Apenas Um Olhar escrita por Mi Freire


Capítulo 28
Vê-lo partir.


Notas iniciais do capítulo

Oi, meninas. Bom, primeiro gostaria de pedir desculpas pela demora em responder os comentários de vocês. Não tive uma semana muito fácil na faculdade com entrega de trabalhos. E meu estoque de capítulos prontos tinha acabado e minha criatividade tinha evaporado. Essas coisas sempre acontecem comigo hahaha Mas estou de volta e consegui escrever esse capítulo rapidinho para vocês, porque odeio ficar sem postar. Não é lá grande coisa, mas espero que gostem. Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/631068/chapter/28

Na quinta-feira, depois de mais uma consulta ao psicólogo, fui direto ao shopping comprar um novo celular. Não era nenhum pouco parecido com o celular que o Carlos havia me dado, mas era o bastante para mim e foi comprado com o dinheiro do meu suor.

Depois passei na casa do Rodrigo mesmo sabendo que ele tinha ido para a faculdade. Deixei meu novo número com o Patrick, assim ele passaria para os outros e para o Rodrigo.

"Já não era sem tempo."

Rodrigo tinha acabado de me mandar essa mensagem.

"Nunca é tarde demais."

Respondi de volta.

E então começamos a trocar muitas mensagens, o tempo todo. Eu até me esqueci de terminar de ler o meu livro. E quase me esqueci de descer para jantar, até a mamãe começar a berrar como se eu fosse criança.

O final de semana chegou rápido. Deixei que o meu irmão levar os gêmeos ao parque no carro do papai e comecei a me arrumar para o almoço na casa do Rodrigo. Segundo ele eu teria grandes surpresas. Já estava muito ansiosa.

Quando entrei na casa que ele divide com os amigos, foi surpreendida por um casal de cabelos louros. Eles estavam conversando no sofá e quando entrei pararam para me olhar.

— Mel, esses são os meus pais. Júlio e Samanta.

Fui recebida com abraços calorosos. Diferentemente do que eu imaginei, não foi nenhum pouco difícil. Os pais do Rodrigo eram ótimos, igualmente ao filho, ambos muito gentis, educados e amigáveis. Logo eu estava relaxada, me sentindo muito amiga e intima dos dois. O que era ótimo.

Seus pais passariam aquele final de semana no Rio. Depois do almoço nós os levamos para conhecer a cidade. Júlio lembrava de alguns lugares que ele e o filho já tinham visitado antes. Mas Samanta morria de medos de aviões e nunca veio antes ao Rio de Janeiro. Ela ficou maravilhada com tudo.

Os dois insistiram em conhecer a minha família. Não sei se eles estavam preparados para tanta loucura. Mamãe que não esperava pela visita, ficou maluca por não ter nada para servir. Ela quase me bateu na frente de todos. Então, ela começou a preparar um bolo e fez suco. Começou a tagarelar com os pais do Rodrigo e nós ficamos observando de lado, rindo muito da situação.

Quando meus irmãos chegaram com as crianças foi aquela loucura. Juliana apresentou um por um e quando eu menos esperava as crianças começaram a pular no colo das visitas. Pensei que iria assusta-los ou enfurece-los, mas na verdade eles ficaram bem contentes com toda aquela animação.

Os pais do Rodrigo eram ótimos.

Nada que se compare aos pais do Carlos.

— Eles não se incomodam de ficarem sozinhos? – perguntei, de mãos dadas com o Rodrigo.

— Ah, não. Eles já falaram com os meus amigos pela internet e pelo telefone. Mas eles estão cansados, vão dormir cedo.

Como o quarto dele estava ocupado por seus pais, nós não tivemos escolhas a não ser ir para o meu quarto. Onde não teríamos nenhum pouco de privacidade. Já que os gêmeos estavam no quarto do meu irmão, jogando videogame com ele.

Carlos não veio busca-los esse final de semana.

Era a primeira vez que o Rodrigou subia no meu quarto.

— Estou impressionado com a organização. – ele brincou, olhando cada detalhe do cômodo. — Olha só, quantos livros!

— Na verdade, nem são muitos assim. Muitos ficaram no apartamento. Assim como muitas roupas minhas e objetos pessoais. Mas não me importa. Prefiro assim. Prefiro conquistar as minhas próprias coisas com o meu próprio dinheiro.

Rodrigo beijou a minha testa, parecendo orgulhoso.

— Você é tão determinada, dependente e decidida. Eu gosto disso em você. Gosto quando você está feliz.

Ele sorriu e depois me beijou.

Sentamos em minha cama, lado a lado.

— Tenho uma coisa para te mostrar.

Fui até o guarda-roupa e de dentro de uma das gavetas tirei um velho álbum de fotografias.

Aquele era o momento certo.

Será que ele ficaria com raiva por eu não ter dito nada antes?

— Fotos de quando você era criança? – ele abriu um sorriso animado e eu me aproximei, voltando a me sentar ao seu lado.

— Na verdade, fazia tempo que eu queria te mostrar isso. Mas eu não sabia quando seria o momento certo. Tive medo que você não se lembrasse ou que eu estivesse enganada.

Abri o álbum e passei foto por foto, vagarosamente, até chegar a foto que eu queria. Onde estava nós dois. Ele uma criança e eu já adolescente, com meu vestido sujo e um sorriso sem graça.

— Lembra-se desse dia?

Rodrigo franziu a testa, pensativo.

Ele analisava a foto com cuidado e até a colocou mais perto para ver os detalhes.

— Espera aí.... Esse sou eu.

— Sim. E essa sou eu.

Ele olhou para mim intrigado e depois para a foto.

Ele não estava se lembrando...

— Eu me lembro desse dia! – ele praticamente gritou, assustando-me um pouco. — Eu estava com o meu pai. Nós estávamos conhecendo a cidade. Tínhamos acabado de chegar quando soubemos do desfile. Ele estava cansado, mas eu queria muito ir ver. Então nós fomos. Tinha tanta gente!

Ele riu, mergulhando em suas lembranças.

— Eu fiquei com fome e ficamos na fila na barraquinha de pastel. Eu queria muito um pastel de frango. Sempre foi o meu preferido. Então eu olhei para o lado e vi uma garota no chão com o vestido azul e dourado. Ela tinha uma coroa...

Ele voltou a olhar para mim, com aquele sorriso.

— Meu Deus! Era você. Claro que era! Como eu poderia ter me esquecido desses olhos? Mas como isso é..... Possível?

— Eu não sei! – eu ri contagiada pela alegria dele. — Mas nós nos reencontramos tanto tempo depois.... Isso não é loucura?

— Loucura eu não sei. – ele deixou o álbum de lado e colocou a mão no meu pescoço. — Mas eu sei que é amor.

Ele me beijou de forma apaixonada.

— Aposto que na casa dos meus pais tem mais fotos dessas! Meu pai também tirou fotos aquele dia, não tirou? – eu assenti, confirmando o que eu lembrava daquele dia. — Mas você me dá uma dessas? Quero colocar no meu quarto...

No outro dia fui tomar café-da-manhã na casa dele.

— Pai, lembra-se da vez em que viemos aqui, quando eu era bem pequeno? – seu pai não respondeu, acho que nem lembrava. Mas ele resolveu continuar do mesmo jeito. — Lembra-se da menina do vestido azul que eu ajudei? Era a Mel! Ela me mostrou as fotos ontem. Fotos que você mesmo tirou!

Seus pais se divertiram quando eu contei a minha versão da história para eles. Assim como nós eles não acreditam como aquilo poderia ser real. Parecia coisa de filme ou dos livros!

Foi muito triste quando os pais do Rodrigo tiveram que ir embora naquele dia mais tarde. Eu estava começando a me apaixonar ainda mais por eles. Eles prometeram voltar o mais breve possível. Nos desejaram sorte e se foram.

Naquele começo de uma nova semana eu me dei conta de que com o trabalho eu tinha parado com as minhas corridas matinais. Para minha sorte, eu continuava me alimentando bem, mas sentia falta dos exercícios. Então eu pedi para Alícia dar um jeito de arrumar um tempo para correr comigo as tardes na orla da praia.

Na quarta-feira era feriado. Minha irmã deixou as crianças comigo e com o Rodrigo após ter inventado de que precisava passar um tempo a mais com o marido. Só os dois.

— E, por favor, parem de fazer filhos. – brinquei, quando eles já estavam de saída. — O quinta já está a caminho.

Rodrigo e eu não tivemos muito tempo para namorar. Pois tentamos manter as crianças ocupadas o máximo de tempo. Eram muitas. Quatro sobrinhos meus, dois filhos e mais o filho da Alícia que ela trouxe para brincar os gêmeos. Sete crianças!

— Você já pensou em ter mais um filho? – Rodrigo me perguntou quando as crianças nos deram um sossego.

Elas brincavam distraídas no quintal, rolando pela grama.

— Não.... Porque?

— Não sei. Eu tenho pensando muito nisso ultimamente. Sabe, seria bom ter uma menininha.

Ele estava sugerindo o quê? Que tivéssemos uma filha juntos? Que construíssemos nossa própria família?

Não sei. Pensar nisso me deixou em pânico! Não seria cedo demais? Nós tínhamos acabado de nos conhecer! E eu não sabia dizer se queria ter mais filhos. Dois já eram o bastante.

Eu não disse nada durante o resto do dia. Mas não consegui tirar aquilo da cabeça. Ter um filho com o Rodrigo era uma ideia assustadora, mas por outro lado... Ele seria um excelente pai. Eu sabia disso! Talvez um dos melhores. E ele tinha o direito de querer ser pai. Afinal, ele ainda é muito jovem.... Mesmo assim, não sei se eu estou preparada para passar por tudo aquilo de novo.

Ao cair da noite Alícia veio buscar o filho, mas antes de leva-lo para casa ela jantou conosco e passamos um tempo conversando no meu quarto, na companhia do Rodrigo. Era a primeira vez que eles ficaram tão próximos e entrosados. Se deram super bem!

Juliana e Igor também vieram buscar os filhos e por fim, Rodrigo e eu ficamos sozinhos. Os gêmeos já tinham ido dormir e nós resolvemos ficar um pouco lá fora, namorando e aproveitando o ar fresco dessa noite calorenta.

No dia seguinte, enquanto as crianças saiam para o intervalo, Alícia entrou em minha sala segurando um buquê de girassóis.

— Isso é para você. – disse ela com um sorriso, entregando-me o tal buquê. — É do Rodrigo. Ele passou aqui mais cedo e pediu para eu te entregar. Ele é adorável! Você tem muita sorte, Mel.

E então ela saiu para cuidar das crianças no refeitório. Eu já estava indo para ajudar, mas antes eu precisava de um tempinho para admirar o meu buquê. Era tão lindo! Tão delicado! Era a primeira vez que um homem me surpreendia no trabalho.

Eu realmente era muito sortuda.

Ah, e tinha um cartão. Eu nem tinha percebido.

“Me desculpe por ter te assustado ontem com aquele papo maluco de ter filhos. Não fique pensando nessas coisas. Não por agora. Teremos muito tempo pela frente para pensar sobre isso.

Nesses poucos meses que estávamos juntos ele já me conhecia tão bem. Minha cara de pavor deve ter entregado tudo. Mas o mais fofo foi ele ter percebido e se desculpado com um gesto tão simples, mas tão significativo. Eu poderia ter um filho com ele agora mesmo! Porque é obvio que eu estou apaixonado por ele e ele por mim. Então, qual é o problema?

O restinho da semana passou muito depressa. Rodrigo e eu mal nos vimos. Mas agora eu tinha um celular e nós ficamos trocando mensagens quase o tempo todo. Com ele eu me sentia tão jovem! E agora só tinha motivos para sorrir, porque eu era feliz. De um modo simples, mas era feliz. Ele me fazia feliz!

Acordei cedo no sábado de manhã para ir a clínica para mais uma consulta com o psicólogo. Creio eu que essa talvez tenha sido a consulta mais longa que tivemos. Eu passei quase o tempo todo falando da felicidade em que eu me encontrava por finalmente ter encontrado o grande amor da minha vida. Por fim, o médico e eu decidimos que aquela era minha última consulta. Porque eu já tinha encontrado o melhor remédio para a minha cura: o amor.

Cheguei em casa saltitante, mal conseguindo conter em mim a alegria que eu estava sentindo pela minha recuperação. No final das contas, foi mais rápida do que eu esperava. E tudo isso graças ao Rodrigo, que reapareceu na minha vida no momento em que eu mais precisava. Mas meu sorriso desapareceu completamente quando subi para o meu quarto e vi a mamãe ajudando um dos gêmeos a fazer as malas.

— O que está acontecendo aqui? – perguntei, chocada.

Mamãe virou-se para mim assustada e ela tinha expressão nada boa. O que só me apavorou ainda mais.

Ouvi um pequeno ruído vindo do canto do quarto e ali encontrei o Vinicius encolhido. Ainda de pijama. Chorando muito.

— Mamãe, eu vou morar com o papai. Ele me ligou hoje mais cedo e logo, logo ele vem me buscar. – o Gustavo que estava ajudando a vovó a fazer as malas, explicou.

Não, eu não podia acreditar no que estava vendo, muito menos podia acreditar no que estava ouvindo.

— Você não vai, Gustavo.

— Sim, eu vou, mãe. Já falei com o papai.

Voltei a olhar para minha mãe, chocada. E ela apenas suspirou e deu de ombros, como se não tivesse mais nada que pudéssemos fazer para mudar aquela situação.

Alguém buzinou lá fora.

— Mel, é ele. – gritou o meu irmão lá de baixo.

— É o papai! – Gustavo pulou de alegria. — Vamos vovó, vamos depressa. Me ajuda a fechar esse zíper aqui.

Aquilo só podia ser um pesadelo.

— Eu não quero ir morar com o papai, mamãe. – pela primeira vez o Vinicius disse alguma coisa, quando levantou-se e me abraçou pelas pernas.

Me deu uma dor no coração!

— E eu não quero que o Guga vá.

Guga era como ele chamava o irmão carinhosamente.

— Mas eu vou! – interveio o Gustavo, como se eu fosse capaz de impedi-lo. Coisa que eu não era, por mais que meu coração doesse em vê-lo partir. Ele já tinha tomado sua decisão.

Sim, ele é só uma criança. Mas ele tem todo o direito do mundo em ir querer morar com o pai.

Mamãe ajudou o Gustavo a descer com suas poucas coisas para colocar no carro do Carlos, que já estava esperando lá fora.

Eu não queria nem olhar pra cara dele!

Tudo isso era culpa dele. Só dele!

— Olha, querido, você não tem que ir. – abaixei-me na altura do Vinicius, tentando conter seu choro. — Mas seu irmão quer ir e ele vai. Infelizmente não podemos fazer nada. Ele quer ir.

Vinicius ficou lá em cima no quarto, quietinho, tentando entender aquela situação. Já eu desci, precisava ter um papinho com o Carlos antes da partida do meu filho.

— Escuta aqui – disse brava, ao me aproximar do seu carro parado em frente de casa. — não ouse a tocar um dedo no meu filho ou você vai se ver comigo. E não se esqueça de que eu continuo sendo a mãe dele e vou querer vê-lo sempre que possível. E se eu souber que você está tentando jogar meus filhos contra mim eu vou acabar com sua vida. Estamos entendidos?

Carlos riu, debochado.

— Sim, senhora.

Ele estava tirando uma com a minha cara?

Cerrei os punhos...

— Já está tudo no porta-malas. – disse minha mãe, colocando-se ao meu lado e me impedindo de fazer alguma besteira.

— Bom, então já podemos ir, não é filho? – Carlos colocou a mão na cabeça do Gustavo que apareceu do nada e sorria muito.

Abaixei-me para falar com ele.

— Eu te amo muito. Cuide-se. E se você tiver qualquer problema, lembre-se que pode ligar para mim. Você tem meu novo número, não tem?

Ele apenas assentiu. Parecia super tranquilo. Mas meu coração estava despedaçado. Então, eu apenas lhe dei um beijinho na testa e o ajudei a entrar no carro, sentar na cadeirinha e pôr o cinto de segurança.

Ver meu filho partir com o homem que tentou arruinar a minha vida foi a coisa mais difícil que já me aconteceu. Ainda mais difícil do que se surrada até perder todos os sentidos e ver a vida escorrer de minhas mãos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Quando tudo parece perfeito... Vem algo e estraga tudo. Coitada da Mel. Comentem!