A margarida do Garoto Azul escrita por Toranja A Laranja


Capítulo 1
Unico


Notas iniciais do capítulo

Comentem, please!! :3



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Ultimo ano, o clima de melancolia era presente. Tyler não se surpreendia com a situação, era algo comum de se acontecer. Toda uma sala planejando encontros, saídas com o intuito de aproveitar o tempo restante. Era engraçado o fato, considerando todas as brigas, panelinhas e falta de união que cercaram o tal C por tantos anos. Mas Tyler entendia aquele sentimento como ninguém, a necessidade de aproveitar cada instante como se fosse o único.

Sua irmã, Rani, era uma das cabeças de tudo aquilo. Sempre a líder leal, prestativa e companheira. Era a alma da sala, todos a obedeciam e seguiam suas opiniões fortes e formadas, houve uma vez em que Rani conseguira convencer todo um grupo de pessoas à marchar ao seu lado em uma passeata nos corredores contra a falta de uma opção vegetariana na cantina, e nenhum dos adolescentes se quer gostavam de verduras.

Com a tal festa não havia sido diferente, ela quem organizara tudo. Combinou com a dona de uma pequena boate (que por sinal era sua ex) a ceder o local por uma noite com a promessa de limparem tudo como pagamento. Tyler nunca soube se a dona havia permitido apenas por esse motivo.

Ambos eram muitos diferentes, em todos os sentidos. Rani possuía a pele morena e olhos negros como jabuticabas, maneira estranha de se vestir e cabelos frequentemente bi colores, enquanto Tyler era pálido, de olhos azuis e cabelo negro. Não possuíam ligação de sangue alguma, obviamente, a irmã fora adotada antes de nascer. Seu pai era um médico respeitado e de prestigio, casou-se com uma bela mulher de ideais parecidos e logo então adotaram Rani. Sua mãe possuía alguns problemas e por isso demorou a engravidar, e quando o fez, o resultado estava bem longe de ser apenas flores. Morreu em um acidente tempo depois do nascimento de Tyler.

A família superou bem o ocorrido, claro, depois de alguns anos. Sua tia Cornélia fora uma das maiores responsáveis por isso. Era excêntrica, uma riponga de cabelos rubros, pintora e desempregada que sempre vivera nas costas de seu amado irmão.

“Eu vivo de amor.” Era o que ela sempre dizia. O que não era uma mentira considerando o número de amantes que tivera em apenas trinta e seis anos de vida.

Mas não houve só ela, Don, o homem com que casara e pai do garoto Timmy, também ajudou muito. A tia e o homem possuíam um relacionamento aberto e livre, ambos saíram com outras pessoas, porém nenhuma deles via como traição. Amavam-se de corpo e alma e sempre, principalmente “naqueles momentos”, estavam juntos, alguma vezes tinham até companhia. Seu pai, Hugo, pareceu não se importar com mais um desocupado para alimentar quando Don se mudou para junto deles quando Timmy fizera dez anos.

Como Tyler amava seu primo, o garoto era robusto, cabelos ruivos e sardas por todos os cantos do corpo. Seus olhos verdes brilhavam condizendo com sua alegria. Nunca conhecera pessoa mais feliz e hilária. Timmy sonhava em ser comediante e desde de criança arrancava risadas de todos ao seu redor. Puxara o carisma de seu boêmio pai e a parte artística da mãe, era realmente talentoso e muito querido entre todos.

Os três, Rani, Timmy e Tyler eram inseparáveis, haviam crescido juntos e sempre continuariam juntos. Rani, como a mais velha, era a chefe, a mais experiente e sempre cuidava para que curtissem a vida ao máximo. Fora ela quem arranjara o primeiro cigarro de maconha, a primeira garrafa de vodka aos catorze anos e também fora ela quem segurara a cabeça dos dois enquanto punham tudo para fora atrás de um beco qualquer.

Naquela noite não seria diferente, Rani havia arranjado um par para cada. Prometera a Timmy que ele perderia a virgindade no mesmo dia.

“Já não basta eu ter tirado seu BV, seria nojento demais fazer o mesmo com seu cabaço. Ainda somos primos no fim das contas.” -Foi o que ela dissera semanas antes.

E pelo que parecia, aquilo iria realmente acontecer. Em meio a um amontoado de pessoas, Tyler podia ver o primo praticamente sugando a alma de Lee pelos lábios. Para retirar um pouco do clima pragmático da situação é de bom tom constar que ambos já se conheciam a algum tempo, porém Timmy não possuía culhões o suficiente para progredir sem o auxílio da prima.

–Nosso pequerrucho está crescendo.- disse Rani, orgulhosa. Como era de se esperar, a garota vestia-se de maneira extravagante. Um vestido vermelho e decotado de paetês, vários anéis e colares dourados. Sua maquiagem era forte, como de costume. O batom roxo ou vermelho, Tyler realmente não sabia distinguir com aquela luz, lhe deixava extremamente sexy.

–Assim como “outra” coisa se continuar desse jeito. – respondeu o garoto, retirando os cachinhos negros da testa encharcada de suor.

–Exato. – ela riu, mas parou rapidamente. –Sinto muito que não tenha dado certo com você e Alex. – confessou ela, acendendo os cigarro preso entre os lábios carnudos. Tyler pode ver o quão grandes eram suas douradas unhas postiças.

–Eu já estou acostumado, Rani. – deu um sorriso torto. Era realmente verdade, mesmo não sendo completamente inexperiente, não podia dizer que a maioria dos garotos que se interessava lhe correspondiam. A grande parte nem considerava, era triste, mas havia se habituado. Naquela noite simplesmente estava feliz pelo primo, sabia da paixonite que ele possuía por Lee.

“ELA JOGA LOL, ELA JOGA LOL” ele sempre gritava animado e feliz, como se tivesse achado o amor de sua vida. E afinal, quem poderia afirmar o contrário?

–Ainda vai achar um garoto legal, Titi. – disse Rani, balançando os cabelos, que naquela noite estavam entre o rosa, verde, azul piscina e talvez ainda sobrasse algumas mechas de seu castanho natural. –Ele vai ser lindo, forte, gentil e vocês irão adotar uma criança linda e azul. Como o Alec e Magnus. Eu também darei um nome de ship muito fofo e...

–Hum, Rani? Podemos conversar?- antes que a garota pudesse devanear por mais um longo tempo, Marina a interrompeu, a dona da boate.

Quando a irmã se despediu constrangida com um simples “Volto já”, foi até um canto e fez TUDO, menos conversar com Marina, Tyler sabia que a irmã não voltaria muito cedo.

O rapaz bebeu o ultimo gole de seu copo e suspirou. Ajeitou a gola da jaqueta jeans e caminhou em direção a saída.

Não soube distinguir o motivo da tontura repentina e passageira que sentiu ao deixar a boate. Talvez fosse a quantidade de álcool que havia ingerido ou a mudança extrema da iluminação de um ambiente para outro.

Os fundos do estabelecimento era um beco clássico, apenas um poste de luz iluminava o espaço, mas era o suficiente para saber que não havia ninguém ali. Tyler apoiou as costas no muro pichado, enfiando as mãos nos bolsos da jaqueta, afim de sentir-se o mais confortável possível.

Suspirou profundamente, ainda ouvindo a musica abafada da boate. Olhou ao redor, até que algo próximo aos seus all stars lhe chamou atenção. Uma pequena e delicada margarida crescia em meio a alguns matinhos bem juntos ao muro.

Abaixou-se, puxando-a delicadamente e sentindo as pétalas com as pontas dos dedos. Então cheirou-a com um sorriso no rosto.

–Olá, garoto azul.

Tyler soltou a margarida assustado, olhando para os lados a procura da voz. Nada. Até que olhou para cima, mas precisamente para o alto dos muros, e lá estava Peter.

O excluído, delinquente, estranho, maconheiro esses eram uns dos apelidos do rapaz. E tinha de admitir que a maneira com que vestia apenas ajudava todos os rumores e boatos. Era completamente relaxado, raramente era visto usando alguma roupa diferente, sempre com as mesmas bermudas, camisetas de flanela xadrez e tênis ou coturnos completamente surrados. Tyler podia ver tatuagens em seu antebraço exposto pelas mangas arregaçadas. Era algo semelhante a caveiras, rosas e talvez uma cruz, apenas sabia que eram realmente bonitas.

Peter pulou, caindo graciosamente no chão. Levantou-se rapidamente, jogando os cabelos lisos e negros para trás com a mão. Aquela parecia ser a única característica do garoto que o mesmo aparentava cuidar.

Caminhou para a luz, junto a Tyler. Tornou a se abaixar com o intuito de pegar a margarida. Porém, quando o fez ele, a guardou para si.

–Cigarro?- perguntou ele, apoiando-se no muro ao lado do garoto.

–Não, obrigada. – respondeu, desconfortável. – Eu não fumo.

–Eu também não. – disse Peter sorrindo, enquanto acendia o cigarro preso entre os lábios.

Tyler, sempre que via homens fumando, imaginava se algum já pusera fogo na própria barba por acidente. Não que seu mais novo amigo fosse um Gandalf da vida, era algo mais próximo a uma barbicha de bode e alguns pelinhos aleatórios pelo resto do maxilar. No entanto, ainda era uma curiosidade que sempre tivera.

–Então, por que está aqui fora, garoto azul? – perguntou Peter, tragando seu cigarro de maneira calma.

–Posso perguntar o mesmo para você. – argumentou o rapaz.

O outro riu, fazendo a fumaça sair pelas narinas.

–A música me dá dor de cabeça.- disse, instantes depois. –Sua vez.

Tyler suspirou pesadamente.

–Minha irmã e primo não me convidaram para suruba. – fez uma pausa, esperando um riso que não recebeu. Apenas o som de mais uma baforada de fumaça.–Rani tinha acertado as coisas com Alex, mas no fim não acabou dando certo.

Peter jogou a bituca de cigarro no chão, apagando-a com a grossa sola do coturno.

–Alex é um imbecil.- respondeu de maneira relaxada.

–O que você sabe sobre ele?- seu tom de voz saiu um pouco mais rude do que pretendia. Nem ao menos sabia por que estava zangado, apenas estava.

–Nada.- disse o menino, retirando os fios que caiam nos olhos com a mão. -Mas eu sei sobre você.

O garoto azul riu de maneira sarcástica.

–O que quer dizer? Nós nunca nos fala...- porém, Tyler não pode concluir a frase. Estava surpreso demais para fazê-lo. Em um movimento rápido e inesperado, Peter colocou as mãos nas laterais de sua cabeça, apoiando-as no muro atrás de si. Estavam próximos, o garoto podia sentir com precisão o cheiro de cigarro que o outro exalava e apreciar o formato de suas maçãs demarcadas.

–O que quer que eu diga? – sussurrou Peter. Era estranho aquela proximidade, mas ao mesmo tempo, completamente familiar. Tyler não podia e nem queria se livrar daquela situação. Por algum motivo, a maneira com que Peter o olhava com aquelas íris acinzentadas o faziam querer nunca mais sair dali.

–Eu não sei.- respondeu o garoto azul.

O outro sorriu. Então afastou as mãos da parede, e levou-as para a nuca de Tyler. O menino soltou um ruído assustado, arrepiando-se todo com o toque. Ele era como ele? Peter continuou, enrolava um dos milhares de cachinhos entre os dedos. Enquanto, com a outra mão, delineava o maxilar ligeiramente quadrado do garoto azul, até chegar ao queixo, que segurou com delicadeza.

–E o que quer que eu faça?- perguntou Peter.

Tyler corou e timidamente levou as mãos até a camiseta do outro, puxando-o ligeiramente para mais perto. O rapaz sentiu a aproximação aumentar, o calor e cheiro de Peter se tornavam mais presente a cada milímetro.

Foi então que se beijaram.

O garoto azul sentiu como se todo seu receio e medo tivesse sumido, como se a sensação molhada, quente e macia dos lábios de Peter fosse exatamente o que havia desejado por toda sua adolescência. A maneira com a barba roçava em seu rosto, era algo novo e estranho. Tyler nunca havia beijado um menino com uma, todos possuíam o maxilar complemente aparado. Ainda não havia se decidido se era algo bom ou ruim.

Timidamente, rodeou o pescoço de Peter com o braços, enquanto beijavam-se maneira lenta. O rapaz levou as mãos aos quadris do garoto azul, trazendo-o para mais perto. Lembrou-se de como o apelido surgiu, no primário a professora fizera Tyler vestir-se todo de azul e tocar violino no festival da escola. A garotinho mesmo com vergonha fez seu melhor, fora aplaudido pela força de vontade, e saiu do palco sorridente. Peter nunca esquecera aquele sorriso.

Tyler levantou-se, ficando na ponta dos pés, tentando eliminar a gritante diferença de altura. Teve sua cintura segurada de maneira possessiva, Peter abraçou-o tão forte que o garoto sentiu-se flutuando, quem sabe até estivesse. Sentiu suas costas serem prensadas contra o mura atrás de si, e surpreendeu-se simplesmente pelo fato dele continuar ali. Nada parecia existir, tudo que Tyler ouvir era o sangue pulsando em seus ouvidos, como se todo o barulho da boate não existisse.

Então Peter quebrou o beijo. Um breve desespero tomou conto do garoto azul. No entanto, ele logo desapareceu. O brilho daqueles olhos acinzentados dizia que ficaria.

“Queria ver se estava aqui” Tyler podia jurar que ouvira isso.

Recebeu um beijo no canto de sua boca, e outro mais abaixo, e outro mais a esquerda. Quando viu, sua jaqueta jeans havia escorregado até os cotovelos e Peter mordia a parte exposta de seu pescoço.

Então a porta se abriu.

–Tyler!- gritou Rani, olhando para os lados. A música eletrônica que tocava na boate pode ser ouvida nitidamente pelos instantes que a porta permaneceu aberta.

Os garotos pararam quase que na mesma hora, Peter repousou a cabeça no ombro do garoto azul, suspirando de saco cheio. Enquanto o outro olhava espantado para a irmã que sorria maliciosamente.

–O-Oi.- gaguejou ele.

Peter procurou algo nos bolsos, então segurou uma das mãos de Tyler.

–Nós vemos na escola. –disse, antes de depositar um casto beijo em sua bochecha e partir, acedendo mais um cigarro.

Tyler sentiu as bochechas corarem e as pernas bambas com a situação. Olhou para as próprias mãos, admirando rapidamente a flor que lhe havia sido entregue. Sorriu.

Então se lembrou da irmã parada na porta da boate sorrindo como um coelho estuprador. Caminhou até ela, receoso.

–E-Eu...

–O que achar de Peler? Ou Tyter?- perguntou Rani animada, enquanto adentravam a boate.


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Notas finais do capítulo

Entãããão, o que acharam?



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