Chuva. Adoro a chuva. As gotas caindo me dão uma sensação de calma, de alguma forma. Por isso, acordei de bom humor naquele dia crucial. Era só uma chuvinha fraca, mas eu gosto disso. Com um sorriso no rosto, levantei e fui me aprontar pra escola. Quando terminei, Armin ainda não tinha se levantado, como sempre.

–ARMIN! LEVANTA PREGUIÇOSO! VAMOS NOS ATRASAR DE NOVO, CACETE! - Gritei puxando forte sua coberta de cima de si.

–AH, CABAÇO! JÁ TO LEVANTANDO! - Ele grita de volta se levantando com a maior cara de sono e indo pro banheiro se aprontar pra escola.

Nós somos muito amáveis um com o outro, não é? Oin. Mas é que só assim que o meu irmão gêmeo se levanta. Ele, diferente de mim que pintei de azul, tinha o cabelo preto bem escuro e os olhos da mesmo cor que o meu, azul claro. Mas enfim. Jogo a coberta dele na cama e vou ate a cozinha. Depois do Armin ter se aprontado e nós termos tomado café, pegamos nossas mochilas e fomos pro ponto de ônibus, com guarda-chuva óbvio, para irmos a escola. Chegando lá, nós separamos e eu fui caminhando para sala. Armin deve ter ido para algum cantinho jogar no seu PSP. Novidade... De repente senti alguém me abraçar por trás e me dar um beijinho estralado em minha nuca, me fazendo arrepiar.

–Bom Dia Baby! - Ele sussurrou em meu ouvido e saiu correndo pelo corredor.

Não consegui distinguir quem era, mas só uma pessoa na escola faria isso. Kentin. De uns dias pra cá, o mesmo começou a me provocar, como eu fazia com ele antes. Porém não na mesma intensidade de brincadeira de amigos, são provocações, como eu posso dizer, pervertidas? Como por exemplo esse beijinho acontece quase todo dia. Quando não é no pescoço ou nuca e na bochecha. Eu vou enlouquecer.

Se eu gosto do Kentin? Bem, na verdade eu não sei o que eu sinto, e isso só esta me deixando mais confuso. O que esta acontecendo com ele? Sempre que eu tento chegar perto dele ou brincar com ele como antes, ele foge. Diz que tem que fazer algo, que precisa ir no banheiro e ate me ignora as vezes. Num dia ele pode ser super amável, me abraçando quase sempre, me beijando várias vezes e no próximo dia ele pode ser super frio, não me abraça nem beija, só passa a mão pelos meus cabelos e tal. Sério, eu não entendo. As vezes parece que ele me ama e eu fico feliz, mesmo com essas provocações na frente de todo mundo que me envergonha pra caramba e as vezes ele me despreza e me machuca.

Enfim, isso não irá se resolver se eu ficar parado no meio do corredor. Começo a andar novamente em direção a minha sala. Chegando lá eu sentei na minha respectiva classe: na penúltima carteira da ultima fileira da parede, ao lado do Armin, porém meu irmão não estava lá, então fiquei somente ouvindo música enquanto a aula não começava. Depois de um tempo, ouvi o sinal bater. Guardei meus fones e rondei meus olhos pela sala para ver se a Luani, minha amiga ruivinha, já tinha chegado. Encontrei ela no seu lugar de sempre, a primeira carteira em frente a mesa do professor. Luani me viu e acenou pra mim euforicamente.

–BOM DIA ALEXY!!! - Ela gritou pra mim.

–BOM DIA LUANI!!! - Respondi a ela na mesma intensidade.

Rimos um do outro e nos viramos pra frente pois o professor tinha chegado na sala. Olhei pro lado e vi que Armin já estava ali. Ué? Quando ele chegou? Bom, o Armin sempre chega assim de fininho, então não me importei. Olhei para trás e vi que a carteira estava vazia. Ele normalmente nunca chega atrasado pra aula. O que será que aconteceu? Bem, daqui a pouco ele chega, né? Virei-me pra frente com a expressão triste, cabisbaixo. Porém, assim que o professor deu bom dia, ouvi a porta da sala se abrir. Olhei pra lá e vi Kentin me encarando com um sorriso nos lábios. Fiquei surpreso.

–Eu me atrasei. Desculpe. - Ele tinha falado aquilo pra mim, ou para o professor?

–Tudo bem, Kentin. Agradeça que eu ainda não tinha começado a aula. Vá se sentar no seu lugar. - Falou o professor de História.

–Hum? - Exclamou retirando seu olhar de mim. - Ah, sim. Me desculpe.

Ele começou a andar em direção a sua carteira, que é atrás de mim, porém, assim que chegou perto de minha carteira, tirou minha franja dos olhos e beijou minha testa. Corei. Toda sala estava olhando para ele e quando ele fez isso, consequentemente, toda sala viu. Até o professor. Que vergonha. Tudo bem que o pessoal da sala já esta meio que acostumado com isso, já que faz tempo que ele esta fazendo essas coisas, mais ainda assim é vergonhoso. Assim que ele sentou em sua carteira, esfreguei meu rosto em minhas mãos, tentando fazer passar aquela vergonha que estava sentindo. De repente, senti uma mão acariciar meus cabelos. Olhei para trás e Kentin estava com um sorriso enorme olhando para mim e nesse momento meu coração bateu mais rápido. Deuses, o que eu faço?

–Eu vi que você ficou triste por eu não estar aqui antes da aula. - Ele sussurrou, pois a aula já tinha começado. - Por que? Você gosta da minha presença?

–N-nada a ver. Eu não fiquei triste e nem gosto de sua presença. Eu fiquei é feliz por você não estar me infernizado. - Mentira. Eu gosto sim da presença dele, mesmo que seja irritante as vezes.

–Ah, é? Suas bochechas vermelhas me dizem ao contrário. - Ele sussurrou passando de meus cabelos para acariciar minhas bochechas. Por causa disso, fiquei mais vermelho e ele percebeu isso. - Oh, viu?

–N-nada a ver. Me deixa em paz, Kentin. - Sussurrei tirando sua mão de minhas bochechas, mesmo que eu tenha gostado dele acariciando-as, e me virando pra frente novamente.

Ouvi ele soltar uma risadinha e eu já ia me virar novamente para perguntar do que ele estava rindo quando senti sua mão acariciando meus cabelos novamente e sua voz em meu ouvido.

–Ok, Ok. Mas você se preocupou comigo, não é? Desculpe por te deixar triste, Baby. - Falando isso ele beijou minha bochecha perto da minha boca.

Não aguentei. Me levantei bruscamente da carteira e gritei.

–EI! KENTIN! EU JÁ DISSE QUE NÃO FIQUEI TRISTE CARAMBA.

Quando percebi que eu estava brigando com o Kentin no meio da aula, já era muito tarde. Provavelmente o Professor e todos os alunos estavam olhando para nós e a Luani deveria estar rindo assim como o Armin esta agora.

–Senhor Alexy, brigas com seu namorado depois da aula. Queira se sentar e copiar a matéria do quadro por favor. - O professor falou pra mim e de imediato eu olhei para ele e ele estava com uma cara feia.

–Sim. Me desculpe professor.

E me sentei rapidamente, pegando meu material e começando a copiar o que estava no quadro. Depois daquilo, Kentin não se pronunciou mais. Não me tocou mais e nem me incomodou. Achei estranho. Normalmente ele me provoca sempre, e depois daquilo eu tinha certeza que ele iria fazer alguma coisa. Bem, melhor pra mim. Assim eu não fico passando vergonha. Não é? Huum... Ah, deixa isso pra lá.

Olhei para a Luani e ela estava eufórica. Devia estar tendo mais umas de suas ideias malucas para eu me confessar ao Kentin e nos começarmos a namorar. Ela é uma que fica me implicando com isso. Suspirei fundo e olhei de canto de olho para o Armin ao meu lado. Ele estava olhando para o horizonte da janela, disserto pensando em como me implicar com isso também. Ele é outro, junto com a Luani. Fala sério. Aliás, as vezes eu acho que eles tem alguma coisa juntos. Já vi várias vezes eles meio estranhos quando eu digo que eles deveriam ficar juntos para parar de me implicar. Mas enfim...

Depois de acabar os dois períodos de História, me virei para trás, por reflexo, e vi que Kentin estava me encarando e assim que viu que eu olhei para ele, o mesmo sorriu para mim. Corei e imediatamente me virei para frente. Por que eu fui fazer aquilo? Eu não deveria ter me virado. Olhei para a Luani e ela me mandou um sinal de positivo, dizendo com a boca que depois iriamos conversar sobre isso. Olhei para o Armin e ele concordou com a cabeça. Meus deuses, me ferrei. Assim que olhei para a minha carteira novamente, tinha um papelzinho. Por curiosidade, abri ele.

"Hey, por que antes você não negou para o professor que eramos namorados? Estamos namorando e eu não sabia? K.E.N"

K.E.N! As vezes ele também manda bilhetinhos assim para mim no meio da aula. Eu quase nunca respondo. Só quando ele me irrita pra caramba, ai eu respondo para ele parar de encher o saco. E se eu guardar, ou ignorar, ele fica me mandando outros ate eu responder ou ate o professor perceber que ele esta mandando bilhetinhos para mim. Bufei e guardei na mochila o papelzinho pois não sabia o que responder. Não passou 10 segundos já tinha outro na minha mesa.

"Não vai responder? Não sabe o que dizer? Ficou com vergonha na hora eu que eu te beijei? Ah, eu queria ter visto sua cara vermelha. É muito fofo, sabia? K.E.N"

Nesse momento só eu percebi que estava vermelho. Esfreguei meu rosto em minhas mãos tentando espantar aquela vergonha. Guardei o bilhete também na mochila, esperando a professora chegar logo na sala. Como eu imaginava, chegou outro bilhetinho logo depois.

"Ok. Vou encarar isso como se estivéssemos namorando então. No intervalo eu irei te infernizar bastante a partir de agora. K.E.N"

Corei mais ainda com o que ele tinha escrito e olhei para trás. Ele estava fingindo que lia um livro, como se não se importasse. Olhou rapidamente para mim e ele estava com um sorriso safado nos lábios. Filho da mãe. Guardei o bilhete na mochila e decidi responder, só de raiva.

"Eu não falei nada por que eu já cansei de explicar para as pessoas que não estamos namorando. MAS ISSO NÃO QUER DIZER QUE NAMORAMOS DE VERDADE. E você já me irrita sempre no intervalo, o que vai mudar? A.L.E."

Terminei de escrever e joguei em sua mesa. Logo mais, veio a resposta.

"Hum, ta bem então. E o beijo? Você ficou com vergonha ou raiva? Se for raiva, se vira pra mim. K.E.N"

Hesitei um pouco. Se eu não virasse, eu estaria admitindo que eu fiquei com vergonha. E se eu me virasse e ele falasse algo que eu não soubesse responder? Ah, dane-se. Me virei. Porém assim que fiz isso e olhei para os seus olhos, ele me beijou na bochecha. Não perto da boca como antes, só um simples beijo na bochecha. Me assustei e corei novamente. Olhei para ele e o mesmo estava sorrindo convencido.

–Viu? Eu disse que você tinha ficado com vergonha. Você é muito fofo assim, Ale. - Ele disse acariciando a minha bochecha com o polegar.

Eu não conseguia falar nada e também não queria retirar a sua mão da minha bochecha pois estava gostando do carinho que era posto ali então ficamos um tempo assim. Aproveitei esse tempo para admirar o seu rosto perfeito. Seus cabelos castanhos que pareciam ser sedosos, seus olhos verdes que eu poderia ficar admirando para sempre de tão lindos e seus lábios finos extremamente beijáveis. Me perdi de meus pensamentos quando eu comecei a soluçar. Assustei-me e coloquei as duas mãos na boca, me virando bruscamente para frente. Ouvi o Kentin dar uma risadinha. Filho da mãe, ele sabe que isso significa que eu gostei tanto do beijo, quanto do carinho na bochecha.

Vi a professora de química entrar atrasada na sala de aula e suspirei aliviado. A professora pediu desculpas pelo atraso e dizendo que não iria se repetir outra vez e começou a dar sua aula, para o meu alívio.