Havia se passado uma semana sem que ela procurasse saber de Davi. Ao deixar a casa dele sete dias atrás, realmente lhe ocorrera que precisava de um tempo para si mesma. Para se cuidar, cuidar da gravidez. Desde que soube do bebê tudo o que tinha feito se resumia a preocupar-se em como contaria a Davi. Agora que tudo já estava descoberto, não lhe restava mais tempo a perder com isso.

Ela não tinha ido mais à Brazuca, como prometido. Estava por dentro das coisas da startup graças a Ernesto, que a mantinha informada. E tinha decidido trabalhar de casa mesmo, mandando suas ideias para o futuro padrasto (é, esquisto, não? Ela ainda não tinha se acostumado a vê-lo nessa condição), que as transmitia a Davi. E ele fazia o mesmo. Assim o projeto de Megan para captação de investidores interessados estava indo de vento em popa.

Apesar da satisfação com essa parte de sua vida, Megan ainda sentia que faltava algo mais. Porém, toda vez que sentia ou pensava nisso, desviava seus pensamentos para os preparativos do enxoval do bebê - sua mãe estava fazendo questão de levá-la a lojas incríveis para comprar cada coisa mais linda que a outra, mesmo que ainda não soubessem o sexo da criança - ou os cuidados com a gestação, como consultas de rotina, massagens relaxantes e o curso de hidroginástica para gestantes que tinha começado a fazer.

E era exatamente para uma dessas aulas que Megan estava se preparando quando ouviu batidas na porta do quarto e Dorothy veio lhe dizer que tinha uma visita.

“Quem é?”

“Vá lá fora e veja você mesma” a outra fez mistério.

Antes que pudesse insistir com ela, Megan viu Dorothy lhe dar as costas e sair pelo corredor.

“Great!” chiou, deixando de lado a valise que aprontava com seu maiô e toalha de banho.

Quando chegou à sala de visitas, os passos de Megan congelaram e o coração disparou. Ninguém menos do que Davi Reis estava parado bem no meio do ambiente

“Podemos conversar?”

Dessa vez, a história se invertia. Da última vez tinha sido ela a procurá-lo e fazer aquele pedido. Agora, era ele quem o fazia.

“Of course” Megan fez sinal para que ele se sentasse e fez o mesmo. “Quer tomar alguma coisa? Posso pedir à Dorothy que mande a cozinheira…”

“Dorothy saiu antes de você chegar. Ela disse que vai demorar” Davi anunciou.

“Oh” Megan murmurou, surpresa.

Sua mãe também não estava em casa. O que significava que os dois estavam a sós, com exceção dos empregados, mas estes não apareceriam a menos que fossem chamados.

Pigarreando, Megan tornou a falar. “So? Então? Sobre o que quer conversar?”

“Da última vez que falamos eu pedi um tempo. Pra pensar. Organizar os meus pensamentos. E você disse que também precisava do mesmo.”

“Yes” ela concordou, atenta e apreensiva a espera das próximas palavras dele.

“Pois bem” Davi inspirou, inclinando o tronco para frente e cruzando as mãos, apoiando-as nos joelhos. “Eu pensei muito nessa semana que passou.”

“E?”

“E lembrei de tudo que a gente passou enquanto tava junto. E até antes.”

Megan abaixou a cabeça, sentindo-se envergonhada pelo passado. Por coisas que fez antes e, agora, já não faria mais. Ou, ao menos, faria de forma diferente. Então, a confissão escapou dos lábios dela sem que pudesse conter.

“Eu sempre procurei o amor nos lugares errados, nas pessoas erradas” uma lágrima escorreu pelo rosto dela antes que se desse conta. “Só que eu pensei, quando eu te conheci, Davi, que com você ia ser diferente” um sorriso melancólico curvou os lábios dela.

Davi sentiu uma fisgada no estômago. Ele a ouviu continuar, ainda sem encará-lo.

“Eu sempre fui like, a bad girl da história, mas, no fundo, eu só queria carinho. Atenção. Alguém que me amasse de verdade, you know?” Megan secou o rosto com a mão. “No começo, eu confesso, você foi like um capricho pra mim. Um carinha diferente que eu queria ter. E quanto mais difícil, mais eu gostava, mais eu achava que era um desafio e que eu ia te ter” ela riu, fungando, o sorriso se desfazendo em instantes. “Mas aí eu fui me apaixonando. Eu não sei quando exatamente nem como foi, mas aconteceu. Você chegou no meu coração, cavou um buraquinho e, quando eu vi, já estava aqui dentro.”

Davi a viu levar a mão ao peito e finalmente encará-lo. Os olhos dela brilhavam com lágrimas contidas. Ele sentiu o próprio peito se apertar. E ela continuou...

“I love you, Davi. De verdade. E tudo que eu fiz por você, mesmo as minhas loucuras, foi porque eu te amava e sentia que esse amor valia a pena. Mas eu não justifico mais a minha mentira pra você, sobre a cegueira, com o meu amor. Eu aprendi nesses meses que é preciso encarar as consequências dos atos impensados. E eu estou encarando as minhas. Só queria que soubesse.”

Davi ficou sem palavras por um minuto. Sentado ali, olhando para ela, depois de ouvir tudo aquilo, não sabia ao certo o que dizer. Tinha ido preparado, só que diante dessa confissão surpreendente dela, estava desarmado. Mesmo assim, arriscou-se.

“Megan…”

“Tudo bem, Davi. Não precisa dizer mais nada” ela se levantou, “Eu só queria uma chance de me explicar. Agora que nós dois dissemos tudo, acho que você já pode ir. Podemos manter contato daqui pra frente para tratar dos assuntos do bebê e, fique tranquilo, eu vou aceitar qualquer forma que você ache melhor para assumir seu papel de pai.”

Ele avançou e a puxou pelo braço antes que ela pudesse deixar a sala. O rosto de Megan se voltou para encará-lo, os olhos grandes e marejados brilharam com surpresa. E Davi falou, decidido.

“Eu não disse o que eu vim dizer ainda.”

“Não?” ela perguntou, confusa.

“Não” Davi se ouviu murmurar, a voz saindo junto com a respiração “Eu também aprendi muita coisa nos últimos meses, Megan. Uma delas é que eu fui um idiota em não enxergar a garota incrível que eu tinha do meu lado. E que o que eu sentia por ela era mais forte do que eu pensava.”

“Davi, sorry, mas eu não quero ouvir sobre como você se deu conta de que ainda ama a Manuela e como sente a falta del-”

“Eu não tô falando da Manuela.”

“Oh. No?” os lábios de Megan entreabriram-se em surpresa.

“Não” Davi murmurou, balançando a cabeça. “Eu tô falando de você, sua boba.”

De repente, os olhos de Megan se arregalaram novamente, dessa vez um sorriso acompanhando, desenhando uma linha de alegria no rosto bonito. Sem perceber, Davi sorriu também.

“Eu fui um tremendo idiota por tanta coisa que te falei. Só depois que a gente terminou foi que eu comecei a me dar conta do quanto eu sentia a sua falta, Megan. Do quanto nossos momentos, do quanto você, era especial pra mim.”

“Davi” ela sussurrou, olhando para ele com o mesmo olhar de menina adorável que ele sentia falta de ver todos os dias.

A mão dele subiu para o rosto dela, o polegar acariciando a pele de pêssego. “Eu também tenho que te pedir perdão, Megan. Muitas vezes eu fui duro com você e sem razão.”

“Está tudo bem, Davi” ela sorriu, tocando a mão dele que a acariciava.

“Não, eu preciso falar.”

“Então fale” ela sorriu outra vez, o olhar ainda preso ao dele.

“Você era só uma menina precisando de carinho. De amor. E foi você quem me ofereceu tudo isso. E hoje eu percebo que eu gostava de cuidar de você, de te ter por perto. E eu sinto falta disso agora. De nós dois.”

“Nós dois” ela repete as palavras quase com reverência.

“É, nós dois” Davi reprisa. “Eu e você. E agora o nosso filho.”

Dizendo isso, ele tocou com a mão livre a barriga de Megan, fazendo-a sorrir mais ainda, os olhos brilhando com emoção.

Davi a encarou sem hesitação. “Eu quero você, Megan. Quero nosso bebê. Quero nossa vida juntos.”

Ele viu outra lágrima escapar e rolar pelo rosto bonito. Dessa vez, seu dedo a aparou, secando a pele macia.

“Eu te amo” Davi sussurrou, aproximando seus lábios num beijo.

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