A chuva batia com força contra a janela, as cortinas estavam abertas e os raios iluminavam o quarto com frequência. Na cama estava Naruto, sentado exatamente no meio do colchão de casal, abraçando as pernas, o queixo apoiado no joelho e os olhos fixos no temporal. Em seu rosto havia marcas de lágrimas ainda úmidas e agora sua expressão se encontrava vazia, congelada. Exatamente como o Uzumaki se sentia no momento. Vazio. Frio.

Abandonado.

Sasuke havia ido embora, pela terceira vez, sem se despedir do amante. Há quase três meses, Naruto havia acordado na manhã de segunda-feira com a cama vazia e, após vasculhar a casa atrás do Uchiha, encontrou preso na porta da geladeira com a ajuda de um imã, um bilhete com apenas os dizeres Eu te amo. Seu coração apertou de uma forma que ele jamais havia sentido. Naruto sabia o que aquilo queria dizer. Ele tinha sumido outra vez e o deixado para trás.

Naquele momento Naruto sentiu seu coração, já machucado e partido, terminar de trincar e despedaçar de uma vez. Ele caiu de joelhos no chão da cozinha com o bilhete em mãos, respirando ruidosamente, tentando fazer com que o oxigênio fluísse por seu corpo, e logo sentindo as lágrimas inundarem seus olhos. Soluços escapavam de sua garganta, dor se espalhava cada vez mais rapidamente por seu peito, aumentando a cada segundo. Ele chorava. Chorava por tantos motivos, por ter sido deixado outra vez, por não ter mais Sasuke ao seu lado, por não poder ver seu sorriso...

Naruto chorava porque seu chão havia sumido pela terceira vez e, porra, como aquilo doía! Ele pensou que já estava acostumado, pensou que não entraria em desespero como quando aconteceu na primeira vez. Ou na segunda. Mas agora... Agora estava sendo pior do que antes. Era pior porque Naruto sabia o que o maldito bilhete significava. Ele sabia que Sasuke tinha ido, mais uma vez, sem ter a porra da coragem para, ao menos, dizer-lhe que estava indo. Era pior porque Naruto já esperava que isso fosse acontecer e, mesmo sabendo, não o impediu de entrar em sua vida novamente.

Não impediu sua entrada porque não imaginou que o estrago tomaria aquela proporção, justamente por saber que o Uchiha faria aquilo. No fundo ele ainda tinha a esperança de que Sasuke não fosse abandoná-lo outra vez, ele desejava com todas as forças que ele não fizesse isso... Mas Sasuke fez. Fez e Naruto se sentiu perdido. Como uma bússola quebrada, girando e girando, ele se sentia sem rumo ou direção, afundando cada vez mais em seu choro sofrido de alguém que se sente como lixo. Algo que teve utilidade algum dia e que, como lixo, deixou de ser útil e foi jogado fora sem pena ou consideração alguma.

Nas duas vezes que Sasuke o abandonou, essa foi a que Naruto mais se sentiu usado. Usado porque o Uchiha apareceu depois de meses, simplesmente do nada, rodeou-o por dias, pedindo perdão pelo que havia feito, dizendo que estava arrependido e que aquilo não iria mais acontecer. E Naruto acreditou. Porque o Uzumaki amava aquele babaca com todas as suas forças, o amava desde que criança! Sasuke era seu melhor amigo antes de os dois evoluírem a relação para algo mais e saber que o homem com quem você cresceu e amou o tratava e mentia daquele jeito...

Era desolador.

Naruto estava desolado por toda a crueldade e desprezo que Sasuke estava mostrando para consigo. Será mesmo que o Uchiha não sabia o que fazia com ele? É possível que o maldito nunca tenha parado para pensar no que seus atos egoístas e inconsequentes faziam com Naruto, que era completamente apaixonado por ele?

Como que despertando de um transe, o Uzumaki piscou os olhos fazendo com que mais algumas lágrimas caíssem. Ele focalizou o relógio na mesinha de cabeceira e verificou as horas. 15:30, era o meio da tarde e já estava tão escuro. Naruto sorriu amargamente. Ele estava mesmo afundando em escuridão. Sasuke havia, finalmente, conseguido acabar com sua luz. E aquilo era o que mais lhe irritava.

Como ele podia deixar alguém denegri-lo daquele modo? Fazê-lo dependente e depois joga-lo fora, como se não fosse nada? Naruto se sentia tão infeliz, tão quebrado e sem ânimo, mas ele simplesmente não tinha forças para sair do buraco que estava se afundando. Tudo o que ele via a sua frente era negro, sem cor. Ele já não se importava com o que acontecia consigo. Ele havia perdido a vontade de viver. O Uchiha era sua maior doença.

Tudo por causa de Sasuke.

Sasuke, que o usou. Sasuke, que o abandonou. Sasuke, que não ligava a mínima para ele. O mesmo Sasuke que lhe jurou nunca fazer mal, deixou claro que não faria aquilo novamente e ali estava ele. Sasuke. Matando Naruto cada dia mais, lentamente, há quase três meses. E aquilo o irritou.

Pensar que sua vida estava acabada porque alguém não lhe deu o devido valor era absurdo! Ele fitou o cigarro, com a fumaça quase apagando, e aquilo o enojou. Seus olhos esquadrinharam o quarto e ele se sentiu decepcionado consigo mesmo. Estava tudo quebrado e destruído, exatamente como ele se sentia. Naruto sentiu o desespero tomar conta de si e levantou, tropeçando nas roupas que estavam jogadas e espalhadas pelo chão. Ele abriu a janela, sentindo a chuva molhar seu rosto e jogou o cigarro fora. Ele não queria mais fumar aquilo.

Naruto não queria mais saber de Sasuke. Há quase três meses ele estava trancado, definhando em seu próprio apartamento, chorando desesperado pelo Uchiha tê-lo abandonado e agora toda a situação o irritava. Se era aquilo o que recebia por amá-lo, então não o desejaria mais, não o amaria mais. Nem que levasse a vida inteira para conseguir, Naruto arrancaria tudo o que havia sobrado de Sasuke de dentro de si. Ele iria superá-lo.

Naruto precisava superá-lo, caso contrário não saberia mais viver. E somente esse pensamento o mostrava o quão dependente de Sasuke havia se tornado. Ele começou a juntar as roupas e coloca-las em cima da cama, logo buscando uma vassoura. Os cacos de vidro dos porta-retratos quebrados estavam espalhados pelo chão. Depois de tanto tempo em reclusão, recusando-se até a atender as chamadas de seus amigos, Naruto parecia finalmente disposto a dar um basta naquela situação.

O telefone começou a tocar, mas ele não tinha vontade de atender, não queria falar com ninguém. Se ele não conseguisse sair sozinho daquele buraco que havia se afundado, seria obrigado a pedir ajuda. Mas primeiro tentaria, não podia desistir somente porque a vida o derrubou, somente porque Sasuke não soube amá-lo e trata-lo como deveria. Somente porque tudo a sua volta parecia terrível e cruel. Naruto precisava acreditar que, um dia, ele sairia daquela escuridão. Um dia a vida voltaria a ter cores e a ser alegre.

O interfone tocou e socos começaram a ser distribuídos em sua porta. Ele franziu o cenho e caminhou vagarosamente, desviando dos objetos caídos e coisas quebradas. Olhou pelo olho-mágico antes de abrir a porta e, quando viu ser seguro, tirou as correntes e a destrancou, abrindo-a.

Seus amigos o encararam com um misto de surpresa, alívio, irritação e pena. A primeira a entrar foi Sakura, que se jogou e o puxou para um abraço forte e apertado. Logo Gaara também entrou seguido por Kakashi, Kiba, Sai, Neji, Hinata, Lee, TenTen e sua casa começou a lotar de gente, todos envolvendo-o em um abraço em grupo, caloroso, reconfortante e cheio de amor.

Naruto sentiu as lágrimas voltarem com força, mas dessa vez eram lágrimas de alívio e felicidade.

Ele não estava sozinho, como pôde pensar isso?

— O-obrigado.

Foi a única coisa chorosa que conseguiu pronunciar enquanto era abraçado e confortado daquele modo, por todas aquelas pessoas que se importavam com ele. Porque elas sim se importavam e o amavam verdadeiramente.

Ele só poderia tentar se reabilitar enquanto ainda se sentisse vazio, oco. Mas agora não precisaria mais se preocupar, pois no caminho que seguiria estaria recebendo o suporte de seus amigos e ele seguiria em frente. Nenhuma palavra havia sido dita, mas não precisava. Naruto sabia que todos eles estariam consigo e, a partir de agora, não deixaria mais que Sasuke entrasse pela porta.

Agora era a vez de Naruto ser feliz.