhar de Ariel caiu sobre a página em que ele havia se aberto. O título do capítulo chamou a sua atenção sem nenhuma razão aparente fazendo-a estreitar seus olhos, curiosa com o conteúdo.

— Sem mais estudos! — reclamou Lilah dando passos até Ariel — Vem, vamos escolher o que vestir!

Ariel teve apenas tempo de dobrar a página do livro, antes que a amiga o puxasse de suas mãos, e o jogasse sobre a cama dessa vez. O livro caiu sobre o colchão e se abriu na mesma página em que estava antes. Voldy, o gato de Lilah que até então estivera estirado o tempo todo sobre uma almofada no chão parecendo entediado, deu um único pulo indo parar sobre a cama de Ariel e deitando-se preguiçosamente sobre o livro. Mas ainda que o corpo do gato cobrisse a maior parte das páginas, ela ainda conseguia ler com perfeição o título: Os mistérios da arca da aliança.

 


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Notas finais do capítulo

Fiquei um bom tempo sem escrever, e quando finalmente consegui, acabei por dividir esse capítulo em dois. Espero que tenham gostado.



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