Any Other Day escrita por Orquídea


Capítulo 14
Capítulo 14




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Eu estava em um bar, mais uma vez eu estava em uma bar encarando o meu copo agora vazio, pensando na discussão com a Pepper enquanto eu tentava de todas as formas ignorar Rhodes que estava ao meu lado tecendo "elogios" como sempre e olha que tudo que ele sabe é que ontem eu causei uma pequena discórdia no jantar de ação de graças e que hoje discuti com a Pepper, depois que ela saiu eu vi que tinha exagerado e até cheguei a sair da oficina para ir conversar com ela, mas eu sabia que se eu subisse íamos brigar mais uma vez então eu voltei e fiquei por lá até sair para encontrar com Rhodey.

— Eu tô falando com você. - ele soca o meu braço e eu viro o rosto.
— Que foi?
— Por que vocês discutiram?
— O amiguinho dela foi lá em casa e eu não gostei, foi isso.
— Tony, qual é o problema, de verdade? Já vi homens dando em cima da Pepper, você meio enciumado, mas depois debochando da cara deles ao passar com ela, por que esse daí te incomoda tanto?
— Tirando a parte em que eles dois transaram?
— Mas isso não foi quando vocês estavam separados?
— E isso é desculpa?!
— Não, é um fato, você transou com outras, ela com ele, pense nisso como quando vocês começaram a namorar, antes de ficarem juntos ficaram com outras pessoas e isso não impediu vocês de...
— Ela gosta dele. - revelo, finalmente falando em voz alta o que eu penso insistentemente desde que ela recebeu aquelas flores. - Os outros homens que deram em cima dela nunca me incomodaram tanto por que ela não gostou de nenhum deles, mas desse ela gosta. Amigo, outra dose aqui.
— Isso é o ciúme falando. - eu nego acenando em quanto bebo. - Tem certeza?
— Outra dose. Você já reparou nos olhos dela? São uns azuis bonitos, discretos e ao mesmo tempo chamativos, que na minha visão assume diferente tons e brilhos dependendo do que ela tá sentindo, aqueles olhos já brilharam pra mim daquele jeito. - digo ao lembrar de como ela ficou ao ler o cartãozinho que veio naquelas malditas flores! Eu viro o copo e sacolejo a cabeça ao sentir tudo queimar por dentro. - Outra dose. - peço batendo o copo na madeira do balcão do bar. - Aquele olhar era somente meu e agora aquele filho da puta tá recebendo.
— Então recupere, se conquistou uma vez pode de novo.
— Quando ela voltar a falar comigo quem sabe. - viro o copo mais uma vez e bufo com raiva. - Outra dose.
— É melhor você dar uma parada.
— Ela é minha mulher, porra! Eu tenho direito de me irritar quando um cara manda flores e presente...
— Presente? Ele mandou presente e você não fez nada?
— Ah, eu fiz, quando eu vi eu joguei o celular no lixo...
— Ele deu um celular e você o jogou no lixo? Só isso? Era pra você ter ido lá quebrar a cara dele. - franzi o cenho estranhando a atitude dele, esse é o meu amigo Rhodes? - Qual é, Tony, eu pensei que ele só tava querendo se chegar, mas ficar mandando presente e flores é demais, tudo tem seu limite. - abri os braços em contemplação, finalmente alguém me entende! - Pepper sabe que você jogou o celular no lixo?
— Até hoje não sabia, mas por conta da visita dele, ela tanto lembrou dessa merda quanto veio me questionar, eu me irritei e a gente começou a brigar, eu disse o que não devia e ela me atirou uma chave inglesa. Outra dose.
— Você percebe que só ferrou ainda mais com tudo, né?
— No meu lugar você teria feito diferente?
— Eu certamente não.- responde o bartender que me serviu. - Me desculpe. - ele pede ao perceber que falou alto, mas eu o ignoro e olho para Rhodes.
— Talvez nas palavras usadas durante a briga, mas não, eu não faria. E aí?
— E aí que eu vou esperar a raiva...
— Tony Stark? - ah, qual é! Fã agora não. Viro o rosto para direção contrária e vejo um homem barbudo me olhando de cima a baixo e com um sorrisinho de canto. - É você mesmo.
— Te conheço?
— Você roubou a minha namorada.
— Não leva pro lado pessoal não, tá? Já fiz isso com um monte de cara.
— Mas essa você engravidou. - meu corpo imediatamente enrijeceu, Rhodes começou a tossir e eu por alguns segundos fiquei sem palavras.
— Bom, até onde eu sei só existe uma mulher que eu engravidei. - respondo ainda tentando manter o ar de nem aí.
— É dela mesmo que eu estou falando. - puta merda, que alivio! Tudo que eu não preciso agora é outro filho ainda mais com outra mulher. - Você não lembra de mim?
— Você não é uma loira do peitão e nem a Pepper, então, não.
— Sou o Paul. - Paul... Paul... Eu conheço algum Paul?
— Ex namorado da Pepper que traiu ela. - Rhodes me diz e eu me lembro dele.
— Ah, sim! Agora eu lembrei, como que é a gente chamava ele mesmo?
— Paul bobão. - Rhodes responde e eu rio.
— Isso! Paul bobão, o namorado traidor.
— É, eu reconheço que mereci o apelido, se isso vai fazer vocês se sentirem melhor aquela safada da Debbie me traiu e me roubou.
— Não, não faz, mas se era só isso, adeus, Paul bobão.
— Você tem notícias dela? Da Pepper? Eu tava fora do país fui morar no Japão em 99 e voltei há poucos meses, é lógico que por lá eu soube do filho de vocês, mas não soube notícias dela a não ser no campo profissional, mas queria saber como ela tá, saber onde ela mora e ir fazer uma visita dar uma apoio, sabe. - o que é isso? Dia de manifestação de apoio do ex qualquer merda?
— Sei, sei, o endereço é 10880, Malibu Point, 90265. Quando você chegar lá pode dizer que é meu convidado que meu mordomo vai te deixar entrar.
— Mas esse não é o endereço da Pepper?
— Ué, se você sabe sobre meu filho, sobre como anda o lado profissional dela também deve saber que somos casados.
— Mas não estavam separados?
— Voltamos, tcharam! Fique muito lisonjeado, você é o primeiro fora do nosso círculo de família e amigos que sabe sobre nós. - pisco o olho e ponho a mão sobre seu ombro e ele o mexe para se sair.
— Vou dar uma passada lá.
— As portas estarão abertas e se não estiver Jarvis certamente as abrirá. - ele dá um sorriso sem graça eu retribuo com um falso e ele se manda. - O que é isso? Castigo? - pergunto olhando para Rhodes.
— Não, um aviso, ele com certeza não tem chance, mas o outro tem e dá última vez que você se meteu em um triângulo amoroso...
— Eu perdi por que me confiei e achei que tava ganho.
— Na realidade eu ia dizer que foi por que o cara era marido dela e eles tiveram algo mais, então se a Bethany Cabe que é a Bethany Cabe deu valor a história que teve com o marido Pepper com certeza também dará, mas também pode acrescentar o que você disse. Não espere a raiva passar, Tony, espere no máximo até amanhã e converse com ela. - vou conversar, amanhã eu vou conversar com ela.

O amanhã chegou e eu voltei pra casa, já era quase 10:00 horas da manhã e conhecendo Pepper como eu conheço eu sei que ela já deve estar acordada, embora eu não tenha bebido a ponto de ficar bêbado, tenha terminado o que comecei na casa do Rhodes e dormido por lá eu ainda estava cheirando ou usando as palavras dela "fedendo a bebida" e eu sabia que isso ia ser mais um motivo pra ela, por isso, ao invés de deixar o carro na garagem externa eu entrei pela garagem interna, tomei um bom banho, me livrei do cheiro da bebida, me olhei no espelho mais uma vez pra me certificar de que não estava com cara de ressaca, troquei de roupa e subi.

— Pepper? John? - os chamei, mas ninguém respondeu. - Jay, onde está a Pepper?
— Ela saiu senhor, mas deixou um bilhete em cima da mesinha do telefone. - bilhete? Fui onde Jarvis disse que o bilhete estaria e no post-it amarelo escrito com uma bela caligrafia só tinha uma frase "John, está na casa dos seus pais".
— Para onde Pepper foi, Jarvis?
— Ela não informou, senhor, apenas arrumou as malas, deixou o bilhete e saiu. - malas? Como assim malas? Eu subi para o nosso quarto e em cima da nossa cama tinha duas saias ainda em seus cabides, no closet era visível a falta de algumas roupas e de duas malas, para onde ela foi? Com quem ela... Ah não, ela fez o que o acidente a impediu de fazer, ela foi viajar com o Adam.


Eu sinto falta desse clima frio, desse vento gelado batendo no rosto a ponto de endurecer um pouco as minha bochechas e me fazer pensar que a ponta do meu nariz é na verdade a ponta de um iceberg, sinto falta disso, sinto de verdade.

— Gosto do clima de Los Angeles, mas também sinto falta disso aqui. - eu sorrio concordando e aceito a xícara de chá fumegante que me é ofertada. - Os campos de tulipas são lindos, acho que vou voltar na primavera.
— Tulipas são as minhas flores preferidas.
— Ora então venha comigo, Pepper, não quero apreciar aquela beleza sozinha, Howard não é fã de flores e menos ainda da Holanda. - ela diz afastando-se da janela e se sentando na poltrona próxima da lareira acesa. - Ele passou a detestar tudo o que envolve a Holanda depois do...
— Seu primeiro marido. - ela assentiu e suspirou.
— Espero voltar pra casa antes que ele volte de Washington senão terei problemas.
— A senhora acha que ele vem? Que seu cunhado vem?
— Não, Preston... Ele é complicado não acredito que virá, era um desejo dela ter toda a família por perto na hora de desligar as máquinas, ela deixou isso explícito tanto que estou aqui, mas não acho que ele venha.
— Acho que não teria essa coragem, desligar as máquinas de alguém que amo me parece tão cruel.
— Mas também não é cruel fazer todos sofrerem daquela forma? É um descanso, Pepper, para todos. - eu fiquei calada não sei se concordo com esse ponto de vista, mas é o ponto de vista dela e o respeito. - Onde John está?
— Consertando o gramofone, disse que vai ter que substituir um monte de coisas e que não é complicado, mas acho isso bom pra ele ocupar a cabeça.
— Hm... ele precisa ocupar a cabeça, é? Aqui tem uma garagem com algumas coisas que Marcel gostava, a maioria senão tudo que tem lá precisa de uns reparos e eu tenho certeza que ele vai gostar.
— Ele é igual ao avô e ao pai.
— Por falar em pai...- ela se ajeita na poltrona, põe seu chá na mesinha ao lado e eu faço o mesmo, fica de pé, olha para o quadro acima da lareira coberto com um pano branco e em seguida para mim. - Sabe, Virginia, se eu fosse sua mãe, sua tia, uma vizinha velha intrometida ou qualquer pessoa de fora eu ia te dizer pra ir embora, que ele não vale a pena, que o deixasse pra lá, mas eu não sou, eu sou sua sogra, eu sou a mãe do Anthony e por mais que eu tenha feito você vir pra cá, tenha feito parecer que a única coisa que eu sabia era que você tinha viajado e mais nada além disso só pra dar uma lição nele, eu não quero que você o deixe... Meu filho, ele é complicado, eu sei, parte disso vem do meu erro em não ter sabido criar ele como se devia e ter mantido os olhos fechados quando eu sabia que era pra abrir, mas meu filho nunca viveu tão bem como viveu ao seu lado, eu podia ver isso nele, eu podia ver ele feliz, é claro que vocês tem os momentos de vocês, é lógico que tem, não se vive rindo sempre, mas você precisava ver como ele ficou ao chegar na minha casa e saber respostas vagas sobre o seu paradeiro...
— Aposto que ele achou que eu estava com o Adam.
— Sim, ele achou.
— Era o que eu devia fazer, ficar com o Adam, estar com o Adam assim nós dois teríamos nossos desejos atendidos.
— Ele só está com medo de te perder, Virginia. Quando em todos esses anos ele teve um "adversário" tão forte? Quando foi que ele deixou de ser o homem que mexe com a sua cabeça?
— Adam não mexe com a minha cabeça.
— Ele mexe e eu sei como é isso, o meu rapaz mexe com a minha até hoje. - ela diz levantando o olhar rapidamente para o quadro coberto. - Anthony, sabe que pode lhe perder, ele sabe que a relação de vocês chegou em um limite onde o fim tem mais chances que qualquer outra coisa, sim, ele achou que você pudesse estar com esse rapaz, mas ele também achou que você tivesse cansado e ido embora, que pudesse ter sofrido outro acidente e tantas outras coisas que eu fiquei torcendo a língua pra não contar a verdade, ele está perdido em tudo, ele está tentando colocar a casa em ordem, mas tudo o que ele vê é que perdeu muito tempo, que o filho que ele passou anos procurando não o quer por perto e que a esposa está indo para os braços de outro homem, você sempre foi o porto seguro dele, sempre foi a mão que ele segurava quando precisava de ajuda e ter tudo outra vez, mas tão fora de controle e com risco de te perder tá acabando com ele.
— Eu tentei ser a mulher que ele precisa, mesmo sem uma parte da memória eu tentei ser, mas tudo pra ele se resume em fugir e beber e eu não quero mais isso, Maria, não quero mais.
— Eu sei, eu sei, mas você conseguiu tirar isso dele uma vez, você pode de novo, meu filho foi do pior ao melhor você, Virginia, recupere o melhor dele. - eu desviei o olhar dela, como eu poderia negar o que ela tá me pedindo? Por ser mãe eu entendo o pedido dela sendo eu para ver o bem de John eu faria mesma coisa, eu pediria a quem fosse, mas acontecesse que eu realmente estou me cansando. - Eu liguei pra ele, eu disse que você estava aqui e...
— Com licença, senhora Van Persie. - a governanta de voz imponente nos chama a atenção para mostrar que Tony e Howard, que não está com uma cara nada boa, agora estão conosco. - Seu convidado ou melhor convidados insistiram que eu os trouxesse até a senhora.
— Tudo bem, Adheleide, obrigada. - ela se limitou a um aceno e nos deixou.
— E então, senhora Van Persie, quando ia me agraciar com a notícia sobre sua viagem?
— Bom, você só ia voltar semana que vem então eu não achei necessário te contar, mas eu te deixei um recado caso voltasse antes da hora. - com certeza Howard odeia tudo isso aqui. - Eu tenho um motivo, mas vamos conversar em outro lugar. - ele parecia que ia explodir quando ela saiu da sala sem nem olhar para trás ele a seguiu de punhos cerrados, com certeza não será uma conversa tranquila.
— O que veio fazer aqui? - perguntei ao levantar da poltrona e me aproximar dele.
— Ela me ligou pra dizer que sabia onde você estava, me pediu pra dar um tempo e depois vir aqui. Você sumiu e me deixou sem notícias suas, Pepper, fiquei preocupado.
— Achou que eu tivesse dando pro Adam? Eu até pretendia, mas sua mãe recebeu uma notícia ruim e eu estava com ela no momento então resolvi ajudá-la, mas quando eu voltar com certeza eu vou dar.
— Eu estava irritado, me desculpa não queria dizer aquilo.
— Já imaginava que você fosse dizer isso, mas como eu disse, o que eu sei fazer de melhor é te de desculpar...
— Pepper...
— Só não me jogue mais nos braços dele, Tony, por que se eu for eu garanto a você que nunca mais eu volto. - eu tento sair, mas ele me impede segurando o meu braço com suavidade.
— Os braços em que você será e continuará sendo jogada são os meus, Pepper. Eu falei besteira e eu reconheço, mas eu também tenho razão... Vocês tiveram uma coisa, que eu não sei se foi por uma noite, duas ou mais e eu prefiro continuar sem saber, isso foi quando estávamos separados e por mais que eu não goste disso eu vou ter que aceitar? Vou, mas agora nós estamos juntos, agora eu sou seu marido outra vez e eu não vou admitir que ele fique te mandando flores, presentes ou qualquer outra coisa assim, então mande ele parar ou eu o paro e garanto a você que não vai ser pedindo por favor. - eu fiquei olhando pra ele e me perguntado por que ele não pode ser assim sempre? Por que simplesmente não chega e conversa com seriedade, não é o homem que eu sei que ele é capaz de ser?
— Eu vou fazer ele parar, mas já que você tem seus pedidos eu também tem os meus, quero que você pare de fugir pra beber por que as coisas de algum modo complicou, você vai ter de aprender ou reaprender a lidar com as coisas, Tony, sendo ela do seu gosto ou não, você não pode discutir comigo e o John ou com um de nós e depois fugir, beber e sumir aparecendo em casa quando bem quer e só me deixando saber se você está bem quando bate a vontade de voltar por que você impede até mesmo o Jarvis de me dizer qualquer coisa, você quer que eu seja sua esposa e eu vou ser, mas se você quer encher a boca pra dizer que é meu marido, se você quer ser meu marido seja em tudo e não somente por que tem outro tentando me tomar de você.
— Eu vou ser. - ele acaricia o meu rosto e eu fecho os olhos, espero que dessa vez a gente consiga andar mais passos do que temos dado, eu sinto seus lábios quentes nos meus e me deixo envolver naquele beijo, mais uma vez, Tony, mais uma vez eu vou te dar outra chance. - Onde você tá dormindo? - ele sussurra em meu ouvido após nos separarmos e eu sorrio sacanamente pra ele que pelo jeito acha mesmo que vai ter alguma coisa.
— Não vai ter sexo, Tony, e quando voltarmos você vai ter três locais para dormir, quarto de hóspedes, sofá ou oficina.
— O quê? Mas a gente acabou de conversar e se acertar, a gente se beijou, Pepper!
— E mesmo assim ainda estou com raiva de você.
— Olha, é cientificamente comprovado que sexo de reconciliação é o melhor, então que tal pular a queda de braço e irmos logo pra reconciliação? - nego com um indicador e ele revira os olhos. - Ah, qual é, nós estamos sem sexo há mais de uma semana.- é verdade estamos mesmo e por mais que esteja com raiva eu também tô com uma vontade louca e inexplicável de transar com ele, mas pelo bem da minha moral eu vou negar.
— A gente sobrevive. - digo dando tapinhas em seu ombro.
— Eu vou te dobrar, eu sempre te dobro.
— Boa sorte.
— Você vai estar na minha cama mais cedo do que imagina.
— Ué, se você tá dizendo quem sou eu pra contrariar, não é mesmo?
— Eu não tô dizendo, você vai. - gargalho e ele me faz uma careta. - Vem cá, o que minha mãe veio fazer aqui? Qual foi a notícia ruim que ela recebeu?
— Uma cunhada dela teve morte cerebral, mas obviamente antes disso ela sempre pediu aos filhos que quando chegasse a hora dela eles chamassem toda a família, daí ligaram pra sua mãe, agora estão esperando o irmão que segundo ele chega amanhã para desligarem as máquinas.
— Que besteira, se fosse eu não chamaria ninguém já tá morto mesmo não vai fazer diferença alguma quem vai estar lá ou não. - ele rebate andando pela sala e mexendo em tudo o que se podia mexer.
— Seu sentimentalismo me emociona. - ele deu de ombros. - Tony, você parece uma criança para de mexer nas coisas da sua mãe.
— São da minha mãe? - ele para e olha pra mim e eu assinto. - Bom então não tem problema. - ele se aproxima da lareira e antes que eu pudesse perguntar ele puxou o pano que cobria o quadro.

O quadro retratava nada mais nada menos que ela e seu primeiro marido, a moldura do quadro era um tom envelhecido de dourado, em em suas laterais tanto horizontal quanto vertical tinham adornos que ao meu ver pareciam pássaros de asas abertas, em suas pontas os adornos me lembravam uma flor de lis, era uma bela moldura que casava perfeitamente com a pintura cujo o cenário parece ser uma biblioteca.

Ele é um homem lindo, cabelo castanhos e levemente ondulados, seus olhos acredito eu também são castanhos, seu rosto é quadrado e sua barba é impecável, pelo que foi retratado ele estava com roupa formal, arrisco dizer que era um terno já que o colete era bem mais visível graças a única peça ausente o paletó, ele está sentado em um poltrona branca em uma postura ereta, segurando com mão esquerda uma bengala que pelo detalhe no topo é artesanal e com a direta segurava e levava bem próximo de seu rosto, que pelos traços emitia um singelo sorriso, a mão de Maria que estava de pé ao seu lado também em uma postura ereta, usando um par de saltos pretos típicos da época e um vestido em um leve tom de amarelo, seus belos e cheios cabelos estavam soltos na altura de seus ombros, sua mão livre estava posicionada em sua cintura e assim como ela também demonstrava traços de um singelo sorriso.

— O Holandês Voador agora tem um rosto.
— O nome dele é Marcel, Tony, e ele era lindo.
— Se o velho te ouvir falando isso você vai perder o posto de nora preferida.
— Que pena que eles não tiveram tempo pra viver tudo o que queriam.
— Se tivessem tido eu não estaria aqui. - ele rebate e eu olho de soslaio. - Por que você acha que o velho surta toda vez que se fala nele? Do jeito que ele mesmo me contou essa história meu pai nunca teria chance e ele sabe disso, mas aí o cara morreu, meu pai teve a chance dele e mesmo assim, mesmo estando morto minha mãe ainda o ama.
— Seu pai pode ter raiva por isso, mas eu acho bonito que mesmo depois de todos esses anos, mesmo tendo seguido em frente, casado outra vez, construído uma família ela nunca tenha esquecido dele... Sabe, se existe mesmo essa história de céu e inferno, de vida após a morte de poder ver as pessoas que ficaram eu ia gostar de saber que mesmo com tudo, mesmo depois que a pessoa com que eu escolhi compartilhar a vida tenha conseguido ir em frente ela ainda me guarde nas lembranças e me ame da mesma forma que me amou em vida.
— Por que isso é importante?
— Pra mim? Por que prova que você não foi só mais uma pessoa, você realmente marcou a vida de alguém da melhor forma possível. Humpf! A gente perde tanto tempo achando que dá tempo, que todos os dias são iguais e que por isso mais tarde vai dar pra fazer uma coisa, que amanhã vai dar pra falar com alguém, que depois vai dar pra sair pra algum lugar e quando o fim chega a gente percebe que nunca se tem tempo, que você perdeu de fazer, de falar, de sair por que não achou que o tempo acabaria. - eu senti ele atrás de mim, seus braços envolveram meu corpo em um caloroso aperto e ele não me disse absolutamente nada, só apoiou sua cabeça na minha e me apertou mais. - O tempo quase acabou pra nós dois, pra você mais até que pra mim e quando você ou eu for vai ficar a sensação de que o tempo não foi suficiente, mas enquanto estivermos aqui, enquanto pudermos...
— Nós vamos fazer o tempo de cada dia ser o suficiente. - ele complementa baixinho e agora sou eu que o faço me apertar mais.
— Eu te amo. - me declaro ao me virar para agora abraçá-lo de frente, enquanto um braço pousa suavemente em minhas costas o outro está erguido para que sua mão toque o meu rosto e ele coroa o afago com um beijo em minha testa e foi o beijo mais amoroso e carinhoso que ele já me deu e nem um beijo que ele me desse na boca poderia substituir esse.
— Eu também te amo. - ele me diz com a testa encostada na minha e tudo o que faço é apertá-lo ainda mais em meu abraço.

O tempo é limitado, em um segundo estamos felizes e no seguinte seu mundo vira de cabeça pra baixo e eu sei disso, já tive essa experiência mais vezes que posso contar e quando o meu tempo chegar quero ter em mente que mesmo não sabendo o que viria no próximo segundo eu fiz valer a pena tudo o que fosse possível valer.


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Notas finais do capítulo

Por hoje é tudo pessoal. Espero que gostem e também espero os comentários de vocês, até a próxima ;)