Apenas Um Olhar escrita por Mi Freire


Capítulo 34
Tudo o que faltava.


Notas iniciais do capítulo

Uhul, enfim sexta-feira. O ano passou voando! Esse capítulo tem surpresa ♥



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Vanessa ainda estava ajudando a mamãe na pousada durante a ausência da minha irmã. Mas agora ela estava bem mais controlada. Raramente nos deparávamos com ela aos beijos com o meu irmão. E ela fazia seu trabalho direitinho. O que era bom. Significa que ela estava evoluindo. Mesmo isso sendo muito suspeito, algo no fundo me dizia para dar um voto de confiança a ela. Assim como eu fazia com quase todo mundo que assim como eu, também merecia uma segunda chance.

Afinal, as pessoas podem mudar. Não podem?

Exceto o Carlos, é claro.

— Podemos conversar? – ela perguntou.

Eu estava no quintal, aproveitando a tarde de sol e ajudando o Vinicius com o dever de casa na mesinha que o papai tinha comprado para por lá fora e que havia se tornado muito útil.

— Agora? Claro!

Deixei o Vinicius sozinho por uns instantes e nos afastamos.

— Olha, eu sei que você nunca foi muito com a minha cara...

— Não é verdade, Vanessa. Você que não gostava de mim.

— É, verdade. – ela sorriu. E seu sorriso era tão bonito. Ela com certeza deveria sorrir mais. Sorrir de verdade. E não forçado. — Não gostava. Mas isso quando eu achava que era apaixonada pelo Rodrigo. Sabe, eu era tão imatura! Sei que é difícil de acreditar em mim, depois de tudo que eu disse e fiz para você. Mas eu queria que você soubesse que eu gosto de verdade do seu irmão.

— É estranho. Mas eu acredito em você.

— Sério? – seu sorriso se alargou por um momento, mas ela logo voltou a ficar séria outra vez. — Eu o Rodrigo nos conhecemos na faculdade. E eu fui a última a ir morar com eles depois que deixei a casa dos meus pais superprotetores. Não foi fácil. Eu estava passando por uma fase difícil. Porque eu gostava muito deles, mas eles me protegiam muito e me privavam de muitas coisas. Eu estava triste, tentando me adaptar a uma nova realidade. Então foi quase que instantâneo. De cara percebi que o Rodrigo não era como os outros: trabalhador, focado, dedicado, educado, gentil e dono de uma beleza pura e angelical. Não deu em outra: nas primeiras semanas eu estava morrendo de amores.

Apesar de ser muito estranho ouvir outra garota falar assim do seu namorado, eu ri. Como sempre fui muito fã de histórias, principalmente as românticas, aquelas que nos fazem suspirar e imaginar mil e uma coisas, eu também gostava de ouvir histórias reais, dessas que me fazem acreditar que muitas coisas podem ser sim possíveis, já outras só na ficção mesmo.

— Ele sempre tratou todo mundo tão igual. Com tanto respeito e carinho. Ajudando a todos nas horas mais difíceis. Não sei porque eu criei altas expectativas. E fiquei frustrada quando percebi que ele não tinha nenhum tipo de carinho especial por mim. Que para ele eu era como irmã, assim como outros. Aí você apareceu. Logo você. Mais velha, madura, experiente. Eu me senti ameaçada! E tudo bem que ele ficava com outras garotas. Eu sabia. Mas sabia também que ele nunca ia muito longe, pois ele tinha outras prioridades. E como você foi diferente. Com medo de perder o que eu nunca tive, só tive na minha cabeça, eu tentei fazer de tudo para ele me enxergar, para ele te odiar. Disse coisas horríveis a você. Fiz besteiras sem pensar. E me desculpe. Eu fui uma vaca!

Eu ri.

— Tudo bem, Vanessa. Já passou!

— Não. Espera. Escuta.

— Houve uma noite. Thiago e eu estávamos conversando na calçada, falando bobagens e nós vimos vocês na rua, do outro lado, e pareciam tão apaixonados e felizes. Eu morri de inveja. Mas aí o Thiago me disse uma coisa, olhando nos meus olhos: Um dia eu também quero me sentir assim. Completo. Preenchido. Inteiro. Transbordando. Correspondido. Deve ser o melhor sentimento do mundo. Mal vejo a hora desse momento chegar. E naquele momento eu me dei conta de duas coisas: vocês estavam apaixonados de verdade. E o meu amigo, o que estava ao meu lado naquele momento, estava apaixonada por mim. Mas não era de verdade. Era coisa da cabeça dele. Assim como era da minha pelo Rodrigo. Porque se ele realmente tivesse apaixonado por mim ele não teria dito que um dia gostaria de sentir aquilo também. Ele teria dito que já sentiu aquilo por alguém e que sabia exatamente o que vocês estavam sentindo.

Ela suspirou, pausando por alguns instantes.

— Foi aquela noite que eu resolvi dar o braço a torcer. Vocês se mereciam. Deveriam ficar juntos. E eu não era ninguém para atrapalhar isso. Não foi fácil. Nunca é. Mas eu caí na real. Tirei um tempo para mim. Para pensar nas coisas. E aí eu conheci o seu irmão. Eu o via todo dia, mas pra mim ele era só um garoto. No começo foi só diversão. Eu não queria nada sério tão cedo. Mas ele é maravilhoso, assim como você. Deve ser coisa de família, afinal. – ela riu. — E eu me apaixonei. E senti exatamente tudo aquilo que o Thiago havia dito aquela noite que eu nunca esqueci. Me senti completa, preenchida, inteira, transbordando e correspondida. Seu irmão confessou sentir o mesmo por mim! E eu nunca tinha sentido nada parecia. Sim, eu realmente achei que já tinha sentido. Todos nós achamos. Mas quando sentimos de verdade, nós nos damos conta do quanto estávamos enganados até então.

— Então você realmente gosta dele?

— Sim! Sei que parece cedo para dizer, mas eu o amo. E quero ficar com ele. E quero que acreditem em nós. Quero que vejam que estou sendo verdadeira dessa vez. E que não é apenas coisa de momento. Não vou magoa-lo. Não pretendo lhe fazer mal. E é por isso que eu criei coragem para vim aqui te dizer todas essas coisas...

Eu peguei a nós duas de surpresa e a abracei.

— Seja bem-vinda a família, cunhadinha. – brinquei.

Ela riu e suspirou fundo, como se tivesse tirado um enorme peso do coração.

— Pelo visto minhas garotas preferidas no mundo estão finalmente se entendendo.

Era o Augusto.

— E você – apontei o dedo para ele. — cuide bem dela ou eu acabo com você em dois segundos. Entendeu?

— Sim, senhora. – sorrindo, ele se aproximou e passou o braço em volta da Vanessa. — Vamos voltar ao trabalho?

— Vamos! – ela beijou a bochecha dele e depois se voltou para mim. — Nos vemos mais tarde, Mel.

Naquela noite, feliz da vida, contei ao Rodrigo pessoalmente tudo que tinha acontecido aquela tarde. E como sempre, ele ficou orgulhoso com a minha capacidade de perdoar e confiar as pessoas.

No sábado, Rodrigo nos levou a praia pela manhã. Ele e o Vinicius passaram praticamente o tempo todo na água. Já eu optei por ficar de baixo do guarda-sol lendo um bom livro. O livro da vez é Procura-se Um Marido, da autora brasileira Carina Rissi.

Quando os meninos voltaram, interrompi minha leitura e levantei-me, vesti minha canga e fui procurar algo pra gente beber. Pelo caminho encontrei um alguém que parecia muito melhor do que a ultima vez em que nos vimos.

— Fred? O que você faz aqui?

— Oi, Mel. Milena e eu estamos passando o final de semana aqui. – Milena estava tão crescida. Fazia muito tempo que eu não a via. Antes ela brincava muito com os meus filhos. Quando Heloísa e eu ainda éramos amigos. Quando Carlos e eu ainda éramos casados. — Filha, lembra-se da tia Mel?

Depois que Milena e eu nos falamos por um tempo, ela soltou a mão do pai e saiu correndo, para voltar a brincar com seus brinquedos espalhados pela areia.

— Como você está, Fred?

— Melhor do que nunca, agora que tenho a minha filha.

— Eu imagino! – eu estava verdadeiramente feliz por ele. — Você teve notícias da Heloísa? – eu não queria tocar no assunto, mas não pude evitar.

— Ah, sim. Temos nos falado muito ultimamente. Acredita que ela deixou o Carlos?

Caramba! Por essa eu não esperava.

— Pois é. Isso já faz algumas semanas. Ela não me explicou bem os motivos, mas imagino que deve ter sido por causa de perda do bebê. Eu realmente fiquei arrasado por ela e tentei lhe dá todo meu apoio.

— E vocês estão bem?

— Pode se dizer que sim. Estamos nos entendemos aos poucos. Ainda não é fácil para mim. Mas.... Eu penso na minha filha e na estrutura que ela precisa. Estou me esforçando por ela!

— E vocês pensam em...?

— Ainda é cedo para afirmar isso. Eu nem sei o que eu quero. – ele riu. — Mas quem sabe mais para a frente, não é mesmo?

— Poxa, Fred. Eu fico muito feliz por vocês!

Comprei duas águas de coco e voltei para minha família.

Eu disse família?

Sim, o Rodrigo é minha família. Ele está comigo em todos os momentos. Ele me apoia. Ele me entende. Ele me escuta. E o mais importante: ele me ama. Assim como eu o amo.

O tempo realmente passou depressa. O mês de novembro já estava chegando ao fim. E as tão esperadas férias estavam chegando. No trabalho as coisas estavam tranquilas. Os alunos estavam se divertindo na confecção de envelopes, onde mais tardes eles colocariam dentro todas suas atividades do último bimestre.

O Rodrigo estava prestes a concluir seus estudos de vez. E os alunos de sua turma resolveram fazer uma grande festa. Ele até me convidou para lhe fazer companhia. Mas eu recusei. Disse que ele deveria aproveitar aquele momento. Um momento só dele.

Juliana voltou ao trabalho na pousada. Vanessa ficou sem trabalho. Mas por poucos dias. Andei conversando com a minha irmã e ela concordou em convidar a Vanessa para ser sua babá. Só não sei se a Vanessa aguentaria tomar conta de sete crianças!

— Eu adoraria! Olha, confesso que não sou muita boa com crianças. Mas estou disposta a aprender. Você só precisa ser um pouquinho paciente comigo. – dizia ela para minha irmã, os olhinhos brilhando. — E eu aprendo tudo muito rápido! Eu garanto!

Os pais do Rodrigo chegaram poucos dias depois para passar as férias aqui na cidade. E foi muito bom eles terem chegado cedo, pois a mamãe estava desesperadíssima com os preparativos das festas de fim de ano e assim eles poderiam ajuda-la nessa questão.

— Mel! – gritou a minha irmã. Admito que eu estava começando a sentir falta dos gritos dela. — Tem visita pra você.

Eu estava dando uma geral no quarto, tirando tudo que nós não usávamos mais para dar a doação.

Larguei tudo que estava fazendo e desci correndo.

Quem poderia ser?

Abri a porta e dei de cara com ninguém menos que a Heloisa.

— Entra. – convidei, muito educadamente.

Como o papai estava na sala, o quarto lá em cima estava virado de cabeça para baixo, eu a convidei para beber alguma coisa na cozinha.

— Eu aceito um copo de suco, por favor. Está um calorão!

É verdade. Essa época do ano é muito quente aqui no Rio de Janeiro.

Fui até a geladeira, peguei a jarra de vidro da mamãe com suco de limão e enchi um copo para ela.

— Obrigada.

Ela bebeu o suco quase todo de uma vez só.

— Você deve estar se perguntando o que eu vim fazer aqui.

— Sim... – admito com um sorrisinho.

Heloísa também sorriu.

E mais uma vez ela era a beleza em pessoa. Os cabelos arrumados, a maquiagem perfeita, as roupas charmosas. Nem parecia aquele bicho das cavernas com quem eu tinha me deparado algumas semanas atrás.

— Eu deixei o Carlos.

— Eu soube! Me encontrei com o Fred na praia e ele contou.

— Pois é. Eu e ele estamos nos estendendo outra vez.

— É, ele disse isso também.

— Eu pensei muito em tudo que você me disse aquele disse e você tinha razão: eu não merecia. Você não mereceu. Nenhuma mulher merece. Não sei porque eu me enganei por tanto tempo!

— Acontece com todas nós, infelizmente.

— Sim! E é por isso que eu pensei em fazer algo para acabar com essa história de uma vez. Não queria que nenhuma outra mulher passasse por aquilo também. Que se deixasse enganar por um monstro cruel e impiedoso. Pelo menos não com ele. Se eu pudesse evitar.

— Não me diga que você o matou.

— Não! – ela riu. — Se bem que ele merecia isso também.

Foi minha vez de rir.

— Mas eu trouxe isso. Espero ajudar.

Ela abriu a bolsa que estava sobre seu colo e de dentro tirou um envelope volumoso e me entregou.

Eu olhei para ela, curiosa.

— Depois de te ouvir, eu tomei minha decisão naquela noite. Eu iria embora. Nada e ninguém poderia me impedir. Mas então eu tive uma ideia. Precisava de algo para usar contra ele. E permaneci naquele apartamento por mais alguns dias e colhi algumas provas. O máximo que eu pude. Dê uma olhada!

Abri o envelope com certo receio e de dentro tirei uma volumosa pilha de fotos e um gravador muito pequeno.

Fotos do meu filho com o olho grudado na tevê e coberto de pacotes de doces e salgadinhos e latas de refrigerante. Fotos da casa transtornada, muito suja, como se não visse uma faxineira a décadas. E na gravação, alguns áudios do Carlos destratando a própria Heloísa e conversando com meu filho coisas absurdas, como ele não poder ligar ou me ver, sair para brincar pois tudo que ele precisava ele tinha ali dentro, em seu quarto.

Tudo que eu tinha visto com mus próprios olhos!

— Sei que não é muita coisa. – Heloísa voltou a dizer, me fazendo tirar os olhos de tudo que eu tinha em mãos. — Mas eu fiz o máximo que pude. E espero realmente que isso possa de alguma forma te ajudar. Que você possa colocar esse monstro atrás das grades e recuperar de volta o seu filho.

Eu nem sabia o que dizer.

Meu coração batia forte.

Depois de tanto tempo de espera, finalmente eu podia enxergar uma luz no fundo poço. Ali estava a esperança que eu precisava de conseguir meu filho de volta. Traze-lo para casa, para o lugar de onde ele nunca deveria ter saído.

— Muita obrigada, Heloísa. Eu nem sei como agradecer...

Meus olhos rapidamente se encheram de lágrimas.

— Nem precisa! Não depois de tudo que eu fiz para você. Mas olha, isso não é tudo. Eu andei pensando que você poderia também usar seus exames contra ele. Como prova das agressões e maus tratos. E se isso não for o bastante, eu irei depor ao seu favor. Eu farei qualquer coisa para te recompensar, Mel. Qualquer coisa.

Na época eu poderia sim ter denunciado o Carlos por tudo que ele me fez passar. Mas eu não quis. Pelo bem dos meus filhos. Dos nossos filhos. Mas agora a situação era completamente diferente. Ele não estava só mexendo comigo. Estava mexendo com os meus filhos e eu disse isso a ele uma vez: não ouse a tocar um dedo nos meus filhos ou eu acabo com você. Ele não estava batendo no Gustavo, não que eu soubesse. Mas estava fazendo bem pior: privando-o da companhia da mãe, do irmão e da família. E dizendo bobagens e absurdos a ele, afetando-o psicologicamente.

Isso não era certo.

E eu não iria continuar permitindo isso. Não agora que eu tinha provas suficientes. Não agora que tinha todo mundo do meu lado. Não agora que eu me sentia mais forte do que nunca.

Assim que a Heloísa foi embora, liguei imediatamente para a minha advogada e contei todas as minhas pretensões a ela.

— Fique calma, Melissa. Amanhã eu vou aí e olharei todas as provas de pertinho. Não podemos nos precipitar. O que você está prestes a fazer é muito sério. Não podemos correr o risco de perder essa causa.

— Ei, você está bem? – quando coloquei o telefone de volta no lugar foi quando reparei que o Rodrigo estava ali.

— Eu estou ótima! – eu pulei em seus braços, sorrindo de orelha a orelha. — Porque finalmente vou recuperar o meu filho. Dá pra acreditar nisso?


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Notas finais do capítulo

Me contem tudo! Esperavam isso da Heloísa? O que vocês acharam? Bjuuuus!