A situação permaneceu calma o suficiente para que a maioria conseguisse descansar. Shaka havia adormecido com Aurora em seu ombro, mas a Deusa da Vitória tinha adrenalina demais em seu corpo para conseguir dormir. Aurora se levantou, sem acordar Shaka, e se dirigiu para o interior do templo. Lá encontrou Shura e Saga acordados, ela os chamou para conversa em particular.

(Aurora em voz baixa) – Obrigada Saga, você foi perfeito.

(Saga)— Eu agradeço o elogio minha senhora, mas estou preocupado com você. Sair da outra dimensão exige muito de qualquer um, até mesmo para um deus e você praticamente desintegrou seu corpo físico para chegar ao ápice de seu nono sentido. Como está se sentindo.

  Uma luz saiu da mão direita de Aurora e a aproximou de seu abdômen, por um momento sua armadura se tornou transparente e foi possível perceber que a região estava tomada uma queimadura de terceiro grau. Shura se preparou para dizer algo, mas Nike o interrompeu.

(Aurora calmamente)— Sim, está doendo e muito. Mas aguentarei até o final, essa guerra precisa terminar com a nossa vitória.

  Ambos ficaram em silêncio, mas com os olhares receosos.

(Aurora)— Shura, você trouxe?

(Shura)— Sim, deusa Nike. Quando deveremos usa-lo?

(Aurora com cautela)— Você será avisado.

  Saga não quis perguntar sobre o que aquilo significava, uma parte dele sabia que ela não lhe contaria. Nesse momento o rosto de Aurora se torna mais pálido devido a uma onda de dor que irradia de seu abdômen para as demais áreas de seu corpo, ela sabia que o estrago era muito maior do que a queimadura.

  Mas não havia tempo para se preocupar com a dor, pois nesse instante o cosmo de Ares foi sentido pelos três. Imediatamente Aurora sente Shaka se aproximando, já alerta.

(Aurora para Shaka)— Ele está vindo.

  Todos foram acionados e saíram do templo, assim que estavam ao ar livre perceberam que todas os milhares de soldados haviam retornado.

(Ártemis)— E então? Qual o plano?

(Aurora encarando os guerreiros de Ares)— Eu tinha um plano, mas ele acaba nesse momento. Agora nós vamos trabalhar com o improviso.

(Mirella com um sorriso)— Gostei desse plano.

  Sem avisar, Mirella lança um poderoso grito do Falcão e consegue desintegrar alguns soldados, em seguida ela ataca e os demais juntam-se a ela.

  Aurora alça voo e se posiciona em cima do templo de Júlio César, estava atenta a tudo o que acontecia na batalha, mas precisava estar pronta para a chegada de Ares, que não se encontrava junto com os seus soldados.

  Uma preocupação se instalou no íntimo da deusa, pois haviam muito guerreiros a favor de Ares e a batalha estava se tornando cada vez mais violenta, mas precisava acreditar na encomenda que Shura havia trazido. Era fundamental que o Cavaleiro de Capricórnio sobrevivesse.

  Um clarão toma conta dos céus e Aurora sabia que ele estava vindo. Nike estreitou os olhos o buscando pelos ares e então ela perceve, um rastro de luz laranja, encaminhando-se até Atena, ele está indo para matá-la.

  Imediatamente Aurora voa até ao encontro do Deus da Guerra e se intercepta entre ele e Atena, recebendo toda aquela força a velocidade da luz. Ares cai sobre Aurora, de maneira tão intensa que uma imensa cratera é formada no local da colisão. Nike parecia não enxergar mais nada, se não estivesse com sua armadura, certamente que estaria morta depois de um impacto daquela escala, mas mesmo estando viva, sabia que estava com diversas fraturas e conseguia sentir o sangue escorrendo dentro de sua armadura. O sangue que tanto deveria manter afastado de Ares.

  Tudo doía, mas não era o momento de se permitir isso, Ares levantou a espada contra o pescoço de Aurora e a deusa parou o golpe com as mãos, conseguindo desestabilizar a posição do deus. Nesse momento, ela concentra seu cosmo em uma das mãos e lança um soco em Ares, que cai de costas, dando tempo para que ela se levantasse.

  Ou pelo menos tentasse, pois suas pernas tremiam tanto que não sabia como se manteria ereta, sentia que a qualquer momento vomitaria ou desmaiaria.

(Ares limpando o sangue no canto da boca)— Está se sentindo bem Nike? Me parece um tanto abatida.

(Aurora com a espada na mão)— Nunca me senti tão bem.

  Ela busca força em seu cosmo e avança contra o deus, as espadas se encontram, mas Aurora sentia que a cada segundo suas energias se esvaiam e ela sabia que Ares estava percebendo isso. O Deus da Guerra consegue driblar um golpe de Nike e deposita um forte chute em suas costas, fazendo com que Aurora caísse de joelhos. Ares prepara a espada para o ataque final, mas Aurora dá uma cambalhota para frente e tem um ideia..... uma ideia maluca, e potencialmente suicida, mas era uma ideia.

  Aurora golpeia o deus com sua espada, mas o resultado é um corte na armadura de Ares, não deveria ter mais de 5 milímetros, mas bastava.

(Ares rindo)— De fato seu ataque já foi melhor. Venha cá sua putinha.

  Ele segura Aurora pelo pulso direito e a joga com força contra entulhos do chão e ela sente seus ossos estralarem com o impacto, seu rosto estava todo cortado e as mãos também.

(Ares)— Eu sabia que seria muito fácil fazer com que você sangrasse para mim.

  Aurora desvia seu olhar de Ares e percebe que Shura está tendo problemas para proteger Atena, tem pelo menos quarenta soldados perto dele, e o Cavaleiro de Capricórnio já estava bastante ferido. Nike precisava proteger Atena e necessitava que Shura estivesse vivo, para o bem dos demais. Ela precisava agir!

  Aurora se levanta e consegue um forte chute contra o ouvido esquerdo de Ares, o suficiente para desnortea-lo. A garota plana sobe o solo e com um poderoso feixe de luz consegue desintegrar os soldados, mas instantaneamente percebe que Ares se aproxima rapidamente. Aurora faz o impensável, ela abraça Shura e Atena e abre suas asas, formando um escudo protetor, sendo apenas tempo suficiente antes de sentir a espada de Ares sendo cravada entre suas asas.

  A dor foi insuportável, não sabia como lutaria depois disso.

(Atena gritando) – Nike, o que foi que você fez?

(Aurora com a voz fraca)— Era necessário Atena.

  Ares retira a espada das costas de Nike e esta se encontra tomada pelo sangue da deusa.

(Ares fitando a espada)— Finalmente.

  Quando ele está para ingerir o sangue sagrado, uma flecha atinge sua mão e a espada cai.

(Ártemis com o arco armado)— Nem pense nisso.

  Shura ajuda Aurora a se levantar, mas a deusa o impede.

(Aurora) – Eu estou bem Shura, você precisa tirar Atena daqui.

(Shura receoso)— Mas Nike...

(Aurora em tom sério)— Me obedeça cavaleiro.

  Shura se cala e obedece o pedido.

(Aurora de pé) – Afaste-se Ártemis. Você precisa ajudar os outros, os soldados são muitos.

  Ártemis fica receosa, mas se afasta. Aurora fecha os olhos e invoca as chamas da tocha da vitória e queima a lâmina de Ares, permitindo que seu sangue evapore.

  O Deus da Guerra ao perceber aquilo avança contra Aurora e envolve o pescoço da jovem com suas mãos. Nike estava fraca, sentia-se exausta e não estava conseguindo reagir ao enforcamento, lentamente sentia a vida se esvaindo de seu corpo.

(Shaka se aproximando)— Tesouro do Céu!

  O golpe é forte o suficiente para que Ares solte Aurora, que cai quase sem reação.

(Ares voltando-se para Shaka)— Não acha ridículo a sua ousadia de me atacar?

(Shaka determinado)— Prepare-se para o próximo.

  Aurora tenta se levantar para ajudar Shaka, mas o Deus da Guerra percebe sua tentativa.

(Ares para Nike)— Você não vai me atrapalhar por hoje.

  Ares lança um golpe contra uma das colunas do templo e ela desaba atingindo completamente a perna direita de Aurora.

(Aurora gritando de dor)— Arrrrghhh.

(Ares) – Você não vai a lugar nenhum agora.

(Shaka furioso)— Seu cretino! Rendição Divina!

  Ares recebe todo o golpe em sua mão direita.

(Ares)— Agora sinta-o em você.

  O Deus da Guerra contragolpeia usando o próprio golpe de Shaka, tudo é depositado em um soco e a força é tamanha que estraçalha sua armadura de ouro penetrando seu coração e parando-o.

  O Cavaleiro de Virgem fica imobilizado com a mão de Ares dentro de seu peito.

(Ares sussurrando)— Ela logo vai se encontrar com você no inferno.

  Então o deus empurra o cavaleiro que cai de costas, sem vida.

(Aurora em desespero)— Shakaaaaa!

  Ela tenta sair da armadilha de pedras, mas um mísero movimento fez com que uma dor avassaladora percorre todo o seu corpo.

  Tudo ficou escuro...