Interlúdio escrita por Lab Girl


Capítulo 2
Te Encontrar De Novo


Notas iniciais do capítulo

Muito feliz com a recepção desta nova fanfic. Nunca é demais agradecer o carinho de quem lê as linhas desta humilde autora, então, uma vez mais: muito obrigada pelas manifestações recebidas.

E vamos ao que interessa! Em determinado ponto do texto há um link para a música do capítulo, caso queiram escutá-la. Espero que gostem. Boa leitura.



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Ela olhou para o teto, as mãos pousadas sobre o estômago. Suspirou. Fazia dias que não saía de casa. Estava sempre cansada, mas, para além disso, não tinha muita vontade de sair. Danilo sempre vinha visitá-la e trazia as notícias do mundo exterior.

Nada era muito convidativo. Nem tinha mais o que fazer. Seu trabalho na Brazuca, obviamente, havia terminado. Com o fim do namoro e a mágoa de Davi, ela nem se atreveria a continuar na startup. Só lamentava mesmo por não poder ver mais as crianças da Plugar. Sentia falta delas. Muito mais agora. Mas não se atreveria a impor sua presença no ambiente de Davi depois do fim doloroso e magoado da relação dos dois.

Suas mãos deslizaram pelo ventre ainda plano. Custava acreditar que era real. Que estava mesmo gerando uma vida ali dentro. Uma vida que tinha feito com Davi. Sem querer, um sorriso veio aos seus lábios. Era dolorido e, ao mesmo tempo, bonito pensar que carregava dentro de si um filho dele.

Ainda não sabia quando nem como iria contar a ele. Davi não devia querer vê-la mais nem pintada. Ele tinha saído com tanta raiva, com tanta mágoa nos olhos depois de lhe dizer palavras duras mas que, ela sabia, precisava ouvir.

Você diz que me ama, mas não parou pra pensar em como ia me ferir com essa farsa? Você não confiou em mim. Não foi honesta comigo.

Mas Davi também não tinha sido honesto com ela. E chegou mesmo a jogar isso na cara dele. Só que de nada adiantou. Foram só trocas de ofensas, os dois saindo machucados ao final.

Agora, porém, ela precisava ser honesta com ele. Um filho não era algo que dava para esconder. Bem, até daria… mas jamais faria isso. Davi tinha o direito de saber.

O que a estava fazendo adiar essa verdade, no entanto, era o medo. Medo de contar a ele e ele pensar que era mais uma armação sua para tentar mantê-lo ao seu lado. Sentia um arrepio na espinha só de pensar nisso.

Já havia pensado em sair do país, de repente voltar à California e só regressar ao Brasil depois de ter o bebê. Assim, teria a prova de que não mentia. Davi não teria por que duvidar. E, se ainda assim duvidasse, por mais que isso lhe doesse, faria o teste de DNA sem problemas. A questão era só que ainda não tinha a coragem para decidir o que fazer.

A decisão, de qualquer forma, foi momentaneamente adiada. Por duas batidas na porta.

Megan nem se mexeu. Ainda deitada, olhando para o teto, respondeu “Pode entrar.”

A porta se abriu e tornou a se fechar. Ela escutou o som de passos dentro do quarto em seguida.

“Oi, Megan.”

A voz a fez saltar, ficando sentada sobre a cama. Uma de suas mãos pousou sobre o abdômen numa atitude inconsciente.

Da-Davi?” ela gaguejou, piscando sem acreditar que o encarava.

De pé, no meio do quarto, ele enfiou as mãos nos bolsos, aparentemente sem jeito.

“A Dorothy me deixou passar. A gente pode conversar?”

Só então ela se deu conta de que devia estar horrorosa, despenteada e sem maquiagem, vestindo apenas uma velha camisa larga e comprida que usava para dormir.Tentou disfarçar, correndo os dedos pelas mechas em desalinho.

Of course. Claro. Senta” ela indicou a cadeira.

Davi a puxou, aproximando-a da cama. Ele manteve os olhos baixos por alguns instantes, sem encará-la, cruzando as mãos sobre as pernas.

“Está… tá tudo bem?” ela perguntou, incerta do que estava por vir.

“Sim” ele ergueu os olhos, por fim, e apertou os lábios num pequeno e rápido esboço de sorriso. “Quer dizer, a vida segue, né?”

Yeah” ela murmurou, a voz um tanto melancólica. “Li uma nota sobre o sucesso da Brazuca esses dias. Fico feliz por você. E pelo Ernesto.”

Davi deu de ombros. “Esse sucesso é um pouco seu também.”

No” ela negou com a cabeça. “Eu deixei de fazer parte disso.”

“Por que não quis continuar com a gente? A Brazuca também é sua” os olhos dele encontraram os dela.

Well… Bem, eu achei que depois que você terminou comigo não quisesse mais me ver por perto” ela respondeu com sinceridade.

“Megan, eu fiquei chateado com o que você fez, mas não era pra tanto. Seu trabalho na Brazuca e com as crianças da Plugar são importantes. Eu pensei que você tivesse desistido porque não queria mais.”

No, no. Eu gostava muito das duas coisas. Só não apareci mais lá na ONG pelo que disse… pensei que você não quisesse mais me ver por lá, ou perto de você.”

Ele suspirou profundamente, o olhar caindo para o chão.

“No começo, sim. Não vou negar que não queria te ver mesmo” os olhos dele, então, voltaram a erguer-se “Depois eu achei que você tinha desistido dos dois projetos porque só tinha entrado neles pra tentar me impressionar.”

“O mundo não gira em torno de Davi Reis, you know?” ela deu um pequeno sorriso.

Sem sequer tentar resistir, ele sorriu também. “Você tá certa.”

Esticando as pernas para fora da cama, Megan sentou-se mais apropriadamente na beirada do colchão.

“Então, você veio aqui pra me dizer que por você eu posso retomar o meu posto nos dois jobs?”

Davi deu um meio sorriso sem graça.

“Na verdade, não.”

No?” ela arqueou as sobrancelhas, surpresa. Se não era aquele o motivo, qual outro poderia ser?

“Não, Megan. Na verdade, eu vim porque as coisas não ficaram muito bem resolvidas entre a gente.”

O coração dela pulou uma batida.

“Eu sinto muito, Davi. Sorry… de verdade. Eu errei mentindo sobre a minha cegueira. Mas eu estava desesperada, confusa…”

“O que acontece é que…” o olhar dele fugiu um instante dela, perdendo-se no quarto “Não foi legal o jeito que as coisas terminaram. A gente não conversou mais depois e… e eu acho que durante esse tempo deu pra fazer uma reflexão sobre o que aconteceu.”

Yeah” ela abaixou o olhar. “Eu refleti muito.”

“Eu também.”

Os olhos de Davi se atreveram a buscar o rosto dela novamente. Parecendo sentir o olhar dele, Megan também voltou a encará-lo. Ele foi o primeiro a romper o breve silêncio.

“Eu também te devo uma desculpa. Afinal, eu te acusei de não ser honesta comigo quando eu também não fui honesto contigo.”

“Você… e a Manuela… vocês estão bem, não estão?” ela perguntou, fazendo um esforço para pronunciar o nome da rival.

Davi hesitou um pouco antes de responder. “A gente ainda tá junto, sim. E eu juro pra você, eu queria ter evitado o que aconteceu naquela viagem, quando eu e você… bem, quando a gente ainda namorava. Sei que foi um erro, e depois eu ainda te cobrei honestidade comigo” ele suspirou, soltando uma pequena risada de deboche de si mesmo. “Eu fui muito cruel no meu julgamento com você e acabei esquecendo do meu próprio erro” olhando, enfim, nos olhos dela, murmurou, “Desculpa.”

“Não se preocupe” Megan deu de ombros “Não vamos ficar remoendo o passado.”

Embora esboçasse uma certa indiferença, no fundo ela estava exultante com o pedido de perdão de Davi. De fato, a traição dele havia doído muito. Ainda hoje doía. Menos do que no começo, mas às vezes, como uma ferida mal cicatrizada, incomodava.

“É, tem razão” ele falou, olhando para ela e fugindo com o olhar novamente para as mãos. “É melhor deixar o que passou pra trás, né? Mas, se é que eu posso me justificar, logo que a gente terminou eu descobri que era filho do Jonas e a minha cabeça virou uma bagunça. Tudo que eu queria era esquecer você e a sua família.”

“Entendo” Megan apertou um pedaço do lençol.

Davi voltou a encará-la, “Eu só queria dizer essas coisas. Acho que eu precisava. Depois de tudo que a gente viveu. Foi um período bacana, apesar de tudo.”

“Foi sim” ela sorriu sem querer.

E ele acabou sorrindo também.

“E você? Como vai?”

“Bem” Megan ajeitou uma mecha loira atrás da orelha, sentando-se melhor com o rumo mais leve da conversa.

“Achei que você e o Arthur…” Davi começou a especular antes mesmo de se dar conta do que estava fazendo.

Oh, no, no” ela negou de pronto, balançando a cabeça. “Eu e Arthur? Não, nada a ver. Somos like o dia e a noite. Ele também já voltou para os States dois dias atrás.”

“É? Eu não sabia” Davi se surpreendeu com o que aquela informação despertou dentro de si.

De repente, ele estava percebendo que confirmava sua suspeita: Megan era mais importante para ele do que tinha imaginado. De repente, saber que ela não havia estado com mais ninguém depois do rompimento dos dois, especialmente com Arthur Nigri, produzia uma satisfação secreta. Não queria vê-la com outra pessoa.

Megan tornou a falar, “Bom, agora eu só preciso encontrar alguma outra coisa pra fazer da minha vida. Pensei em, de repente, voltar para a California. Talvez lá fosse mais fácil me encontrar, encontrar alguma coisa nova pra fazer.”

“Por que não volta a trabalhar na Brazuca?” Davi se pegou oferecendo.

Só de pensar que ela podia partir, algo dentro dele o impulsionou a fazer a oferta. E, de qualquer forma, Megan também fazia parte daquele projeto que hoje estava deslanchando.

“Você… você não se importaria se eu voltasse?” ela perguntou, quase como se tivesse medo da resposta.

Davi meneou a cabeça com resolução. “Claro que não. A Brazuca também é sua.”

Ela abriu um sorriso discreto. “Thanks.”

“Bom, então… estamos bem, certo?” ele perguntou, com a necessidade de se certificar disso.

Yes” ela sorriu feito uma menina.

O coração de Davi se enterneceu sem querer. Megan tinha esse poder sobre ele e já havia quase se esquecido. Às vezes tão mulher e decidida, mas outras, como naquele momento, tão doce e frágil como uma criança.

Ele sorriu para ela também antes de se levantar. “Eu só queria dizer isso. Aparar as aretas.”

Ela meneou a cabeça, observando-o recolher as mãos aos bolsos novamente.

“Então, já vou indo” Davi meneou a cabeça, olhando para o rosto dela por mais alguns instantes, antes de se virar e caminhar na direção da porta do quarto.

Antes que terminasse o percurso, a voz dela o fez voltar-se para trás.

“Davi!”

“Sim?”

Ele a viu abrir os lábios, como se quisesse dizer alguma coisa, o semblante hesitante. Mas, então, ela suspirou e ergueu a mão em sinal de despedida.

Bye, Davi.”

Ele sorriu antes de se virar de novo e alcançar a porta, deixando o quarto dela.



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