O Banco escrita por Mrs Hiddleston


Capítulo 1
One


Notas iniciais do capítulo

Fico muito feliz que você tenha tido coragem o suficiente para vir até aqui e dar uma chance para a minha one-shot. Espero que goste!



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Sara descia as escadas como se estivesse num playground, pulando e saltando pelos degraus, sem se dar conta do quão perigoso àquilo era. Sua mãe já a teria advertido diversas vezes caso estivesse ali.

Ao entrar no parque em frente ao prédio, ela viu que o Sol saia detrás das nuvens, tornando a tarde nublada em uma tarde ensolarada. Isso era muito bom.

Ao chegar ao outro extremo do parque, Sara virou para a direita, atravessou a faixa de pedestre, andou um pouco mais, atravessou outra faixa e entrou no Asilo Cavalcante para idosos – Sara sempre se perguntava quando iriam trocar aquela placa velha e apaga por uma nova, que fosse possível de ler mesmo à distância.

A adolescente fez seu habitual percurso passando pela recepção e indo direto para o pátio do asilo, onde muitos avós encontravam seus netos para jogar xadrez nas mesas ou simplesmente conversar. Ela passou pelo campo de rosas para logo depois sentar-se no Banco.

Para qualquer outra pessoa, o Banco não passaria de apenas outro banco entre os muitos outros do pátio. Mas era exatamente dessa forma que Sara queria que ficasse. O Banco tinha de ser especial somente para ela... e para seu avô.

— Boa tarde, senhor Voltolini — cumprimentou ela.

— Ora, boa tarde — cumprimentou ele de volta, só agora percebendo a presença de Sara.

Acontece que o avô de Sara tem Alzheimer, e o próprio médico a havia instruído para tratá-lo como um estranho, afinal, não é todo o dia que “uma pessoa qualquer” chega e lhe diz que é sua neta. Sara não gostava disso. Era como uma daquelas imagens no Tumblr com uma fonte bonita dizendo “Tão próximos, mas ainda assim tão distantes”.

Mas houve uma época na qual Sara e seu avô podiam ser próximos. Realmente próximos. Uma época na qual podiam se sentar na frente da lareira durante o inverno para tomar chocolate quente. Uma época na qual podiam ir ao parque para dar pão aos patos. Uma época na qual podiam passar o natal com a família inteira reunida.

Certa vez, Lorena (amiga de Sara) criara coragem o suficiente para perguntar sobre o seu avô. “E ele te espera todo o dia para vocês lancharem?”, perguntou Lorena ao saber que todos os dias, após a lição de casa, Sara vai até o asilo com dois sanduíches de presunto e queijo. Um para ele e o outro para ela. “Não”, respondeu Sara rapidamente, “Ele nunca se lembra de mim ou o horário em que eu apareço. Mas, mesmo assim, eu sempre estou lá”.

E lá estava ela novamente, segurando dois sanduíches de presunto e queijo embrulhados em papel alumínio. Sentada ao lado do seu avô, com o Sol começando a se pôr.

— Eu trouxe uns sanduíches. O senhor quer um?

— Sanduíches de quê?

— Presunto e queijo.

— Vou aceitar um, se não se importa.

— Não, claro que não. Aqui, pegue.

O Sr. Voltolini pegou um dos sanduíches e deu uma mordida.

— Ora, mas isso aqui está uma delícia! Oh, há quanto tempo que eu não como um sanduíche assim!

— Como assim?

— Acontece que eu simplesmente adoro sanduíches de presunto de queijo, sabe, mas faz tanto tempo da última vez que comi um!

Aquilo acertou Sara como uma flecha. Sempre acertava. Ouvir, ter mais uma confirmação de que ele sempre se esquecia dos bons momentos que tinham no Banco. Doía sentir aquelas flechadas, mas, ah, como doía.

— Está um pouco frio aqui fora — comentou Sara.

— O inverno está chegando — anunciou seu avô.

Inverno; pensou Sara. Passar tardes na frente da lareira, patinar no lago, olhar casacos de inverno com Lorena, comer sanduíches de presunto e queijo no quarto do vovô...

— Gosta do inverno, Sr. Voltolini?

— Adoro o inverno. Mas acho ruim ter que ficar o dia inteiro preso dentro de casa.

— Pois é.

Depois de um breve silêncio, o Sr. Voltolini perguntou:

— Diga-me, minha filha: de quem é neta? Quero dizer, a quem veio visitar?

Diga!, pensou Sara. Diga logo de uma vez que é neta dele e acabe com toda essa bobagem!

Mas ela não conseguia. Tinha medo da reação dele, medo do que poderia acontecer em seguida, medo de que aquele valioso momento fosse destruído. E esse era um sentimento que não tinha desde o natal passado, quando propôs que começassem a convidar seu avô para cear com o resto da família, usando a estória de que estavam fazendo caridade a um pobre velhinho do asilo.

No fim da noite, quando a ceia acabou e ele se preparava para ir embora e voltar ao asilo, ela perguntou a si mesma se deveria ou não contar. Revelar de uma vez por todas o parentesco entre eles. Não importava se no dia seguinte ele não se lembrasse de mais nada, ela teria contado. Mas então o tal sentimento se apoderou de Sara e ela desistiu. O mesmo estava acontecendo naquele momento.

— Eu simplesmente gosto daqui — respondeu por fim. — Nunca me canso desse pôr-do-sol.

— Concordo com você. É um pôr-do-sol realmente belíssimo.

E eles ficaram ali, observando o Sol se pôr enquanto comiam sanduíches de presunto de queijo. Desfrutando silenciosamente daquele maravilhoso momento.


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Notas finais do capítulo

Se chegou até aqui, parabéns! Espero que tenha gostado e, se possível, deixe seu feedback nos comentários. Vou adorar saber o que achou da estória.