Prólogo

Era noite. Pelo menos parecia noite. O céu estava escuro. Eu ouvia barulho nas ruas uma confusão típica de ocasiões como essa. Havia planetas no céu. Vinte e seis deles. Grandes. Extremamente à vista. Alguma coisa, ou alguém, havia feito aquilo. E essa coisa, ou esse alguém, estava vindo nos pegar. Apaguei todas as luzes da casa para que não percebessem minha existência. Então eu os ouvi.

“Exterminar.”

Era só isso que eles diziam, repetidamente. As pessoas na rua começaram a gritar. Eles chegaram.

“Todos os humanos devem deixar suas casas.”

Não, eu não ia sair. Não queria sair. Continuei escondido.

“Humanos selecionados serão levados para testes.”

Depois disso que eu não ia sair mesmo. Encolhi meu corpo mais ainda atrás do sofá, mas sem perder a visão da janela. Todos estavam fazendo filas diante deles. Eram seres robóticos. Pareciam cones com cabeças redondas.

“Todos os humanos serão encaminhados para a Provação.”

Eu não fazia a mínima idéia do que era a Provação, mas sabia que não queria ir para lá. Um homem se manifestou contra. Mandou a mulher e os filhos voltarem pra casa. Jogou uma pedra nas criaturas.

“Daleks. Formação sete. Exterminar”

Daleks. Então esse era o nome das criaturas. Mas não me importava o nome, eu só queria que eles fossem embora. E enfim eles foram. Levando todas as pessoas da rua. Levantei de detrás do sofá, e olhei pela janela. Eles estavam esvaziando a Terra.

Fiquei por bastante tempo naquela posição. Sentado. Olhando pela janela. Então mais alguém apareceu. Ouvi um barulho estranho. Uma caixa se materializou. Era uma cabine de ligações policiais. Azul. Uma luz brilhava no alto. Um homem saiu dela. Ele usava um terno. Uma mulher ruiva saiu atrás dele. Ele viu alguém do outro extremo da rua e correu para lá. Não consegui ver quem era. Só vi uma coisa. Um outro dalek.

“Exterminar.”

Ele atirou no homem.

“Doutor!”

Foi isso que a mulher ruiva gritou. Outra mulher apareceu. Carregando uma arma. Um outro homem também armado. Ele atirou no dalek. O Doutor estava caído.

“Doutor não me deixa!”

As mulheres o levantaram e o levaram para a cabine. Mais daleks apareceram. Cercaram a caixa. Sumiram junto com ela.

Continuei olhando pela janela. Houveram tremores, e uma aura estranha em volta do planeta. Mas passou.

“Doutor.”

Lembrei do nome. E quanto a terra começou a sacudir, e depois estava no seu lugar novamente (pois o Sol brilhou no céu), eu soube que havia sido ele. Ele e aquelas pessoas que estavam com ele. Senti que havia sido eles. Senti que haviam salvo o mundo.

E eu não me esqueceria daquele nome berrado no meio da rua escura. Daquele nome que escutei quando era apenas um garoto de quinze anos.

“Doutor.”