— Dá pra acreditar nisso? Ele foi totalmente rude! Pensa que o mundo gira em torno do umbigo dele!— a médica de cabelos rosados reclamava desacreditada com sua colega de plantão e melhor amiga, Yamanaka Ino.

Ino ria da indignação de Sakura. – Meu deus testuda! O que esse cara tem que te deixou tão abalada?— A Yamanaka ergueu uma sobrancelha loira para a amiga, enquanto um sorrisinho malicioso aparecia no rosto bem maquiado.

— Abalada?— A Haruno fez uma pausa e encarou a amiga com o cenho franzido. – Ele não me deixou abalada Ino! Me deixou irritada! Por que é um arrogante e um grosso!— Terminou com os braços cruzados e um biquinho.

— Dizem as más línguas, ou seja, as enfermeiras, que ele é um deus grego!— A loira cutucou a amiga, enquanto andava até a sala de radiografia para perguntar se os exames já estavam prontos. Quando Sai, o especialista, afirmou que sim a ela acenou para a médica de cabelos rosados, que prontamente desfez sua pose irritada e seguiu-a.

— Então, me diga Sakura testuda, é verdade? Ele é mesmo bonito?— Ino olhou a Haruno com malícia e não se importou nem um pouco com o fato de Sai estar ouvindo toda a conversa.

— Eu— Ela fez uma pausa, indecisa sobre como responder. – Eu nem reparei Ino!— Virou-se para o rapaz e estendeu a mão para que este lhe entregasse as radiografias de Sarada Uchiha, sua mais nova paciente. Sakura as colocou em um painel branco iluminado e suas sobrancelhas se levantaram em curiosidade quando analisou cada uma das radiografias da menina.

— Ino! Venha ver isso!— A loira que olhava descaradamente a bunda de Sai, desviou sua atenção para a amiga imediatamente.

— O que foi? O que há de er... Oh! Minha nossa! – Exclamou quando notou, assim como Sakura, que os exames revelavam que a garotinha tinha cicatrizes de diversas fraturas anteriores. Uma fratura de ulna no braço esquerdo, o fêmur direito já bem cicatrizado que provavelmente tinha sido trincado, uma clavícula e agora, um dos ossos da articulação do tornozelo esquerdo.

— Ino— A médica de cabelos rosados olhou séria, encarando a Yamanaka nos olhos azuis. – Essa menina já teve múltiplas fraturas. Mas nunca sofreu nenhum acidente de carro ou algo do tipo, pelo histórico. Sabe o que isso pode significar não sabe?

Ino não respondeu, apenas continuou olhando boquiaberta alternando entre os exames e Sakura.

— Nós... tem certeza Sakura?— A loira questionou hesitante. Não sabia ao certo como deveriam lidar com essa situação.

— Ino, sabe que a ocorrência de múltiplas fraturas em crianças, nos obriga a considerar o caso de estarmos lidando com um agressor.— A Haruno olhou séria para a amiga. Ino também era pediatra, sabia desta lei. Elas precisavam comunicar a assistência social.

— Vai fazer isso agora?— Ino perguntou – A paciente é sua Sakura, eu não posso decidir por você.— Terminou enquanto aguardava para ver qual seria a reação da amiga.

Os olhos verdes tremeluziram e Sakura suspirou pesadamente.

— Não, vou esperar mais. Vamos continuar os exames e eu vou conversar com o pai, a babá e a menina, assim que ela acordar.

Oooooooooo

Ao chegar a porta do quarto 5 onde estava sua paciente ainda desacordada em função dos anestésicos, avistou a babá adormecida na cadeira e o pai da garota, o famoso Uchiha Sasuke, imóvel ao lado da cama exceto por sua mão, que acariciava o braço da pequena Sarada.

Suspirou. Precisava conversar com cada um deles separadamente e de forma discreta, de modo que nenhum deles desconfiasse de suas suspeitas sobre agressão infantil.

Entrou no quarto e ele não fez movimento algum. Parecia nem ter notado sua presença. Sakura limpou a garganta. Ele olhou para ela, prendendo seu olhar naquelas íris enigmáticas cor de ônix. A Haruno engoliu em seco.

— Estou com as radiografias de Sarada.— Ele não disse nada, apenas continuou a olhá-la. Tomando este ato como um sim, Sakura continuou. – De fato, ela tem uma fratura na articulação do tornozelo esquerdo. Um pequeno osso, não me parece muito grave. O ortopedista avaliou os exames e me liberou para tratar do caso. Uma bota ortopédica e algum tempo usando muletas será o suficiente para resolver o caso. – Quando ela disse a íltima frase, o Uchiha respirou aliviado.

— Ela vai ter alta quando?— o homem perguntou, sua voz saiu um pouco rouca, como se estivesse falhando.

— Ficará internada até que possamos tratar completamente da fratura e verificar se não haverá complicações. Provavelmente em um ou dois dias. – Disse convicta observando atentamente a reação do Uchiha. Ele não respondeu, apenas olhou novamente para a menina deitada na cama. Ela pôde ver sua boca franzir de leve, como se estivesse tentando disfarçar as emoções. Céus, como uma criança doce como aquela poderia ser filha de um homem tão frio como aquele?

Ela verificou a ficha da menina e os aparelhos e ia se retirando do quarto quando o moreno se manifestou: — Por que ela está dormindo?— Questionou num fio de voz. Sakura notou a preocupação mal disfarçada.

Aquela demonstração estranha de sentimento e a angústia reprimida pelo estado da menina fizeram Sakura duvidar por um momento de suas suspeitas de que aquele homem pudesse agredir sua própria filha. Mas ela não deveria supor nada sem investigar primeiro.

— São os analgésicos e anestésicos do soro. Assim nós pudemos reduzir a dor da fratura enquanto manipulávamos para examinar o pé de Sarada. Ela vai acordar logo.— Disse com suavidade, sentindo uma pontada de pena do homem. Suspirou pesadamente e direcionou seus olhos verdes decididos ao moreno. Ele, como se sentisse o olhar da médica sobre si, encarou-a.

— Sr. Uchiha, acho que precisamos conversar em particular.— Afirmou convicta, buscando parecer mais determinada e firme do que realmente se sentia no momento. Sasuke arqueou uma sobrancelha levemente e assentiu.

Tocou os cabelos de Sarada como se dissesse “volto logo” e seguiu a Dra. Haruno para fora do quarto até uma pequena salinha, onde havia uma cafeteira, pias e armários, assim como alguns jalecos brancos e azuis pendurados em cabides. Ela fechou a porta e indicou uma cadeira para que o moreno se sentasse. Ele negou com a cabeça. Sakura suspirou e mostrou a ele os exames da menina. Sasuke olhou sem entender. Ela limpou a garganta antes de começar a despejar sobre ele todas as suas desconfianças.

— Sr. Uchiha, como pode ver nas radiografias da sua filha, ela tem várias cicatrizes de fraturas anteriores.— Pausou. Sasuke encarou-a tentando entender onde a mulher queria chegar com aquela conversa – Sarada quebrou o braço recentemente, certo?

— Sim. Há seis meses.— ele respondeu simplesmente.

— Mas ela tem fraturas no fêmur e clavícula. Eu gostaria de saber como elas ocorreram. – A médica de cabelos rosados o olhava com os olhos verdes carregados de suspeita. Ele não gostou nada daquele olhar.

— Sarada se machuca com facilidade.— Ele respondeu apenas.

— Oh sim, é ela quem se machuca? – Questionou sarcástica.

Sasuke franziu o cenho e a olhou irritado antes de dizer friamente: - O que está insinuando Dra. Haruno?— Ele deu um passo na direção da mulher, que não demonstrou, mas assustou-se com isso.

— Em casos de fraturas múltiplas não explicadas em crianças, sempre é preciso ter cautela e considerar todas as possibilidades. – Respondeu, tentando manter sua pose determinada. O Uchiha tinha uma aura de poder que era impactante. Aquilo a deixava um pouco sem reação.

— Acha que eu causei isso?— Ele vociferou, dando mais um passo na sua direção e prendendo a médica contra o armário. Ela observou com os olhos levemente arregalados as mãos dele, posicionadas uma em cada lado de seu corpo. Aquilo fez um arrepio subir pela sua espinha. Convenceu-se de que era por medo. Aproximou o rosto do dela e prendeu seus orbes verdes com seu olhar gelado. – Eu nunca encostei um dedo e jamais faria algo para machucar a minha filha. – Vociferou. Sakura assustou-se, assentiu e o empurrou de leve saindo da prisão de seus braços. 

— Acredita então, que alguém que convive com ela poderia estar agredindo sua filha?— A Haruno questionou, alisando o jaleco e tentando se recompor.

— Não. Não diga o que não sabe Dra., ninguém que trabalha em minha casa faria algo assim. Todos adoram Sarada. – Balançou a cabeça enquanto sua expressão lhe dizia um claro “você é louca”.

— Eu preciso falar com a mãe dela.— Ela disse, não se dando por vencida. O moreno parou de repente e a olhou nos olhos por longos minutos antes de desviar o olhar para a porta da sala.

— Receio que não será possível. – Disse. Seu tom de voz era seco e sem emoção.

— E por que não?— Ela questionou com o cenho franzido.

— Por que a mãe dela está morta. – E assim que ele proferiu estas palavras, simplesmente abriu a porta da sala e saiu, deixando a médica estática e sem saber como reagir diante disto.