~Ouça ao ler: Say Something (rock version)

O som do vidro se quebrando de encontro a parede ardeu nos ouvidos de Amélia, ela colocou as mãos sobre as orelhas e sentiu o calor das lágrimas tocarem suas bochechas, Charlie não fazia nada além de gritar, e a cabeça dela já estava explodindo.

– VOCÊ NÃO PODE FAZER ISSO - Ele gritava -NÃO PODE ME DEIXAR!

– Eu não consigo mais Charlie - Ela falou tirando as mãos da cabeça e limpando os olhos com elas - Eu não consigo...

Foram quase cinco anos sobrevivendo naquele inferno, ele nunca tinha encostado um dedo nela, pelo menos não para bater nela ou algo assim, mas já tinha feito isso com pessoas que eram envolvimentos dela, não amorosamente, amigos próximos que ele julgava incertos, então depois do que acontecera com seu amigo, ela não podia mais suportar viver ao seu lado, Michael quase morrera e isso para ela era mais do que um último aviso de que era hora de deixá-lo.

– Você é minha vida Amélia- Ele disse chegando perto e segurando as mãos dela.

– Charlie - Ela falou com a voz mais triste que um dia pudera fazer - me deixe ir...por favor...

– NÃO! - Gritou em resposta - NÃO! VOCÊ É MINHA!

Amélia se afastou bruscamente dele e correu para a porta, sentiu que seria seguida, mas o encontro dos lábios de Charlie com os seus tão forte e violentamente, de modo que chegava a ser doloroso, ao invés de apaixonante, a assustou. Nunca esperaria essa reação dele, ele tentou aprofundar o beijo, mas ela teve de resistir, uma resistência tão dolorosa que não pode ocorrer, imaginando ser a última vez ela deixou sua língua infiltrar na boca dela e agarrou seu pescoço com força, puxando seus cabelos de modo que parecia ser doloroso, ele a forçava contra a porta e ela sentia seu corpo querendo ser levado pelo dele.

Afastou-se dele, jogando-o para trás, e abrindo a porta o mais rápido possível, dando de cara com o corredor do andar onde moravam, o terceiro andar era um lugar nada pacífico e agora seria ainda menos, começou a descer as escadas em espiral e escutou os passos de Charlie atrás dela, então um apertão no braço e um puxão.

– Pelo amor Amélia, volta, por favor! - Ele gritava desesperado, chorando como uma criança, ela apesar de tentar ser forte não parecia muito melhor.

– Você sabe o que fez com ele Charlie?! - Ela exclamou o assustando um pouco - Você quase o matou! Quebrou costelas, machucou a cabeça dele, por causa de um beijo! Um beijo! Um beijo minimo no canto do lábio! Nada demais e você quase o matou!

– Você sabe que eu me arrependo - Ele falava freneticamente - Sabe que sim, eu nunca mais farei, por favor!

– Chega! - Ela disse, enquanto lágrimas escorriam em seu rosto - Não dá mais...

– Mas, eu amo você - Ele disse se aproximando.

– As vezes isso não basta - Ela falou enquanto limpava o rosto frio com a mão.

Ela desceu ainda mais rápido, sentia sua mochila bater nas costas rapidamente com o ritmo dos passos na escada, e demorou para ouvir Charlie novamente, saiu do prédio e viu seu táxi na frente, entrou sem pensar duas vezes e falou o endereço antes que Charlie pudesse ouvir. Viu ele se aproximando do carro e mandou o motorista ir logo, mas ele não acelerou a tempo.

– AMÉLIA! - Ele gritava - Por favor, por favor eu te imploro!

Ele disse se ajoelhando ao lado do carro, fazendo uma cena ridicula na rua que a fez chorar ainda mais, ela tocou no rosto dele tirando a lágrima que caia e finalmente disse:

– Eu te amo - Então olhou para o taxista e partiu, vendo ele ficar para trás, largado na calçada. Sem querer começou a chorar desesperadamente, mas não pode olhar para trás.