Acordara deparando-se com o lado direito vazio na cama. Mexera os braços no espaço abandonado pra afirmar a si mesmo que ele não estava mais ali. Já perdera as contas das vezes que o maldito marimo lhe aprontava dessas. Não conseguia se acostumar com o fato de que estava saindo com um covarde.

Sim, um covarde desgraçado que ainda tinha musgos na cabeça, porque aquilo nunca poderia se chamar cabelo, quem tinha um cabelo daqueles? Só mesmo um bastardo. Um bastardo covarde. Pior que ele prometera dessa vez ficar... Fora mesmo um idiota. Não se pode confiar em homens de bar, devia saber disso.

— Marimo, idiota!

— Oe!

O espanto do cozinheiro foi instantâneo. Olhou em direção ao pé da cama onde escutou o resmungar e fitou alguns fios verdes. Sentiu uma sensação boa como um alívio, embora soubesse que era muito mais que isso, o que o irritava extremamente. Tinha a ver com o coração bombardear sangue mais que o normal e com uma quentura que sentia nas maças do rosto. Estava se sentindo como um maldito adolescente.

— O que faz ai, bastardo? – indagou enquanto se ajeitava tentando pegar um maço de cigarros que se encontrava em um dos moveis ao lado da cabeceira.

— Eu prometi que ia ficar. – resmungara um tanto irritado, odiava parecer meloso.

Sanji acendera o cigarro e pusera na boca após dar um sorriso de lado ao ouvir as palavras do Zoro.

— Eu estou me referindo ao chão. Há quanto tempo está ai?

— Desde que acordei. Você se mexe muito na cama.

“Mentiroso”

Soltara a fumaça em um sopro. Sabia muito bem que não era disso, uma das provas é que acordara no mesmo lado que dormira. Sempre deixava o lado direito intocado. Do que será que aquele perturbado tanto tem medo?

Sanji direcionou-se até a ponta da cama deitando-se novamente. Pousara a cabeça ao lado da de Zoro que ainda encontrava-se quieto sentado no chão enquanto se encostava ao pé da cama.

— Não traga essa fumaça pra cá, seu cozinheiro de merda!

O loiro nada disse de volta, apenas virou o rosto pra cima sem nem pensar em afastar-se dali.

— Qual é o seu problema?

Zoro fitara o chão, entendia bem o que o cozinheiro estava lhe perguntando. Estavam saindo há dois meses e ele ainda agia como se fosse a primeira noite com um cara qualquer. Ele estava fugindo.

Já fazia um mês que andava com a cabeça estourada por causa daquela situação. Aquilo estava se caminhando para alguma coisa, não estava? Estava se tornando sério. Estava tendo um relacionamento com alguém. E com ele, logo com ele. O homem que consegue lhe tirar do sério em menos de um segundo, não tinha como aquilo dar certo. Ele sabia que acabaria sendo uma perda de tempo tentar algo com o cozinheiro, mas aquela certeza sempre lhe escapava quando observava Sanji dormindo.

— Eu te fiz uma pergunta, bastardo!

— Você fala enquanto dorme. – respondeu saindo de seu devaneio.

— Hum... E o que eu falo enquanto durmo? – questionou esbaforindo a fumaça pra cima.

— O meu nome.

De novo aquela sensação de quentura insuportável invadira suas maças do rosto, dessa vez devido à vergonha que sentira. Seus olhos inicialmente abertos graças à descoberta fecharam-se, respirou profundamente se acomodando melhor na cama.

— E isso te assusta.

Era a vez de Zoro sentir a ardência em seu rosto, necessitava de uma garrafa de saquê.

— Isso me faz querer ficar.

Zoro estava sendo sincero. Toda vez que ouvia Sanji pronunciar seu nome a vontade de ficar ali era tamanha. Mas não deixava de ser algo novo pra ele. Ter alguém em sua vida com que ele se importava depois de tanto tempo o assustava. Era um maldito covarde.

— Hunf! Marimo idiota! – resmungou embora fizesse caricia no rosto de Zoro com a mão direita.

Sentira os dedos do cozinheiro lhe tocarem levemente a face, a sensação era boa. E ali se esquecia de todos os seus receios. Assim que Sanji fez menção em se afastar, Zoro segurou a mão do loiro e aproximara de sua boca dando um leve beijo.

— Está ficando meloso. – comentou em tom de gozação

— Cala a boca, idiota!

Apesar das gozações feitas e dos xingamentos trocados, nenhum dos dois afastara-se, pelo contrário, os dois mantinham-se de mãos dadas voltando ao silêncio habitual naquele pequeno cômodo que já presenciara inúmeras brigas e reconciliações nesse curto período de dois meses.

FIM