Tentadora escrita por Ina Oliveira


Capítulo 4
Prazer, Suzannah!


Notas iniciais do capítulo

Explicaçãoes ao final do capitulo. Ok?
Bom, vamos a leitura...



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Prazer, Suzannah!

 

- Ok. – eu disse me virando para aquele ser na minha janela. – Quem diabos é você?

A fantasma me olhou surpresa por um minuto, ou seria mais?, e depois resmungou. Alguma coisa como: Meu deus do céu! Eu revirei os olhos e bufei pra ela.

Mas será possível que todo o fantasma que eu sou obrigado a mediar tem a mesma reação quando percebe que eu posso vê-lo? Nombre de dios!

Não é grande coisa pra mim. E muito menos pros fantasmas. Ok, isso não é uma coisa normal, mas pelo amor de deus! Eu sou assim desde que me entendo por gente e com certeza agora não mudaria. Além do mais, os fantasmas estão mortos. Mortos! O nome já diz: fantasmas. Então eles jamais deveriam se incomodar com isso. O que de fato, nunca ocorre.

Ela continuou me olhando estupefata. E eu juro, me deu vontade de gritar. Porque, veja bem, ela era uma fantasma e estava no meu quarto. Meu quarto!

Se eu só tivesse que mediá-la, tudo bem, mas não. Ela tinha que invadir a minha privacidade pessoal. Eu penso que todo o fantasma tinha que ter uma liminar especial que vigorasse em todos os mundos e simplesmente os impedisse de invadir ou se aproximar do espaço pessoal de qualquer mediador. Com certeza isso resolveria os meus problemas. Porque no momento eu só queria tirar a minha roupa e tomar um bom banho, mas eu não podia. Oh, claro que não. Porque tinha uma fantasma intrometida no meu quarto. E pelo que parecia, ela não estava nem um pouco inclinada a sair dali.

Veja bem, eu entendo todo o conceito de educação e os preceitos estipulados pela sociedade que dizem que um homem em hipótese alguma pode ou deve chutar os traseiros de uma mulher, mas nesse caso, eu acho que há uma exceção. Afinal de contas, nem viva ela está. E pelo amor de deus! Já é um pouco demais ter a privacidade invadida até por seres de outro mundo.

Tecnicamente ela deveria estar em outro plano, em outra vida, reencarnando ou qualquer coisa do tipo. Até mesmo no inferno se tivesse sido uma garota ruim, mas definitivamente ela não deveria estar no meu quarto, sentada na minha bay window. Essa é a mais pura verdade.

Mas o fato que mais me incomodava é que quando eu vim pra cá, pra Califórnia, eu realmente tive a ingenuidade de pensar por um minuto qualquer que talvez eu pudesse deixar os fantasmas para trás. Simplesmente esquecer e começar uma nova vida. Mas não. Aqui esta ela. Essa morena aparentemente linda - muito mais do que suportável pela minha sanidade – E também morta, me lembrando o quanto eu tenho um dom especial e totalmente odiável. Porque eu odiava tudo isso, só pro caso de eu não ter deixado claro o suficiente.

Eu estava prestes a escrever um fascinante monólogo de mais de quatrocentas páginas sobre como NÃO dialogar com um fantasma quando ela finalmente falou.

- Você... Você... Não é possível!

Bom, eu disse que ela falou e não que foi coerente.

- Olha só, você tem algum problema em formular frases inteiras?

Eu perguntei cinicamente. E por incrível que pareça, ela revirou os olhos.

- Não. Eu só estou assustada. A palavra é essa, não? Estou sendo suficientemente clara? – ela disse me dando um sorriso desdenhoso. Ah, então ela sabia fazer graça também? Que ótimo.

- Temos uma humorista aqui então. – eu disse bem irritado.

- Ora, pensei que gostasse de um pouco de sarcasmo.

Ela sorriu.

- Claro que sim, mas não de uma garota que eu acabo de conhecer e que aparentemente bateu as botas no meu quarto.

- Defina bater as botas. – ela disse séria de repente. – Sabe como é. Eu não consigo entender coisas que não estão assim tão claras.

Eu forcei um riso pra ela.

- Muito engraçado. – ela gargalhou. – Ah, faça-me o favor. Tenho mais o que fazer.

Então eu lhe dei as costas e comecei a desfazer a minha mochila. Precisava urgentemente achar uma roupa limpa para tomar um banho.

- Sério. Defina bater as botas. – eu apenas revirei os olhos para ela, mesmo estando de costas e ela não podendo ver. – Oh, sem definições? Ok. Acho que vou ter que interpretar por mim mesma.

- Olha aqui! – eu disse virando em sua direção e lhe apontando um dedo. Mas ela apenas sorriu descaradamente para mim. – Eu estou cansado, com fome e precisando urgentemente tomar um banho. Então vê se não me enche.

A garota se aproximou de mim com passos rápidos e firmes e antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ela me cheirou. Isso mesmo, me cheirou.

- Sim, eu vejo. Ou seria sinto? Tanto faz. Você realmente precisa de um banho, roqueiro. – deixe-me ver se eu entendi. Ela acabou de me chamar de fedorento?

- Olha só, saiba você que eu sou uma pessoa totalmente higiênica e asseada. Eu simplesmente passei oito horas dentro de um avião nojento entre uma velha babona e um pentelho endiabrado, então não me julgue!

Antes mesmo que eu pudesse terminar a frase, ela já estava as gargalhadas. Ótimo! Virei piada para fantasmas agora. Mas espere um pouco...

- Hey! Você me chamou de roqueiro? – ela acenou. – Você não é bem um exemplo de normalidade.

Eu disse totalmente ofendido.

- Ah, claro. Porque sou eu que estou vestido como se tivesse fugido de um reformatório e falo com os mortos. Super normal! – ela debochou.

Legal! Era tudo que eu queria. Uma fantasma com senso de humor. Será que já não era o suficiente o meu irmão?

- Deixa de ser engraçadinha. Além do mais como eu sou, o que visto ou as esquisitices que eu tenho, só dizem respeito a mim.

- Claro, claro. – ela disse num tom totalmente irônico. – Se você quer sair por ai igualzinho a um integrante do Kiss, o problema é seu. Mas por favor, não polua o meu quarto com o seu cheiro... – ela torceu o nariz. – Hum... peculiar.

Meu cheiro peculiar? Es absurdo!

- Hey! Eu já disse que eu não... Espera! Seu quarto? Acho que tem um ligeiro engano aqui. Esse é o meu quarto! Meu!

Eu disse enfatizando a ultima parte para ela.

- Acho que o engano é por sua parte. Porque eu sei muitíssimo bem que esse é o meu quarto. – ela disse toda convencida.

- Nombre de dios!

- Para de me xingar em outra língua. – ela resmungou.

- Eu não estou te xingando! – eu gritei irritado e depois percebi o meu erro. Ouvi passos no corredor e soube instantaneamente que era minha mãe.

- Jesse? – ela disse batendo na porta levemente.

- Oi mãe! – eu respondi pra ela enquanto lançava um olhar mortal para fantasma abusada a minha frente.

- Esta tudo bem? – ela disse abrindo uma brecha da porta e me olhando interrogativamente.

- Sim mãe. Esta tudo bem. Por quê? – mesmo assim ela olhou ao redor do quarto. Como se ela pudesse ver a garota irritante a minha frente. Às vezes penso que seria bom se ela pudesse vê-la, mas logo me lembro do escândalo que ela faz quando vê uma barata. Imagina um fantasma...

A garota apenas olhava pra mim sorrindo enquanto sibilava:

- Sua mãe, roqueiro? – E voltava a gargalhar.

Eu trinquei os dentes e bufei pra ela. Minha mãe tomou as suas dores.

- Eu ouvi um grito daqui e achei que você poderia estar com problemas. Mas já que estou atrapalhando... já vou indo.

- Mãe, espera! – eu a chamei antes que fechasse a porta totalmente. A garota sorriu e me lançou uma piadinha.

- Own! Magoou os sentimentos da mamãe.

- Cala a boca! – eu murmurei para ela. Afinal de contas, eu não queria que a minha mãe escutasse.

- Mãe, você não esta incomodando, é só que eu estou cansado, com fome, com sono e precisando tomar um banho.

- Isso eu concordo. – eu franzi pra ela, mas continuei a falar com a minha mãe.

- Bom, eu chutei sem querer a quina da cama e acabei gritando. Desculpe.

- Foi só isso? – minha mãe perguntou.

- Sim. Só isso. Eu juro.

- Tudo bem, Jesse. Eu acredito em você. Eu só não quero que volte a ser como no Brooklin. Não quero que as pessoas digam que você fala sozinho.

Eu suspirei. Os meus vizinhos me achavam louco por conta disso. Eu estava sempre discutindo sozinho. Bem, eu estava sempre discutindo com fantasmas, mas eles não podiam vê-los.

- Eu sei, eu sei. Relaxa. Aqui vai ser tudo diferente. – eu sorri e abracei minha mãe enquanto lançava um olhar gélido àquela figura opaca a minha frente. Ela simplesmente me ignorou e sentou na minha cama.

- Ok, filho. Eu vou voltar a ajudar o Andy.

Eu acenei enquanto ela fechava a porta.

- Tenho que admitir, você é um bom filho.

Isso me pegou desprevenido. Eu esperava gracinhas, mas nunca um elogio, por isso, tive que fechar a boca e engolir o comentário ríspido que iria fazer.

- Obrigado. – disse simplesmente.

- Não me agradeça. Acho isso uma besteira. Não foi um elogio. Você ainda é um péssimo mediador. – eu olhei intrigado para ela. Como ela conseguia ser doce e fria em questão de segundos?

- Desculpe, mas você é sempre assim? Fria? – ela me olhou arqueando as sobrancelhas, mas nada disse. – Aliás, como sabe que sou um mediador?

- Pelo amor de deus! Século XXI, roqueiro. E não sou nenhuma estúpida.

Eu apenas revirei meus olhos. Claro que essa era exatamente a resposta que eu esperava da fantasma engraçadinha que tinha se apossado do meu quarto. O que me lembra...

- Olha só, ta muito legal esse papo aqui com você, mas eu realmente quero ir tomar o meu banho.

- Ótimo! Pode ir, não estou te amarrando ao pé da cama. – ela sorriu maliciosamente enquanto se esparramava na cama e cruzava as pernas. E pela primeira vez a avaliei de cima a baixo.

Ela era nova, aparentemente uns 17 anos. Tinha longos cabelos negros que lhe caiam até o meio das costas e lindos e profundos olhos verdes. Seu corpo tinha a proporção exata e apesar dela ser relativamente baixa, seu peso era muitíssimo bem distribuído. Ela vestia uma blusa azul marinho o que ressaltava os seus olhos e o tom da sua pele alva, agora meio translúcida. Sua calça jeans escura era bem apertada e realçava suas curvas simétricas muito mais do que o permitido. Instantaneamente eu comecei a imaginar o que aconteceria se ela resolvesse realmente me amarrar ao pé da cama.

Sacudi a cabeça com essa visão e percebi que tinha ficado olhando para seu corpo muito mais do que deveria. Agora ela me olhava divertidamente.

- Ah! Posso ver. Você esta se perguntando se iria gostar caso eu fizesse isso. – E ela gargalhou. Fiquei levemente envergonhado, mas não deixei que ela percebesse isso.

- Claro que não! Nombre de dios! Mas não fuja do assunto. O fato é que esse é o meu quarto e você não pode ficar nele. Absolutamente.

- Seu quarto? Há quanto tempo você esta aqui, roqueiro? – Ela disse fazendo graça.

- Olha só, amiga. Há quanto tempo eu estou aqui não te interessa, mas posso te garantir que você não esta há muito mais tempo que eu.

Ela não me respondeu. 

- Você não parece ter cento e cinqüenta anos. Não mesmo. Então, qual é o seu problema? – eu perguntei pacientemente. Eu só queria me livrar dela e poder finalmente tomar meu banho.

- Atualmente? Você! – ela disse transbordando sarcasmo.

- Ok. Eu estou tentando te ajudar e me ajudar, amiga. Se não quer ajuda, dane-se, mas dê o fora daqui. Agora!

- Não enche. Essa é a minha casa. Eu cheguei aqui primeiro.

- Ah! Sua casa. Então deixa eu ver se eu entendi. Você morava aqui até ser assassinada pelo seu pai psicótico e agora tem que conviver com o Andy e os três filhos piralhos dele que compraram essa casa. Acertei?

Ela me olhou com fúria por um momento, mas depois seus olhos transbordaram de mágoa e ficaram cheios d’água.

Era a primeira vez que via um fantasma chorar, bem, quase chorar já que ela murmurou um idiota e desapareceu.

- É, acho que acertei. – eu murmurei pra mim mesmo depois que ela sumiu.

Bom, pelo menos ela foi embora. Eu sei que eu deveria estar me sentindo mal, porque eu a tinha feito chorar, mas ela supera. Afinal, ela esta morta.

Tomei o banho mais demorado da minha vida e por via das duvidas, me vesti no banheiro. Vai que aquela maluca voltava de repente e me via pelado? Eu não ia arriscar.

Abri a porta do banheiro cuidadosamente e olhei em direção a cama. Nada. Acho que ela realmente tinha ido embora. Sai do banheiro mais confiante e assim que parei em frente à cama, ouvi um ruído vindo da estante atrás de mim. A parede em que ficava a porta do banheiro. Virei-me rapidamente.

- Sabe, aqui tem uns livros bem interessantes. Você já leu esse livro sobre cultura italiana? Eu amo Michelangelo.

Ela disse calmamente. Aquela garota já estava me irritando, mas eu tinha que admitir, ela estava irresistivelmente bonita, em pé ali, no canto do quarto folheando aleatoriamente um livro.

- Não. Eu não o li. Aliás, esses livros não são meus. Já estavam no quarto quando eu cheguei. – eu o tirei da sua mão e recoloquei na estante.

- Pensei que tivesse ido embora. – eu disse suspirando.

- E abandonar meu quarto? Não, obrigada.

- Hey! Amiga, não sei se percebeu o que eu disse, mas esse não é mais o seu quarto. Definitivamente não...

- Suzannah. – ela me cortou bruscamente.

- O que disse? – eu perguntei de repente.

- Suzannah. Você me chamou de amiga e eu disse que o meu nome é Suzannah.

- Tanto faz, Suzannah. Acontece que você não vai poder ficar aqui, Suzannah. – eu disse enfatizando o seu nome.

- Porque não? – ela está de brincadeira com a minha cara. Só pode.

- Hum... Deixe-me ver. Porque você esta morta, porque agora esse é o meu quarto e porque eu não divido o quarto com pessoas do sexo oposto, mesmo que estejam mortas. Satisfeita?

- Na verdade, não. Eu não tenho aonde ir e você não pode me expulsar, logo... Eu não vou a lugar nenhum.

- Nossa! Como você é tenaz e molesta.

Ela me olhou interrogativamente e eu sorri.

- O que? Do que você me chamou?

- Se esta tão interessada procure no dicionário. Vou te dar uma dica, é espanhol.

- Pare de falar comigo em espanhol. – ela brandou e eu sorri. Estava tão divertido irritá-la que por um momento eu me desviei do assunto principal.

- Não importa em que língua eu falo. O negócio é que você não pode ficar aqui. – Suzannah começou a cantarolar e me ignorou.

- Ótimo, me ignore então, mas saiba que não mudarei meus hábitos porque tem uma garota morta no meu quarto. – disse bufando.

- Isso significa que posso ficar? – ela perguntou esperançosamente.

Dei de ombros e respondi.

- Sim, não tem remédio, não?

- Obrigada. – ela disse docemente. Eu me surpreendi olhando dentro de seus olhos verdes quando ela se aproximou de mim. – Acho que começamos com o pé errado. Prazer, Suzannah.

E ela me estendeu a mão.

- Prazer, Jesse. – eu apertei sua mão firmemente. – Espero que você se comporte.

Suzannah sorriu e voltou a admirar a estante cheia de livros.

Ótimo! Agora eu tinha uma fantasma de estimação.


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Notas finais do capítulo

[N/A]: Meus amores,
Me perdoem. eu sei que demorei demasiadamente para atualizar essa fic, mas o que acontece é que e comecei a faculdade e o meu tempo está meio curto. E além de tudo isso, eu ainda perdi a fic.
Digo, excluiram o documento com toda a fic do meu pc.
Então eu tive que vir aqui e recuperar a fic e reescrever todo o capitulo três.
Que saco!
Por isso a demora. Ok?
Espero que me perdoem.

Beijos&Mordidas!

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Sou uma escritora carente...
Preciso de incentivos!
DEIXEM REVIEWS!!!