E mais um suspiro se seguiu, o que me fez fechar o livro por alguns instantes para que eu pudesse olhá-la bem. Foi nesse instante que eu me dei conta de que Dulce era um perfeito demônio, controladora de suas ações e até de seus sentimentos – ela estivera fingindo por não sei quanto tempo e só agora eu conseguia me dar conta. O olhar ao deitá-la na cama, a entrega, não, isso havia sido real, mas antes, o modo como ela havia agido antes era que fazia parte de sua encenação. Então eu finalmente percebi que Dulce não era tão diferente das irmãs afinal, ela apenas não escancarava, mas no fundo Dulce estava na mesma busca frenética que Blanca... Pelo amor.

            E ouvindo as palavras de meu livro romântico ela sonhou – era por isso seus suspiros – e, acho, que ela se deu conta de que a ficção pode ser realidade, tirando uma camada de mascara que sempre a cobriu.

            Então ali estava eu, um mero autor começando a desvendar minha mais nova inspiração... Meu demônio.

— Leia você mesma — eu disse lhe entregando o livro fechado.

— É seu — ela murmurou encarando o documento em minhas mãos.

— Não é mais...

            Talvez assim, lendo um romance completo, Dulce se tornasse mais crente sobre o que dizia o livro. Amor.

— Já está tarde — ela murmurou olhando pela janela de vidros embaçados do quarto.

— Devo levá-la em casa? — perguntei voltando a pegar o cigarro, que agora encontrava-se diminuto, e dei um trago.

— Não — ela se virou para mim, seu brilho endiabrado voltando a possuir seus olhos. — Eu não me importo de ficar.

            Eu deveria ter pensado que isso me traria problemas, mas talvez não trouxesse e eu, pela primeira vez, não estava pensando mais a frente.

            Então meus lábios voltaram a se apossar dos dela, com aquela vontade de quero mais me preenchendo novamente, eu toquei seu rosto gravando os contornos de tão bela face – a face do meu demônio – e voltei a beijá-la, mergulhando-nos num mar de desejos e excitação – novamente.