Sakura se recordava perfeitamente da primeira vez que viu Uchiha Sasuke, assim como se recordava de como aquilo fora o pontapé inicial de tudo.

Ela era apenas uma garota de 5 anos e brincava com suas bonecas no jardim de sua casa. O local era amplo e o portão de grades permitia uma visão praticamente perfeita da rua.

Perto do meio-dia, quando o sol já estava a pino e ela considerava entrar devido ao calor, escutou gritos. Curiosa, aproximou-se rapidamente das grades e observou pelos espaços o que acontecia.

Naruto, seu vizinho, gritava enlouquecido com um garoto de cabelos negros. O menino tinha a pela bem pálida e era muito bonito e ela logo reconheceu como sendo o garoto que recentemente se mudara para a mansão na esquina de sua rua.

Não conseguia entender o motivo da briga, mas logo o loirinho lançou-se sobre o moreno e eles rolaram no asfalto quente.

Surpresa e também assustada, chamou sua mãe, que ao ver a cena apenas disse que era esse tipo de coisa que acontecia com crianças que não tinham o amparo dos pais: tornavam-se problemáticos.

Tanto Sasuke quanto Naruto eram orfãos. O loiro morava com o avô, já o moreno morava com o irmão mais velho.

Uma catástrofe, sua mãe dizia.

Ao término da briga, os dois meninos jaziam um ao lado do outro no chão. Hematomas e até mesmo sangue era visível, o que a deixou preocupada.

Naruto levantou pouco tempo depois, correndo em direção a sua casa. Já Sasuke permaneceu naquela posição por alguns minutos, para depois levantar-se com uma careta de dor no rosto infantil.

E foi naquele momento que seus olhos se encontraram pela primeira vez.

Ela estava com o rosto grudado entre as duas grades do portão e o olhar fixo na cena, o que claramente chamou a atenção do garoto.

Eles se encararam por algum tempo, até o menino mostrar-lhe a língua e virar-se, caminhando rapidamente para o fim da rua.

A atitude mal educada de Sasuke a irritou profundamente e a garotinha foi reclamar para a mãe sobre o que ele havia feito.

Uma catástrofe, ela disse novamente. Imagina quando se tornasse mais velho.

Os dias posteriores aquele apenas confirmaram o que sua mãe dizia. Uchiha Sasuke fora estudar na mesma escola que ela, porém por ser um ano mais velho eles não estava na mesma classe. Ainda assim, o menino era extremamente mal educado e mau humorado com as outras crianças, fazendo com que fosse facilmente excluído dos outros alunos.

Apesar de saber o que ele era (“uma catástrofe!”), Sakura sentiu pena. Ela tinha amigas e era muito triste ficar sem ninguém por perto, principalmente no intervalo.

Então, em um dia que sua mãe enviou-lhe dois pedaços de bolo, a garota sentou ao lado do moreno e estendeu o doce.

O menino apenas lhe encarou por alguns segundos, assim como fez com a fatia do bolo, e tornou a lhe ignorar.

– Eu trouxe para você.

– Eu detesto doces.

E ela, mais uma vez, concordou com a sua mãe. Ele era uma catástrofe. E era chato, muito chato.

A partir daquele dia, apenas o observava durante o intervalo. Vez ou outra seus olhares se encontravam, mas a garotinha apenas fechava a cara e virava para o outro lado. Certa vez teve a audácia de mostrar-lhe a língua e foi prontamente retribuída.

Os meses passaram e o dia das mães chegou. Sakura estava exultante, queria mais do que tudo dançar para sua mamãe e oferecer o pequeno presentinho que confeccionaram.

As apresentações seriam após as aulas e assim que o sinal tocou a menina correu para o pátio, exultante à espera da mãe. O pátio estava lotado de crianças das mais diversas idades e foi no meio daquela bagunça que ela o encontrou.

O garoto estava encostado na parede. Seu nariz estava vermelho, assim como seus olhos, e ele segurava algo amassado entre seus dedos.

Permaneceu encarando-o por um longo tempo, mas ele não a notou. Em um determinado momento ele apenas jogou a bolinha de papel que segurava no chão e correu em direção a um homem de cabelo comprido, abrançando-o nas pernas e sendo pego no colo.

Assim que ele saiu de seu campo de visão, a menina correu e pegou a folha, desamassando-a. Era um desenho, traços infantis ainda, porém era possível ver uma mulher de longos cabelos negros segurando a mão de um garotinho com cabelos arrepiados e franja longa. Sasuke e sua mãe.

Sakura sabia que o menino não tinha uma mamãe, sua mãe vivia fazendo questão de frisar que esse era o motivo para tanta rebeldia e falta de educação, mas ver as coisas daquele jeito era diferente.

Ele havia chorado porque era dia das mães e ele não tinha uma mãe para entregar seu presente.

A rosada sentiu-se triste por ele e fez questão de guardar o desenho em sua mochila, antes de correr em direção de sua mãe que acabara de chegar.

Aquela foi a primeira vez que ela ficou seriamente em dúvida sobre Uchiha Sasuke ser ou não uma catástrofe.

Sua opinião mudou de vez em meados de Agosto. Ela havia ido para a escola com um arco na cabeça, que afastava todo o cabelo de sua testa e jogava os fios rosados para trás.

Sua mãe disse que ela estava linda e ela também achou muito bonito, porém ao chegar na escola os meninos de sua sala começaram a apontar para seu rosto e rir de sua cara.

A garota não sabia o que estava acontecendo, mas quando questionou recebeu uma resposta seguida de risos infantis:

– Sua testa é gigante.

Constrangida e complexada com o que o menino dissera, Sakura arrancou o arco, guardando-o na bolsa. A atitude só fez com que os meninos a perturbassem ainda mais, dizendo que ela soltou a franja apenas para esconder a parte avantajada de sua anatomia.

Chorando, afastou-se de todos e sentou-se sozinha durante o intervalo. Comia seu lanche entre alguns soluços, quando os garotos tornaram a se aproximar e xingá-la de “testuda”.

O apelido fez com que voltasse a chorar, mesmo quando eles se afastaram. Ela estava tão perturbada e triste com a situação que sequer percebera quando o Uchiha sentou ao seu lado.

– Eu acho sua testa normal. Te acho bonita também.

Ela encarou-o incrédula, ainda com as lágrimas escorrendo por suas bochechas. O menino a encarava impassível, tendo no rosto sua expressão mais característica: a de seriedade. Mesmo assim ela pode ver que ele estava falando a verdade.

Um pequeno sorrido brotou em seus lábios e a garota aproximou-se e depositou um beijo cálido na bochecha arredondada do moreno. O ato fez com que o mesmo corasse e lhe encarasse assustado, mas ela voltou a lhe sorrir.

A partir daquele dia, eles levantaram a bandeira branca. Ela não mais mostrava-lhe a língua ou lhe encarava feio e ele fazia o mesmo.

Eles, inclusive, passaram a lanchar juntos.

Talvez sua mãe estivesse errada. Talvez Uchiha Sasuke não fosse uma catástrofe completa.