Apenas Um Olhar escrita por Mi Freire


Capítulo 11
Uma conversa muito séria.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/631068/chapter/11

Frederico e Heloísa ficaram um bom tempo perguntando ao Carlos e eu sobre a nossa história. Parecia que o Carlos não tinha falado quase nada a eles. Heloísa fez questão de dizer que o Carlos era muito reservado e quase nunca falava dos seus sentimentos com ninguém, então não havia motivos para eu me preocupar.

Não era como se ele não se importasse comigo.

Depois convidei eles para se sentarem na mesa na sala de jantar, onde eu serviria a comida. Heloísa foi muito gentil em oferecer a sua ajuda. Eu somente agradeci e disse que não era preciso. Eu realmente queria causar uma boa primeira impressão.

Com todo cuidado possível coloquei a comida sobre a mesa e eles foram se servindo, como se já fossem de casa. O que era ótimo, assim que não precisava me preocupar tanto. Na primeira garfada no meu primeiro risoto de queijo, Frederico me elogiou.

— Uau! Isso está uma delícia. – ele sorria e eu estava muito corada de vergonha. — Você tem uma mão ótima para a cozinha.

— Imagina. – sorrio, toda sem graça. — Você só diz isso porque ainda não conhece a minha mãe. Ela sim é muito boa cozinheira.

De repente eles ficaram muito interessados em saber sobre a minha família e eu contei praticamente tudo a eles, até as situações mais engraçadas. Eu estava me sentindo muito confortável, como se os conhecessem a muito tempo.

— Nossa, eu quase esqueci o vinho. – Carlos pediu licença e foi até a cozinha, pegar a primeira garrafa de vinho da noite.

Assim que terminamos de jantar, voltamos para a sala de estar. Frederico e Carlos ficaram conversando em um dos sofás sobre coisas de trabalho. E eu e a Heloísa sentamo-nos em outro.

— E então – resolvi puxar conversa com ela, mesmo sabendo que eu era péssima naquele tipo de coisa. Só não queria que ela pensasse que eu era antipática ou coisa do tipo. — você também trabalha com eles no escritório?

— Oh, não. – ela soltou uma risadinha muito fofa. Por um momento me lembrei da Alícia e fiquei com saudade. — No começo sim, mas naquela época eu mal os conhecia. Só estava ali fazendo o meu trabalho. E foi assim que eu o Fred nos conhecemos.

Ela já sabia da minha história e eu queria saber mais sobre a dela.

— E como é que foi que as coisas começaram a mudar entre vocês? – perguntei e ela sorriu ainda mais, acho que voltando naquele tempo, revivendo as boas lembranças.

Heloísa me contou que no começo não simpatizava muito com o Frederico. Ela o achava arrogante e exibido. Além de ele ser muito galanteador. Na época ela estava saindo com um cara muito bacana, que ela conheceu na faculdade de Contabilidade.

— Todos os dias ele vinha me atormentar. – Heloísa disse, referindo-se ao Frederico. — Ele sempre vinha na minha mesa quando não tinha nada para fazer. Mesmo que eu estivesse atolada de trabalho. Ele era muito inconivente. – ela riu, olhando de relance para o marido a poucos metros de nós. — Eu não o suportava, mas não podia dizer nada e nem reclamar, já que ele era um dos meus chefes. E isso durou pelo menos um ano. E meu compromisso com o outro cara já estava ficando bem sério. Pelo menos eu achava, até ele me dar um pé na bunda por motivos que até hoje eu não consigo entender. Eu fiquei péssima! Realmente gostava dele e até pensei que ele iria me pedir em casamento. Assim que soube disso, Frederico partiu para o ataque. Me chamou para sair e nessa mesma noite ele me disse coisas lindas que fizeram eu me sentir muito bem. Nós nos beijamos e fomos para o apartamento dele.

— Nossa, mas demorou para acontecer, né?

— Sim, demorou. Isso porque eu não conseguia olhar para ele com outros olhos. Ele só era o meu chefe. Não podemos misturar esse tipo de coisa no trabalho. Mas então tudo mudou de repente e eu já não conseguia mais parar de pensar nele, mesmo quando deveria estar trabalhando. Eu não imaginava que ele tivesse um lado bom, carinhoso e gentil. Por isso, escondemos nosso caso amoroso do Carlos por muito tempo. Tínhamos medo que ele nos repreendesse e acabasse me mandando embora. E eu dependia daquele emprego para sobreviver. Frederico entendia isso.

— E por quando tempo vocês se esconderam?

— Por três meses, até o Carlos nos pegar no flagra.

— Nossa! Sério? Mas como?

Ela riu.

— Ele saiu mais cedo aquele dia, dizendo que tinha coisas importantes para resolver. Eu fiquei na minha, terminando meu trabalho. Mas então o Frederico veio até a minha mesa com aquele sorriso descarado. E com apenas uma troca de olhares, nós começamos a nos agarrar em cima da mesa e tudo. Então, o Carlos apareceu de repente e viu tudo. Foi horrível!

Foi a minha vez de rir, imaginando a cena.

— E o que ele disse? O que ele fez?

— Nada. Ele ficou chocado, mas logo começou a dar risada da situação. Nós pedimos desculpas, ficamos muito sem graça e dissemos que aquela era a primeira vez que aquilo acontecia. Claro que era mentira. Mas como ele poderia saber? E sabe o que ele disse após pegar o que tinha esquecido em sua mesa?

— O quê?

— Ele disse que já desconfiava, mas que não tinha problemas. Antes de sair ele disse “continuem e aproveitem! ”. Eu não soube onde enfiar a cara e o Fred ria muito. Eu até dei umas tapas nele!

— Nossa, se isso acontecesse comigo eu também ficaria muito envergonhada. Mas e aí, como vocês se resolveram depois?

— Um mês depois nós nos casamos. Vai fazer três anos! E eu saí do trabalho para cuidar da nossa família.

Continuamos a conversar. Ela era muito boa de papo. Além de divertida e fofa. Eu já estava me sentindo muito próxima da Heloísa.

Meia hora depois resolvi servir a sobremesa. Dessa vez aceitei a ajuda da Heloísa. Novamente recebi elogios da minha comida.

As onze e meia, depois de muita conversa e duas garrafas de vinho vazias, o casal foi embora. Carlos e eu subimos para o quarto, onde nos preparamos para dormir. Era a primeira vez que dormiríamos abraçadinho na nossa nova cama.

Na manhã de terça-feira Carlos acordou muito cedo para trabalhar. Apesar de ele ter feito pouco barulho, eu resolvi me levantar para preparar algo para ele comer.

— Não precisa se incomodar, querida. – disse ele, beijando a minha testa com carinho. — Volte a dormir.

— Não. Eu já queria mesmo acordar cedo. – eu estava com muita preguiça, eram sete e meia da manhã. Mas eu já estava habituada a isso. — Vou preparar algo para você.

Coloquei meu hobby preto e desci, enquanto ele terminava de se arrumar. Rapidamente preparei um café fresco e no armário peguei algumas torradas e na geladeira o requeijão.

Carlos se junto a mim para o café da manhã minutos depois.

As oito ele se despediu de mim com um beijo e se foi, deixando-me sozinha nesse imenso apartamento.

Olhei em volta ainda sem acreditar se aquilo era real. Eu estava um tanto desnorteada, sem saber o que fazer em seguida.

Resolvi que primeira tomaria um banho para despertar e vestiria uma roupa confortável. Dei uma geral na cozinha, lavando a louça do jantar de noite passada e do café da manhã. Depois liguei o som não tão alto e comecei a tirar minhas coisas de dentro das caixas e organiza-las em seus novos lugares.

Foi uma tarefa longa, já que eu ainda não sabia onde colocar cada coisa. Mas aos pouquinhos fui me habituado e por fim deu tudo certo. Já estava tudo muito bem organizado.

Ao meio-dia e meio preparei algo para comer. Mas antes liguei para o meu marido, para saber se ele viria em casa almoçar. Ele disse que não, que estava acostumado a almoçar fora com o Fred. Então preparei um pouco de macarrão ao molho, só para mim mesmo.

Depois do almoço, descansei um pouco no sofá. Liguei a televisão de 50 polegadas. Tive a sensação de estar em um cinema. A tela era tão grande e tão nítida e de alta qualidade.

Levaria um tempo até eu me acostumar com esse tipo de mordomia.

Acabei cochilando um pouco e acordei assustada. Resolvi então ligar para casa para sabe como estavam as coisas por lá. Como a mamãe estava muito ocupada, eu falei primeiro com a minha irmã. Ela fez um milhão de perguntas. Depois falei com o papai, que quase não disse nada. Por fim, falei com o caçula, o Augusto.

— Você iria adorar jogar videogame nessa televisão. Ela é imensa. Parece um cinema! Não vejo a hora de você vir aqui. Quem sabe nas férias, pode até passar um tempo conosco.

Mas ele não ficou tão animado quanto eu gostaria.

Como eu não tinha muito o que fazer, subi para dar uma olhada melhor em minha pequena biblioteca. Tinha tantos livros novos que eu ainda não tinha lido. Mas os meus antigos também estavam por ali, organizado nas prateleiras. Resolvi que começaria uma nova leitura para passar o tempo.

O escolhido foi A seleção da autora Kiera Cass. Fiquei lendo lá fora, na cobertura. Estava uma tarde linda de sol. Conforme ai mergulhando cada vez mais na leitura, fui me identificando muito com a America Singer, a personagem principal da história.

Nossas vidas se pareciam em alguns aspectos.

Terminei o livro no comecinho daquela noite. Pensei em começar logo o próximo volume da série. Mas eu devoraria todos os livros novos muito rápido e não iria sobrar nenhum! Fiquei um bom tempo olhando para o relógio, deitada no sofá, pensando em quando o Carlos iria voltar pra casa para alegrar o meu dia.

Não que eu não estivesse gostando dessa nova realidade. Eu estava amando! Mas de repente tudo me pareceu tão solitário. De que adiantava toda essa riqueza se eu não tinha ninguém para usufrui-la comigo? Por um momento eu quis que toda a minha família estivesse ali comigo.

Jantei sozinha também, assistindo a um reality show qualquer na televisão. Alguns dias atrás minha vida costumava ser tão simples, mas tão conturbada dentro de casa, tão agitada. Cheia de vozes, brigas, discussões e alegrias. E agora... Era tudo tão silencioso, se não fosse pelo barulho do som ou da televisão.

Carlos chegou quase as nove da noite. Assim que ele entrou pela porta com sua pasta de trabalho em mãos, eu corri para abraçá-lo. Tentei evitar chorar na frente dele. Estava tão feliz por vê-lo!

— O que aconteceu, querida? – ele segurou o meu rosto. — Porque você está com essa carinha triste?

— Não é nada. – menti e tentei sorrir para ele. — Eu só estava com saudade de você.

Ele me beijou e depois me conduziu até o sofá.

— Agora me conta, como foi o seu trabalho?

— Normal. Como sempre. Muita coisa para resolver.

Ele tomou um banho, tomou um copo de leite e veio se deitar comigo. Porque já era muito tarde. Percebi que ele adormeceu muito rapidamente. Mas eu não conseguia pegar no sono de jeito nenhum. Pensando que o dia seguinte seria igual ao dia de hoje: nenhum pouco produtivo, vazio e silencioso.

— Carlos? – sussurrei em meio ao escuro.

— O que foi? Está com insônia? – pegou, meio grogue.

— Estava pensando.... Acho que quero voltar a trabalhar.

Carlos se sentou sobre o colchão e acendeu o abajur ao lado da cama sobre o criado-mudo.

— Não entendi... Mas porquê?

— Eu não sei. – me sentei também, me sentindo levemente triste. Passei a mão nos cabelos soltos. — Quero fazer alguma coisa, entende?

— Eu preferiria que não.

— O quê? – virei-me para ele, surpresa. — Como assim?

— Preferiria que você ficasse aqui em casa, cuidando das nossas coisas. Aqui é mais seguro. Aqui é o seu lar. Eu posso te dar o que você quiser! Você não tem que...

— Sim, eu sei. – interrompo-me, sentindo-me tensa. — Mas seria bom se eu pudesse fazer algo, ajudar você...

— Não! Eu preferido que não, Melissa. Fique em casa. Você logo, logo encontrará alguma coisa para fazer. Eu até me preocupei em montar uma biblioteca para você com livros novinhos. Comprei um computador de última geração para você fazer o que quiser nele e por acaso você se esqueceu do carro que você tem agora?

Comecei a me sentir muito ingrata.

Ele tinha razão.

O que mais eu poderia querer? Eu tinha tudo aqui.

Ele me dava tudo e mais um pouco, mesmo eu não merecendo nada. Carlos estava se sacrificando por mim, por nós. Ele só queria o melhor para mim. A minha proteção.

— Tudo bem. – peguei a mão dele e beijei. — Não vamos mais falar sobre isso. Eu entendi. Você tem razão. Eu vou ficar aqui.

Ele me beijou levemente nos lábios.

— Essa é a melhor decisão que você poderia ter tomado. Eu me importo com você. Mas se você se sente tão solitária aqui, eu posso dar um jeito de sair mais cedo do trabalho e passar mais tempo com você. Só não posso prometer nada.

— Tudo bem. –sorri, esperançosa.

Isso já era alguma coisa.

Voltamos a nos deitar e ele apagou as luzes.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que vocês pensam sobre isso: Melissa está certa em concordar com o Carlos?