— Acho que nessa cidade todo homem é assim mesmo — ela deu de ombro ao virarmos a esquina.

— Eu não acho — eu não sou assim.

— Ah é — ela murmurou me encarando. — Você é bom demais para as mulheres daqui...

            E ali estava novamente o brilho divertido em seus olhos.

            Pelo visto o único problema de Dulce era com o paraíso.

— Claudia e Blanca sempre freqüentaram esses lugares — eu disse pondo as mãos nos bolsos da calça. — Você não. Porque agora?

— Porque meu pai disse que eu não vou poder ser atriz, que eu não posso sair dessa cidade e tenho um futuro certo — ela deu de ombros. — Então se o lado certo da vida já está pronto, eu decidi ver como era viver como as minhas irmãs...

— Isso custou a vida de Claudia — disse.

— Eu sei me cuidar — ela murmurou. — Acredite querido, eu posso ser pior do que elas...

            Em momento algum eu duvidaria disso, afinal Dulce era o meu demônio.

            Sua língua passou pelos meus lábios causando um arrepio interno, minhas mãos pousaram em sua cintura quando os lábios dela agarraram os meus num beijo selvagem. Suas unhas percorreram o tecido fino de minha camisa, e isso me fez dar um passo atrás.

— Eu já lhe disse que não sou como os outros.

— Eu posso lhe fazer mudar de ideia — ela murmurou e eu fiquei tentado, mas não, havia levado anos construindo meu caráter, desprezando mulheres que tratam homens como elas fazem.

            Para elas era um grande jogo, assim como para os machistas que as rodeiam. Imundos. Eu sempre tentei manter-me longe disso.

— Você de verdade não se importa? — eu perguntei dando um passo para trás. — Agir assim todos os dias...

            Agora foi ela quem deu um passo para trás e ergueu as mãos como se desistisse.

— Você é mesmo bom demais para qualquer uma aqui... — e ela se afastou como se o que eu houvesse dito pudesse tê-la ferido de verdade.